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Ser mãe depois do cancro

Feraida

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Maternidade e doença oncológica não são incompatíveis. É o que defendem os especialistas que pretendem lançar uma rede nacional para garantir que nenhum doente fique privado do sonho de ter um filho
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Os doentes desconhecem e os médicos não informam. Mas nem sempre um diagnóstico de cancro tem que significar o fim do projeto de maternidade ou paternidade.

Muitas vezes, o médico está tão focado no tratamento da doença que se esquece de apresentar as várias opções que a Medicina oferece. Teresa Almeida Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, não se conforma com a situação no nosso país e por isso convocou uma reunião, que decorreu no sábado, 31 de janeiro, para juntar médicos, biólogos e psicólogos ligados à oncologia. O objetivo é criar uma rede de profissionais que assegure o atendimento urgente a todas as mulheres e homens em idade jovem, que devem ter a possibilidade de preservar a sua capacidade de ter filhos, antes de iniciarem um tratamento contra o cancro.

A questão é que os tratamentos de químio e radioterapia destroem as células reprodutivas, muito sensíveis a esta agressão.

A extensão do dano depende da idade do paciente e do tipo de tratamento, mas, nas mulheres, pelo menos a antecipação da menopausa é garantida. Em casos extremos, de leucemias, linfomas, ou todas as patologias que obriguem a um transplante de medula, o tratamento prévio ao transplante, em que o objetivo é preparar o corpo para receber a nova medula, acaba para sempre com a capacidade de procriar.

Mas isso não quer dizer que a seguir ao choque do diagnóstico de cancro tenha de vir uma sentença de infertilidade. Hoje em dia há já várias técnicas disponíveis, para garantir que quer a mulher quer o homem possam preservar a sua capacidade de ter filhos, após um tratamento oncológico.

"Todas as mulheres e homens jovens devem fazer preservação de gâmetas, mesmo que a probabilidade de ficarem inférteis seja de 20%, o que é considerado baixo. Nunca se sabe quem está neste grupo", afirma a médica, professora da Faculdade de Medicina de Coimbra. Se tivermos em conta que 8% dos cancros acontecem abaixo dos 40 anos e numa altura em que os portugueses têm filhos cada vez mais tarde, há uma grande probabilidade de a doença surgir em pessoas que ainda não tiveram descendência ou que querem aumentá-la.

Bebé a caminho

No Centro de Preservação de Fertilidade, dos Hospitais Universitários de Coimbra, que Teresa Almeida Santos dirige, 190 homens e 78 mulheres já congelaram esperma, tecido ovárico ou ovócitos, desde 2010, ano de início de atividade. E o primeiro bebé pós-congelamento pode estar para breve.

O serviço não tem lista de espera e inclusivamente é possível marcar uma consulta através do site. "Mas não podemos chegar a todo o País. É por isso que temos de criar a rede de apoio e passar a palavra aos vários profissionais," sublinha. Ainda não nasceu, em Portugal, nenhum bebé cuja mãe tenha preservado a fertilidade antes do tratamento. Mas está para breve.

No mês de março será feito o primeiro transplante de tecido ovárico congelado e também está já planeado o transplante de gâmetas congelados, de uma mulher que ultrapassou um linfoma, mas sofreu uma menopausa precoce, aos 30 anos.

O congelamento de esperma é uma técnica já muito antiga, com décadas de utilização e centenas de bebés nascidos. No caso das mulheres, a solução demorou mais tempo a aparecer. Começou por ser desenvolvido o congelamento de tecido ovárico e, a partir de 2012, passou a ser seguro o congelamento de ovócitos. A técnica foi desenvolvida na Bélgica, país pioneiro nesta área, e tem já dez anos a primeira criança resultante de um transplante de tecido ovárico após tratamento oncológico.

Em todo o mundo, são já 40 os bebés nascidos por este método.

"Em Portugal, os médicos estão pouco despertos para estas possibilidades. Mas é preciso chegar a todos os doentes e incluir esta opção nos tratamentos de cancro. Ainda assim, tem-se notado que quer os profissionais quer os doentes já começam a estar informados e procuram cada vez mais estas soluções", nota a médica.

Resposta em 24 horas


Na reunião de sábado foi possível estabelecer uma série de normas e consensos de forma a acelerar o acesso a estas opções.

É preciso ter em conta que estes doentes precisam de iniciar o tratamento o mais rapidamente possível, pelo que não podem ficar em lista de espera para uma consulta de infertilidade. "O nosso compromisso é atender estes casos em 24 a 48 horas, o que pode ir além da atividade normal. Acredito que é possível, se houver boa vontade. Estamos a falar de uma situação de emergência, que deve ultrapassar todas as outras ", sublinha.

Ficou já acordado que os doentes oncológicos até aos 40 anos, no caso das mulheres, e até aos 55 anos, no caso dos homens, deverão ser informados acerca dos riscos na fertilidade dos tratamentos oncológicos que irão realizar. E ainda que estes deverão ser referenciados para um especialista em medicina da reprodução, o mais rapidamente possível, dado que algumas das técnicas de preservação da fertilidade implicam tempo para serem realizadas.

Para eliminar o risco de malformações do bebé, após um tratamento oncológico, basta esperar dois anos, no caso do pai, e seis meses, no caso da mãe, até haver uma gravidez. No entanto, a recomendação é de que se espere cinco anos, o período de maior probabilidade de recidiva de cancro. "Em algumas situações não é possível esperar e há pessoas que decidem arriscar. E aí as gravidezes podem ocorrer ao fim de dois anos." Tudo em nome da vida.

Um exemplo para manter a esperança

A sua terceira filha nasceu logo após o tratamento a um cancro da mama, em 2009. Agora, a atriz Fernanda Serrano acaba de anunciar que está grávida pela quarta vez, aos 41 anos um exemplo de como maternidade e doença oncológica podem coexistir. No seu caso, não foi necessário recorrer à preservação de ovócitos.



AS OPÇÕES DA MEDICINA

Antes de iniciar um tratamento de químio ou radioterapia, adultos e crianças têm à disposição os seguintes tratamentos

MULHERES APÓS A PUBERDADE

Proteção pélvica durante a radiação: Sempre que possível, devem proteger-se os ovários durante o tratamento de radioterapia.

Transposição dos ovários: Técnica cirúrgica que implica deslocar os ovários dentro do corpo da mulher, desviando--os da zona do corpo sujeita a radiação

Banco de óvulos: Congelamento e preservação de óvulos, para utilização após o fim dos tratamentos. Em alguns casos, a opção poderá ser guardar o óvulo já fecundado, ou seja, o embrião. Esta opção implica adiar o início dos tratamentos por pelo menos duas semanas, já que obriga à toma de hormonas, monitorização dos ovários e colheita dos óvulos.

Preservação do tecido ovárico: Remoção de pequenos pedaços de ovário que será congelado e preservado. Terminado o tratamento, o tecido é reimplantado e os ovários recomeçam a funcionar.

HOMENS APÓS A PUBERDADE

Banco de esperma: A criopreservação de esperma é uma das mais bem sucedidas opções, antes de se iniciar um tratamento oncológico.

O material pode ficar congelado durante vários anos, sem que fique danificado.

Extração de esperma testicular: Dependendo da idade do rapaz, pode ser preciso ir buscar esperma diretamente aos testículos. Removem-se pequenas partes de tecido testicular enquanto o jovem está sedado. Se houver esperma, este é removido e congelado.

Uma opção para antes ou depois do tratamento

Proteção dos testículos: Sempre que possível, protegem-se os testículos durante as sessões de radioterapia

Congelamento de tecido testicular: Um método experimental que implica a remoção e congelamento de pequenos pedaços de tecido testicular, antes do tratamento oncológico.

A ideia é reimplantar este tecido no futuro

ANTES DA ADOLESCÊNCIA

Há menos opções, uma vez que ainda não se iniciou a produção de esperma e ainda não se deu a maturação dos óvulos. As únicas opções são usar proteção durante a radioterapia ou o congelamento de tecido dos órgãos reprodutivos (ovários ou testículos) ou a transposição ovárica, no caso das raparigas.



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