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Minhocas de Riba de Ave são as primeiras do mundo a tratar lixos urbanos

xicca

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Inaugurada hoje unidade de vermicompostagem pela Amave

As minhocas, animal que pesa entre um e dois gramas e pode viver em média oito anos, têm hoje oportunidade de brilhar. Em Riba de Ave, concelho de Vila Nova de Famalicão, é inaugurada a primeira unidade de vermicompostagem do mundo para resíduos indiferenciados. Milhões de minhocas comprometem-se a trabalhar dia e noite para tratar 1500 toneladas de lixos urbanos por ano, o que corresponde aos resíduos gerados por quatro mil habitantes.

A "cultura de minhocas" já existe há mais de 20 anos. Até ao momento, a utilização destes animais limitava-se à transformação de matéria orgânica - como esterco de pecuárias, lamas de ETAR (estações de tratamento de águas residuais) e resíduos de indústrias agro-alimentares - em húmus que pode ser usado como adubo.

Mas a unidade de Riba de Ave, da Amave (Associação de Municípios do Vale do Ave) - a funcionar há mês e meio a velocidade cruzeiro, tratando em média cinco toneladas de resíduos por dia - é a primeira do mundo onde as minhocas são lançadas aos lixos indiferenciados, incluindo cartão, papel, plásticos, metal.

Segundo explicou ao PÚBLICO Rui Berkemeier, do Grupo de Resíduos da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) - que dá apoio técnico ao projecto -, para tratar uma tonelada de resíduos urbanos são necessários meio milhão de minhocas. Estes animais podem digerir metade do seu peso por dia. A taxa de recuperação através da vermicompostagem é superior a 80 por cento, acrescenta.

João Completo, da empresa portuguesa Lavoisier - responsável pela tecnologia utilizada nesta unidade - diz que o projecto demorou cinco anos a ser desenvolvido. "Começámos a utilizar minhocas para tratar o esterco nas vacarias, depois passámos às lamas de suiniculturas. Agora decidimos fazer uma experiência radical. Depois de dois anos de investigação pusemos as minhocas a tratar de todo o lixo".

O processo passa por duas fases. Primeiro, os resíduos sólidos urbanos indiferenciados são tratados para serem homogeneizados - para que as minhocas os possam digerir, dado que não têm dentes -, para serem higienizados - eliminando os agentes patogénicos que possam existir - e para retirar os cheiros. Estes processos demoram entre duas a três semanas, período durante o qual é aumentada a temperatura dos resíduos para 65º. "Aqui aparecem as primeiras bactérias que fazem uma primeira digestão da matéria", explica João Completo.

"Depois lançamos as minhocas que demoram entre duas a três semanas para digerirem os resíduos e transformarem o lixo em húmus, ou seja, as suas fezes".

Mas estas minhocas têm outra tarefa, como explica João Completo. "Os resíduos que não consigam digerir, como os copos de iogurte e os sacos de plástico, são limpos de todos os restos de comida e sujidade e ficam prontos para serem enviados para as várias fileiras de reciclagem". Este plástico é depois triturado e fica pronto a ser utilizado pelas empresas de reciclagem.

Outro subproduto deste "negócio" é o húmus que resulta da vermicompostagem. "A unidade tem uma fase de triagem com um crivo, com furinhos de vários diâmetros consoante o destino do húmus, seja para jardins, agricultura ou uso florestal".

Quercus vai apresentar proposta ao Ministério do Ambiente

Rui Berkemeier gostava de ver alargada esta tecnologia a vários pontos do país porque, diz o ambientalista, "só tem vantagens". Além de digerirem quase tudo - menos resíduos como têxteis, sapatos e cadeiras -, as minhocas oferecem um serviço "barato" e com custos mínimos. Segundo Rui Berkemeier, a unidade de Riba de Ave - que emprega duas pessoas fixas e uma adicional - representa um investimento de 250 mil euros e cada tonelada tratada ficará em 180 euros.

Além disso, podem ser implementadas unidades de vermicompostagem para pequenas ou grandes cidades, permitindo um tratamento descentralizado. "Isto pode reduzir a necessidade de transportar os resíduos desde quem os produz até aos grandes centros de tratamento ou armazenamento".

Estas unidades poderiam gerar, dentro de cinco a seis anos, até três mil postos de trabalho, tudo com tecnologia cem por cento portuguesa, estima a Quercus.

Actualmente existem três projectos que deverão estar concluídos este ano para outras unidades de vermicompostagem, adiantou Rui Berkemeier: um na ilha de São Miguel, no concelho do Nordeste, outra em Beja e outra na Figueira da Foz.

A Quercus pretende apresentar uma proposta ao Ministério do Ambiente para que apoie a instalação deste tipo de unidades e para que "haja investimento público". Até porque, salientou o especialista em resíduos, este ano Portugal vai falhar a Directiva Aterros no que respeita à quantidade de resíduos orgânicos que ainda vai para estes locais. "Não será preciso grande financiamento para, através das minhocas, resolver este incumprimento".

A unidade de vermicompostagem da Amave tem ainda o apoio da Sociedade Ponto Verde, sendo o equipamento fabricado pela empresa portuguesa Plasmaq.



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