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A religião é o ópio do cérebro

Satpa

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A religião é o ópio do cérebro

"A religião é o ópio do povo", célebre expressão de Karl Marx, ganha uma nova dimensão. Um grupo internacional de investigadores, em que participou um psicólogo português, comprovou que os crentes suportam mais a dor do que os não crentes.

Num estudo pioneiro a publicar na próxima edição da revista "Pain", estes investigadores de universidades britânicas simularam uma experiência religiosa para provar que esta desencadeou no cérebro de católicos praticantes um alívio significativo de sensações de dor física.

"Trata-se do primeiro estudo em que se demonstra o que se passa no cérebro de pessoas bastante crentes quando estão a viver experiências religiosas e ao mesmo tempo a ser sujeitas a estímulos dolorosos", disse, por telefone, à agência Lusa Miguel Farias, investigador em teologia e psicologia nas universidades de Oxford e Cambridge.

Neste estudo, os investigadores submeteram a pequenas descargas eléctricas dois grupos de voluntários (12 católicos praticantes e 12 ateus e agnósticos) ao mesmo tempo que lhes mostravam duas imagens alternadas, uma religiosa e outra não religiosa, e lhes registavam a actividade cerebral por ressonância magnética.

A imagem religiosa escolhida foi a do quadro "Virgem Anunciada" de Sassoferrato (sec. XVII), e a outra a "Dama com um Arminho", de Leonardo da Vinci (sec. XV), sendo as descargas exercidas através de um dispositivo colocado numa mão de cada participante.

"Em termos de estimulação eléctrica foi como se fossem picadas de agulha na palma da mão, ou bicadas de pica-pau, durante 12 segundos de cada vez" - explicou Miguel Farias. "Depois havia um descanso e a experiência prosseguia durante cerca de 45 minutos".

Antes de cada estimulação eléctrica foi pedido às pessoas que se concentrassem o mais que pudessem durante 30 segundos nas imagens, que continuavam a ver durante os 12 segundos seguintes, e que avaliassem a intensidade da dor durante os impulsos eléctricos e o que sentiam ao verem as imagens, de valor estético semelhante.

O resultado foi que os crentes sentiram menos dor ao verem a imagem religiosa do que ao verem a outra e menos dor do que o outro grupo, tendo a ressonância magnética revelado uma alteração da actividade cerebral apenas enquanto viam essa imagem.

Em contraste, os ateus ou agnósticos não sentiram nenhum alívio das sensações dolorosas ao verem a mesma imagem religiosa, nem ao verem a outra, de que disseram gostar mais.

"O que se passa é que as pessoas religiosas ao olharem para a imagem estavam de certo modo a reinterpretar a dor de uma forma positiva: a lembrar-se de quem é a Virgem Maria, a pensar em episódios dos evangelhos que lhes dizem alguma coisa ou a rezar para elas", referiu o investigador português, radicado há oito anos no Reino Unido.

Na experiência, os católicos disseram sentir-se mais seguros e mais apaziguados ao contemplarem a Virgem Maria, e os investigadores verificaram que nesses momentos era activada uma parte do córtex préfrontal do cérebro, o que não aconteceu com o outro grupo, em que os níveis de dor e ansiedade permaneceram praticamente idênticos.

"Em termos de como é que as crenças, e em particular as religiosas, podem afectar a percepção de dor há ainda muita coisa para fazer e este é apenas um primeiro estudo, pioneiro", salientou.

Doutorado em Psicologia Experimental pela Universidade de Oxford (2005), Miguel Farias, 34 anos, coordena uma rede de investigadores que estudam diversas peregrinações, católicas e pagãs.

"Neste momento estamos a comparar Fátima e Lourdes, que são os grandes santuários católicos, mas também Stonehenge e outro local no Reino Unido associado às lendas do rei Artur e que nos últimos 20 anos se tornou também um local de peregrinação pagã", afirmou.

O objectivo, acrescentou, "é tentar ver de que modo é que as expectativas que as pessoas levam para as várias peregrinações afectam as experiências que têm, como é que isso influencia os seus estados afectivos e emocionais, e o que é se passa em termos de diferenças psicológicas, idades e tipos de personalidades".

Miguel Farias, que há três anos estuda as bases neurológicas da crença religiosa e o modo como esta modula a experiência da dor, licenciou-se na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Mantém um trabalho de colaboração em Portugal com um centro de investigação em ciências sociais humanas chamado Númena, com sede no Taguspark (Oeiras).


JN
 
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