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O mais antigo veleiro do mundo ainda a navegar!

Antonio A Alves

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«« O Gazela Primeiro »»
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lugre+Gazela+1%C2%BA+esquema+bb.jpg



[h=2]Características:[/h]
Comprimento: 41.7 m
Comprimento incluindo gurupés (ver nota) e retranca: 54 m
Boca máxima: 8.22 m
Pontal 5.12 m
Arq. Líquida 309.21 t
Número oficial: LX 6N

Pertencia à mesma empresa armadora do Creoula, a Parceria Geral de Pescarias

Nota: Gurupés é um mastro que se projecta, quase na horizontal, para vante da proa dos veleiros



[h=2]Era conhecido como o "Naviozinho”[/h]

O Gazela Primeiro, foi provavelmente construído entre 1899 e 1901 no estaleiro de J. M. Mendes, em Setúbal. O Pinho português foi a principal madeira usada no casco e na coberta. Os 3 mastros e as vergas são de Pinheiro-do-Oregon.
 

Antonio A Alves

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Na primeira viagem para a Terra Nova foi seu Capitão Paulo Bagão.

Em cada Primavera o Gazela Primeiro deixava o porto de Lisboa com 35 dóris empilhadas na coberta em montinhos separados e uma tripulação de 50 pessoas onde se incluíam 35 pescadores/marinheiros e 2 cozinheiros. Transportava sal que era depois usado para conservar o peixe capturado (bacalhau, solha, palmeta, eglefim).

Só há registos a partir de 1903 e 1904 por isso pouco se sabe dos primeiros anos do navio.

Em 1903 o Capitão Paulo Fernandes Bagão iniciou o registo a 18 de Maio desse ano.

lugre+gazela+prim.jpg



Nesse dia levantou ferro às 5 da manhã, foi rebocado rio Tejo abaixo e rumou a oeste ao longo do paralelo 38 até atingir águas fundas. A uma média de 100 milhas por dia atingiu os Grandes Bancos a 7 de Junho, depois de ter percorrido 1.900 milhas.

Os 126 dias seguintes foram passados naquela zona, colocando diariamente (desde que o tempo o permitisse) os dóris na água, fazendo deslocações ocasionais a St. John´s para reabastecimento.
 

Antonio A Alves

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A capacidade do navio era de 350 toneladas, mas o como o peixe perde 20 por cento do seu peso por desidratação ao ser salgado, carregava-se normalmnte mais do que aquele peso. O peixe também encolhia no tamanho e o balanço das ondas tendia a acamá-lo.

Com ventos favoráveis de oeste, chegava a Portugal em 13 dias, descarregava o peixe e pagava à tripulação. Durante o Inverno procedia-se a trabalhos de manutenção.

Lugre+Gazela+Primeiro_Lugre-Patach.jpg


Estas viagens à Terra Nova continuaram até aos anos 30, quando os bancos começaram a dar sinais de esgotamento devido à sobre pesca provocada pelo surgimento dos barcos motorizados e com sistemas de pesca com redes, a pesca de arrasto.

A frota começou então a demandar águas mais a norte, até ao estreito de Davis, entre a ilha de Baffin e a Gronelândia, acima do Círculo Polar Ártico.

Por volta de 1938 tornou-se evidente que o Gazela Primeiro tinha de ser equipado com um motor devido às difíceis condições de tempo e navegabilidade daqueles mares.

O barco foi então acrescido de mais 2 metros e levou um motor diesel de 180 cavalos. Podia fazer 7 nós com o motor, mas as velas continuaram a ser a principal fonte de propulsão, por motivos de poupança.

Recebeu igualmente um rádio e um gerador que fornecia iluminação e refrigeração. Uma cabine foi também colocada para proteger a bússola e a roda de leme. Outro melhoramento foi um outro motor diesel para içar a âncora.

Em Fevereiro de 1960 estava o "Gazela" a completar de aparelhar, no cais da Gafanha da Nazaré, próximo dos estaleiros onde tinha concluído a grande reparação de 1959/60.

Pintado de fresco e com os cabos dos mastros e das velas a brilhar de novos, estava com um óptimo aspecto e por isso era muito observado e visitado. Já nessa época era o único navio de arte redonda, que continuava a trabalhar na marinha mercante portuguesa, pescando nos Grandes Bancos da Terra Nova e no mar da Groenlândia.
 

Antonio A Alves

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Lugre+GAZELA+PRIMEIRO+f+foto+luis+miguel+correia+b.jpg



As velas das primeiras caravelas eram triangulares, vela latina, do Mediterrâneo. Foi Bartolomeu Dias quem recomendou outro tipo de velas. As que usou para dobrar o Cabo Bojador, não triangulares, para conseguir mais velocidade. É esta a origem do termo arte redonda.


A última viagem do Gazela Primeiro como pesqueiro teve lugar em 1969. O capitão, Aníbal Carlos da Rocha Parracho abriu o diário de bordo a 25 de Maio, e 15 dias depois chegavam aos bancos.

Nos 123 dias seguintes, apenas em 76 foi possível pescar.

Devido ao mau tempo, nevoeiros, ventos, tempestades e um guincho partido a pesca pouco rendeu e o navio deslocou-se para os bancos de Virgin Rocks. Mas o tempo continuou a causar problemas, procurando o Gazela refúgio em S. João da Terra Nova para escapar a seis sucessivas tempestades tropicais, desde a Ana à Eva. Só a Debbie obrigou o navio a permanecer oito dias no cais.

Em Setembro teve de voltar novamente a S. João com avaria no motor. Ainda ancorado, a tempestade tropical Ingra abate-se sobre o navio e na noite de 1 de Outubro o Gazela colide com o bacalhoeiro a motor "Vila do Conde" sofrendo danos consideráveis na proa. Foram necessários mais 13 dias de reparações.

Finalmente, a 14 de Outubro, iniciou a viagem de regresso a Lisboa que durou 11 dias. Continuava em boas condições para navegar mas já não podia concorrer economicamente com os arrastões mais modernos e eficientes.

Por esta altura o Museu Marítimo de Filadélfia andava à procura de um veleiro de madeira, antigo.

E foi assim que o Gazela Primeiro emigrou para os Estados Unidos, adquirido pelo filantropo William Wikoff Smith para aquele Museu de Filadélfia.
 

Antonio A Alves

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lugre+GAZELA+PRIMEIRO+USA+b+foto+luis+miguel+correia+b.jpg



Em 24 de Maio de 1971, com uma tripulação americana e um antigo engenheiro do Gazela Primeiro, o navio partiu para a sua nova casa pela rota de Colombo via Canárias e S. João. Chega finalmente a Philadelphia no dia 8 de Julho.

Aqui foram-lhe feitas algumas adaptações para receber visitantes. Foi-lhe igualmente adicionado um pequeno barco motorizado português da pesca à baleia, de nome Gazelita.

Mas no dia 2 de Janeiro de 1972 um fogo posto, enquanto permanecia acostado ao Cais 15 de Philadelphia, ia dando cabo do navio, não tivesse sido o fogo contido antes de atingir o depósito de combustível.

A partir de 1974 o Gazela submete-se a um extensivo programa de treino com os US Naval Sea Cadets com vista ás comemorações do Bicentenário da Independência Americana. Sofre também profunda manutenção com trabalhos de recuperação e renovação em todo o navio. Foi até instalado um radar novo com mais alcance.

E finalmente no dia 4 de Julho de 1976 (Dia Nacional dos Estados Unidos) o Gazela participou orgulhosamente no desfile de Tall Ships em Nova Iorque, nas grandes comemorações do Bicentenário os USA.
 

Antonio A Alves

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lugre+GAZELA+PRIMEIRO+USA+a+foto+luis+miguel+correia+b.jpg


Em 1990 passou para a posse de um grupo de amigos, uma organização sem fins lucrativos, a Philadelphia Ship Preservation Guild.

Desde então tem ocupado o seu tempo num cais de Filadélfia como atracção turística, ou velejando com fins didácticos e honoríficos ou ainda participando em diversos filmes, nomeadamente o "Entrevista com o Vampiro" de Neil Jordan com Brad Pitt, Tom Cruise e António Banderas, de 1994.
 

Antonio A Alves

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Este navio histórico tem sido assim preservado graças à mão de obra de voluntários que dedicam horas de trabalho à sua manutenção e conservação.



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Antonio A Alves

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[h=2]White Fleet
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A frota de lugres bacalhoeiros era conhecida em todo o mundo como a “White Fleet” porque todos eles tinham os cascos pintados de branco, com velas também brancas. Uma necessidade surgida durante a Segunda Grande Guerra em que Portugal não participou por se ter declarado pais neutro no conflito.

Originalmente cada armador pintava os seus navios com a cor de que mais gostava e muitos bacalhoeiros tinham o casco pintado de cor de sangue de boi com uma risca amarela na amurada.

Na 1ª Grande Guerra foram vários navios nossos afundados pelos Alemães, incluindo um lugre que fazia a viagem inaugural e cujos tripulantes foram obrigados a tentar atingir terra em escaleres a remos, em alto mar, ao largo da Galiza. E conseguiram...

lugre+Argus+fundeado+em+Bel%C3%A9m+para+a+cerim%C3%B3nia+de+B%C3%AAn+b.jpg


Durante a 2ª Grande Guerra os lugres Delães e Maria da Glória foram afundados em 1942 por submarinos alemães. Do Delães todos se salvaram, mas do Maria da Glória apenas sobreviveram sete tripulantes que com fome e em desespero até comeram o cão do navio...

O comandante do lugre, capitão Sílvio Ramalheira foi um dos sobreviventes e demorou muitos meses a recompor-se.
0+Doris+0+4+prim+viag+Dr+Cachim.jpg



Depois destes naufrágios, tomou-se a decisão de pintar os navios de branco com o nome e a nacionalidade bem pintados no costado e a bandeira portuguesa nas amuras e nas alhetas.


Foi assim que, a partir de 1943, a nossa frota bacalhoeira ficou mundialmente conhecida por "White Fleet".

Esta decisão foi tomada de acordo com os Aliados e comunicada a todas as partes em conflito.

A frota de pesca portuguesa passou a navegar em grandes comboios de lugres brancos, com velas brancas e sem contactos rádio durante a travessia, proibidos pelos nazis Alemães.

Os bacalhoeiros distinguiam-se bem de qualquer outro navio em alto mar…

Só os nossos barcos tinham esse aspecto e eram belíssimos. Os mais bonitos de todas as frotas de pesca em qualquer parte do mundo.



Aqui se mostram e se conta uma resumida história dos 4 mais conhecidos veleiros portugueses da pesca do bacalhau, alguns com mais de 70 anos, 3 deles em perfeito estado de conservação, um nos Estados Unidos, outro na Marinha Portuguesa e o terceiro propriedade da firma Pascoal & Filhos.

Um quarto está ainda a aguardar restauro e foi também adquirido pela Pascoal & Filhos.

Lugre+GAZELA+PRIMEIRO+e+LUGRE+HORTENSE+na+Azinheira+anos+sessenta+Fotos+Bensaude+Lisboa+008+b.jpg


São eles o “Gazela Primeiro” construído em madeira na viragem para o século XX, o “Creoula” e o “Santa Maria Manuela”, gémeos e o “Argus”.

Estes três últimos construídos em aço e com características muito semelhantes.

Os gémeos foram construídos lado a lado nos estaleiros navais da CUF na Rocha Conde de Óbidos em Lisboa em 1937 para a Parceria Geral de Pescarias e Empresa de Pesca de Viana e o “Argus” na Holanda em 1938.



Os “gémeos” foram lançados à água no mesmo dia, 10 de Maio de 1937.

Primeiro o Santa Maria Manuela e um minuto depois, o Creoula.

Momento solene este que contou com a presença do Presidente da República, Gen. Óscar Carmona, e de muitas personalidades do Estado Novo.

Cerimónia abrilhantada pela da Banda da Armada, tendo na ocasião sido prestadas honras militares por uma companhia de Marinha proveniente do N. E. Sagres.

Portugal fica agora com uma frota única no mundo. Três veleiros de quatro mastros!

Vamos visitar estas belezas, exemplo dos muitos lugres que protagonizaram centenas de campanhas de pesca na Terra Nova e Groenlândia durante mais de 90 anos e com 2 a 3 milhares de pescadores por época..

Mas o tempo do bacalhau pescado à linha e em dóris de um só homem, acabou.

E no entanto esse tempo ficou para sempre entranhado nas redes daqueles que o viveram.

Talvez mais de um quarto de milhão de portugueses tenha participado.
 
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