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Passei 16 horas seguidas no Facebook

mjtc

GF Platina
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Fev 10, 2010
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Já ninguém repara em alguém o dia inteiro no Facebook. Sem levantar os dedos para almoçar, lavar os dentes ou andar de transportes públicos. Ninguém repara.

Parece normal estarmos sempre no Facebook, com resposta pronta para os posts dos amigos. Com um like para as fotos deles. Por isso, passar 16 horas seguidas no Facebook é normal. Normal mas só para quem está do outro lado do ecrã. Para quem nos vê agarrados ao smartphone, tablet e PC somos loucos. Loucos varridos.

Acordar: 10 horas. São 10 horas da manhã. Estou no meu quarto ainda deitada e já à procura do telemóvel. Não, do telemóvel não: do Facebook. Isso sim. Qual é o meu estado – pergunta a rede social. Se pergunta eu respondo. E hoje o dia vai ser longo: 16 horas aqui!

O próximo passo é ler e responder às mensagens. Não posso deixar ninguém pendurado. Agora que já respondi a todos, está na altura de ver as nove notificações que recebi durante a noite. Entre os comentários àquela foto de grupo em que estou identificada e os likes que recebi no vídeo da música partilhei antes de me deitar, reparei que alguém me identificou na foto que tirou ao croissant com chocolate que comeu hoje ao pequeno-almoço. Bolas! Agora fiquei com fome. Já passou meia hora desde que acordei e ainda não fiz mais nada sem ser estar no Facebook. Vou descer até à cozinha para comer qualquer coisa.

Pequeno-almoço: 10h 30m. Enquanto o leite aquece no microondas vou ver se alguém entretanto já partilhou mais alguma novidade. Nada de especial. Continuo a fazer scroll para cima e para baixo no ecrã do tablet. Paro para ver e pôr like na foto do pôr-do-sol brutal, na praia de Santa Cruz, que o Ricardo acabou de publicar. De resto, nada de novo. Somam-se selfies em frente ao espelho para mostrar o novo penteado, os estados que expressam o desespero de quem tem de passar o dia a estudar para o exame de amanhã e os vídeos de cães e gatos. Acabei de tomar o pequeno-almoço.

Já são 11h00. Largo o tablet por uns segundos, só para levar o prato e a caneca até ao lava-loiça. Regresso à mesa para ir buscar o tablet e subo para o quarto. Ligo o computador para me sentar sossegada no Facebook. De baixo ouço a minha mãe gritar: "Foste a correr para cima e nem lavaste o teu prato!". Respondo-lhe a gritar também, sem sequer me levantar da cadeira e tirar os olhos do ecrã: "Lavo daqui a pouco!".

Almoço: 13 horas. Ouço a campainha tocar. Deve ser a minha irmã. Hoje é dia de vir almoçar a casa e são quase 13 horas. Desço para lhe abrir a porta, mas mantenho os olhos pregados ao ecrã do tablet. Sento-me à mesa e vou intercalando as garfadas com o scroll no Facebook. Não participo activamente nas conversas que vão surgindo, a não ser para comentar a notícia de última hora que acabei de ver. Agora que já não tenho fome, vou lavar os dentes e preparar-me para sair de casa.

Apanho o comboio às 16h 18m. Apesar da chuva, vou permanecendo ligada ao Facebook, mas tenho o cuidado de levantar a cabeça sempre que preciso de atravessar a estrada. O meu pai ficaria no mínimo furioso se fosse atropelada por estar agarrada ao telemóvel.

Viagem de comboio: 16h 18m. Quando chego à estação, o comboio já lá está à minha espera. Entro, sento-me numa das carruagens com menos gente e volto a tirar o smartphone do bolso. Enquanto estou no Facebook, a viagem de uma hora até Lisboa passa a correr e nem dou conta das estações por onde passo nem das conversas paralelas que vão surgindo no comboio. Por acaso, ouço o nome da paragem onde quero sair: Lisboa Oriente.

Jantar com as amigas: 21 horas. Ponho-me a caminho de casa da Natacha, onde vamos jantar esta noite. Assim que chego à porta já nem me dou ao trabalho de tocar à campainha. Envio-lhe uma mensagem pelo chat: "Cheguei!". Depois de me receber, vou até à sala ter com os outros convidados. Cumprimentamo-nos e preparamo-nos para tirar a primeira selfie da noite. Peço a password de acesso ao wi-fi. Passo o jantar ao telemóvel e nem ouço o que me dizem, a não ser que gritem o meu nome: "Cátia, larga o telemóvel um bocado".

Com o fim do jantar, vou até casa. Durante a viagem de regresso vou publicando as fotos do jantar e identificando as pessoas no Facebook.

Regresso a casa: 23horas. Cheguei a casa. Vou vestir o pijama e ligar o computador. Já é tarde. O relógio marca quase 1hora. Vou deitar-me. Antes de dormir espreito ainda o que há de novo no Facebook através do telemóvel. Troco mais umas mensagens. Hoje aproveitei para falar com amigos que já não vejo há meses. Entretanto, já passou mais uma hora. Ao todo foram 16 horas e ninguém do outro lado do ecrã reparou. Vou actualizar o meu estado pela última vez e seguir o exemplo de todos os que já estão offline.

Boa-noite!

Por Cátia Carmo.
 
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