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Lendas de Portugal

Satpa

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A Lenda Da Nossa Senhora De Vagos

A LENDA DA NOSSA SENHORA DE VAGOS
AVEIRO

A pouco mais de um quilómetro da vila de Vagos, situada num local campestre, pitoresco e aprazível, convidativo à oração, fica a ermida de Nossa Senhora de Vagos cheia de história e tradição.

Consta que antes do actual santuário, existiu outro a dois quilómetros deste de que há apenas vestígios de uma parede bastante alta, denominada «Paredes da Torre», cercada presentemente por densa floresta mas de fácil acesso. Tradições antigas com várias lendas à mistura, dizem que perto da praia da Vagueira naufragou um navio francês dentro do qual havia uma imagem de Nossa Senhora que a tripulação conseguiu salvar e esconder debaixo de arbustos que na altura rareavam no areal.

Dirigindo-se para Esgueira, freguesia mais próxima, a tripulação contou o sucedido ao Pároco que acompanhado por muitos fiéis, veio ao local onde tinham colocado a imagem, mas nada encontrou.

Dizem uns que Nossa Senhora apareceu a um lavrador indicando-lhe o sítio onde se encontrava o qual aí mandou construir uma ermida; dizem outras que apareceu em sonhos a D. Sancho primeiro quando se encontrava em Viseu que dirigindo-se ao local e tendo encontrado a imagem, mandou construir uma capela e uma torre militar a fim de defender os peregrinos dos piratas que constantemente assaltavam aquela praia.

Mas parece que a primeira ermida e o culto da Nossa Senhora de Vagos datam do século doze. O que fez espalhar a devoção a Nossa Senhora de Vagos foram os milagres que se lhe atribuem. Entre eles consta a cura de um leproso, Estevão Coelho, fidalgo dos arredores da Serra da Estrela que veio até ao Santuário. Ao sentir-se curado além de lhe doar grande parte das suas terras, ficou a viver na ermida, vindo a falecer em 1515.

É deste Estevão Coelho, que conta a lenda ter quatro vezes a imagem de Nossa Senhora de Vagos, sido trazida para a sua nova Capela, quando das ruínas da Capela antiga (Paredes da Torre), e quatro vezes se ter ela ausentado misteriosamente para a Capela primitiva.

Só à quarta vez se reparou que não tinham sido transferidos os ossos de Estêvão Coelho, e que as retiradas que a Senhora fazia eram nascidas de querer acompanhar o seu devoto servo que na sua primeira Ermida estava sepultado; trasladados os ossos daquele, logo ficou a Senhora sossegada e satisfeita. Supõe-se que ainda hoje, à entrada do Templo existe uma pedra com o nome de Estêvão Coelho.

Outro grande milagre teve como cenário os campos de Cantanhede completamente áridos e impróprios para a cultura devido a uma seca que se prolongava há mais de quatro anos.

A miséria e a fome alastrou de tal maneira por aquela região que todo o povo no auge do deserto elevava preces ao Céu, para que a chuva caísse.

Até que indo em procissão à Senhora da Varziela, ouviram um sino tocar para os lados do Mar de Vagos. Toda a gente tomou esse rumo. Chegados à Ermida de Nossa Senhora de Vagos, suplicaram a Deus que derramasse sobre as suas terras a tão desejada chuva o que de facto sucedeu.

Em face de tão grandioso milagre, fizeram ali mesmo um voto de se deslocarem àquele local de peregrinação, distribuindo ao mesmo tempo as pobres esmolas, dinheiro, géneros, etc. ...

Ainda hoje essa tradição se mantém numa manifestação de Fé e Amor. Ainda hoje o pão de Cantanhede continua a ser distribuído em grande quantidade no largo da Nossa Senhora de Vagos.

Perto do actual santuário que pelas lápides sepulcrais aí existentes, remota ao século dezassete, construíram-se umas habitações onde de vez em quando se recolhiam em oração os Condes de Cantanhede e os Srs. de Vila Verde.

Hoje, já não existem vestígios dessas habitações


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A LENDA DE SANTA-IRIA A MAIS AMADA
TOMAR

Vindo das bandas de Nabância, (actual Tomar), um romeiro ajoelhou-se à beira do rio, em frente ao lugar onde, sete anos atrás, fora achado um maravilhoso túmulo de alabastro róseo, boiando qual baú de cortiça.

Nesse túmulo, parecendo adormecida, a doce Iria aguardava a chegada de seu tio, o santo abade Célio. O bondoso Célio aproximava - se acompanhado de uma multidão de cristãos. Em sonhos, ele tivera a revelação de todo o martírio de Iria, a mais amada das virgens.

Nesse sonho, ele vira Iria a donzela, bordando nos claustros do mosteiro das Donas de Nabância. Ajoelhado junto de Iria, estava o jovem Britaldo que, muito apaixonado, implorava a Iria que o aceitasse por esposo. Apressou-se a bela Iria a explicar que era impossível, pois fizera voto de castidade. Entregara a Cristo a sua vida. Triste, triste de morrer, Britaldo regressou ao seu castelo. Logo, adoeceu gravemente.

Na vida monástica, Iria rezava e trabalhava. Por inspiração de Deus pede à sua abadessa e vai falar ao moribundo Britaldo. Com doçura e firmeza convence-o de sua razão e diz-lhe que tenha fé.

Britaldo confia em Iria e retoma as suas actividades como castelão nabantino.

Ao ver esta cena, em sonhos, o abade Célio louvou a Deus. Porém, a revelação seguinte foi muito cruel para o seu coração de homem santo.

Ele assistiu ao assédio despudorado que o monge Remígio, professor de lria, faz à donzela. Ela recusa-o energicamente. O malvado Remígio, com suas malas-artes de alquimia, prepara um pó que mistura na comida da sua aluna.

Entáo, o ventre da jovem cresceu como se estivesse grávida. Muitos a acusam. Ela proclama a sua inocência. Mas a calúnia chega aos ouvidos de Britaldo.

Louco de raiva, a sua paixão transformada em ódio, Britaldo ordena ao seu criado Banão que vá matar Iria.


Banão crescera junto de Iria, amava-a como a uma irmã.

Iria a mais amada, Iria tão desgraçada! Sem coragem para desobedecer a seu amo, Banão duvida da honradez de Iria. Ao alvorecer, surpreendeu-a, quando, pela margem do Nabão, ela rezava e caminhava em direcção à capela da Imaculada Conceição aonde ia meditar.

E tantas eram as suas preocupações que nem sentiu os passos do malvado que de um só golpe a trespassou. Depois, tomado de remorso e de espanto quis fazer desaparecer o corpo casto de Iria, fazendo-o mergulhar nas águas do Nabão.

Tudo isto, o abade Célio contemplou no seu sonho. E mais lhe foi dado ver. Os anjos depositaram Iria num túmulo róseo e milagroso. Era de pedra mas vogava sobre as águas dos rios como se fosse o berço do lendário Ábidis. Os anjos acompanharam-na na descida dos rios até que para num pego do Tejo, em frente do lugar de Seserigo, onde se levantava um grande penedo.

Após esta revelação, o abade fez divulgar o milagre e veio de Nabância a primeira romagem a Santa Iria. Era vontade de Célio levar Iria para o seu mosteiro. Queria glorificá-la e pedir perdão pelos martírios que a virgem sofrera. Talvez, por castigo divino, ninguém conseguiu tirar a bela Iria do seu sepulcro. Apenas o abade recolheu uma madeixa de loiros cabelos e alguns pedaços do seu vestido. Relíquias que foram guardadas através dos séculos na Igreja que, em Tomar, tem por patrono Santa Iria.

Mas quem era o romeiro que se ajoelhava, sete anos após a morte de Iria, no seu lugar sagrado?

Acredita a gente simples que era o seu matador. Falam dele os "rimances" do Cancioneiro Popular Português. Almeida Garrett recolheu algumas variantes.
Narrativas poéticas do povo que ama e canta os seus amores.

" Chamavam-me lria, lria afidalga.
/ /Por aqui agora, Iria a coitada.
/ /Andando, andando, toda a noite andava,
/ /Lá por madrugada que me atentava...
/ / Tirou do alfange, ali me matava;
/ /Abriu uma cova onde me enterrava.
/ / No fim de sete anos passa o cavaleiro,
/ /Uma linda ermida viu naquele outeiro.
// Que ermida é aquela de tanto romeiro?
// É de Santa Iria, que sofreu marteiro.
// -Minha Santa lria, meu amor primeiro,
// Se me perdoares, serei teu romeiro.
// - Perdoar não te hei-de, ladrão carniceiro,
// Que me degolaste que nem um cordeiro."


Autoria de : Rosalina Melro
In "Suplemento Cultural de O Mirante" de 23/4/97
 

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A Lenda Do Alfageme De SantarÉm

A LENDA DO ALFAGEME DE SANTARÉM

Fernão Lopes, na sua Crónica do Condestável, deixou para a posteridade esta lenda do alfageme Fernão Vaz, o mais reputado da região de Santarém, que à custa de muito trabalho tinha amealhado uma pequena fortuna que, diziam as más línguas, lhe tinha permitido casar com a bela Alda Gonçalves, que em tempos tinha sido uma apaixonada de D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável.

Ora aconteceu que um dia D. Nuno Álvares Pereira apareceu à porta de Fernão Vaz e lhe pediu para corrigir a espada.

Estava o alfageme a esboçar uma desculpa porque já tinha chegado ao fim do seu dia de trabalho quando se deu conta de quem tinha na sua presença.

Apresentou-se e disse-lhe que tinha casado com Alda Gonçalves, o que provocou uma certa emoção no Condestável que lhe deixou a espada para ser reparada.

Quando o alfageme chegou a casa contou o sucedido a sua mulher que chegou a temer pela vida do seu marido, mas que logo sossegou quando este lhe disse que D. Nuno tinha vindo por bem.

No dia seguinte, o alfageme entregou a espada ao Condestável mas não lhe quis cobrar pelo trabalho e que lhe disse que quando D. Nuno se tornasse conde de Ourém lhe pagaria o que ele merecesse.

Os tempos que se seguíram revelaram-se difíceis para o alfageme.

Invejas e intrigas fizeram com que fosse preso e condenado à morte.

Inconsolável, Alda decidiu procurar D. Nuno Álvares Pereira, agora conde de Ourém, e pedir-lhe ajuda embora temesse alguma despeita provocada pelo passado.

Com grande nobreza de alma, o Condestável conseguiu o perdão real para Fernão Vaz, cumprindo-se assim a profecia do alfageme de Santarém.


in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

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Lenda Do Algar Do Mouro

LENDA DO ALGAR DO MOURO
SANTARÉM

No caminho de Minde para Fonte da Serra existe um algar com uns degraus cavados na rocha. Esta caverna está ligada a uma velha lenda de mouros...

Em tempos que já lá vão, havia neste local um palácio encantado onde vivia um velho mouro e a sua formosa sobrinha, facto este testemunhado pelos pastores e caminhantes.

Um dia uma mulher do povo surpreendeu a moura a limpar o seu tesouro e, assaltada por um desejo irresistível, decidiu vigiá-la para aproveitar a melhor altura de deitar mãos a tanta riqueza.

Um dia viu que o mouro e a sobrinha estavam à porta da caverna e, aproximando-se sem ser vista, surpreendeu a conversa entre os dois. O tio não concordava em deixar partir a sua sobrinha para uma visita a umas primas.

O velho tio temia morrer de repente e queria revelar-lhe o paradeiro de todos os seus tesouros escondidos, que eram muitos. Finalmente concordou e deixou-a partir com a sua aia.

Sabendo que o mouro ficava sozinho, a mulher voltou no dia seguinte com o seu marido e atacaram ambos o velho mouro, que caiu sem sentidos.

Sem coragem para continuar naquela caverna escura, decidiram voltar mais tarde para levar o tesouro.

Mas quando lá chegaram no dia seguinte, depararam com um pote de ferro que em vão tentaram abrir.

Voltaram ao outro dia preparados com ferramentas mas não encontraram qualquer tesouro. A moura tinha voltado e escondeu toda a riqueza do seu tio noutro local.


in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

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Lenda Do BrasÃo De Vizeu

LENDA DO BRASÃO DE VIZEU

" D. Ramiro II, Rei das Astúrias e de Leão, que reinou desde o anno de Christo de 931 até o de 950, n'uma excurção que fez de Vizeu, onde então residia, por terras de moiros, viu e enamorou-se da famosa Zahara, irmã de Alboazar, rei moiro, ou alcaide do castello de Gaia sobre o rio Douro.

Recolheu-se D. Ramiro a Vizeu com o coração tão captivo, e a razão tão perdida, que sem respeito aos laços, que o uniam a sua esposa D. Urraca, ou como outros lhe chamam D. Gaia, premeditou e executou o rapto de Zahara.

Enquanto o esposo infiel se esquecia de Deus e do mundo nos braços da moira gentil n'um palácio à beira mar, o vingativo irmão de Zahara, trocando affronta por affronta, veio de cilada, protegido pela escuridão de uma noite, assaltar e roubar nos seus próprios paços a rainha D. Gaia.

A injúria vibra n'alma de Ramiro o ciúme e o desejo de vingança.

O ultrajado monarcha vôa à cidade de Vizeu, escolhe os mais valentes d'entre os seus mais aguerridos soldados, e la vae á sua frente caminho do Douro.

Chegando à vista do castello d'Alboazar, deixa a sua cohorte occulta n'um inhal, e disfarçado em trajes de peregrino, dirige-se ao castello, e por meio de um anel, que faz chegar às mãos de D. Gaia lhe annuncia a sua vinda.

O peregrino é introduzido immediatamente à presença da rainha, que fica a sós com elle. Alboazar tinha ido para a caça. D. Ramiro atira para longe de si as vestes e as barbas, que o desfiguravam, e corre a abraçar a esposa. Esta porém repelle-o indignada, e lança-lhe em rosto a sua traição.

No meio de um vivo diálogo de desculpas de uma parte, e de recriminações da outra, volta da caçada Alboazar. D. ramiro não pode fugir. Já se sentem na proxima sala os passos do moiro. A rainha, parecendo serenar-se, occulta o marido n'um armário, que na camara havia. Mas apenas entrou Alboazar, ou fosse vencida d'amor por elle, ou cheia d'odio para com o esposo pela fé trahida, abre de par em par as portas do armário, e pede vingança ao moiro contra o christão traidor.

D'ahi a pouco era levado el-rei D. Ramiro a justiçar sobre as ameias do castello. Chegado ao logar de execução pediu o infeliz, que lhe fosse permittido antes de morrer despedir-se dos sons accordes da sua bozina. Sendo-lhe concedida esta derradeira graça, D. Ramiro empunha o instrumento, e toca por tres vezes com todas as suas forças.

Era este o signal ajustado com os seus soldados, escondidos no proximo pinhal, para que, ouvindo-o, lhe acudissem apressadamente. Portanto n'um volver d'olhos foi o castello cercado, combatido, tomado, e depois incendiado.

A desprevenida guarnição foi passada ao fio da espada, e Alboazar teve a morte dos valentes: expirou combatendo. E D. Gaia, como ao passar o Douro para a margem opposta, se lastimasse e mostrasse dôr, vendo abrasar-se o castel'o, foi victima também do ciume de D. Ramiro que cego d'ira a fez debruçar sobre a borda do barco, cortando-lhe a cabeça de um golpe d'espada.

Á fortaleza em ruínas ficou o povo chamando o castello de Gaia, à margem do rio, onde aportou o barco de D. Ramiro, deu-lhe o nome de Miragaia, em memória d'aquele fatal mirar da misera rainha ".

Esta é pois a lenda que se presume ter dado origem ao Brasão de Viseu.

Temos assim que o Castelo representa o de Alboazar, o tocador de corneta, o rei D. Ramiro e a árvore, o bosque em que se esconderam os habitantes de Viseu.

Lenda ou fábula ela representa uma forma de interpretação e porque carregada de antiguidade merece bem que se respeite como tal.

Mas fazendo fé em Vilhena Barbosa, nem tudo será hipotético porque " D. Ramiro II roubou a moira Zahara, irmã ou filha d'Alboazar, a qual se fez christã, tomando no baptismo o nome de Artida ou Artiga.

Repudiando a rainha D. Urraca, casou segundo uns, ou viveu amancebado segundo outros, com Zahara de quem teve um filho, chamado D. Alboazar Ramires que foi o primeiro fundador do Mosteiro de Santo Thirso ".


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A LENDA DO CASTELO DE ALMOUROL

Durante a Idade Média, o Castelo de Almourol suscitou a criação de numerosas lendas, às quais não foram decerto alheias a beleza natural do lugar e a harmonia da construção. Uma delas é a de D. Ramiro, alcaide do Castelo de Almourol.

Conta a lenda que, voltando cheio de sede de uma campanha guerreira, encontrou duas formosas mouras, mãe e filha, que traziam com elas uma bilha de água. D. Ramiro pediu à filha que lhe desse de beber. Esta, assustou-se e deixou cair a bilha. Enraivecido, D. Ramiro matou-as.

Nesse momento apareceu um rapazinho de 11 anos, filho e irmão das assassinadas. O cavaleiro logo ali o fez cativo e trouxe-o para o castelo. Quando chegou, o pequeno mouro jurou que se vingaria na mulher e na filha de D. Ramiro, duas damas muito belas.

Tempos depois, a mulher do castelão definhou e acabou por morrer, vítima de venenos que o mouro lhe foi dando a pouco e pouco. Porém, não conseguiu matar Beatriz, a filha de D. Ramiro, porque os dois se apaixonaram.

Um belo dia, D. Ramiro chegou ao Castelo na companhia de outro alcaide, a quem tinha prometido a mão de sua filha. Os jovens apaixonados, inconformados com a sorte que os esperava, fugiram sem deixar rasto.

D. Ramiro morreu pouco depois, vitimado pelo desgosto. O castelo, abandonado, caíu em ruínas.

Dizem que, nas noites de S. João, D. Beatriz e o mouro aparecem, abraçados, na torre grande do castelo. A seus pés, D. Ramiro implora perdão, mas o mouro inflexível responde-lhe com dureza:
- MALDIÇÃO!


Adapatação de:
Os Mais Belos Castelos de Portugal, ed. Verbo, Lisboa, 1992
 

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A LENDA DO CASTELO DE FARIA
BRAGA

A já desaparecida fortaleza medieval conhecida por Castelo de Faria, nos arredores de Barcelos, foi palco de uma história desencadeada pelo amor entre o rei D. Fernando e a bela Leonor Teles.

Na verdade, estava D. Fernando para desposar a filha do rei de Castela quando se apaixonou por Leonor Teles, quebrando o compromisso que tinha assumido. Despeitado, o rei castelhano desencadeou uma guerra contra Portugal, cercando Lisboa e muitas outras terras.

O Minho foi invadido pelo adiantado da Galiza, D. Pedro Rodriguez Sarmento, que se bateu com D. Henrique Manuel, tio do rei português, nos arredores de Barcelos.

Os portugueses foram derrotados e entre os reféns ficou D. Nuno Gonçalves, alcaide-mor do Castelo de Faria. No seu cativeiro, receava D. Nuno que o seu filho entregasse o Castelo de Faria logo que visse o pai refém dos castelhanos e, por esse motivo, urdiu um estratagema que o evitasse.

Pediu então ao galego D. Pedro que o levasse até aos muros do castelo para convencer o filho a entregar a fortaleza sem resistência.

Chegados ao castelo, D. Nuno pediu para falar com o seu filho, D. Gonçalo, e exortou-o a defender-se a custo da própria vida, amaldiçoando-o se não cumprisse as suas ordens.

Os castelhanos, vendo-se traídos, mataram logo ali o velho alcaide e atacaram o castelo.

A luta foi renhida e dolorosa para os portugueses que perderam muitos dos seus homens, mas D. Gonçalo, lembrando-se da maldição do pai, resistiu orgulhoso, levando os inimigos a desistir.

D. Gonçalo, apesar de premiado pela sua coragem, pediu ao rei D. Fernando autorização para abandonar o cargo de alcaide e tornou-se sacerdote.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A LENDA DO CAVALUM
MADEIRA

As Furnas do Cavalum, na vila de Machico da ilha da Madeira, são umas grandes grutas escavadas na rocha de basalto que o povo diz serem a morada de um monstro.

Cavalum é um diabo em forma de um enorme cavalo com asas de morcego que deita fogo pelas narinas. Ainda é possível, em dias de temporal, ouvir os urros e as patadas do Cavalum ecoar nas paredes da gruta.

Embora haja quem diga que estes ruídos não são mais do que o eco do ribombar dos trovões, o povo afirma serem do monstro que ali foi obrigado a ficar contra a sua vontade.

Segundo a lenda, nos tempos em que o Cavalum andava à solta, foi a besta bater à porta de igreja para falar com Deus. Quando Deus lhe perguntou ao que vinha, o Cavalum disse-lhe que lhe queria propor um desafio: o monstro tinha a intenção de destruir toda a povoação, igreja incluída, e queria ver se Deus, que já estava um bocadinho velho, tinha forças para o impedir.

Deus mandou-o embora dizendo que não tinha paciência para tais brincadeiras. Mas o Cavalum, que achou que tinha sido honesto em O avisar, reuniu o vento e as nuvens e juntos despertaram uma grande tempestade que se abateu terrível sobre a povoação.

Do alto do penhasco, o Cavalum relinchava de satisfação perante a aflição dos habitantes. Mas Deus, envolvido nas suas mantas diante da lareira, não mexeu um único dedo, pensando que o Cavalum depressa se cansaria da sua brincadeira.

Mas a tempestade subiu de intensidade e o povo, atemorizado, viu as casas e os campos serem arrasados. Até o crucifixo voou pelos ares até ir parar ao mar, levado pelo vento, por indicação especial do insolente Cavalum.

Foi aí que Deus começou a ficar mesmo muito irritado e decidiu acabar com toda aquela provocação infantil. A sua primeira reacção, claro está, foi fazer com que um barco que estava no mar achasse o crucifixo.

Depois chamou o sol que apareceu com toda a sua força, afastando as nuvens, o vento, os trovões e os relâmpagos. O céu ficou azul e a felicidade voltou ao coração dos homens.

Não querendo mais ser interrompido nos seus afazeres pelas tropelias do monstro, Deus decidiu prender o Cavalum nas grutas, onde ainda hoje de vez em quando se ouvem os seus protestos de raiva e desespero.


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A Lenda Do Geraldo Geraldes, O Sem Pavor

A LENDA DO GERALDO GERALDES, O SEM PAVOR

Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros.

Geraldo Geraldes, um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath.

Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens.

Disfarçado de trovador rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que era vigiada por um velho mouro e pela sua filha.

Numa noite, o Sem Pavor subiu sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão.

No dia seguinte, D. Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora.

Ainda hoje, a cidade ostenta no brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de Évora.


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A Lenda Do Machico Ou Do Amor Imortal

A LENDA DO MACHICO OU DO AMOR IMORTAL
MADEIRA​

Na corte britânica de Eduardo III, vivia um homem de sangue plebeu e alma nobre, Roberto Machim, que tinha como melhor amigo e companheiro de armas o fidalgo D. Jorge.

Roberto Machim era um homem sensível e tinha o dom da palavra, por isso D. Jorge veio pedir-lhe para ir com ele esperar a sua jovem e bela prima Ana de Harfet, que D. Jorge queria impressionar.

Os primeiros olhares e as primeiras palavras trocadas entre Ana de Harfet e Roberto Machim foram suficientes para que surgisse um amor tão intenso que resignou sinceramente D. Jorge.

Mas os pais de Ana de Harfet não aceitaram a união com um pretendente de tão baixa linhagem e ordenaram o casamento de Ana com um dos fidalgos da corte.

Roberto Machim não escondeu nem a sua cólera nem a sua intenção de lutar por Ana e foi preso por ordem do rei durante alguns dias, enquanto a cerimónia de casamento se realizava.

À saída da prisão esperava-o o seu fiel amigo D. Jorge que o informou que Ana estava a morrer de amor.

Com a ajuda de D. Jorge, Ana e Roberto fugiram num barco em direcção a França, que uma brutal tempestade desviou para uma ilha paradisíaca.

Ana não resistiu à febre que a tinha assolado durante a tormenta e foi enterrada na bela ilha.

Conta-se que Roberto Machim morreu em cima da campa da sua amada e nela foi enterrado pelo seu amigo.

Um grande amor que através do nome de Roberto foi para sempre recordado na bonita vila de Machico, na Ilha da Madeira, pretensa ilha a que aportaram os dois apaixonados que passaram às crónicas portuguesas.


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A Lenda Do Milagre Da Senhora Do Monte

A LENDA DO MILAGRE DA SENHORA DO MONTE
MADEIRA

Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis que encantou os portugueses que lá chegaram.

Mas um dia um senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a fonte para as suas terras.

A população desesperada, porque aquela água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse a brotar naquela fonte.

O milagre aconteceu e a água encheu de novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início.

O povo utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e, construindo regos ou cales, levaram a água mais longe, tornando férteis muitos campos e quintas.

A ribeira ficou a ser conhecida como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para sempre na memória popular.



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A Lenda Do Milagre De Ourique

A LENDA DO MILAGRE DE OURIQUE​

A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa, pois conta-se que foi nela que D. Afonso Henriques foi pela primeira vez aclamado rei de Portugal, em 25 de Julho de 1139.

Foi no campo de Ourique que se defrontaram o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja e os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península.

A lenda conta que um pouco antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem que o rei já tinha visto em sonhos e que lhe fez uma revelação profética de vitória.

Contou-lhe ainda que "sem dúvida Ele pôs sobre vós e sobre a vossa geração os olhos da Sua Misericórdia, até à décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão. Mas nela, assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá."

O rei deveria ainda, na noite seguinte, sair do acampamento sozinho logo que ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia, o que aconteceu.

O rei foi surpreendido por um raio de luz que progressivamente iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir aos poucos o Sinal da Cruz e Jesus Cristo crucificado.

O rei emocionado ajoelhou-se e ouviu a voz do Senhor que lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas: por intermédio do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria o Seu império através do qual o Seu Nome seria levado às nações mais estranhas e que teria para o povo português grandes desígnios e tarefas.

D. Afonso Henriques voltou confiante para o acampamento e, no dia seguinte, perante a coragem dos portugueses os mouros fugiram, sendo perseguídos e completamente dizimados.

Conforme reza a lenda, D. Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos ou quinas em cruz representando os cinco réis vencidos e as cinco chagas de Cristo, carregadas com os trinta dinheiros de Judas.


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A Morte do Lidador

A Morte do Lidador

Num dia longínquo de 1170, Gonçalo Mendes da Maia, nomeado Lidador pelas muitas batalhas travadas e ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar.

Da cidade de Beja saiu o Lidador naquela manhã com trinta cavaleiros fidalgos e trezentos homens de armas, sabendo de antemão que o exército de Almoleimar era muitas vezes superior.

Perto do meio-dia, pararam os cavaleiros para descansar perto de um bosque onde emboscados aguardavam os mouros.

A primeira seta feriu de morte um guerreiro português, o que fez com que o exército cristão se pusesse em guarda. Frente a frente se mediam a destreza e perícia árabes, invocando Allah, e a rudeza e força cristãs, clamando por Santiago.

A batalha começou e ambos os exércitos se debateram com coragem, até que num dado momento Gonçalo Mendes e Almoleimar cruzaram espadas em cima dos seus cavalos.

Um dos vários golpes desferidos atingiu Gonçalo Mendes que, mesmo ferido, atacou com raiva Almoleimar, que ripostou.

O resultado foram dois golpes fatais, um dos quais matou o mouro e outro que deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte.

O Lidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que debandavam em fuga até que o esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe lhe agravou os ferimentos.

O Lidador caiu morto na terra juncada de mais de mil corpos inimigos.

Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última vitória do Lidador.

Um sacerdote templário disse em voz baixa as palavras do Livro da Sabedoria: "As almas dos justos estão na mão de Deus e não os afligirá o tormento da morte".
 

Satpa

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A Lenda Do Mosteiro De AlcobaÇa

A LENDA DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA

Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém.

Zuleiman despeitada por ter sido abandonada por Muhamed, o alcaide de Santarém, queria vingar-se dando aos cristãos as informações que tinha sobre a defesa do castelo.

Entretanto, D. Afonso Henriques já tinha enviado o seu cavaleiro Mem Ramires a Santarém para estudar o inimigo e a astúcia e a cautela do cavaleiro foram fulcrais para a decisão do ataque.

Conta a lenda que foi na serra dos Albardos que o primeiro rei de Portugal fez a promessa de construir um mosteiro se Deus lhe desse a vitória.

Mem Ramires segurou a escada contra as muralhas por onde entraram os soldados e Santarém amanheceu cristã.

O mosteiro de Alcobaça foi construído em cumprimento de um voto do primeiro rei de Portugal, sendo juntamente com a Batalha e os Jerónimos uma das jóias mais preciosas do património arquitectónico português.

in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

Satpa

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A Lenda Do Pedro Sem

A LENDA DO PEDRO SEM
PORTO

A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem.

A história diz que essa torre pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D. Afonso VI, no século XIV.

Mas a lenda remete para uma data posterior, no século XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da Torre.

Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas não tinha títulos de nobreza, o que muito o afectava. Era também usurário, emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto vivia rodeado de luxo.

Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de seu pai.

Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro.

O arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer pobre.

Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande tempestade!

Pedro Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus.

De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens.

Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se a quem passava: "Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora não tem..."


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

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Lenda Do Senhor Jesus De Ponta Delgada

A LENDA DO SENHOR JESUS DE PONTA DELGADA
AÇORES

A origem da construção da igreja do Senhor Jesus da Ponta Delgada tem origem num milagre que aconteceu há muitos, muitos anos, quando esta cidade era apenas ainda uma pequena povoação que pertencia a Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores.

Andava uma mulher a apanhar lapas nas rochas junto ao mar quando viu de repente um crucifixo com uma imagem de Cristo em tamanho natural a boiar nas águas.

Como o acesso à imagem não era fácil, decidiu voltar à povoação, onde avisou o padre do que tinha visto. Impressionado, o sacerdote acompanhou a mulher à praia e verificou com os seus próprios olhos a veracidade do sucedido.

O padre entrou dentro do mar e retirou a imagem que foi levada em procissão pela população, que, entretanto se tinha juntado na praia, até à capela de Ponta Delgada.

No dia seguinte, perante o espanto geral, o crucifixo foi encontrado enterrado a prumo na areia da praia, perto do local onde tinha sido achado.

A população tornou a levá-lo em procissão para a capela, mas apenas horas mais tarde aparecia de novo na praia e, desta vez, o crucifixo estava rodeado de canas como que a delimitar a área de um templo.

Respeitando a vontade de Cristo, os habitantes nunca mais retiraram a imagem e iniciaram ali mesmo a construção de uma igreja que se veio a tornar na paróquia de Ponta Delgada.

Foi construído um muro para proteger o templo da fúria das águas do mar, mas, diz a lenda, embora as águas ultrapassassem o muro e chegassem ao adro, nunca se atreveram a entrar dentro da igreja.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

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A Lenda Dos Marinhos

A LENDA DOS MARINHOS
VALADARES - MONÇÃO



Os Marinhos são uma das mais antigas famílias da Península Ibérica, existente muito antes da fundação do Reino de Portucale. Ao seu nome anda ligada uma velha lenda que tenta explicar-lhe a génese.

Um fidalgo da terra de Valadares, junto à Galiza, de nome D. Froilão, ou D. Froiaz, que era caçador e monteiro-mor, andava um dia a cavalo, perto do mar, correndo atrás de um veado, quando avistou, da encosta de um monte, uma belíssima mulher adormecida sobre a areia.

Aproximando-se sem que ela desse por isso, viu, espantado, que a mulher era nada menos que uma sereia.

Sentindo-se observada no seu sono pausado e sem sonhos, a mulher acordou sobressaltada e procurou escapar-se para o mar. Porém, dois dos escudeiros de D. Froiaz barraram-lhe o caminho e agarraram-na. Defendeu-se o melhor que pôde, usando as mãos, dando golpes com a cauda, mas de nada lhe valeu, porque num ápice os braços dos homens fecharam-se sobre ela e achou-se presa em cima do cavalo e coberta por um gibão.

D. Froiaz levou-a para o castelo. Ia encantado com aquele ser que o mar trouxera. Pediu ao capelão que a baptizasse e escolheu-lhe o nome de Marinha, a dona vinda do mar. Tão formosa era D. Marinha que o cavaleiro passou a viver com ela como se sua mulher fosse e dela lhe nasceu o primogénito.

Como os peixes, Marinha era muda. Apesar dos infinitos esforços de D. Froiaz, que se não poupou a trabalhos, não conseguíram que D. Marinha articulasse um som sequer. No entanto, os olhos da sereia eram um mar de palavras desnecessárias, revoltos de amor, encapelados de ternura. D. Marinha não precisava falar, mas a D. Froiaz faltava-lhe ouvi-la humana.

Na véspera de S. João, pela tarde, alvoroçou-se o castelo com os preparativos para os festejos nocturnos. Tinham juntado lenha em grandes pilhas e começavam a acender as tradicionais fogueiras que deveriam consumir a noite e o ano inteiro porque no dia seguinte começaria a chegar outra noite e o Inverno. Bois e carneiros estavam já esfolados e enfiados em grandes espetos assando lentamente com o rodar das horas.

D. Marinha andava passeando pelo terreiro com o filho nos braços, observando aqueles preparativos totalmente novos, completamente desconhecidos para si. De súbito, D. Froiaz arrancou-lhe o menino dos braços e fez menção de o atirar ao fogo. Enlouquecida, a sereia soltou um guincho estridente de gaivota ferida e bradou:

Filho!!

Com o guincho saltou-lhe da boca um bocado de carne que a impedia de falar, mas não de olhar. A partir daí, D. Marinha passou a dizer tudo naturalmente e acabou esquecendo a linguagem silenciosa e vital do mar.

D. Froiaz casou com ela e em memória deste dia, a que chamou feliz, baptizou a criança com o nome de João Froiaz Marinho.

Foi este o primeiro dos Marinhos, o filho de D. Froiaz e de D. Marinha. A sua casa era muito perto da Galiza, na terra de Valadares e chamavam-lhe Torre dos Marinhos.


"Lendas Portuguesas" Recolha de Fernanda Frazão
Edit. "Amigos do Livro"
 

Satpa

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A Lenda Dos Sete Ais

A LENDA DOS SETE AIS
SINTRA

Esta é uma lenda estranha que está na origem do nome de um local do concelho de Sintra e que remonta a 1147, data em que D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos Mouros.

Destacado para ocupar o castelo de Sintra, D. Mendo de Paiva surpreendeu a princesa moura Anasir, que fugia com a sua aia Zuleima.

A jovem assustada gritou um "Ai!" e quando D. Mendo mostrou intenção de não a deixar sair, outro "Ai!" lhe saiu da garganta.

Zuleima, sem lhe explicar a razão, pediu-lhe para nunca mais soltar nenhum grito do género, mas ao ver aproximar-se o exército cristão a jovem soltou o terceiro "Ai!".

D. Mendo decidiu esconder a princesa e a sua aia numa casa que tinha na região e querendo levar a jovem no seu cavalo, ameaçou-a de a separar da sua aia se ela não acedesse e Anasir deixou escapar o quarto "Ai!".

Pouco depois de se instalar na casa, a princesa moura apaixonou-se por D. Mendo de Paiva, retribuindo o amor do cavaleiro cristão que em segredo a mantinha longe de todos.

Um dia, a casa começou a ser rondada por mouros e Zuleima receava que fosse o antigo noivo de Anasir, Aben-Abed, que apesar de na fuga se ter esquecido da sua noiva, voltava agora para castigar a sua traição.

Zuleima contou a D. Mendo que uma feiticeira lhe tinha dito que a princesa morreria ao pronunciar o sétimo "Ai!".

Entretanto, Anasir curiosa pela preocupação da aia em relação aos seus "Ais", exprimiu o quinto e o sexto consecutivamente, desesperando a sua aia que continuou a não lhe revelar o segredo.

D. Mendo partiu para uma batalha e passados sete dias foi Aben-Abed que surpreendeu Anasir, que soltou o sétimo "Ai!", ao mesmo tempo que o punhal do mouro a feria no peito.

Enlouquecido pela dor, D. Mendo de Paiva tornou-se no mais feroz caçador de mouros do seu tempo.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Dos Tripeiros

A LENDA DOS TRIPEIROS
PORTO

No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos.

A razão deste empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro.

Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se casarem...

Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço despendido, achou que se poderia fazer ainda mais.

E o Infante confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem: a conquista de Ceuta.

Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o infante o mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela: dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas.

Este sacrifício tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma verdadeira honra para o povo do Porto.

A História de Portugal registou mais este sacrifício invulgar dos heróicos "tripeiros" que contribuiu para que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, partisse a caminho da conquista de Ceuta.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

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Padeira De Aljubarrota

PADEIRA DE ALJUBARROTA

Chamava-se Brites de Almeida e era tão feia e tão matulona que chegou a fazer-se passar por homem. Na verdade, as profissões que teve pela vida fora foram quase todas masculinas, já que, logo em criança, repudiou a sua condição de mulher.

Parece que nasceu em Faro. Os pais eram gente muito pobre e humilde que vivia de uma pequena taberna.

Desde miúda, Brite revelou-se corpulenta e viva. Era ossuda e muito feia, com os seus cabelos crespos, o nariz adunco e uma boca excessivamente rasgada.

Os pais exultaram com o seu nascimento, porque o aspecto forte da criança os levou a crer que tinham ali uma rapariga de trabalho, tanto mais que trazia seis dedos em cada mão.

Mas os pobres enganaram-se! Brites mostrou-se logo na infância desordeira e destemida, preferindo mil vezes andar à pancada com a miudagem e vagabundear pelas redondezas do que ajudar os pobres pais a mudar as pipas e a servir canecas de vinho aos clientes.

Enfim, amargurou-lhes a vida!

Teria uns vinte e seis anos quando ficou órfã. Isso não a ralou grande coisa, porque lhe deu a possibilidade de ser senhora absoluta de si, sem recriminações.

Vendeu, então, os parcos bens que lhe tinham ficado dos pais, que incluíam uma casita em Loulé, comprou gado e partiu.

Andou de vila em vila, de feira em feira. Pelos caminhos conviveu com toda a casta de vagabundos, desde almocreves e soldados a frades e pedintes.

Quando calhava dormia a céu aberto, comia pão com azeitonas. Adestrava-se no manejo das armas, aprendeu a esgrimir e a utilizar o pau; meteu-se em bulhas e nunca deixou sem resposta uma provocação.

De tudo isto resultou uma larga fama de valentaça.

Apesar disso, certo soldado alentejano, atraído pela fama de Brites, que corria já todo o Sul do País, procurou-a e propôs-lhe casamento. Ela porém, que não estava nada interessada em perder a sua adorada independência e que não era lá muito inclinada a sentimentalismos, tanto ouviu que acabou por anuir com uma condição: lutarem antes do casamento!

E a briga foi de tal ordem que o soldado acabou estirado no chão, ferido de morte. Ao ver o estado em que pusera o «noivo», Brites montou a primeira mula que achou à mão e fugiu com medo da justiça.

Dirigiu-se a Faro e daí embarcou para Espanha. Não chegou contudo, ao reino vizinho, porque o barco em que seguía foi abordado por piratas mouros, que a levaram para a Mauritânia, onde foi vendida como escrava.

Adquiriu-a um senhor que já tinha dois outros escravos portugueses e Brites não descansou enquanto não achou meio de fugir.

Para isso combinaram todos três matar o seu senhor e, na primeira oportunidade, cravaram-lhe uma adaga no peito e fugiram. Embarcaram com destino a Portugal, mas a viagem foi difícil: um enorme temporal encapelou o mar e enovelou o vento. O barco rolou ao deus-dará dias e dias, sem timoneiro que lhe valesse, velas rotas, mastro quebrado. Por fim, por um acaso, deu à costa, na Ericeira.

Brites, que se julgava procurada pela justiça real ainda por causa da luta com o soldado alentejano, enfrentando a sua necessidade de sobrevivência, vestiu-se de homem e cortou os cabelos.

A corpulência e aspecto masculino, proporcionaram-lhe a oportunidade de exercer o ofício de almocreve, ofício que bem conhecia dos seus tempos de vanguarda, ofício que lhe possibilitava a combinação de um modus vivendi que lhe agradava de sobremaneira.

Assim, enquanto lhe apeteceu e agradou, viveu a vida agitada e desbragada a que se habituara nas terras do sul.

Um dia, porém, farta daquele ofício e da terra, partiu. Passava por Aljubarrota quando ouviu dizer na taberna que a padeira da terra necessitava de ajudante. Aceitou o lugar e, tempos depois, acabou sendo dona do negócio, por morte da patroa. Diz-se que por ali se fixou até ao fim dos seus dias, acabando casada com um honesto lavrador – certamente da sua força, que de outro modo não podia ser.

Em Aljubarrota era conhecida como a Brites Pesqueira, provavelmente por se saber que da Ericeira chegara. Em Aljubarrota amanheceu o dia 14 de Agosto de 1385.

Até ela chegavam os clamores da batalha, o ruído do terçar das armas, os gritos surdos dos moribundos e os relinchos dos cavalos enlouquecidos pelo cheiro do sangue e pelo barulho da refrega. Não pôde resistir. Pegou na primeira arma que achou, esquecida no solo por um fugitivo, e juntou-se à hoste dos portugueses que tentava expulsar o invasor.

Derrotados os castelhanos, voltou para casa cansada, coberta de farrapos manchados, mais desgrenhada que nunca mas com uma intensa sensação de leveza. Mal entrou pressentiu que qualquer coisa de anormal se passava e logo desconfiou ter-se ali escondido algum fugitivo castelhano.

Intrigou-a a porta do forno fechada e correu a abri-la. Espantada, achou lá dentro sete castelhanos, apavorados. Intimidou-os a sair, mas como, a coberto do pânico, os homens fingissem dormir, Brites pegou na pá do seu ofício e tanto chuçou para dentro que os desgraçados não resistiram aos golpes e morreram.

Depois disto, numa excitação colectiva, provocada por um exacerbado nacionalismo e pelas circunstâncias de guerra aberta que se vivera nesse dia, Brites tomou o comando de um grupo de mulheres da povoação e partiu à cata dos foragidos, que se sabia estarem escondidos pela região, perseguindo-os sem quartel.

Diz a lenda que o resto da vida de Brites de Almeida foi calma e harmoniosa, casada com o seu lavrador.

Contudo, o feito daquele dia nunca mais se apagou da memória dos Portugueses e, apesar da barbárie do acto em si, acabou por tornar-se como que um símbolo da independência do Reino.

Durante anos, a pá, que a tradição conta ser ainda a mesma, foi religiosamente guardada como bandeira de Aljubarrota.

Quando sob o domínio espanhol dos Filipes, foi escondida dentro de uma parede, donde só foi retirada depois da aclamação de D. João IV, em 1640.

Durante séculos, no dia 14 de Agosto, nas comemorações da batalha, aquela pá era levada em procissão e nunca passou nenhuma personalidade nacional em Aljubarrota que lhe não fosse mostrado aquele famigerado instrumento.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
Amigos do Livro, Editores, LDA.

Temos neste post o desenvolvimento da guerra de Aljubarrota
http://www.gforum.tv/board/1277/91696/padeira-de-aljubarrota.html
 
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