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O Papa perante uma Igreja plural, a falar ao mundo

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Set 27, 2006
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Francisco termina viagem onde voltou a criticar a corrupção. Deixa continente onde, diz, é clara a relação entre a pobreza e a violência
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O Papa Francisco deixa hoje a República Centro-Africana (RCA), país mergulhado num violento conflito e última etapa desta já histórica viagem, depois de ter estado no Quénia e no Uganda. Nestes seis dias intensos, o Papa despertou uma Igreja com desafios críticos pela frente, tocou todos os graves problemas das sociedades africanas e não deixou de ter os olhos postos no mundo - por exemplo, com as referências ao meio ambiente e ao terrorismo.Francisco repetiu críticas à corrupção política e eclesial, condenou o tribalismo e a violência terrorista, apelou à defesa do ambiente, dos mais pobres e das mulheres e pediu educação e emprego para os jovens como forma de prevenir a violência.O Papa não deixou de se referir aos tremendos desafios que se colocam à Igreja africana - ou melhor, às muito diferentes expressões do catolicismo africano, como chama a atenção José Carlos Rodríguez Soto, ex-padre e missionário, que vive em África há 24 anos (Uganda, República Democrática do Congo, República Centro-Africana e Gabão) e trabalha atualmente na Cáritas do Uganda e noutras organizações não governamentais.No site da Fundación Sur, Rodríguez Soto escrevia recentemente que África acolhe um catolicismo que tanto pode ter uma grande implantação na maioria da população (Congo-Kinshasa, Uganda, Burundi, Gabão) como ser uma minoria com forte implantação social (Mali, Chade) ou uma minoria em sociedades de maioria cristã ortodoxa (Etiópia, Eritreia) ou de maioria cristã protestante (África do Sul).Presidente da República Centro Africana pede perdão pela violência no país
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O ex-padre refere ainda uma Igreja Católica que, em determinados países, vive mais acomodada com o poder (Guiné Equatorial) ou que, pelo contrário, contesta ditaduras e defende a paz e a dignidade humana (República Democrática do Congo ou República Centro--Africana, onde o Papa chegou ontem). E Soto recorda ainda casos como o do bispo John Baptist Odama, do Uganda, que esteve nas negociações de paz, falava com guerrilheiros na selva ou dormia nas ruas da sua cidade, Gulu, junto das crianças de rua, que fugiam da guerrilha.Lideranças frágeis Saído de séculos de colonização, só nas últimas décadas o catolicismo africano foi ganhando rostos e lideranças autóctones. Mas estas são ainda muito frágeis: estão por vezes demasiado ligadas a políticos autoritários ou não investem suficientemente na formação teológica, sem refletir a realidade africana. Apesar dos seminários cheios, em muitos casos "é difícil detetar as verdadeiras motivações" dos candidatos a padre, como escrevia Rodríguez Soto. Muitas vezes, acrescentava, a ideia do padre demasiado ligado ao poder ou ao prestígio social acaba por pesar mais na vocação do que o serviço à comunidade.Na sexta-feira, no Uganda, Francisco agradeceu o trabalho dos mais de 15 mil catequistas do país - e das centenas de milhares que, por todo o continente, asseguram muitas das estruturas locais da Igreja. Os catequistas, mulheres e homens, "são autênticos padres não ordenados", diz ao DN o padre José Vieira, atual provincial (responsável) dos Missionários Combonianos em Portugal, que viveu na Etiópia (1993-2000) e no Sudão do Sul (2006-13). "Eles transmitem a fé, animam a liturgia e a celebração da missa, fazem as homilias, asseguram a ligação ao bispo."José Vieira diz que o papel dos catequistas é uma das potencialidades maiores do catolicismo africano - a par da juventude da Igreja. Mas o modo como a autoridade é vista é um problema, confirma este missionário: "Os anciãos são vistos como guardadores da tradição e muitos bispos encarnam esse papel, preservando da novidade. Um bispo queniano dizia-me uma vez: "Eu estou sempre com Roma." Essa frase traduz a tendência grande para estar do lado do poder, seja ele qual for."O missionário aponta outros problemas do catolicismo africano: a dependência do financiamento externo, que "confirma o conservadorismo e induz a corrupção", a "dificuldade em responder à cultura tecnológica e ao crescimento dos novos movimentos religiosos", ou ainda o tribalismo e a submissão da mulher - "as mulheres são submetidas, não submissas", corrige, "porque, quando elas têm espaço, conseguem manifestar-se e são elas que levam para a frente a sociedade e a Igreja".O Papa como que confirmou alguns aspetos deste retrato: a corrupção, que se entranha "como um açúcar", é um dos problemas das sociedades, mas também da Igreja, disse em Nairobi (Quénia). A lógica do tribalismo - num continente onde cristãos de etnias diferentes por vezes se matam, como aconteceu há duas décadas no Ruanda e no Burundi - deve ser contrariada, disse também o Papa na primeira etapa da viagem. "Há bispos literalmente rejeitados só por serem de uma etnia diferente", confirma o padre José Vieira.O tribalismo pode chegar a provocar guerras civis ou, pelo menos, graves conflitos em diversos países - como é o caso da RCA. Para o Papa, é clara a relação entre a pobreza, a degradação ambiental e o terrorismo ou a violência. Francisco não se cansou de repetir essa mensagem. Resta saber se ela passou também para os responsáveis da Igreja (e das sociedades).


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