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Bandung : O Nascimento do Terceiro Mundo

Rita Saymor

GF Prata
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Bandung : O Nascimento do Terceiro Mundo

Entre 18 e 24 de Abril de 1955, os delegados de 29 países da África e da Ásia reúnem-se em Bandung sob a presidência do indonésio Sukarno e a convite de cinco chefes de Governo asiáticos. Em geral, os observadores ocidentais vêem nesse facto apenas mais uma iniciativa diplomática visando organizar as relações políticas nesta região do Mundo, recentemente libertada do jugo colonial. Os mais perspicazes compreendem todavia a importância desta manifestação unitária : Bandung é a certidão de nascimento do " Terceiro Mundo " ainda que a palavra só apareça, como tal, um ano depois.

A morte do complexo de inferioridade.
Em Bandung, os representantes dos países africanos e asiáticos tomam uma resolução que vai permitir-lhes participar inteiramente na política internacional. Tomando consciência do destino e dos interesses das suas comunidades, os " antigos colonizados " unem-se para afirmar o anti-imperialismo, o não alinhamento e o direito ao desenvolvimento.
Requisitório contra a colonização, a conferência reúne prioritariamente os seus participantes contra o imperialismo.
O anti-imperialismo não fará senão desenvolver-se depois de Bandung, no seio da Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia e da África, criada em 1958, logo após a entrada em massa dos países africanos no próprio seio das Nações Unidas.
Como corolário deste requisitório, os países descolonizados adoptam o princípio do não alinhamento como condição necessária à manifestação da sua personalidade e da sua identidade. No contexto da guerra fria, o " não aceitar recorrer a medidas de defesa colectiva, destinadas a servir os interesses das grandes potências sejam elas quais forem", não significa outra coisa.
No plano político, Bandung provocou entre os países africanos e asiáticos a " morte do complexo de inferioridade", segundo a palavra de L.S.Senghor.

A manutenção da influência ocidental
A par da afirmação do direito à existência política, a Conferência de Bandung reconhece a necessidade vital de uma cooperação económica com os países ocidentais. Por aí, como pela manutenção de certas instituições políticas, a influência do Ocidente continua a manifestar-se nestes países. O caso da Índia é, a esse respeito, significativo. A sua constituição federal. que entra em vigor em 1950, inspira-se directamente nos princípios políticos europeus e na ideia democrática, adaptando-se às realidades políticas indianas. O caso da Índia não é isolado, o mesmo fenómeno repete-se na África francófona.

A via autoritária
A democracia liberal à inglesa ou à francesa, mesmo adaptada ao continente africano, é imediatamente atacada por regimes autoritários baseados no poder discricionário de um só.
É assim que, na Indonésia, o presidente Sukarno leva o país a fazer uma viragem política séria quando estigmatiza a " democracia de importação" e em 952 instala um governo de vocação populista. Na maior parte dos casos, a mutação conduz primeiro a um desvio das instituições democráticas em favor do chefe do Estado.
O movimento continua pela constituição de partidos únicos que aparecem em países socialistas, no Gana ou na Guiné, como em outros mais. O controle do Poder e das instituições pelo presidente e o seu partido leva à impossibilidade, para a oposição, de se exprimir legalmente. Na ausência desta válvula de segurança, vai haver constantes golpes de Estado e de forças militares prejudicais ao desenvolvimento destes países. Entre 1960 e 1969, o continente africano conhece cinquenta tentativas de golpe de Estado.

A Brecha.
Frágeis nações de regimes incertos, desestabilizados por estruturas sociais arcaicas que se mantêm com uma fraca burguesia ocidentalizada, povos com tradições religiosas e tribais tão variadas quanto vivas, os países do terceiro mundo dificilmente conseguem conservar a sua independência política e a solidariedade inicial afirmada em Bandung .
 
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