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Em busca de Marinho e Pinto

kokas

GF Ouro
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Set 27, 2006
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O plano da caravana consistia em almoçar no NorteShopping às 13.00. Às 14.00, telefonei a Marinho e Pinto a saber de notícias. “Estamos a chegar.” Vinte minutos decorridos, chegou discretamente à zona dos restaurantes. Tão discretamente que demorei a detectá-lo







Uma jornalista interrompeu o candidato: "Neste momento, o que é que espera?" Ele esperava um bife. O Porto Canal esperava-o para uma entrevista. E eu esperava a deixa para bater em retirada






A tarefa era tentadora, na medida em que arrancar um dente a sangue-frio é tentador: uma reportagem com o PDR de Marinho e Pinto. As minhas credenciais na matéria é que não eram as ideais. De Marinho e Pinto tinha a impressão que o senso comum tem, a do dono de um discurso populista que se celebrizou no comentário televisivo, em geral na defesa encarniçada do Eng. Sócrates, e que, após a liderança da Ordem dos Advogados, saltou para uma excentricidade disfarçada de partido chamada Movimento Partido da Terra, graças à qual, e à tendência de parte do eleitorado para acreditar em santinhos, conseguiu chegar ao Parlamento Europeu. Do Partido Democrático Republicano, a "força" (digamos) criada por Marinho e Pinto justamente a tempo das próximas legislativas, eu não sabia nada. Por isso lancei-me numa investigação profunda e consultei o respectivo site.Numa primeira impressão, e à semelhança do pensamento político do seu padroeiro, o site não é demasiado esclarecedor. Na secção "Notas de Imprensa", a mais recente data de 24 de Maio. A "Agenda de Campanha" refere "iniciativas" passadas: arruadas, contactos com a população e almoços, que ninguém é de ferro. Na "História", jazem quatro frases e um link para uma "Declaração de Princípios" de três páginas e trezentos clichés genéricos ou socialistas ("Não há democracia sem partidos; "O Mercado [com maiúscula] não é uma Divindade [idem]"; "o PDR defende a igualdade cívica"; etc.). Após buscas incessantes, lá descobri o "Programa Eleitoral", 11 páginas que aspiram a "mudar Portugal" e a "reformar a Europa". No meio de insultos aos partidos, o PDR promete combater a "promiscuidade dos negócios político-económicos ocultos, tornando-os públicos e divulgando os seus beneficiários". Não satisfeito, o PDR promete ainda dar um combate "sem tréguas à corrupção, ao tráfico de influências e à criminalidade político--económica em geral, denunciando publicamente os seus autores". E quando parece começar a repetir-se, o PDR avisa que não pactuará "com as encenações e teatralizações político-mediáticas que não raro ocultam situações ou mesmo negociatas políticas contrárias aos verdadeiros interesses do povo português". Não sei se já disse que Marinho e Pinto investiu anos a defender o Eng. Sócrates.Já convencido da malignidade de todos os partidos excepto de um e ansioso por experimentar de perto tamanha força redentora, preparei-me para frequentar uma acção de campanha do PDR. Faltava-me achar uma. As pessoas comuns perdem a agenda. Marinho e Pinto, informaram-me, perdera o sujeito que lhe tratava da agenda, pelo que o roteiro de aparições públicas se decidia em cima da hora e por decisão directa do candidato. Munido do número de telefone deste, liguei-lhe. Atendeu-me num ápice e com simpatia. Sim, senhor: dia 25 estaria no Porto. Onde? Fiquei de ligar novamente na véspera.No dia 24, liguei, ou melhor, ligaram do DN por mim: afinal, Marinho e Pinto estaria no mercado de Vila do Conde às dez da manhã. Com receio de destoar da surpreendente eficácia, cheguei ao sítio marcado antes da hora prevista. A princípio, estranhei que o sítio marcado fosse um espaço minúsculo e quase deserto. Estranhei menos quando, à hora prevista, a comitiva do PDR não chegara. Num ritual que ameaçava transformar-se em tique nervoso, liguei novamente a Marinho e Pinto. Explicou que já chegara e que o mercado era, aliás, uma feira. Rumei à feira graças a informações colhidas junto dos transeuntes: "Fica ali adiante." Ficava ali adiante. Infelizmente, não apresentava vestígios de qualquer campanha. Inquiri um feirante: esta não é a feira? "É sim senhor." Há campanha? "Não há, não senhor." Esquisito, falaram-me na feira... "Se calhar você (o tratamento ia ganhando intimidade) procura a feira do retalho (ou da revenda, não me lembro), aqui é a feira da revenda (ou do retalho)." Não me diga. "Digo. Não há problema, chegas à rotunda, viras à direita, passas a Polícia e viras à esquerda."É verdade que não houve problema e que, dentro de uma praça, descobri a segunda feira (sem hífen) num instante. Não descobri foi lugar de estacionamento. Contornei a praça cinco ou seis vezes. Tentei parques pagos, parques gratuitos, subornos a agentes da autoridade, becos a quilómetros de distância. Nada. A cada volta, examinava com olhar clínico a feira, que, reconheço em benefício da objectividade, estava repleta. Ignoro se a multidão comparecera a pretexto de Marinho e Pinto ou, por absurdo, para adquirir leguminosas. Certo é que não pude enxergar o candidato, nem estacionar de modo a tirar dúvidas.




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