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Comprimido para a esperteza?

Feraida

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Aprovado para tratar distúrbios do sono, o modafinil popularizou-se como estimulante cognitivo.

Agora acaba de ser declarado seguro para uso generalizado.

Ainda assim, há quem recomende prudência...


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Reuters


Tanto para fazer, tão pouco tempo.

Foi a pensar nisto que um medicamento para a narcolepsia se tornou o melhor amigo de quem precisa fazer verdadeiras maratonas sem dormir.

Os militares usam-no; os atletas usam-no; os estudantes usam-no.

No mundo dos corretores da bolsa é igualmente famoso.

Entre as tecnológicas de Sillicon Valley, também.

"Consigo fixar uma série de coisas de uma vez", reconhece Jesper Noehr, 30 anos, diretor informático de uma dessas start ups, citado pelo The Guardian, assumindo que todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, engole destes comprimidos para ficar mais concentrado, melhorar a memória e aumentar a produtividade.

É sobre um destes medicamentos que cai agora o carimbo de segurança do European Neuropsychopharmacology, a publicação oficial do colégio europeu da especialidade: segundo a instituição, que analisou resultados de 24 estudos desenvolvidos entre 1990 e 2014, o uso de modafinil não traz riscos acrescidos - anunciando assim que estaremos perante uma verdadeira smart drug, ou um nootrópico (do grego noos para 'mente'), um composto que aumenta o desempenho cognitivo do ser humano sem ser tóxico, viciante ou com outros efeitos colaterais.

Droga-maravilha

O efeito desta espécie de Viagra do cérebro de que falamos - cujo mecanismo de ação a nível neuronal ainda não é totalmente conhecido - já tinha sido descoberto nos anos 1990, primeiro no gato.

O francês Michel Jouvet, da Universidade de Lyon, especialista mundial do sono e do sonho, publicou com a sua equipa um artigo em que falava do acrescido estado de vigília nos animais tratados com modafinil, e que não mostravam a excitação usual causada pelas anfetaminas.

A substância atua ao nível dos recetores cerebrais do neurotransmissor chamado dopamina, que desempenha funções essenciais ao nível do sono, da atenção, da aprendizagem e da motivação, impedindo que, uma vez libertada no cérebro, seja reabsorvida pelas células.

Em 1998, era aprovado pela Food and Drugs Administration, a agência norte-americana que comercializa os medicamentos, para tratar a narcolepsia, essa condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono, e outros distúrbios do sono.

Meia dúzia de anos depois, jornais ingleses e americanos alertavam para o seu uso generalizado como estimulante do cérebro - por estudantes e programadores informáticos, mas também camionistas ou outros trabalhadores por turnos.

Por exemplo, entre os primeiros utilizadores da substância fora de contexto estão os pilotos norte-americanos que voavam cerca de 35 horas em missões de bombardeamento no Médio Oriente e no Iraque.

A seguir, apareceu na lista do controlo antidopping nos EUA, com seis atletas a serem impedidos de ir aos jogos, em 2004, entre eles a mais rápida do mundo, Kelly White, campeã mundial dos 100 e 200 metros.

O boom do seu consumo já tinha começado: só nos EUA, no primeiro ano, a Cephalon, empresa que comercializa a substância, faturou 25 milhões de dólares, em 2005, o número estava nos 575 milhões; dez anos depois, venderam-se perto de 60 milhões de unidades.

Em Portugal, segundo a consultora IMS Health, nos últimos dois anos, foram prescritas menos de 300 mil unidades.

Mas a estes números escapam por completo outros canais de distribuição, como a internet, porventura bem mais poderosa...

Do entusiasmo à precaução

Quem trabalha na área da regulação do sono, como Russel Foster, um biólogo de Oxford citado pela New Scientist, há muito que acreditava que em breve seríamos capazes de usar todo o tipo de farmacopeia para ligar e desligar o sono, de forma a criar dias com 22 horas de atividade seguidas, sem consequências negativas.

O modafinil parece ter antecipado essa previsão.

Mas nem toda a comunidade médica e científica está assim tão entusiasmada.

"Não há medicamentos sem efeitos secundários - ou não funcionam de todo", insiste António Vaz Carneiro, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde também dirige o Centro de Medicina Baseada na Evidência, para quem "a inteligência nunca virá em comprimidos".

Teresa Summavielle, neurocientista do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto, anui que poderá não ter efeitos secundários visíveis, sobretudo comparando com outras substâncias usadas com o mesmo fim - mas insiste que será sempre em usos esporádicos.

"Continuamos sem saber os efeitos a longo prazo e dificilmente alguma comissão de ética autorizará estudos para esse fim", acrescenta, a lembrar que o medicamento continua a não estar regulado como estimulante cognitivo.

"Nem o acesso é livre, porque só é vendido com receita e não acredito que algum médico o vá receitar para alguém ter melhores resultados em exames, por exemplo.

Ou então compram pela internet.", remata a investigadora.

Acesso livre ou... condicionado

A verdade é que a pressão para os médicos passarem receitas é real, confirma Tiago Reis Marques, médico psiquiatra no Maudsley Hospital e investigador do Instituto de Psiquiatria do Kings College de Londres, que dá também consultas no Centro Cirúrgico de Coimbra.

No seu entender, trata-se de uma área que levanta ainda muitas questões éticas.

"Por mais seguro que possa ser, até que ponto devemos ir além das nossas capacidades?", questiona-se, sobretudo quando se apercebe da pressão dos pais para que os filhos sejam diagnosticados com um distúrbio que lhes permita obterem uma receita para comprar estes estimulantes cognitivos, já que a alternativa é a compra online.

Mas para já parece não haver forma, nem vontade, de parar este caminho: ao boom do consumo, segue-se o aumento exponencial das biotecnológicas a tentar ganhar espaço neste mercado.

"À semelhança do que aconteceu com as anfetaminas e os speeds das décadas passadas, com o aumento da procura destas substâncias, há cada vez mais empresas a especializarem-se no seu desenvolvimento", avança ainda Tiago Reis Marques, a lembrar, no entanto, que o número destas novas drogas cresce a uma velocidade muito maior do que a nossa capacidade de as testar.

Estimulantes cerebrais

Mitos...



  • [*=left]Sudoku e outros jogos - É verdade que manter o cérebro ativo é muito importante para uma boa saúde mental mas não é por fazer mais palavras cruzadas e afins que vai ficar mais inteligente.
    [*=left]Suplementos - O mercado está cheio de produtos (como a ginkgo biloba ou o ginseng) que prometem melhorar a inteligência mas poucos passaram por uma avaliação científica séria.

...e factos



  • [*=left]Sono - Nada parece bater os efeitos de uma boa noite de sono. Segundo as mais recentes investigações na área, o sono limpa efetivamente o cérebro e prepara-o para estar ao seu melhor nível, na manhã seguinte.
    [*=left]Cafeína - Depois de anos como um mau da fita, o café é a mais recente descoberta dos amantes da vida saudável. Num recente estudo da Escola de Medicina da Universidade John Hopkins, nos EUA, o seu consumo surge mesmo associado a um menor risco de desenvolver doenças do cérebro.

In:Visão
 
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