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OPINIÃO, Queres ser eleita? Despe-te

kokas

GF Ouro
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Set 27, 2006
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A infame capa da Joana Amaral Dias desnuda não é libertária e não coloca a nu os preconceitos dos outros. Coloca a nu o oportunismo, a hipocrisia - reforçada pela utilização do prime time para "defesa" - e a conceção utilitário-eleitoralista do nu, da gravidez, do feminismo, da paridade, da Joana Amaral Dias. Não, não há nada de libertário naquele frame que fez capa de revista: há uma mulher, que há anos grita aos quatro cantos do mundo a sua contemporaneidade descomprometida e lutadora, que por uma eleição à Assembleia da República atira ao ar o tão pouco que se conseguiu em matéria de igualdade de géneros neste país. E ainda tem a distinta lata de dizer que o fez "por todas as mulheres". Num ato egocêntrico sem par, a troco de protagonismo e votos, sem lealdade para com os camaradas e nitidamente a tentar fazer de todos nós, seus putativos eleitores, parvos, é vê-la, valente, a dar tudo a um mês das legislativas.
Só que não vale tudo. O que escrevo não me vem de quaisquer preconceitos, detesto-os solenemente, e pudica é coisa que manifestamente não sou. Ser-me-ia indiferente a nudez da Joana Amaral Dias ou mesmo do Pai Natal e a rena Rodolfo, não fosse esta pequena subtileza: a capa surge a um mês das eleições de 4 de outubro. E uma outra "simplicidade" minha: sou-lhe contemporânea na AR, passei múltiplos infernos por ser mulher, nova e engraçada, e cuidar do físico em paralelo com o intelecto - o que para a mulher de esquerda é crime de lesa-majestade. Fiz muitas vezes o que era menos conveniente, tido por adequado e ajuizado, recusei-me a fazer o que se esperava da princesinha da esquerda moderna. E numa atitude de miséria umbiguista, vem a Joana Amaral Dias cuspir no absolutamente mínimo acquis igualitário da política portuguesa. Qual é a ideia? Qual é o pendor libertário que, solidariamente, a pré-mamã pretende passar a tantas quantas com ela partilham o género e já estão na política ou serão eleitas e nomeadas, daqui a um mês? Queres ser deputada? Despe-te.
A política é um universo de pesadelo, tal qual está e existe neste país (e mundo afora, mas é aqui que sou eleitora). Não tenho a menor intenção de ali regressar ou ser eleita ou nomeada para coisa alguma. A ideia convoca-me o vómito. Se venho a terreiro opinar é por entender que existe voz, ação e mudança sem a prostituição político-partidária. E porque me enoja profundamente ver uma mulher atentar contra tudo aquilo em que acredito. É por estas, e outras tantas, que não me afirmo feminista, mas paritária.
Claro que outras coisas se podem dizer sobre a estética da foto, como questionar a inteligência do ato: sendo certo que concede muito tempo de antena à candidata do Agir, não será por certo entre o target da publicação em que fez capa que ganhará votos; e junto do seu potencial eleitorado, só os perdeu. Nessa medida, isto é uma coisa desgraçada para todos nós: para o Agir, a quem a Joana Amaral Dias não deu cavaco; para quem não quer votar nos tradicionais mas quer votar à esquerda (aqui me incluo); para todos nós, quando Pedro Passos Coelho vem pedir votos "claros", na coligação ou no PS - ou seja, "não se metam a votar nas franjas, portuguesinhos". Mas muito mais desgraçada para qualquer mulher que aspire a ser tratada como qualquer pessoa, homem ou hermafrodita, no mundo do poder.
Nesta campanha eleitoral, Joana Amaral Dias está para o Agir como José Sócrates está para o PS. Ambos são problemas, e a quantidade de exposição é a questão. Ele preso em casa com receio de que se destape e venha a público falar da sua verdade. Ela porque se destapou a um mês das eleições e veio a público enganar-nos.

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