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Máquina de “morte natural” de Assad elimina milhares de prisioneiros

kokas

GF Ouro
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Set 27, 2006
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O regime de Assad, meticuloso e desconfiado, exige que se fotografe tudo, quando a polícia secreta mata ou deixa morrer nas prisões os detidos. César fugiu para a Europa com as provas.
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Hamza tinha 13 anos quando foi levado. Era Abril de 2011 e a guerra na Síria estava ainda distante. Foi capturado quando protestava em Deraa, onde, seis semanas antes, o regime já espancara e arrancara as unhas dos adolescentes que escreveram “o povo quer a queda do regime” nas paredes da escola. Esteve desaparecido durante mais de um mês. Foi levado a casa dos pais no final de Maio, embrulhado em plástico. Estava púrpura, negro, inchado, esquartejado. Morto. A máquina de repressão engolira-o, cortara-lhe o pénis, golpeara-o, queimara-o, baleara-o.

Os agentes disseram aos pais de Hamza que não falassem da sua morte, mas um vídeo do cadáver chegou às redes sociais. Alimentou as primeiras sementes da revolta contra Bashar al-Assad e o pai do rapaz foi levado logo a seguir. “Hamza assustou-vos tanto assim?”, perguntavam cartazes nos subúrbios de Damasco, dias depois.Milhares de pessoas morreram como Hamza às mãos da polícia secreta do regime desde que os protestos contra Assad começaram. Há dezenas de relatos sobre as torturas, abusos e privações nos edifícios das quatro agências da Mukhabarat, os serviços de informação do Estado. Em parte é esse o seu objectivo. O termo “polícia secreta”, aliás, é-lhes mal aplicado. Os mukhabarat fazem por ser vistos e é daí que vem parte do seu efeito. Como muito na vida pública na Síria, os agentes são um instrumento de estabilidade do regime. Pelo seu poder e autonomia, mas também pela aparente omnipresença.Jonathan Panther descrevia a Mukhabarat em 2011, para o Wall Street Journal. Fê-lo desde a praça principal de Alepo, que mais tarde se transformaria em ruínas. Na altura estava pejada de letreiros de adoração a Assad. “Por entre o culto de personalidade, passeiam-se para trás e para a frente os mukhabarat nos seus cabedais. Os mesmos homens de negro, passeando todo o dia, sem fazerem muito em carrinhas brancas de caixa aberta. Observar é apenas metade do seu trabalho. O resto é pura intimidação. Os cidadãos olham de relance para cartazes do seu ditador, olham para baixo, para os homens em cabedal negro, e percebem que não há espaço para o diálogo.”A máquina securitária na Síria foi quase uma abstracção no Ocidente até Janeiro de 2014. Nesse momento, a oposição no exílio revelou que um ex-militar da Divisão Criminal Forense do Exército transferira perto de 29 mil fotografias de cadáveres de prisioneiros do regime. Contaram-se 6786 pessoas diferentes, quase todas marcadas pela tortura, fome e maus-tratos. O fotógrafo ficou conhecido pelo nome de código César. As suas imagens tornaram-se as provas mais substanciais e exaustivas dos crimes cometidos pelos mukhabarat de Assad.A veracidade dos documentos, fotografias e identidade de César foi entretanto comprovada por entidades com interesses próprios na guerra, mas também por jornalistas, como Garance le Caisne e Adam Ciralsky. E, agora, pela Human Rights Watch. O regime tentou descredibilizar as imagens de César – surgiram nem um ano depois do mortífero ataque com gás nos subúrbios de Damasco, que quase precipitou uma intervenção militar ocidental na Síria. O ex-militar foi acusado de se manter na sombra, de estar a ser financiado pelos mesmos países do Golfo que apoiam a oposição. Ele repetiu que temia pela sua família, não conseguiu fugir – está agora exilado num país europeu. Assad garantiu que algumas imagens vinham do Iraque e do Iémen. Enumerou as suas reservas à revista Foreign Affairs em Janeiro ano: “Quem disse que isto foi feito pelo Governo, e não pelos rebeldes? Quem disse que é uma vítima síria, e não outra pessoa?”Trabalho meticuloso
O departamento de César
era meticuloso. Antes dos primeiros protestos, os fotógrafos eram chamados ocasionalmente para recolher imagens de corpos em cenas de crime, acidentes ou suicídios. Apareciam, fotografavam e voltavam ao edifício do Ministério da Defesa, onde arquivavam os documentos. Com os primeiros protestos, começaram a ser chamados diariamente para fotografarem cadáveres de presos enviados para o hospital militar de Tishren. Ocupavam-se só de Damasco, onde a Human Rights Watch contou dez edifícios de detenção, já há três anos.

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