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Erva. O que tem a banca a ver com a canábis?

Luisao27

GF Ouro
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Jun 7, 2017
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[h=2]Alguém ouviu falar de uma indústria em que os contabilistas pagam milhares em impostos com sacos de dinheiro?
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O mercado legal de canábis vai gerar 8 mil milhões de dólares em receitas este ano só nos Estados Unidos, onde 29 estados legalizaram o seu uso medicinal e 8 permitem também o consumo recreativo. É uma das indústrias de mais rápido crescimento do mundo e calcula-se que estes números estejam a ser altamente subestimados, visto que a indústria ainda está a transitar das sombras para a legalidade. As estimativas que incluem o mercado paralelo ascendem aos 75 mil milhões de dólares, um colosso superior ao valor combinado das indústrias da música e cinema.


Agora o pormenor mais incrível: a maioria destas receitas são geridas, movimentadas e passadas de mão para mão em numerário. Dinheiro vivo. Milhões e milhões de dólares metidos em sacos, cofres, malas e colchões. Algo semelhante ao que mostra a série “Narcos” no Netflix, mas neste caso não é cocaína e não há padrinhos em cartéis.


O que gera esta situação caricata é a inconsistência das leis nos Estados Unidos e a diferença entre o governo federal e os governos estatais. Apesar de mais de metade do país já ter legalizado o uso de canábis para fins medicinais, com leis estatais que regulam o mercado, a planta ainda é completamente ilegal ao nível federal. Apenas o congresso poderá mudar isso, retirando a canábis da lista de drogas ilícitas e abrindo portas à sua total legalização.


Como isso ainda não aconteceu, os bancos e instituições financeiras fogem de qualquer negócio que esteja remotamente ligado à canábis, o que gera uma situação confusa e perigosa. Todos os bancos têm seguros federais para os depósitos e são obrigados a cumprir as leis federais.

“Isto significa que é muito difícil conseguir acesso a serviços bancários, que são a linha vital de todos os outros sectores da economia”, explica ao Dinheiro Vivo John Kagia, vice presidente executivo de analítica de indústrias no Frontier Financial Group. Movimentar milhões em numerário, diz, “seria inaceitável em qualquer outro ambiente.”


Mas é com isto que a indústria da canábis tem de lidar todos os dias. Embora este sector seja composto maioritariamente por pequenas empresas e empresários individuais, os volumes de dinheiro associados são brutais. Um dispensário, que vende os produtos finais aos consumidores, pode chegar ao fim da manhã com mais de 50 mil dólares em numerário na caixa. O que é o gerente faz com aquilo? Leva para casa, pois claro. Os impostos e licenças também são pagos em dinheiro. É uma situação surreal.

“Quase todas as empresas envolvidas na canábis tiveram uma conta bancária encerrada e a maioria teve várias contas encerradas”, aponta Lance Ott, CEO da Guardian Data Systems, durante a Cannabis World Congress and Business Exposition em Los Angeles. É a quarta edição do evento, que acontece sempre em setembro e junta cultivadores de canábis, distribuidores grossistas, dispensários, fabricantes de acessórios para o cultivo e comercialização, especialistas e interessados na indústria. Lance Ott chama a atenção também para outro problema associado: o financiamento tradicional é limitado ou está fora de questão. Da mesma forma, é muito difícil para estes negócios conseguirem apólices de seguro, e quando conseguem os preços raramente são razoáveis.

O que acontece muitas vezes é que os donos de empresas ligadas à canábis não identificam corretamente o sector em que operam; quando os bancos descobrem, terminam a conta quase de forma imediata. Ou então identificam mas as autoridades federais um dia lembram-se de fazer um raide. Foi o que aconteceu a Derek Peterson, CEO da Terra Tech Corp. De um dia para o outro, a conta da empresa com 13 milhões de dólares estava a zeros. “Foi uma ação de confisco federal”, explica o responsável. O dinheiro foi devolvido num cheque administrativo, enviado pelos correios, duas semanas depois.

“Os bancos são postos numa posição estranha, porque são obrigados a reportar quaisquer transações bancárias envolvendo dinheiro proveniente da venda de canábis. Também enfrentam a possibilidade real de penalidades por darem assistência a lavagem de dinheiro”, esclarece Lance Ott.

Muitos dos grandes bancos nos Estados Unidos recusam trabalhar neste espaço, citando receios acerca do estatuto legal ao nível federal – do Wells Fargo ao BNC Bank, JP Morgan Chase, PE Bank e KeyBank. É que nenhum deles será protegido de processos legais interpostos pelas autoridades federais. No entanto, os Estados que legalizaram exigem cada vez mais requisitos às empresas de canábis, o que faz sentido a caminho da profissionalização. O problema, diz Lance Ott, é que “esta falta de acesso está a acontecer ao mesmo tempo que são impostos requisitos às empresas de canábis que requerem o acesso a instituições financeiras.”


[h=2]Fintech: a alternativa
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Perante este cenário, começaram a surgir serviços e plataformas de fintech para tentar ajudar as empresas. “Vemos grande inovação em sistemas de processamento de pagamento, tudo desde Bitcoin ou modelos de pagamento em moeda criptográfica a tipos de processamento tipo Blockchain, que permitem a monitorização das transações”, indica o analista John Kagia. “Toda essa inovação está a tentar endereçar esta questão crítica da falta de serviços financeiros e tentar tirar o numerário do sistema. Quando se tenta monitorizar essas quantidades de dinheiro, isso não cria apenas receios significativos de segurança mas também enormes ineficiências operacionais”, ressalta.

Uma das principais plataformas desta nova geração de serviços é a Amercanex. “É o primeiro mercado grossista completamente transparente para a distribuição de canábis por participantes na indústria”, diz ao Dinheiro Vivo Mike Herron, que lidera o mercado norte-americano na empresa. “Construímos o equivalente do eBay para a erva, junto com uma solução tipo PayPal.”

A descrição é mais ou menos fiel. De facto, trata-se de uma plataforma online onde os cultivadores podem vender a sua produção, os distribuidores grossistas podem encontrar a melhor canábis e os dispensários acedem a um catálogo invejável de fornecedores. “Nós próprios estávamos na situação em que não conseguíamos fechar as transações porque os nossos participantes não conseguiam ter conta no banco ou tinham uma mas estava a ser fechada”, lembra Mike Harron. Daí surgiu a ideia do ACEpay, uma solução de pagamento similar ao Apple Pay. Os membros da equipa executiva têm todos décadas de experiência em Wall Street e trouxeram-na para este serviço, que também estará disponível para os consumidores finais através de uma app para smartphone.

A Amercanex foi depois mais além e criou uma solução com tecnologia tipo Blockchain (que está por detrás da Bitcoin), para garantir a inviolabilidade dos registos e transações. Uma indústria normal pode usar a ACH (Automated Clearing House) ou Fedwire Funds para transações financeiras automáticas, mas isso não está ao alcance das empresas de canábis.

“Ao estabelecer um programa de conformidade a que muitos dos nossos participantes e outras indústrias estão habituados, uma abordagem KYC – conheça o seu cliente, conseguimos construir uma plataforma Fintech que fará com que os bancos e uniões de crédito se sintam mais confortáveis para entrarem num ambiente fechado, transparente e em conformidade”, sintetiza Mike Harron. “É uma situação que nos permite fornecer a liquidez e os meios numa solução para que os participantes da indústria da canábis possam ir para a cama à noite sabendo que podem pagar as contas e os salários a tempo, que podem comprar seguros de saúde, que podem fazer crescer o valor da sua companhia.”


Cada empresa que queira participar no mercado tem de comprar uma posição por 10 mil dólares, havendo neste momento oito mil membros ativos e três mil posições em aberto. Quanto a bancos, já há três ligados à plataforma e “dezenas” estão a fazer testes para aderirem ao sistema.

[h=2]Canábis na bolsa
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Sim, há empresas de canábis cotadas, mais especificamente 350. A Kush Bottles, que é um fornecedor B2B, cotou-se em 2016 e tem analistas a seguir as suas ações. Reporta 100% de crescimento praticamente todos os anos desde a fundação, em 2010. Outro bom exemplo é o da Terra Tech, que cultiva canábis, opera laboratórios de extração e comercializa o produto. Cotou-se em 2012 e levantou já 66 milhões de dólares.


Há também oportunidades para quem queira financiar indústrias de elevado risco como esta. “Não é barato levantar capital nesta indústria”, concede Todd Sherer, diretor de desenvolvimento de negócios da Kind Growth Capital, que trabalha para financiar empresas neste espaço. São companhias que não teriam problemas em conseguir empréstimos se estivessem em qualquer outra indústria, mas aqui têm de pagar custos incríveis – 10% a 20% do valor total do empréstimo. “É um negócio muito lucrativo com margens elevadas, por isso esses custos não interferem com a rentabilidade.”


Aqui está a chave. Porque é que estas empresas todas estão a apostar num sector que corre tantos riscos legais e está a ser perseguido pela administração Trump, com um procurador-geral que quer reverter o caminho para a legalização? Porque a recompensa é tremenda.
John Kagia sublinha que há agora oportunidades significativas para “pôr a bola a rolar na indústria” e para ganhar dividendos significativos.

Onde é que ele aconselha os novos investidores a apostarem? Cultivo e retalho, que estão a receber o maior investimento este ano (500 milhões de dólares) e biotecnologia, que vai nos 350 milhões. “Porque estamos a transitar da geração 1.0 para a geração 2.0 e nessa transição haverá muitas oportunidades de retorno do investimento.”



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