Ela agora é ele

Ela agora é ele. O efeito dos esteróides que fizeram da RDA uma potência desportiva.

A fama da República Democrática Alemã, colosso desportivo dos anos 70 e 80, ruiu com a queda do Muro de Berlim. Por trás do sucesso estava um esquema generalizado de doping.

"Mataram a Heidi. Ao darem-lhe aqueles comprimidos azuis, ela foi assassinada e não existe mais." Quem fala assim era a Heidi, hoje é Andreas Krieger. Mudou de sexo, após ter ganho traços cada vez mais masculinos devido à toma excessiva de esteróides. E é um dos rostos da fraude que fez da República Democrática Alemã (RDA, a versão de leste, comunista) uma potência desportiva nos anos 70 e 80. Tudo ruiu, com a queda do Muro de Berlim. Faz agora 25 anos.

Durante duas décadas, um pequeno país com 16 milhões de habitantes foi um colosso desportivo. O futebol não era exemplar - teve como pontos altos a participação no Mundial 1974 (onde chegou a vencer a vizinha RFA, por 1-0) e a vitória do Magdeburgo na Taça das Taças desse ano, depois de eliminar o Sporting nas meias-finais. Mas a maior parte das modalidades colectivas e os desportos individuais mais icónicos (como atletismo e natação) eram os palcos de eleição da "diplomacia de fato de treino" da RDA: aí, mostrava-se o avanço do país e do regime, com expressão máxima em eventos como os Jogos Olímpicos.

Foram 409 medalhas, 153 ouros, nas cinco edições de Jogos Olímpicos de verão em que a República Democrática Alemã se apresentou como independente (apesar da divisão, até 1964, concorria a "Equipa Unida Alemã"). Em Munique 1972 cometeu a proeza de ficar à frente da anfitrã RFA. E em 1976, 1980 e 1988 (boicotou Los Angeles 1984) assumiu-se como segunda potência olímpica, atrás da União Soviética. Um feito impressionante, do qual só se perceberia a justificação anos após a queda do muro que separava as duas nações Alemãs (a 9 de Novembro de 1989): um sistema de doping generalizado, promovido pelo próprio regime.

fonte: dn