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Peixes Palhaço

helldanger1

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Este artigo foi escrito por Ricardo Rodrigues já há uns tempos, o mesmo foi publicado na revista Aquamania nº2 e Cães & Mascotes nº46.

Peixes palhaço

Quem não conhece os divertidos peixes palhaço? Desde os documentários televisivos até ao aquário de água salgada, o peixe palhaço é muito popular. Qual a razão da sua popularidade?

Na natureza, os peixes palhaço podem ser encontrados a baixa profundidade em águas tropicais dos oceanos Índico e Pacífico. Existem 28 espécies de peixes palhaços, 27 pertencem ao género Amphiprion e a restante ao género Premna. Ambos os géneros pertencem à família Pomacentridae, à qual pertencem também as conhecidas donzelas. Das 28 espécies de peixes palhaço nem todas aparecem no mercado de peixes ornamentais, as mais frequentes são: Amphiprion ocellaris, A. percula, A. clarkii, A. frenatus, A. perideraion e Premna biaculeatus. É frequente confundir entre si as duas primeiras espécies. A. ocellaris é a mais comum e vulgarmente encontrada nos aquários das lojas de animais, A. percula é menos frequente e normalmente possui um preço mais elevado que a anterior. Para diferenciar as duas espécies o ideal é observá-las juntas: geralmente A. percula possui, junto das listas brancas, bandas pretas mais largas que as de A. ocellaris.

No seu habitat natural os peixes palhaço vivem numa estreita relação de simbiose com as anémonas. As anémonas, assim como os corais e as alforrecas, pertencem ao filo dos Cnidários. Estes organismos possuem um tipo de células em comum, os cnidócitos, que contém no seu interior o nematocisto, um arpão de reduzidíssimas dimensões associado a uma cápsula que contém substâncias tóxicas. Em caso de defesa ou para capturar presas, este arpão é disparado injectando o veneno da cápsula. Esta estrutura é responsável pelas queimaduras provocadas por algumas alforrecas, coral fogo, etc. Assim, parece não fazer sentido os peixes palhaço procurarem refúgio nas anémonas, no entanto, ao contrário de outras espécies, estes são imunes aos seus tentáculos venenosos, dependendo desta relação a sua sobrevivência na natureza. Tratando-se de uma relação de simbiose, quais são as vantagens para a anémona? Algumas espécies de peixes do género Chaetodon (Peixes Borboleta) alimentam-se dos tentáculos das anémonas mas os peixes palhaço defendem as suas anémonas afastando estes peixes. Para além de protecção os peixes palhaço também alimentam as suas anémonas.

Nem todas as anémonas servem de refúgio para os peixes palhaço. Das cerca de 1000 espécies existentes apenas 10 são utilizadas por estes. Cada espécie de peixe palhaço utiliza como refúgio apenas algumas dessas 10 espécies. Em aquários de recife sem anémonas por vezes os peixes palhaço adoptam certos corais como se fossem a sua anémona.

Os peixes palhaço são considerados espécies resistentes em aquário, ao contrário das suas anémonas que geralmente morrem devido a não serem satisfeitas as condições necessárias à sua sobrevivência – alimento vivo, luz adequada e excelente qualidade de água. Com a evolução do conhecimento sobre a manutenção de corais em aquários de recife, quem sabe num futuro próximo as anémonas possam vir a ser mantidas e reproduzidas com sucesso. Longe dos predadores existentes no seu habitat natural, em aquário, os peixes palhaço passam bem sem a presença das anémonas, vivendo “felizes e contentes” podendo até reproduzir-se.

Outra característica curiosa dos peixes palhaço é estes poderem mudar de sexo ao longo da sua vida. Inicialmente todos os indivíduos pertencem ao sexo masculino mas com o tempo o macho mais forte transforma-se em fêmea. Esta característica tem o nome de hermafroditismo protândrico. Nalgumas espécies, a fêmea atinge maiores dimensões que os machos – por exemplo em A. ocellaris e A. frenatus.
 

helldanger1

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Em aquário, os peixes palhaço podem conviver com a maior parte das espécies de peixes que existem no mercado, sendo de evitar aquelas que os podem confundir com uma refeição apetitosa, como por exemplo o peixe-dragão (Pterois sp.) e as moreias (Echidna sp., Gymnothorax sp. e Rhinomuraena sp.). A melhor companhia para um peixe palhaço é outro peixe palhaço da mesma espécie. Ao colocar no aquário dois indivíduos jovens de tamanho semelhante com o tempo formar-se-á um casal. Após estabelecido o casal é interessante observar o seu quotidiano no aquário: ambos escolhem um cantinho que será a sua “casa”, um local do aquário no qual permanecerão a maior parte do tempo, este local será protegido dos invasores a todo o custo; durante os períodos de alimentação a fêmea é a primeira a aparecer e a comer, enquanto o macho mais tímido come os restos. A maior parte dos casais, após algum tempo no aquário acabam por se reproduzir. O macho começa por limpar um determinado local do seu refúgio e em seguida a fêmea deposita aí os seus ovos que serão posteriormente fertilizados pelo macho. Neste caso é o macho que fica em “casa” a tomar conta dos ovos, nadando incansavelmente em seu redor de forma a arejá-los. Este arejamento impede que os ovos sejam atacados por fungos. Na natureza os ovos eclodem ao anoitecer e os alevins – nome dado às pequeníssimas larvas que saem dos ovos – nadam para a superfície atraídos pela luz da lua, ficando ao sabor das correntes e alimentando-se de plâncton – organismos microscópicos que vivem em suspensão nas águas oceânicas.

Actualmente a reprodução das diferentes espécies de peixes palhaço em aquário é assunto de publicações científicas. Por todo o mundo, aquariófilos marinhos, biólogos e outros cientistas têm pesquisado formas de optimizar a reprodução destes peixes tentando aumentar a sobrevivência larvar, ou seja fazer com que em cada postura a maior parte dos alevins que nascem cheguem a peixes adultos. Este objectivo já foi atingido com algumas espécies – A. ocellaris, A. percula, A. clarkii, A. frenatus entre outras.

Em Portugal, no Aquário Vasco da Gama foram reproduzidos com sucesso peixes palhaço: o primeiro casal composto por macho e fêmea de espécies distintas (A. clarkii e A. frenatus), outros dois casais de A. ocellaris e um casal de A. nigripes. Aquariófilos portugueses também já reproduziram nos seus aquários A. ocellaris e A. polymnus.

Os peixes palhaço reproduzidos em aquário são mais resistentes que os apanhados na natureza. São várias as razões para o aquariófilo marinho preferir os peixes palhaços de cativeiro: estão mais familiarizados com a presença humana, adoptam um comportamento menos agressivo ou assustado quando nos aproximamos do aquário; encontram-se facilmente peixes juvenis com 6 a 12 meses; a aclimatação ao aquário é mais rápida; a sua reprodução é mais fácil; os juvenis são mais tolerantes em relação à qualidade da água e alimentação. Os peixes palhaço apanhados na natureza estão expostos a várias situações de stress e mudanças bruscas contendo por vezes parasitas internos e externos.

O peixe palhaço é um bom exemplo do sucesso dos aquariófilos marinhos e investigadores científicos que têm procurado reproduzir em cativeiro a maior parte das espécies de peixes e invertebrados mantidas em aquário, dando a conhecer ao mundo a diversidade e importância dessas espécies e contribuindo para proteger esse habitat único e fantástico que é o recife de coral.

Ricardo Rodrigues (Janeiro 2002)
 
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