Afinal, quem matou Bin Laden? Há duas versões
Passaram três anos e meio desde que um grupo de uma força de elite entrou numa casa em Abottabad, no Paquistão. Armados até aos dentes e com óculos de visão nocturna, subiram as escadas, e num dos quartos, o homem da frente abriu uma porta e viu-o: Osama bin Laden, o inimigo número um da América. Disparou.
O que aconteceu a seguir demorou apenas 15 segundos, mas é alvo de imensa especulação e relatos contraditórios dos envolvidos. Um dos membros da equipa veio dizer esta semana publicamente que
foi ele que matou Bin Laden. Outros discordam e reivindicam o mesmo para os tiros que dispararam.
A mais recente polémica sobre o raide que matou Bin Laden aconteceu porque um antigo membro da Equipa 6 (considerada a força de elite dos SEAL, trabalhando frequentemente com a CIA) decidiu dar uma entrevista à Fox News assumindo-se como “o atirador”.
Em aparente retaliação,
um site de questões militares lançou o seu nome antes que isso acontecesse, dizendo que Robert O’Neill, 38 anos, tinha assumido ter disparado dois tiros que mataram Bin Laden. O’Neill tinha já antes contado a sua versão à revista Esquire, sem no entanto se identificar. Desta vez assumindo a sua identidade, repetiu-a agora numa entrevista ao Washington Post.
Outro antigo membro da equipa, Matt Bissonnette, escreveu um livro em 2012 detalhando a operação. Nele, Bissonnette (que assinou o livro com um pseudónimo, mas a sua identidade foi mais tarde revelada) diz que foi o primeiro homem da equipa que disparou os tiros que mataram Bin Laden. Segundo o relato de Bissonette, os tiros disparados a seguir por si e por outros membros da equipa tinham sido os chamados “rounds de confirmação”.
No artigo da Esquire, O’Neill dizia em relação ao homem da frente: “Não acho que ele o tenha atingido. Ele acha que sim.” Foi também este homem não identificado que afastou as duas mulheres que estavam no quarto, temendo que elas tivessem coletes de explosivos.
“Por Deus e pelo país - Geronimo, Geronimo, Geronimo”, comunicou um dos SEAL aos responsáveis reunidos na situation room que esperavam ansiosamente por notícias em Washington, referindo-se ao nome de código dado ao líder da rede terrorista Al-Qaeda. “Geronimo E.K.I.A - enemy killed in action”, concluiu – Bin Laden era dado morto.
Com a operação envolta no maior segredo, sem nunca terem sido divulgadas imagens da operação ou de Bin Laden morto, e com o corpo deste lançado no mar (para não haver local de peregrinação), poderá manter-se a controvérsia durante muito tempo.
Nas informações prestadas após o raide a um membro da administração Obama, o código de união da equipa foi mantido por O’Neill, lembra um outro elemento da equipa que assistiu ao momento. Quando lhe perguntaram quem tinha disparado o tiro que matou Bin Laden, O’Neill disse: “fomos todos”. “Teve classe”, comentou o outro elemento que assistiu à troca de palavras. Mas O’Neill não parece ter resistido ao impulso de ter crédito pela acção – mesmo que isso implique risco acrescido para si próprio, já que arrisca-se a ser alvo de um ataque de vingança por extremistas.
Muitos operacionais estão indignados com a vinda a público quer de Bissonette quer de O’Neill. O livro do primeiro, que foi um best-seller, está a ser alvo de uma investigação sobre a possível revelação de informações confidenciais – Bissonette está a promover entretanto um segundo livro, desta vez submetido a aprovação anterior pelo Pentágono. Por seu lado, O’Neill tem feito o “circuito de conferências” e palestras motivacionais desde que saiu dos SEAL.
Actualmente a promover o seu segundo livro, Bissonnette recusou-se a comentar a afirmação de O’Neill. “Há duas pessoas diferentes a contar duas histórias diferentes por dois motivos diferentes”, disse, numa entrevista à emissora norte-americana NBC. “Ele diz o que diz. Não quero tocar nesse assunto.”
Na semana passada, responsáveis do Pentágono enviaram uma carta a todos os membros dos SEAL (força que actua no mar, terra, ar, daí as iniciais – Sea, Air, Land) pedindo-lhes que cumpram o código de conduta, que inclui não procurar “crédito público” e não trocar “os valores centrais” da unidade por “notoriedade pública e ganho financeiro”. Um dos valores centrais, repetia a carta, é: “Não publicito o meu trabalho. Não procuro reconhecimento pelas minhas acções”.
fonte: publico