• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Lendas de Portugal

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
As lendas são narrativas localizadas no tempo e no espaço onde ocorre, invariavelmente, uma força mágica, um toque sobrenatural, não raramente a presença de divindades pagãs ou católicas.

Como todas as narrativas, também as lendas têm acção e personagens – heróis e vilões – e, também como as narrativas podem ser baseadas em factos verídicos ou serem pura ficção.

São relatos orais ( poucas estão documentadas em colectâneas etnográficas ) que passam de geração em geração e que vão sendo moldadas ao sabor dos tempos e das personalidades de quem as conta. Fazem parte do chamado “maravilhoso popular”.

O que é certo é que as lendas existem – quer sejam verdadeiras ou não – e são um elemento importantíssimo na cultura ( sobretudo da Europa Ocidental ). São um fenómeno de identificação cultural dos povos e uma importante fonte para compreender as bases das nossas sociedades actuais.

Em Portugal Continental pode dizer-se que não há uma só cidade que não tenha uma lenda, mas o que aqui se apresenta é apenas uma pequena parte delas.

Trata-se de um pequeno contributo para a divulgação da nossa cultura popular, em salvaguarda daquilo que nos faz portugueses.
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Do Galo De Barcelos

A LENDA DO GALO DE BARCELOS

Esta lenda está associada a um antigo padrão de pedra de Barcelos, de origem desconhecida, que tem em si gravados, em baixo relevo, a Virgem, S. Paulo, o Sol, a Lua e um Dragão de um lado e do outro um Cristo Crucificado, um Galo e Santiago sustentando um enforcado.

Na origem da lenda está um crime perpetrado em Barcelinhos que ficou impune, apesar das sérias investigações das autoridades de então.

Este crime ficou esquecido até que um dia um peregrino galego que se dirigia a Santiago parou para passar a noite no albergue local. Ao jantar, enquanto ceava, reparou que alguém o observava fixamente mas não fez caso e continuou a sua refeição. O observador saiu do albergue, dirigiu-se a casa do juiz, e acusou o peregrino da autoria do crime.

Preso, o crente galego não conseguía apresentar provas da sua inocência, tendo sido levado para as masmorras, julgado e condenado à forca. No dia do enforcamento, o peregrino pediu, como sua última vontade, que o levassem à presença do juiz que tão injustamente o tinha julgado.

Perante o juiz, que estava em sua casa preparando-se para trinchar um magnífico galo assado, o condenado ajoelhou-se. Seguidamente, afirmou a sua inocência e suplicou que não o enforcassem, pois era a primeira vez que estava em Barcelinhos e nunca tinha visto a vítima do crime.

O juiz não se comoveu. Então, o galego invocou a ajuda de Santiago e perante todos afirmou que era tão certo estar inocente como o galo assado cantar antes do dia acabar.

Todos os convivas presentes se riram da afirmação mas, supersticiosamente, não tocaram no galo.

À noite, observaram com espanto que o galo se cobria de penas novas, se levantava e batia asas para cantar com energia.

Correram todos para o lugar da forca e encheram-se de espanto ao ver o peregrino vivo, com uma corda lassa à volta do pescoço, apesar de estar pendurado.

Atemorizados por este facto insólito, libertaram o peregrino galego, deixando-o seguir o seu caminho.

Diz-se que em agradecimento pela ajuda de Santiago, o peregrino mandou colocar o padrão que ainda hoje lá se encontra.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Boca Do Inferno

A LENDA DA BOCA DO INFERNO

Pergunto-me se não conheceremos todos, pelo menos de nome, a Boca do Inferno, ali em Cascais, e quase certa de me não enganar posso dizer que ninguém a desconhece. Quanto à lenda ligada aos seus rochedos e redemoinhos, creio que também não me engano se disser que essa nem todos a conhecemos.

A memória dos homens é curta e por isso não sei já há quanto tempo se passou esta história. O que interessa, realmente, é que se passou tudo há longo tempo.

Nesse tempo esquecido existia por ali um enorme castelo, paço habitado por um homem de aspecto feroz e satânico que, nas horas da sua actividade, cultivavam a arte da feitiçaria.

Um dia, esse homem decidiu casar-se, e para escolher a mais bela mulher das redondezas consultou a sua lâmina de cristal de rocha para identificar o local e a casa onde deveria mandar buscá-la. Quando viu a mulher que os seus cavaleiros trouxeram, ficou estupefacto.

Era estupefactamente mais bela do que imaginara ao vê-la sugerida na lâmina das adivinhações. Diz-se que lhe deu uma fúria de ciúmes e tratou de a esconder da cobiça alheia para preservar o seu amor, mas penso que a escondeu do mundo para se proteger a si mesmo, que não a soubera cativar.
Encarcerou a mulher numa torre inexpugnável e solitária, e guardou-a como se guardam aquelas coisas que ao mesmo tempo se amam e detestam, ou temem. Escolheu-lhe para guardião o mais fiel dos seus cavaleiros, exactamente o homem que nunca a vira, para que mais cegamente a guardasse.

Frente ao mar o tempo passava, cronometrados os dias pelas marés, as semanas pela sucessão dos dias e das noites, os meses pela lua. Tão só se sentia o guardião como a cativa do seu senhor. O horizonte de ambos era o mar eternamente sempre outro e o mesmo. A música que a ambos chegava era a dos seus pensamentos, a do marulhar revolto ou terno das ondas, o sibilo do vento por entre as rochas. Assim passava o tempo e não passava, porque o tempo para ser tempo tem de se referenciar à vida, e ali não se passava nada que fosse vivo.

Até que, um dia, o ócio provocou no cavaleiro uma curiosidade inadiável. Insensivelmente, deu por si a pensar que mulher era aquela que merecia tão triste reclusão. Pouco depois, encontrou-se a desejar abrir a porta da torre para ver ao menos o rosto da mulher que guardava. Por fim, achou-se frente à porta de chave na mão.

Meteu-a na fechadura e rodou. A porta rangeu de ferrugem quando o cavaleiro se apoiou nela lentamente. E enquanto subia a escada de caracol que levava à câmara da cativa, talvez mil pensamentos se lhe entrecruzassem silenciosamente no cérebro: o que iria encontrar? Seria bonita ou horrorosa? Se calhar era aleijada! Muda ou doente! E se estivesse morta? Não, na realidade enquanto subia as escadas não pensou nada. Estava apenas expectante e quem vive expectativas não se pergunta nada, ainda que na sua espera hajam inscritas todas as interrogações do mundo.

Frente à porta da câmara da sua cativa, o cavaleiro parou para acalmar o coração e tomar coragem. Quando conseguiu dominar a tremura das pernas e das mãos, empurrou a porta. O sol, que entrava por uma das ogivas da torre, bateu-lhe nos olhos e cegou-o por momentos. Pouco a pouco, retomou a visão e a névoa foi-se dissipando até o deixar frente à mulher que a sua expectativa não pudera imaginar.

Semivoltada, a cativa da torre, tão espantada quanto o guardião, olhou-o interrogativa, esperando a palavra que não veio, acabando por perguntar:
-Quem és tu, cavaleiro? Porque vens perturbar-me a solidão?
E o homem, quando achou de novo a sua voz, respondeu finalmente:
-Sou o vosso guardião, senhora! –e baixinho disse para si mesmo: «Agora o compreendo a ele…»
-O meu guardião! Guardião de quê? Desta solidão sem nome e sem razão? Vê, vê como se consomem os meus dias, sem prazer, sem ilusão!... ao menos tu…
-Eu , senhora? Eu estou ali em baixo tão só como vós, e a guardar o quê, para quê?! Mas a partir de hoje talvez possamos partilhar as nossas horas perdidas neste ermo. Tudo o que quiserdes, senhora, ordenai! Levar-vos-ei onde pedirdes!...

Diz a lenda que assim nasceu um louco amor assente sobre a cumplicidade dos segredos e das solidões. Os dias nunca mais foram lentos, o tempo fugiu à desfilada e instalou-se eterno e instante.

Um dia olharam-se, cativa e guardião, e perguntaram-se o que faziam ali. Porque estou eu prisioneira? De que sou eu guardião? Acharam aquela torre uma masmorra absurda. Que guarda um guardião sem chave? Como se sentir prisioneiro de uma prisão aberta?

Partiram.

Esqueceram tudo e esqueceram também o castelão feiticeiro que tudo sabia. Numa noite de luar montaram ambos o cavalo branco do cavaleiro e cavalgaram a toda a brida sobre os rochedos fronteiros ao mar.

No paço, o feiticeiro, louco de ciúmes e de raiva incontrolada, transformou a noite numa concentração de todas as tempestades e malefícios do mundo.
Sob as patas do cavalo abriram-se os rochedos negros de par em par, como se ali fosse uma das entradas do inferno. Cavalo e cavaleiros despenharam-se no abismo redemoinhante e foram engolidos pela boca do mar.

Assim que os dois amantes solitários desapareceram no redemoinhar infernal, acalmou a tempestade e o mar voltou a ficar manso como se nunca tivesse estado diferente. O buraco nos rochedos, porém, nunca mais fechou, como se a ferida da natureza quisesse perpetuar esta história. E talvez assim fosse, já que muitas vezes volta o vento e retoma a fúria do mar, tal como no dia em que morreram a cativa e o guardião da torre.

Por isto mesmo, e porque o povo da região nunca esqueceu a história, se chama àquele local de mistério Boca do Inferno.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Caparica

A LENDA DA CAPARICA​

Tudo começou há longos anos, quando uma menina contemplava o mar, numa tarde calma e branca de calor.

Ela não sabia que estava a ser observada por um velho, que se sentia intrigado com aquela criança, embrulhada numa capa. Foi falar com a menina e ela explicou-lhe que vivia só, que se chamava Miúda e que sempre tivera aquela capa.

O velho estava admirado. Como era possível que uma menina tão pequena andasse pelo mundo sem eira nem beira? Propôs-lhe viverem juntos, pois ele também estava só e tinha uma casinha no alto do monte, junto ao mar.

Assim foi. Ficaram juntos, ele envelhecendo e ela a crescer. Viviam com o que havia: o sol, o mar, os mariscos das rochas. Um dia, o velho achou que era tempo de se ir embora. Pediu à miúda a sua capa, porque tinha frio. Ela pôs-lha sobre o corpo, deu-lhe a mão e deixou-se dormir juntamente com ele. Quando acordou, ele já estava morto e a Miúda enterrou-o numa sepultura perto da igrejinha da Senhora do Monte. Deixou de chamar-se Miúda e escolheu para si o nome de Mulher.

Continuou a viver naquela casa, solitária. A sua vida era a mesma de sempre; as suas vestes, a velha capa. A Mulher viveu ali tantos anos, que lhe perdeu a conta.

Certo dia, reparou que a gente da zona começava a olhá-la estranhamente, como se tivessem medo dela. Não atinava porquê, já que ela nada mais era do que a Mulher velha e solitária, a Mulher da capa que, afinal, todos conheciam desde sempre. E agora ouvia dizer baixinho, quando descia à aldeia: "Bruxa, bruxa!".

Entristeceu, porque desconhecia o motivo por que lhe chamavam tal nome e porque não sabia que dentro de si saía uma luz desconhecida, quando no alto do monte erguia os braços ao sol ou à lua, na sua saudação diária.

As pessoas foram contar ao Rei e este mandou-a chamar, dizendo-lhe que ela era poderosa e que fazia ouro e malefícios. Ela ficou muito admirada e replicou que era tão pobre que só tinha aquela capa desde que nascera. O Rei olhou a Mulher e viu que era verdade. Mandou-a embora, com vergonha.

Um dia, quando as gentes da aldeia souberam da morte da Mulher pelo dobre dos sinos da Senhora do Monte, acorreram à velha morada cheias de curiosidade. Sobre o seu corpo estava a velha capa e sobre esta encontrava-se um papel destinado ao Rei. Nele estava escrito: "Meu Senhor: deixo-vos esta capa que tenho desde que nasci. Encontrei nela todo o ouro que diziam que eu tinha: foi o meu velho companheiro que, antes de se ir embora, aí o meteu. Eu nunca o tinha visto e agora que vi, não preciso dele. Utilizai-o nesta terra para que todos tirem dele o que mais desejarem. Afinal a minha capa era uma capa rica. Que o meu Deus vos abençoe."

Foi assim que apareceu o nome de Caparica, em memória de uma Mulher que ali surgiu um dia, quando era Míuda, vinda dos caminhos da Terra, coberta por uma capa já velha.


"Lendas Portuguesas" Recolha de Fernanda Frazão

Edit. "Amigos do Livro" (Adaptado )
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Cova Encantada Ou Da Casa Da Moura Zaida

A LENDA DA COVA ENCANTADA
OU DA CASA DA MOURA ZAIDA

Na serra de Sintra, perto do Castelo dos Mouros, existe uma rocha com um corte que a tradição diz marcar a entrada para uma cova que tem comunicação com o castelo.

É conhecida pela Cova da Moura ou a Cova Encantada e está ligada a uma lenda do tempo em que os Mouros dominavam Sintra e os cristãos nela faziam frequentes incursões.

Num dos combates, foi feito prisioneiro um cavaleiro nobre por quem Zaida, a filha do alcaide, se apaixonou. Dia após dia, Zaida visitava o nobre cavaleiro até que chegou a hora da sua libertação, através do pagamento de um resgate. O cavaleiro apaixonado pediu a Zaida para fugir com ele mas Zaida recusou, pedindo-lhe para nunca mais a esquecer.

O nobre cavaleiro voltou para a sua família mas uma grande tristeza ensombrava os seus dias. Tentou esquecer Zaida nos campos de batalha, mas após muitas noites de insónia decidiu atacar de novo o castelo de Sintra.

Foi durante esse combate que os dois enamorados se abraçaram, mas a sorte ou o azar quis que o nobre cavaleiro tombasse ferido. Zaida arrastou o seu amado, através de uma passagem secreta, até uma sala escondida nas grutas e, enquanto enchia uma bilha de água numa nascente próxima para levar ao seu amado, foi atingida por uma seta e caiu ferida.

O cavaleiro cristão juntou-se ao corpo da sua amada e os dois sangues misturaram-se, sendo ambos encontrados mais tarde já sem vida.

Desde então, em certas noites de luar, aparece junto à cova uma formosa donzela vestida de branco com uma bilha que enche de água para depois desaparecer na noite após um doloroso gemido...


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Moura Cassima

A LENDA DA MOURA CASSIMA

Esta lenda passa-se em 1149, na véspera da reconquista de Loulé aos Mouros pelo Mestre D. Paio Peres Correia.

Loulé estava sob domínio dos mouros e seu governador tinha três belas filhas Zara, Lídia e Cassima que era a mais nova.

Quando D. Peres se encontrava no exterior da muralhas da cidade pronto para conquistar a cidade, o governador levou as suas filhas até uma fonte onde as encantou, com o objectivo de as preservar de um possível do cativeiro. Contudo o governador nessa noite conseguiu fugir para Tânger deixando as suas filhas para trás.

Mas este não conseguía viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até que num certo dia apareceu em Tânger um "carregamento" de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé, que o governador não hesitou em comprar.

Já no palacete o mouro perguntou ao Carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto da sua família, este sem perder um segundo disse que sim. Logo o mouro pegou num alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água iria-se afogar no oceano, dando-lhe 3 pães (pães esses que continham a chave para o desencantamento das mouras) diz-lhe o que fazer com eles a fim de libertar as suas lindas filhas do encantamento a que foram sujeitas. O carpinteiro salta e como num passe de mágica chega a sua casa abraçando a sua mulher, logo de seguida ele vai até um canto da casa e esconde os 3 pães dentro de um baú.

Passado algum tempo mulher descobre os pães e fica desconfiada por ele estarem escondidos, então ela pega numa faca afim de ver se há alguma coisa dentro deles, espetando a faca num de imediato ela ouve um grito e as suas mãos enchem-se de sangue vindo do interior do pão.

Na véspera de S. João (dia para o encantamento ser quebrado) o carpinteiro estava indiferente à animação pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-governador, logo que pode pegou nos pães e foi até fonte.

Chegando a altura certa este atira o 1º pão para a fonte e grita por Zara, a mais velha das irmãs e uma figura feminina sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º e grita por Lídia volta a aparece-lhe outra bela rapariga que desaparece no ar diante dele. Por fim atira o 3º e grita pela filha mais nova do ex-governador, nada acontece, ele volta a grita por Cassima e uma jovem moura aparece-lhe agarrada ao gargalo da fonte, que lhe diz que não pode sair dali devido a curiosidade da sua esposa. Ele pede-lhe desculpa em nome da sua pobre mulher, esta diz que a perdôa e que tem uma coisa para a mulher deste pois jamais poderá sair daquela fonte e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do carpinteiro, enquanto desaparece no interior da fonte...

No caminho o Carpinteiro para ver melhor a beleza do cinto coloca-o em redor de um troco de um grande carvalho, mas de imediato a arvore cai por terra, cortada cerce pelo cinto fantástico.

Benzendo-se e rezando o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!...

Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não consegui pregar olho com medo que a moura ali aparecesse, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe dissera não mais poderia sair da fonte.

Apenas por vezes, segundo se diz - principalmente nas vésperas de S. João - ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua beleza, e chorar a sua dor aos que se aventuram por até lá....


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Fonte Da Moura - SantarÉm

A LENDA DA FONTE DA MOURA - SANTARÉM

A muito antiga Fonte da Moura que ainda hoje existe nos arredores de Santarém tem na origem a história da perseguição dos Mouros por D. Afonso Henriques, após a conquista da cidade.

Um grupo de cavaleiros, liderado pelo jovem rei, seguía já há dias pelos campos quando, cheios de sede, procuraram uma fonte.

Foi então que surpreenderam uma jovem moura fugitiva que ao ser questionada onde ficaria a fonte mais próxima lhes disse que era muito longe, acrescentando em tom de desafio que se o Deus dos cristãos era tão poderoso que fizesse nascer ali mesmo uma fonte. Talvez então ela se convertesse.

D. Afonso Henriques desceu do cavalo e retirou-se para rezar e, de repente, ouviu-se um som surdo e viu-se um jacto de água límpida e fresca que formou um pequeno regato. Os cavaleiros ajoelharam-se perante o milagre e a jovem moura, que chorava de emoção, prometeu dedicar a sua vida ao Deus cristão. A fonte ficou para sempre conhecida como a Fonte da Moura.


in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Noite De S.silvestre

A LENDA DA NOITE DE S.SILVESTRE
ILHA DA MADEIRA​

Esta lenda assegura que há muitos, muitos anos existia no oceano Atlântico uma ilha fabulosa, a Atlântida, e nela vivia a civilização mais maravilhosa de sempre.

Os seus habitantes, que Platão dizia descenderem dos amores do deus Poseidon com a mortal Clito, tornaram-se tão arrogantes que tiveram um dia a pretensão de conquistar todo o mundo, ousando mesmo o seu rei desafiar os céus.

Foi então que ouviu a voz do Deus verdadeiro dizer-lhe que nada poderia contra o poder divino. Mas o teimoso rei voltou a desafiá-lo e decidiu conquistar Atenas, mas, durante a batalha o rei da Atlântida ouviu a voz de Deus dizer-lhe que a vitória seria de Atenas para castigar a sua arrogância e ingratidão. À derrota seguíram-se terríveis tempestades, terramotos e inundações que engoliram a bela Atlântida para todo o sempre.

Passaram-se muitas centenas de anos até que um dia a Virgem Maria se debruçava dos céus sobre o oceano, sentada numa nuvem quando São Silvestre lhe veio falar.

Aquela era a última noite do ano e São Silvestre achava que deveria significar algo de diferente para os homens, ou seja, marcar uma fronteira entre o passado e o futuro, dando-lhes a possibilidade de se arrependerem dos seus erros e de terem esperança numa vida melhor. Nossa Senhora achou muito boa ideia e então confiou-lhe qual a razão porque estava a observar o mar com uma certa tristeza: lembrava-se da bela Atlântida que tinha sido afundada por Deus por causa dos erros e pecados dos seus habitantes.

Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair lágrimas de tristeza e misericórdia porque a humanidade, apesar do castigo, não se tinha emendado.

Emocionado, São Silvestre reparou que não eram apenas lágrimas que caíam dos olhos da Senhora, eram também pérolas autênticas que caiam dos Seus olhos. Foi então que uma dessas lágrimas foi cair no local onde a extraordinária Atlântida tinha existido, nascendo a ilha da Madeira que ficou conhecida como a Pérola do Atlântico.

Dizem os antigos que durante muito tempo, na noite de S. Silvestre quando batiam as doze badaladas surgia nos céus uma visão de luz e cores fantásticas que deixava nos ares um perfume estonteante.

Com o passar dos anos essa visão desapareceu, mas o povo manteve-a nas famosas festas de fim de ano com um maravilhoso fogo de artifício a celebrar a Noite de S. Silvestre.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Princesa FÁtima

A LENDA DA PRINCESA FÁTIMA

Fátima, jovem e bela princesa moura, era filha única do emir, que a guardava dos olhos dos homens numa torre ricamente mobilada, tendo por companhia apenas as aias e, entre elas, a sua preferida e confidente Cadija.

Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o "Traga-Mouros", o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela princesa à janela da torre.

Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das Luzes, na noite que mais tarde seria a de S. João, preparou uma cilada de amor.

No impressionante cortejo de mouras e mouros, montando corcéis lindamente ajaezados, Fátima era vigiada de perto por Abu. De repente, os cristãos liderados pelo "Traga-Mouros" saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo.

Mas Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu.

Como recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Afonso Henriques licença para se casar com a princesa Fátima, a que o rei acedeu com a condição que esta se convertesse.

A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima, mas a princesa, já com o nome cristão de Oureana, deu também o seu nome ao lugar onde se instalaram definitivamente, a Vila de Ourém.


in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da Serra Da Estrela

A LENDA DA SERRA DA ESTRELA​

Era uma vez um jovem pastor que vivia numa longínqua aldeia. Por único amigo tinha um cachorrinho, que nas longas noites de solidão se deitava a seus pés sem esperar nenhum gesto, nenhuma palavra.

Sofria este pastor de uma estranha inquietação: cismava alcançar uma serra enorme que via muito ao longe, ver as terras que existiriam para lá da muralha rochosa que constituía o seu horizonte desde que nascera. E muitas noites passava em claro, meditando nesse seu desejo infindável.

Certa noite em que se julgava acordado, sonhou que uma estrela descia até si e lhe segredava que o guiaria até ao objecto dos seus desejos. Acordou o pastor mais inquieto e angustiado que nunca, e procurou no céu a verdade do que sonhara. Lá estavam todas as estrelas iguais a si mesmas, imutáveis e eternas aparentemente. Mas também uma que lhe pareceu diferente e mais sua.

Passavam-se os dias e o desejo do pastor aumentava, fazia doer-lhe o corpo, ardia-lhe febril na cabeça. De noite, todas, todas as noites, procurava no céu a sua estrela diferente. E em sonhos ela aparecia-lhe muitas vezes desafiando-o, desafiando-lhe sempre a vontade. Mas a vontade por vezes é tão difícil!!

Uma noite, num ímpeto, decidiu-se. Arrumou tudo o que tinha e era nada, chamou o cão e partiu. Ao passar pela aldeia o cão ladrou e os velhos souberam que ele ia partir. Abanaram a cabeça ante a loucura do que assim partia à procura da fome, do frio, da morte. Mas o pastor levava consigo toda a riqueza que tinha: a fé, a vida e uma estrela.

E o pastor caminhou tantos anos que o cão envelheceu e não aguentou a caminhada. Morreu uma noite, nos caminhos, e foi enterrado à beira da estrada que fora de ambos. Só com a sua estrela, agora, o pastor continuou a caminhar, sempre com a serra adiante. E à que caminhava a serra ia estando sempre ali, no mesmo sítio e à mesma distância.

Passou todas as fomes e frios que os velhos lhe tinham vaticinado.

Atravessou rios, galgou campos verdes e campos ressequidos, caminhou sobre rochedos escarpados, passou dentro de cidades cheias de muros e gentes, mas a montanha dos seus desejos nunca a baniu do coração.

Por fim, já velho, alcançou a muralha escarpada que desde a infância o chamava. Subiu até ao mais alto da serra e ali pôde então largar o desejo do seu coração, agora em paz e sem desejo.

O horizonte era tão vasto e maravilhoso, a impressão de liberdade tão avassaladora que o pastor, sem falar, gritava dentro de si um hino de louvor que mais parecia o vento uivando por entre os penhascos rochosos de silêncio.

Instalou-se o velho pastor e a sua estrela ficou com ele, no céu.

O rei do mundo, porém, ouviu falar naquele velho pastor e na sua estrela fantástica. Mandou emissários à serra: todas as riquezas do mundo ao pastor em troca da sua pequena estrela.

O pastor ouviu com atenção o que lhe mandava dizer o rei. Depois, olhou em volta. Tudo eram pedras e rochedos. Uma pequena cabana coberta de colmo era a sua morada. Uma côdea de pão negro e uma gamela de leite as suas refeições. A sua distracção a paisagem infindamente igual e diferente do mundo de lá em cima. A sua única amiga, a estrela.

Suavemente, como quem sabe o segredo das palavras e o valor de todos os bens possíveis, virou-se para os emissários do rei do mundo e rejeitou todos os tesouros da terra, escolhendo a pequenez da sua estrela.

Passaram os anos e o velho morreu. Enterraram-no debaixo de uma fraga e nessa noite, estranhamente, a estrela brilhou com uma luz mais intensa. Os pastores da serra notaram essa diferença porque a reconheciam também entre as outras, pelo que o velho lhes contava em certas noites.

E em memória desta lenda, a serra passou a chamar-lhe, para sempre, serra da Estrela.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Da SertÃ

A LENDA DA SERTÃ

A vila da Sertã, segundo uma velha tradição ligada à romaria que anualmente se celebra em 14 e 15 de Agosto, é considerada o centro geográfico do País.

Daí o chamar-se à festa de Nossa Senhora dos Remédios romaria de Nossa Senhora do Meio.

Tanto as origens da vila como a etimologia do topónimo são desconhecidas.

Alguns autores de séculos passados, que se debruçam sobre este assunto, dizem-nos que a vila teria sido fundada por Sertório, em 74 a. C. Como em muitos outros casos, esta opinião baseia-se apenas na imaginação e no desejo de acrescentar pergaminhos de nobreza a uma povoação que provavelmente era a terra natal do inventor da teoria.

As armas da vila representam uma frigideira ou sertã com ovos. Tão lendária é a explicação da origem do brasão da vila quanto a história da sua fundação por Sertório.

Diz a lenda que o chefe da povoação, ou o seu castelão, mais especificamente, se encontrava ausente no momento em que os romanos investiram contra a fortificação. Celinda, sua mulher, estava na cozinha do castelo fritando ovos quando correram a dizer-lhe do ataque dos invasores e de que nele haviam morto o marido.

Cheia de ódio e desespero, correu às muralhas, por onde já penetravam os romanos. Na mão levava a sertã fervilhante de azeite e plena de ovos, os que preparava para o marido prestes para chegar e agora morto. Numa fúria indescritível, zurziu os romanos com a sertã com tal ímpeto que os fez recuar. A uns cegou-os com o azeite fervente e a outros matou-os com a «arma» que trazia nas mãos.

Conseguindo suster, quase só, a invasão dos romanos, foi depois auxiliada pelos povos das redondezas, que com prontidão acorreram ao alarme.
Deste facto memorável diz a lenda ter provindo o nome da vila e seu brasão de armas.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda Das Cruzes De Barcelos

A LENDA DAS CRUZES DE BARCELOS
BRAGA​

No ano de 1504, vivam em Barcelos dois homens que se odiavam: o sapateiro João Pires e o fidalgo D. Pedro Martins.

João Pires tinha uma filha, a Luisinha a quem o fidalgo, galanteador incorrigível, perseguía constantemente com os seus galanteios. Um dia, quando a jovem foi buscar água à fonte, D. Pedro Martins saiu-lhe ao caminho e só a pronta intervenção do sapateiro evitou o pior...

Duas valentes bofetadas de João Pires ficaram marcadas no rosto do fidalgo, como se tivessem sido impressas a fogo. A chacota do povo nos tempos que se seguíram só veio acirrar ainda mais o desejo de vingança do fidalgo contra o sapateiro e a sua filha.

Num dia de grande tempestade, um barco vindo da Flandres naufragou na costa de Esposende, perto de Barcelos.

Quando as mulheres acorreram à praia para recolher os despojos, Luisinha encontrou enterrado na areia um pedaço de madeira que tinha um calor estranho e exalava um exótico perfume.

Chegada a casa lançou o bocado de madeira ao fogo e algo de extraordinário aconteceu: a casa encheu-se de uma claridade estranha e no solo de terra batida ficou desenhada uma cruz luminosa.

Por mais que se escavasse a terra naquele local onde a cruz luminosa se projectava, a cova voltava a encher-se de terra. A notícia do milagre correu por toda a cidade e a casa do sapateiro passou a ser um local de peregrinação.

Apenas o fidalgo, D. Pedro Martins não acreditou e acusou o sapateiro e a filha de embusteiros e bruxos, afirmando que os dois deveriam ser atirados à fogueira.

Estas acusações ganharam cada vez mais adeptos que acompanharam D. Pedro Martins até à porta do sapateiro e, quando este se preparava para o acusar injustamente invocando o nome de Deus, a mesma cruz luminosa apareceu.

O fidalgo caiu humildemente de joelhos e pediu perdão a Deus, depois ordens para que começasse a construir um templo em acção de graças pelo milagre.

Diz a lenda que as marcas das mãos do sapateiro desapareceram-lhe do rosto naquele mesmo momento. Foi este milagre que deu origem a uma ermida anterior à actual igreja e também à famosa romaria da Feira das Cruzes de Barcelos.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A LENDA DAS SETE CIDADES
AÇORES​

Conta a lenda que o arquipélago dos Açores é o que hoje resta de uma ilha maravilhosa e estranha onde vivia um rei possuidor de um grande tesouro e uma imensa tristeza por não ter um filho que lhe sucedesse no trono.

Esta dor tornava-o amargo com a sua rainha estéril e cruel com o seu povo.

Mas uma noite perante os seus olhos desceu uma estrela muito brilhante dos céus que aos poucos se foi materializando numa mulher de beleza irreal envolta em luz prateada.

Com uma voz que mais parecia música essa mulher prometeu-lhe uma filha bela como o sol sob a condição que o rei expiasse a sua crueldade e injustiça através da paciência.

O rei teria que construir um palácio rodeado por sete cidades cercadas por muralhas de bronze que ninguém poderia transpor. A princesinha ficaria aí guardada durante trinta anos longe dos olhos e do carinho do rei.

O rei aceitou o desafio. Decorreram 28 anos e com eles cresceram a impaciência e o sofrimento do rei, que um dia não aguentou mais.

Apesar de ter sido avisado que morreria e que o seu reino seria destruído, o rei dirigiu-se às muralhas, desembainhou a espada e nelas descarregou a sua fúria.

A terra estremeceu num ruído terrível e das suas entranhas saíram línguas de fogo enquanto que o mar se levantou sobre a terra e a engoliu.

No fim de tudo, restaram apenas as nove ilhas dos Açores e o palácio da princesa, transformado agora na Lagoa das Sete Cidades dividida em duas lagoas: uma verde como o vestido da princesa e a outra azul da cor dos seus sapatos.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda De Abrantes

A LENDA DE ABRANTES


ABRANTES é uma antiquíssima cidade. Segundo alguns autores, terá sido fundada pelos Túrdulos 990 anos antes de Cristo, segundo outros foi fundada por galo-celtas em 308 a. C.

Foi senhoreada por Romanos, Visigodos, Árabes e, por fim, em 8 de Dezembro de 1148, conquistou-a D. Afonso Henriques.

Diz-se que os Romanos lhe chamavam Tubucci, os Vísigodos Aurantes e os Árabes Líbia.

Segundo a lenda, o nome de Abrantes data, mais ou menos, da época da conquista da fortaleza por D. Afonso Henriques, estando ligado a acontecimentos imediatamente posteriores.

Consta que era alcaide do castelo um velho mouro chamado Abraham Zaid. Abraham tinha uma filha a que chamara Zara e um filho bastardo, de uma cativa cristã, a que pusera o nome de Samuel. Ninguém sabia, porém, que Samuel era filho do velho alcaide, nem o próprio rapaz. Assim, viviam os doís jovens apaixonados e o velho sentindo crescer em si, dia a dia, uma angústia terrível, antevendo a hora em que seria obrigado a revelar o seu segredo.

Um dia, diz a História, os cristãos foram pôr cerco ao castelo. A hoste era comandada pelo aguerrido Afonso Henriques, que trazia consigo vários cavaleiros e monges. Do Mosteiro do Lorvão trouxera o Rei um velho e sábio monge beneditino para o aconselhar os assuntos espirituais. De algures, de um ocal qualquer do reino, trouxera um cavaleiro cheio de ideais e de força guerreira, chamado Machado.

Ferida a batalha e conquistado o castelo, Samuel foi aprisionado por Machado. Na confusão do saque da debandada moura, o cavaleiro, que acabara de desarmar Samuel, viu um peão perseguindo Zara com intuitos evidentes de violação, e, entregando o prisioneiro a dois vigias, correu em auxilio da moura. Com um forte empurrão derrubou o soldado, que estava ébrio, e amparando Zara foi entregá-la à custódia do velho beneditino, até que se acalmassem os ânimos exaltados pelo sangue, pelo saque e pelo vinho.

Quando o cavaleiro Machado retomou o seu posto, ía como que alheado. Ficara fascinado pela beleza da moura, estranhamente parecida com uma imagem de Nossa Senhora dos Aflitos que sua mãe lhe dera ao morrer e que ele, devotamente, trazia sempre consigo. Por outro lado, impressionara-o a repentina recordação de um sonho que vinha tendo frequentemente e no qual, ao escalar os muros de um castelo, se via salvando uma donzela com que se casaria. Tudo isto contribuía para o alhearnento do jovem cavaleiro, que, se não fossem as suas obrigações de guerreiro, decerto se teria quedado em enternecida contemplação da bela Zara.

Entretanto, D. Afonso Henriques, querendo remunerar os serviços prestados naquela batalha pelo seu bastardo D. Pedro Afonso, deu-lhe o senhorio do castelo e nomeou-o seu alcaide-mor. Pedro Afonso, porérn, desejava partir com o paí para Torres Novas e, por isso, decidiu delegar a alcaidaria no cavaleiro Machado.

O Rei, antes de partir, mandou que o monge ficasse no castelo como guardião das almas, ordenou-lhe que entregasse a prisioneira a Abraham e tomou todas as medidas necessárias à segurança da vila.

Assim que a hoste se desvaneceu ao longe, na poeira, o cavaleiro Machado, feliz por ficar como alcaide do castelo, apaixonado por Zara, preparou-se para conquistar o seu coração utilizando os meios permitidos pelo código de honra da cavalaria, ou seja, os modos corteses e suaves. Mas Zara, que adorava Samuel, sentia uma espécie de rejeição cada vez que o cavaleiro se aproximava de si. E, para não fazer qualquer gesto mais brusco que comprometesse a boa paz em que viviam, pedia conselhos ao pai e ao velho monge. O frade, como confessor do cavaleiro, bem sabia o amor que ele tinha pela donzela, e, como bom observador, compreendia que nas evasivas de Abraham existia qualquer coisa de estranho. Por isto, procurava conciliar toda a gente e assegurava a Zara a honradez e nobreza de sentimentos do jovem alcaide.

Samuel, porém, não conseguía viver em paz. Os ciúmes irrompiam nele à mínima alusão, ao mínimo gesto, sem que conseguísse controlar-se. E, na sua insegurança, tão depressa acatava as palavras conciliatórias de Abraham e do monge, como ficava possuído pelo demónio da Loucura, que o obrigava a cometer insânias.

Zara acreditava que Samuel estava compenetrado do seu amor e da sua fidelidade e pensava, por isso, que as acções destrambelhadas do rapaz provinham da mudança de situação para vencido de guerra. Assim, certa tarde em que tentava reconciliá-lo com o alcaide, perguntou ao pai como deveria proceder se o cavaleiro viesse procurá-la e ele não estivesse em casa: deveria manter a porta fechada como se não estivesse ninguém, ou recebê-lo-ía?

Abraham, julgando ver nesta pergunta um novo intuito de ofensa ao alcaide do castelo, para evitar mais problemas, respondeu:
-Nada temo nem receio da tua virtude, minha filha. E confio também na honradez do alcaide. Abre antes a porta!

Samuel, porém, ao ouvir estas palavras perdeu o domínio de si e correu para a rua, gritando como louco:
- Abre antes! Abre antes!

A vizinhança acorreu, uns aos postigos, outros às vielas, a saber o que aquilo era, e Samuel, enlouquecido de ciúmes, contava a história à sua maneira, deixando agravados o alcaide, Zara, Abraham e o próprio monge.

Conta a lenda, ainda, que Samuel acabou por cair de cansaço e de febre. Uma vez bom de saúde, Abraham juntou os e contou-lhes a verdade sobre o nascimento do rapaz. Assim ficaram a saber que eram irmãos e que a mãe de Samuel fora uma bela cativa cristã que certo dia chegara a Tubuccí chorando um noivo que deixara na sua terra, chamado João Gonçalves.

Rolaram lágrimas silenciosas pelas faces envelhecidas do frade beneditino. Ele fora esse João Gonçalves que, vendo a noiva desaparecer, crendo-a perdida para sempre, entrara para o Mosteiro do Lorvão. Pediu o monge a Abraham dados sobre essa cativa, para se certificar de que a mãe de Samuel fora a sua amada noiva. E vendo que os dados coincidiam, tomou o rapaz a seu cargo, conseguindo pô-lo ao serviço do Rei de Portugal.

Machado e Zara acabaram por casar, depois de os mouros se terem feito cristãos, e dentro das muralhas da velha Tubuccí reinou, finalmente, a harmonia.

E, segundo reza a lenda, em memória do febril acesso de loucura de Samuel, Tubucci passou a ser chamada Abrantes.



in Frazão, Fernanda. "Lendas Portuguesas", vol. IV, pág. 67-73. Ed. Multilar. Lisboa: 1988
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda De Alenquer

A LENDA DE ALENQUER

Alenquer foi terra de um dos maiores europeus no século XVI. Aí nasceu, em 1501, Damião de Góis, o maior humanista português, amigo particular e dilecto de todos os grandes homens que a Europa gerou naquele século, dito do Renascimento.

Pois, segundo Damião de Góis, o nome de Alenquer derivaria da designação germânica Alan-Kerk ou Alano-Kerk, que significa «Castelo dos Alanos». Com efeito, os Alanos fundaram e fortificaram Alenquer no ano 418 a. C., mas a lenda que vos vou contar e que pretende explicar a génese do topónimo, vem do tempo da conquista do seu castelo aos mouros por Afonso Henriques.

Estava-se em 1148 quando a hoste de Afonso Henriques foi pôr cerco às muralhas da cidade. Os mouros, bem defendidos e sempre de atalaia, tinham jurado resistir até ao último homem. Assim, o cerco arrastava-se monótono, animado aqui e ali por pequenas escaramuças que não chegavam para alimentar o ócio dos sitiantes.

E se por um lado Alenquer e o seu castelo não vacilavam, pelo outro, o exército de el-Rei mantinha-se sem arredar pé.
Conta a lenda que Afonso I, aborrecido pela inacção, ergueu os olhos ao céu pedindo a Deus que lhe enviasse um sinal que mostrasse a hora apropriada a um ataque bem sucedido.

Na manhã seguinte, apareceu no arraial cristão, vindo não se sabe de onde, um enorme cão, um alão como naquele tempo se lhe chamava. Parou ao lado do Rei e quando sentiu sobre o pêlo a mão que o afagava, dando à cauda, começou a movimentar-se, lenta e seguramente, para os lados do castelo.

E, subitamente, Afonso Henriques teve a intuição de que aquele era o sinal que pedira a Deus. Num entusiasmo, cheio de fé, gritou para os capitães:
- Vede, companheiros! O alão quer, o alão quer!...
Este é o sinal divino! Vamo-nos ao castelo! Aos ginetes!... Avante, por Sant'iago!

Num frémito de audácia e determinação, os cavaleiros montaram e, com o alão adiante, lançaram-se à conquista do castelo. Os mouros não conseguíram resistir ao ímpeto confiante dos sitiantes e horas depois da primeira espadeirada o castelo foi tomado e o guião de Afonso I hasteado no alto das muralhas.

Daí do alto, el-Rei, ainda eufórico da peleja, com a cota manchada de sangue e de espada erguida, bradou para todos os homens:
- De hoje em adiante, toda esta terra passará a chamar-se «Terra do Alão Quer»!

Assim foi.
Com o tempo, a linguagem popular foi transformando o epíteto até o tornar naquilo que hoje sabemos: Alenquer.
E quem sabe se foi também para recordar esse facto que no brasão da cidade foram mandados desenhar o cão e o castelo da velha lenda.


Retirado do livro "Lendas Portuguesas" Investigação, recolha e textos de Fernanda Frazão
Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda De Coimbra

A LENDA DE COIMBRA

Coimbra é, como todos por de mais sabem, uma cidade de antiquíssimo povoamento.

Alguns autores pensam que foi fundada no local que ocupa com o nome de Colimbria. Segundo eles, o seu fundador teria sido Hércules Líbio, filho de um rei do Egipto.

Para outros, porém, teria sido fundada com o nome de Colimbriga, no local onde hoje é Condeixa-a-Velha.

Na realidade, ambos os topónimos assinalados são posteriores ao verdadeiro nome da cidade, de origem celta, como tudo leva a crer, e que seria provavelmente Conenobriga.

A lenda que vou contar relata o episódio donde se teria originado o nome da cidade e que, evidentemente, tem todos os foros de pura fantasia.

Diz essa lenda que em tempos houve na cidade uma princesa que era muito amada por um esforçado cavaleiro. Este tinha tentado por todos os meios ao seu alcance casar com ela, mas os pais da jovem não consentiram, porque nenhum feito até então efectuado era considerado suficientemente honroso e merecedor da princesa.

O moço estava já a desesperar quando, de súbito, um pavor enorme tomou conta da cidade: apareceram, vinda dos céus, uma terrível e grande serpente que ameaçava destruir tudo o que encontrasse na sua frente.

Conta a lenda que o povo chamava à serpente Coluber, sem contudo nos deixar dito porquê.

A princesa, ansiando que o cavaleiro -que sabia corajoso como poucos – mostrasse o seu valor aos pais, inventou um estratagema para tornar possível a aproximação do rapaz. Pediu aos pais que mandassem anunciar na cidade que ela casaria com o cavaleiro que matasse a serpente. Os soberanos aceitaram a aposta e os arautos anunciaram por todo o lado a vontade da princesa.

Muitos foram os cavaleiros que se apresentaram. Contudo, só o enamorado da princesa teve coragem suficiente de se aproximar da toca de Coluber.

Desmontou do cavalo e acendeu à boca da gruta uma fogueira. Com o manto fez entrar todo o fumo que pôde, para obrigar a serpente a sair, e de facto, pouco tempo depois, o monstro saía meio sufocado. De espada em punho, o cavaleiro tentou cortar-lhe a cabeça, mas falhou, ao mesmo tempo que o instinto de defesa da serpente despertava. Deu-se então uma luta fantástica, em que o cavaleiro esteve por várias vezes a pontos de sucumbir apertado pelos anéis de Coluber. Num golpe de sorte e perícia, porém, conseguiu cortar a cabeça da serpente, quando estava já a atingir o desespero.

Os pais da jovem cumpriram o prometido e foi assim que o cavaleiro matador de Coluber conseguiu a mão da sua amada princesa.

Acrescenta a lenda que, no local onde a serpente foi morta, fundou-se uma povoação a que deram o nome de Columber Briga, que significa «Batalha da Cobra».


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, recolha e textos de Fernanda Frazão
Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda De Dornes

A LENDA DE DORNES​

A vila de Dornes fica no concelho de Ferreira do Zêzere. Apesar de existirem provas documentais de que até ao século XV foi conhecida por Dornas, um velho manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa explica que a etimologia da povoação proveio da lenda que vou contar.

Há muitos séculos atrás, as terras desta região pertenciam à Rainha Santa Isabel, mulher de el-rei D. Dinis. Era feitor da Rainha, na região, um cavaleiro chamado Guilherme de Paiva, ao qual atribuíam proezas milagrosas.

Conta-se deste homem que, certa vez, passou a pé enxuto o rio Zêzere, caminhando de uma margem para a outra sobre a sua capa, que lançara sobre as águas.

Um dia, andava Guilherme de Paiva atrás de um veado na banda de além do Zêzere, onde só havia brenhas e matos espessos, quando ouviu uns gemidos muito dolorosos. Tentou saber de que sítio provinham e, apesar de perder algumas horas nesta busca, nada conseguiu achar, pois os gemidos pareciam provir dos mais diversos locais. No dia seguinte voltou ali e de novo os gemidos se espalharam à sua volta, vindo agora de um tufo espesso de mato, depois de um rochedo, numa ciranda sem fim. Guilherme de Paiva sofria espantado, partilhando a dor daquele alguém que parecia fazer parte do universo. Ao terceiro dia tudo se repetiu como antes.

Tomou, pois, a decisão de partir para Coimbra onde estava a sua senhora, a fim de lhe relatar aqueles estranhos factos. Assim que chegou à cidade dirigiu-se imediatamente à pousada real e solicitou a sua visita a D. Isabel.

Esta, mal o viu, e depois das saudações devidas, disse-lhe:
-Vindes por via dos gemidos, Guilherme?
-…!
-Não precisais espantar-vos! Três noites a fio sonhei com eles e sei do que se trata.
-O que é então, Senhora? Procurei por todo o lado e nada vi!...
- Bem sei. Deus contou-me tudo nos sonhos. Agora vais voltar ao local e procurar onde te vou dizer: aí acharás uma imagem santa de Nossa Senhora, com o Filho morto em seus braços.
-Assim farei, minha senhora Dona Isabel! Mas, e depois, que faço eu dessa imagem?
-Guardá-la-ás contigo até me veres chegar junto a ti!

Despediu-se Guilherme de Paiva da Rainha Santa, levando na memória a localização exacta da moita onde a imagem de Nossa Senhora o aguardava gemendo, e partiu de Coimbra.

Já de volta a terras do Zêzere, o cavaleiro dirigiu-se à serra de Vermelha, como lhe dissera D. Isabel, e foi milagrosamente direito a determinada moita onde achou enrodilhada em urzes a imagem da Virgem pranteando a morte de seu Filho.

Durante algum tempo manteve-a consigo, na sua própria casa. Os gemidos haviam cessado e assim Guilherme de Paiva tinha a Santa Imagem na sua câmara, com um archote aceso de cada lado.

Um dia, a Rainha Santa foi, finalmente, às suas terras do Zêzere resolver o caso da imagem. Assim, junto a uma velha torre pentagonal que já aí existia, mandou erigir uma ermida para a Virgem achada nas moitas. E nessa torre - que provavelmente foi construída pelos Templários -, ordenou que se instalassem os sinos da ermida.

Em breve o povo começou a construir casas em redor da capela e da torre e, diz a lenda, a Rainha Santa deu a essa vila nascente o nome de Vila das Dores, nome que com o tempo se teria corrompido até dar Dornes.

É isto o que conta a lenda transcrita no velho manuscrito.

A capela com a sua torre sineira ainda hoje existem, e a imagem achada há muitos séculos atrás é venerada sob a designação de Nossa Senhora do Pranto.


in Frazão, Fernanda. "Lendas Portuguesas", vol. IV, pág. 75-79. Ed. Multilar. Lisboa: 1988
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A LENDA DE EGAS MONIZ, O AIO
BRAGA

A batalha de Valdevez entre os exércitos de D. Afonso Henriques e Afonso VII de Castela não teve um resultado decisivo para nenhuma das hostes envolvidas.

D. Afonso Henriques retirou-se para Guimarães com o seu aio Egas Moniz e com os outros chefes das cinco famílias mais importantes do Condado Portucalense, interessadas na independência.

O monarca castelhano pôs cerco ao castelo de Guimarães mas o futuro rei de Portugal preferia morrer a render-se ao primo.

Egas Moniz, fundamentado na autoridade que a posição e a idade lhe conferiam, decidiu negociar a paz com Afonso VII a troco da vassalagem de D. Afonso Henriques e dos nobres que o apoiavam.

O rei castelhano aceitou a palavra de Egas Moniz de que D. Afonso Henriques cumpriria o voto de vassalagem.

Mas um ano depois, D. Afonso Henriques quebrou o prometido e resolveu invadir a Galiza, dando origem a um dos momentos mais heróicos da nossa história.

Vestidos de condenados, Egas Moniz apresentou-se com toda a sua família na corte de D. Afonso VII, em Castela, pondo nas mãos do rei as suas vidas como penhor da promessa quebrada.

O rei castelhano, diante da coragem e humildade de Egas Moniz, decidiu perdoar-lhe e presenteou-o com favores.

Este acto heróico impressionou também D. Afonso Henriques, que concedeu ao seu velho aio extensos domínios.

Pensa-se que esta terá sido uma estratégia inteligente por parte de Egas Moniz para que o primeiro rei de Portugal pudesse ganhar tempo.

Ao entregar-se, Egas Moniz ressalvava a sua honra e também a de Afonso Henriques, assegurando através da sua astúcia a futura independência de Portugal.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A LENDA DE LINDA-A-VELHA
LISBOA

Numa casa acastelada, situada nos arredores de Lisboa onde nascia uma pequena povoação ainda sem nome, vivia uma recatada e esbelta jovem que cavaleiros e jograis cortejavam.

A todos, com discreta delicadeza, rejeitava. Até que - há sempre um dia - apareceu um moço fidalgo, amável e bem parecido. Olharam-se, e logo, se amaram. Falaram os olhos e entenderam-se - a expressiva linguagem dos olhos! Só, depois de, à noite, o jovem lhe ter cantado madrigais, chegaram à fala. Confessaram, mutuamente, o súbito amor que brotara em ambos.

Aconteceu que o enlevo foi fugaz. É que, entretanto, a rogo do papa, o rei tinha anuído a participar numa cruzada à Terra Santa, para libertar a Palestina das garras dos infiéis.

Os fidalgos foram convocados e o jovem amador lá partiu, com o coração destroçado, mas animado pelas juras de inquebrantável amor.

Da varanda da torre de sua casa, a jovem, entre lágrimas de saudade, viu a armada descer o Tejo e, de seguida, foi à capela rezar pelo êxito do seu bem-amado. Mas a nau em que este seguía foi surpreendida por uma tempestade à entrada do estreito de Gibraltar (então chamado Colunas de Hércules). Naufragou e a tripulação pereceu. Ninguém teve coragem, quando chegou a notícia, de lhe contar o nefasto acontecimento. Mas ela, com o passar do tempo, adivinhou-o. O amor, porém, não morreu e alimentou a sua alma, com tanto vigor que até conservava a sua juventude facial, inexplicavelmente.

O corpo perdia o viço, os cabelos embranqueciam, mas o rosto permanecia sem sinais de velhice. O seu aspecto era o de uma "linda velha".

Depois da partida do seu amado, a jovem castelã adquirira o hábito de se demorar, à tarde, na varanda da torre, contemplando o Tejo, na nostálgica expectativa de ver regressar o querido fidalgo.

Com o avançar dos anos, já não era a esperança que a movia - era o hábito e a saudade. E as pessoas que passavam olhavam-na e comentavam, com admiração: como é "linda a velha"! E assim aquele casarão onde residia passou a ser conhecido pelo paço da "linda velha", que veio a dar o nome à povoação.

"Lendas Portuguesas" Recolha de Fernanda Frazão
Edit. "Amigos do Livro"
 

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
A Lenda De Martim Moniz

A LENDA DE MARTIM MONIZ​

O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome.

A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa.

O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos.

Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saíam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida.

O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade.

Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto.

D. Afonso Henriques quis honrar a sua valentia e o sacrifício da sua vida ordenando que aquela entrada passasse a ter o nome de Martim Moniz.

O povo diz que foi D. Afonso Henriques que mandou colocar o busto do herói num nicho de pedra, onde ainda hoje se encontra, junto à Praça de Martim Moniz.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisbo
 
Topo