• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Memórias da Cidade de Lisboa

Nelson14

GF Platina
Entrou
Fev 16, 2007
Mensagens
10,087
Gostos Recebidos
10


A Varina

"Ó freguesa, venha abaixo!", dizia o pregão.
"Lisboa conhece-a e ama-a porque ela é trabalhadora e a acorda com os bons dias dos seus cantados pregões.
Começa de pequenina na faina e para ela o trabalho não é um fardo. Fá-lo alegremente percorrendo as ruas"
"Quem quer ameijoas para arroz? ". outro pregão que se ouvia.
A varina é uma figura que se destaca nas memórias de Lisboa.
E figura recorrente na obra de Benoliel e não só



447b9ca978a7c53ebb821b11925a10aec1825d76.jpg

d7bcd14f5da6add4c712bc381bbadfcb3230d0eb.jpg

9f1414ceccf3a8805fd347f5ea6593f8a49449dc.jpg

0c893562e401c71aa5d868d23eee732b41430e8f.jpg

9a6ad103b70f13db2e5ab2573a2f9753445e6683.jpg

9aa2d97ea30f06a6c6b41908b7d6afd089f333c7.jpg



De mão na anca,
descompõem à freguesa.
Atrás da banca,
chamam-lhe cosma(?) e burguesa.

Mas nessa voz,
como insulto à portuguesa,
há o sal de todos nós,
há ternura e há beleza.

Do alto mar
chega o pregão que se alastra:
têm ondas no andar
quando embalam a canastra.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
são iguais à claridade:
caldeirada de canções
que se entorna na cidade.

Cordões ao peito,
numa luta que é honrada.
A sogra a jeito
na cabeça levantada.

De perna nua,
com provocante altivez,
descobrindo o mar da rua
que esse, sim, é português.


São as varinas
dos poemas do Cesário
a vender a ferramenta
de que o mar é o operário.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
nunca mais ganham idade:
versos frescos de Camões
com salada de saudade.



Ary dos Santos.


 

clbass

GF Bronze
Membro Inactivo
Entrou
Fev 6, 2014
Mensagens
12
Gostos Recebidos
0
Obrigado pela partilha. À Varina caiu-lhe o Ó e ficou de Lisboa... Pois ficou muito bem! Mas melhor ainda ficaram ambas, lado a lado, nesses belos versos do Ary dos Santos.
Bom fim-de-semana.
 
Topo