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O Mata-Milhões

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GF Platina
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Aníbal Augusto Milhais (1895-1970), mais conhecido por "Mata-Milhões", foi o soldado português mais condecorado da Primeira Guerra Mundial, e o único soldado português premiado com a mais alta honraria nacional: a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
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O Soldado Milhões tornou-se um herói durante a Primeira Guerra Mundial
ao enfrentar sozinho uma ofensiva alemã, e a sua história faz parte da aldeia
de Valongo de Milhais, perto de Murça, em Trás-os-Montes.

Na sua terra natal, no concelho de Murça, distrito de Vila Real, todos conhecem a história do jovem analfabeto e pobre, um franzino com pouco mais de metro e meio de altura, que desobedeceu às ordens de retirada e ficou para trás, sozinho e abrigado numa trincheira, a disparar contra o inimigo. Aníbal Milhais ficou conhecido como o "Soldado Milhões", um epíteto que nasceu com o elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: "Tu és Milhais, mas vales milhões".

Feito de coragem

A história começa na madrugada de 9 de Abril de 1918, quando dezenas de divisões alemãs irromperam pelo sector português da frente, defendida pela segunda divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP). Em poucas horas, os portugueses perdem 7500 homens entre desaparecidos, mortos, feridos e prisioneiros, naquela que ficaria conhecida pela Batalha La Lys.

Entre o caos, surge um soldado português que vai transformar-se num herói. Augusto Milhais pertencia a uma secção de metralhadoras do Batalhão de Infantaria 15 (BI15). Em 1915 é apurado para a tropa. No ano seguinte, a 13 de Maio de 1916, assenta praça no Regimento de Infantaria (RI) nº 30, de Bragança. No mês seguinte é transferido para o RI 19, de Chaves. Meses depois, parte para a guerra. Especialidade: "atirador especial".
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Já em França, Aníbal Milhais especializa-se em metralhadoras Lewis e é integrado no BI 15, de Tomar, como nº 1 de uma das guarnições de metralhadoras ligeiras. Foi com a sua metralhadora Lewis, conhecida entre os portugueses por "Luísa", que enfrentou sozinho na trincheira os soldados alemães.
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A Lewis Gun, ou, simplesmente Lewis, é uma metralhadora criada nos Estados Unidos em
1911, e muito usada pelas forças armadas do mundo inteiro, principalmente durante a Primeira
Guerra Mundial. Era usada para dar apoio à infantaria nas trincheiras, sendo amplamente usada
em aviões e carros de combate.

Durante a Batalha de La Lys, na Flandres, Aníbal Milhais corria entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que a posição estava a ser guardada por vários militares. À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com uns amendoins no bolso, até ser encontrado por um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português. Foi esse mesmo oficial escocês que relatou depois o acto heróico do soldado transmontano.
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Devido à sua coragem de ter enfrentado sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, permitiu dar tempo para a retirada de vários soldados portugueses e escoceses para as posições defensivas da retaguarda.

Vida civil

Após a guerra e a condecoração, em 1919 Milhais regressou à sua terra natal. Tornou-se agricultor, casou e teve 10 filhos, ainda chegou a emigrar para o Brasil, de onde pouco tempo depois regressou por pressão da comunidade portuguesa, que considerava que não era digno um herói nacional ser emigrante.

Em 1928, no Brasil, Milhais teria trabalho numa fábrica do Rio de Janeiro, mas os compatriotas de Murça não aceitaram a vergonha de um herói emigrante. Fizeram uma colecta de forma a pagarem-lhe a viagem de regresso, dizendo-lhe que um herói da pátria não deveria emigrar, mas sim estar no seu país, como símbolo, como reserva de um conjunto de valores. A sua história foi resgatada pelo jornal "Diário de Lisboa" que em 1924, o transformou numa espécie de símbolo nacional que passou a ser usado pela propaganda dos governos da primeira República e pelo Estado Novo. Frequentemente é convocado para ser mostrado em cerimónias do regime, sempre que era preciso enaltecer a nação e exaltar os valores da raça.
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O Soldado Milhões condecorado pelo Presidente
da República, Américo Thomaz.

O uso do Soldado Milhões no Regime

O Soldado Milhões era um soldado raso, que recebeu a Ordem da Torre e Espada, normalmente reservada para as altas patentes militares, e o regime aproveitava-se disso para efeitos de propaganda. Além disso, era um homem do povo, humilde, que se identificava com a identidade do povo português da época.
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Mas Milhais nunca terá tido consciência desse aproveitamento; e tal como muitos soldados portugueses, combateu numa guerra defendendo a pátria, sem nunca conhecer os verdadeiros motivos da presença portuguesa nessa guerra. Para Milhais, bastava comparecer na cerimónia militar fardado e com as medalhas ao peito, situação a que era obrigado.

O destino das medalhas

As medalhas conquistadas foram doadas ao Museu Militar do Porto, e também ao Museu do Regimento de Infantaria 13, em Vila Real. Aníbal Augusto Milhais morreu no dia 3 de Junho de 1970, aos 75 anos, em Valongo, a aldeia que adoptou o nome de Milhais em sua homenagem, que deu ainda o nome "Herói Milhões" a uma rua.
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Espólio militar do Soldado Milhões, onde se inclui a medalha da Ordem Militar da Torre e Espada,
doado ao Museu Militar do Porto.
 
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Gravações de Milhais

Leonida Milhões, filha de Aníbal Augusto Milhais, preservou durante mais de cinco décadas uma bobina com uma gravação em que o pai conta a sua versão dos acontecimentos ocorridos durante a Batalha da La Lys, na região de Flandres, na Bélgica.

[video=youtube;m8AxDPL3Bx8]https://www.youtube.com/watch?v=m8AxDPL3Bx8&t=153s[/video]

Uma equipa da RTP realizou uma reportagem utilizando essa gravação. É aqui que começa a história contada pelo próprio, gravada em 1967, e preservada pela família.
[video=youtube;OB7S5aiJGlE]https://www.youtube.com/watch?v=OB7S5aiJGlE[/video]
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