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Caça Maior

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Amigos, vou criar este tópico para postar a Fauna Cinegética, neste caso será o post de Caça Maior.
E neste mesmo tópico, mais abaixo, um post para cada espécie, neste caso, volto a repetir de Caça Maior.
Agradecia tudo o que fosse relacionado com Espécies Cinegéticas postassem no devido lugar.
Isto tudo para uma melhor organização e uma fácil pesquisa neste Quadro de Caça e Pesca.
:espi28:
 

jcodigo

GF Ouro
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Corço (capreolus capreolus)

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Autor: A Página do Monteiro

O Corço é o cervídeo de menor porte existente em toda a Europa. Primo afastado do veado, apresentou uma evolução ao longo dos séculos um pouco diferente da do seu primo Gamo, mas continuou a fazer parte da mesma família. No mundo leigo é conhecido por Bambi, o pequeno veado da banda desenhada que fez as alegrias da criançada.

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Presença do Corço na Europa


Mas, apesar da toda a sua graciosidade e beleza, o Corço revela instintos tão apurados como os do mais bravio dos animais. Com uma capacidade visual fora do vulgar, o Corço consegue detectar um pequeno movimento a largas distâncias. Com um ouvido apuradíssimo sente o mais leve movimento ou o mais suave remexer da folhagem. Com um nervosismo só dele característico, este pequeno cervídeo consegue desconcertar o mais frio e calmo dos caçadores.

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Corço Fêmea e cria


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Anatomia do Corço


Apresentando uma altura ao garrote que raramente ultrapassa os 80 cm e uma facilidade de movimentação proporcionada pelas suas altas, esguias e resistentes patas, o corço consegue dissimular-se no mais elementar dos cobertos vegetais. Denotando uma elevada capacidade de adaptação, tanto o podemos encontrar a viver no mais denso das florestas do Norte da Europa, como nas amplas planícies abertas e cultivadas da Europa do Sul. E porque tanto agora está visível como no instante seguinte se ocultou sem sequer nos percebermos como, foi apelidado de "DUENDE da Floresta".

Por tudo isto, a caça ao Corço provoca uma paixão enorme em todos aqueles que gostam de caçar de forma ética e rigorosa.


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A sua alimentação (apesar de ser um herbívoro ruminante como os seus primos) consiste maioritariamente no consumo de plantas leguminosas de folha curta, larga e tenra, pelo que fácil se torna procurar os corços numa região onde estejam presentes: basta saber onde se encontra a sua alimentação preferida e observar, em diferentes momentos do dia, os campos onde se alimentam.

Tal como os primos, apresenta o referido dimorfismo sexual (ver página do Veado), sendo o seu troféu constituído por um par de hastes com apenas três pontas: a anterior, a central e a posterior. As fêmeas parem igualmente uma cria por ano, sendo vulgar em regiões de grande abundância e qualidade de alimento, existirem várias parições gémeas. Contudo o seu período de gestação é muito superior ao do gamo e ao do veado; a época de reprodução acontece - nas regiões temperadas - entre meados de Abril e fins de Maio (nas regiões frias do norte da Europa o cio só acontece nos princípios de Agosto), mas as crias só nascem no princípio da Primavera seguinte. Este facto é devido a um fenómeno interessantíssimo que nos mostra como a Mãe Natureza protege os seus filhos: para garantir a maior possibilidade de sobrevivência das crias, as parições só se verificam no princípio da Primavera por ser esta a época em que a alimentação preferida é mais abundante, de maior qualidade e mais rica em nutrientes. Para isso as fêmeas beneficiam de uma implantação retardada do óvulo - os óvulos fecundados só se alojam no útero para iniciarem o seu desenvolvimento e darem origem ao embrião cerca de 4 a 5 meses após o momento da fecundação. Fenómeno este que só se verifica nos Corços.


trofeucor.jpg

Troféu do Corço

LEGENDA:

1 - Ponta Anterior 2 - Ponta Central 3 - Ponta Posterior 4 - Tronco da Haste 5 - Perlado 6 - Roseta
a) e b) Primeira cabeça (ou vareto) c) segunda cabeça d) Terceira cabeça ou seis pontas


Em Portugal o Corço esteve extinto em todos os terrenos de caça do território nacional, durante os três primeiros quartos do século passado. Apenas se conheciam raros afloramentos da espécie no distrito de Bragança, provenientes da proximidade com os terrenos coutados da vizinha Galiza, que, uma vez por outra, facilitavam o seu aparecimento em território nacional. Ao contrário do Gamo e do Veado a espécie não esteve introduzida em zonas fechadas (vedadas com rede ou muradas) porque por uma lado se desconhecia as suas necessidades em termos de habitat, e por outro porque a espécie não tinha procura e logo não tinha valor comercial. As raras experiências de introdução que se conhecem nesse período falharam redondamente porque as escolhas dos biótipos de introdução não foram as mais adequadas.

O Corço é um animal que, devido às suas preferências alimentares consome pouca água, retirando-a quase exclusivamente do alimento que digere, pelo que necessita de um ambiente com um mínimo de 800mm de média de precipitação anual. Quando tal não acontece a espécie enfraquece, definha e os animais vão a pouco e pouco perecendo.

Ao contrário do gamo e do veado, que apenas marcam e defendem um território antes e durante o cio, o Corço é um animal permanentemente territorial; só as condições adversas (em termos de alimentação ou tranquilidade) o fazem mudar de território. Talvez por este motivo os biólogos afirmem que o corço não se "dá" em áreas fechadas. Defendem estes que, ao demarcarem o território e com o o intuito de o defenderem permanentemente, os corços machos mais velhos perseguem continuamente os mais novos não lhes dando descanso. Estes concorrentes, por não poderem alimentar-se e descansar acabam por morrer, não sendo possível o desenvolvimento populacional da espécie como seria pretendido.


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Corço territorial derrotando um concorrente



Dependendo do biótipo em que se encontram, da qualidade e quantidade de alimento disponível bem como da densidade populacional na região, os Corços machos podem exibir territórios que oscilam entre os 3/5 hectares até aos 50 ou mais hectares. Com base na minha experiência pessoal posso afirmar que observei territórios de 5 ha (em média) nos países da Europa de Norte, de cerca de 60 a 100 ha na Dinamarca e bastante mais extensos na região Galega (Espanha).

Actualmente existem em Portugal algumas zonas de caça de tipo turístico, vedadas com rede de dois metros de altura onde os corços foram introduzidos e onde consta que se dão relativamente bem. Apesar de pessoalmente não conhecer essas zonas e apenas obter referências de duas ou três, verifica-se que nos dois últimos anos se cobraram troféus de grande qualidade sendo uma delas a progenitora do record de Portugal, bem como do troféu posicionado em segundo lugar. Estamos a falar de Medalhas de Ouro com 171,93 e 144,78 pontos CIC.

Quanto às zonas abertas apenas tenho memória de uma introdução de 5 casais de corço na serra da Lousã, nos finais da década de 90 e com o patrocínio do Clube Português de Monteiros. Sobre o desenvolvimento desse núcleo, desconheço o que foi o seu futuro, pois nunca mais ouvi qualquer referência sobre o assunto.

Para caçar Corços só há dois processos de caça : a aproximação e a espera. No que se refere à Montaria ou à Batida, desaconselho vivamente estes processos porque os corços, quando pressionados, deslocam-se de forma errática, em grande velocidade e com saltos que podem atingir uma dúzia de metros de comprimento, sendo muito difícil atirar-lhes com carabina, em movimento. E por este motivo recebeu a alcunha de "Traga Balas".

Nos países nórdicos, quando se fazem batidas de caça maior em zonas onde existem corços, permite-se atirar com caçadeira carregada com cartuchos de chumbo grosso ( nº1, 2 ou 3), mas lá como cá, o zagalote é proibido.

Quando se caça de aproximação há que ter cuidados redobrados e é não só importante seguir TODAS as recomendações mencionadas na explicitação deste processo de caça, como ainda mais alguns:

- Em áreas florestadas as deslocações do caçador devem ser efectuadas sempre pelo bordo da floresta, mais para dentro do que para fora.

- A movimentação deve ser feita muito lentamente e sempre utilizando o ambiente natural para nos ocultarmos.

- O vento TEM DE ESTAR SEMPRE NA CARA.

- As observações devem ser efectuadas com binóculos de elevada qualidade óptica.

- Deve privilegiar-se a observação das zonas abertas, prados naturais e culturas, que devem ser vistas, revistas e voltadas e ver.



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Identificação do Sexo através do Escudo Anal

De igual modo devemos estar atentos às marcas de presença dos corços, nomeadamente aos rastos, excrementos e marcações de território.

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Rasto de Corço


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Excrementos


E se a caçar de aproximação de repente ouvir um ladrar rouco e forte que se afasta, então caro amigo, isso significa que o Corço "deu" consigo antes que se tenha apercebido da presença do animal. O "ladrar" representa não só um sinal de aviso para os congéneres, como igualmente uma intimidação para os perigos desconhecidos.

A espera realiza-se, normalmente, em mirador (palanque) elevado, meio aberto ou fechado, situado em local com vista para um campo de alimentação ou zona aberta. Trata-se de um processo muito mais descansado já que permite observar calmamente os animais que saem ao limpo sem que estes se apercebam e realizar um tiro seguro, apesar de muitas vezes as distâncias de tiro não serem as mais confortáveis. No entanto, pelo que ficou exposto, e pelas dificuldades da caça de aproximação, consideram os grandes caçadores ser a espera um processo de caça pouco desportivo.

Apesar de estarmos a falar de um cervídeo de tão pequeno porte e que aparenta uma grande fragilidade, a verdade é que o cobro dos corços atingidos ou feridos de morte nem sempre se tem revelado tão fácil quanto se poderia pensar. Estamos em presença de duas situações: ou ficam "secos" ou fogem desenfreadamente para o zona de maior coberto vegetal (podendo percorrer por vezes grandes distâncias); devido aos saltos e velocidade da fuga, o rasto de sangue, sendo mínimo, fica muito espaçado e difícil de seguir. Por isso convém ter muita atenção à reacção do animal no momento do tiro. Em última instância a melhor opção é utilizar um cão de pista de sangue bem treinado. Pessoalmente prefiro os Teckel e ninguém me faz ir à caça sem a companhia da minha cadela "Linda" que tem mais vício na caça maior do que eu.




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4 , 5 , 7 , e 8 - Cobro fácil. Ou fica no local do tiro ou muito perto.
3 e 6 - Cobro difícil. Percorre grande distância. Imprescindível o uso de cão de pista de sangue.
1 - Cobro fácil. Deixa muito sangue e pedaços de carne no local do tiro, mas percorre grande distância.
O rasto de sangue é, no entanto, bem visível.
2 - Cobro difícil. Percorre grande distância. Pouco sangue no trajecto de fuga. Fundamental utilizar cão de sangue.

Finalmente e sobre os calibres mais apropriados para caçar o Corço, a tónica é posta nos calibres pequenos, médios no máximo. Tratando-se de um animal de pequeno porte, a utilização de um calibre médio pode destruir grandes quantidades de carne e assim subaproveitar a carcaça do animal que, diga-se de passagem, tem uma carne de excelente qualidade e de requintado sabor. Assim sendo os calibres mais adequados são o .222, todos os .223, o .243, o .257, os 6,5x ... , o .270, etc. Por sua vez os 7mm e o 30.06 são considerados como destruidores de carne, mesmo utilizando balas mais leves. Pessoalmente comecei a caçar corços com o .270W com bala PSP de 150 grães (9,7 gramas) e actualmente uso o .243 W com balas de 80 a 100 grães (4,5 a 6,5 gramas) .

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In: A Página do Monteiro ( O CORÇO )
 

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Gamo (dama dama)

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Autor: A Página do Monteiro

Os Gamos são os primos direitos do Cervus Elaphus, ou no caso presente, do nosso veado ibérico. Assim, e ainda segundo os paleontologistas, quer o veado quer o gamo são originários de uma primeira espécie de veado de grande porte, com hastes de grande dimensão e com forma palmeada que existiu no período Pliocénico e que habitava as regiões turfeiras do que é hoje a Irlanda - o Cervus megaceros. Estes progenitores da espécie desaparecem, contudo, no fim da época glaciar.

O nosso Gamo é igualmente proveniente da Ásia Central e apesar de revelar uma morfologia, hábitos e comportamentos em tudo semelhantes aos do veado, revelou também uma maior atitude de proximidade em relação à espécie humana. Tal significa que o Gamo se habituou a conviver com o Homem e que, durante muitas décadas da Idade Moderna, era mais frequentemente visto como um animal de parque (meio domesticado) do que como uma espécie de caça maior. Era normal, ao longo do século XIX e em alguns países da Europa, as grandes mansões terem em liberdade exemplares da espécie que faziam as delícias dos nobres visitantes por se aproximarem destes para aceitar as guloseimas que lhes eram oferecidas.

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Gamo Fêmea e cria


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Anatomia do Gamo

Por outro lado o Gamo também existiu sempre em liberdade na Natureza e no estado selvagem, revelando todas as características dos animais bravios. Olfato apurado, visão sagaz e sempre muito desconfiado coma presença humana, para além de uma capacidade incrível de se aperceber do que pode ou não constituir uma ameaça ou situação de perigo.

Tal como os restantes cervídeos, revela igual dimorfismo sexual (ver a página do veado) e igual espírito gregário com os mesmos comportamentos do Veado. São, contudo, cervídeos de menor porte já que o peso máximo dos machos adultos rondará os 100 kg. Reprodução idêntica, semelhante período de gestação e período de cio posterior ao do Veado (enquanto época de cio do segundo começa em Setembro e se prologa até meados de Outubro, o cio do gamo - designado por RONCA - tem o seu momentum em Outubro).

Em Portugal o gamo foi sempre apreciado pelas gentes uma vez que a sua sobrevivência, durante o século XX se deveu à conservação de alguns núcleos populacionais nas propriedades da casa de Bragança, já várias vezes referidas. Tal como o veado a espécie esteve extinta nos terrenos abertos (ditos livres). Contudo, na segunda metade da década de 80 do século passado, com a publicação da nova Lei da Caça que passou a permitir e a implementar a Caça Maior (Lei 30/86), o Gamo foi introduzido em zonas de caça ordenada (Zonas de Caça Turística e Nacionais), regressando assim às lides cinegéticas. Foi o caso de algumas Z.C.T.s do distrito de Beja, de Évora, de Portalegre e de Castelo Branco, para citar apenas algumas. Por sua vez, a ocorrência de alguns "desastres" em vedações de Z.C.T.s durante a época invernal permitiram que esta espécie tenha começado a povoar igualmente os terrenos de caça não vedados, sendo vulgar, actualmente, encontrar gamos em liberdade em várias regiões do Alentejo.

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Gamo da Península Ibérica

E tal como nas restantes espécies os gamos aumentam de corpulência e de peso bruto à medida que nos deslocamos, na Europa, para Oriente, devido às melhores condições de alimentação e de mais favorável Habitat. As imagens acima revelam exactamente essa diferença de corpulência, patente não só na estrutura física como até na coloração do pelo dos animais.

No que se refere à caça, o valor do gamo está representado pela qualidade do seu troféu, cuja evolução revela grandes semelhanças com a evolução do troféu do veado. De igual modo as hastes caem todos os anos e voltam a renascer apenas com um mês de diferença em relação ao veado (tal como acontece com o cio); as fêmeas também parem em média uma cria por ano; consomem o mesmo tipo de alimentação e a má nutrição ou o estado sanitário têm idêntica influência na qualidade do troféu; a forma de determinação real da idade é a mesma e a análise das classes de idade pode ser feita pelo mesmo processo..

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LEGENDA
a) Primeira cabeça ou VARETO. b) Segunda/terceira cabeça c) Quarta/quinta cabeça d) Sexta cabeça e) 8 - 9 anos f) 10 e mais anos.

O Gamo também atinge o desenvolvimento completo do troféu por volta dos 7 anos de idade, considerando as condições normais de vida; e tal como o veado, a partir desta idade, o troféu apenas pode melhorar em termos de grossura, peso e eventual aumento dos recortes da palmas.

No que se refere aos processos de caça mais adequados para obtenção de um troféu de gamo, o primeiro a referir é, sem dúvida, a aproximação; no entanto, tratando-se de um animal de menor porte habituado a viver em áreas povoadas, o gamo consegue movimentar-se quase de forma furtiva pelo que, na caça de aproximação, se torna necessário andar pouco e devagar e observar muito toda a área envolvente.


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Representação do Rasto do Gamo


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Marcas de Presença (marcação de território)




Também se pode caçar de Montaria ou de batida; no entanto, pela experiência que tenho de caçar gamos por estes processos, considero não serem os mais adequados pela dificuldade de conduzir os animais aos postos previamente definidos: acontece, com frequência, observarem-se dezenas de gamos na mancha a bater e durante a jornada de caça ninguém lhes põe a vista em cima; terminada a montaria ou a batida reuniam-se a pastar calmamente à vista de todos, parecendo saber que a "guerra" já tinha terminado.

Igualmente eficaz e bastante mais descansado é o processo de caça de espera à água, no verão, ou à comida, quando nas alturas de menor quantidade de alimento se lhes disponibiliza o que necessitam em comedouros artificiais. Neste caso desde que o caçador esteja "bem colocado" os gamos entram com facilidade, permitindo assim uma fácil identificação da qualidade do troféu e um tiro ainda mais fácil.

Por outro lado, quando se caçam gamos, torna-se imperioso colocar bem o tiro. Há quem diga que quanto mais pequeno mais ladino e apesar do gamo revelar um espécie de fraqueza nata o que é verdade é que, mesmo atingidos de forma mortal, revelam grande resistência e normalmente "ficam" mais longe do que se espera. Por vezes, os ferimentos deixam de largar sangue e o gamo é considerado como perdido, podendo, no entanto, estar morto 100 ou 150 metros mais adiante. Portanto, muito cuidado no momento do tiro e não se isentem de uma procura pormenorizada de indícios de ferimento, com o objectivo de se cobrar um animal que possa não ter revelado uma reacção nítida de ter sido atingido.

Sobre os calibres mais adequados, novamente se repete a informação anteriormente prestada - todos a partir do .243, segundo o gosto e habilidade de cada um.


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Gamos de parque na Dinamarca




In: A Página do Monteiro ( O GAMO )
 
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Javali (Sus Scrofa)

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Autor: A Página do Monteiro

O Javali é, por excelência, a espécie rainha da Caça Maior não só em Portugal, como também em praticamente todo o continente Europeu. Este animal desperta uma paixão incalculável em quase todos os praticantes desta modalidade de caça, por um lado pela quantidade de efectivos existentes, e por outro pela facilidade com que prolifera em quase todo o tipo de terrenos.
Apesar de ter preferência por zonas de maior e mais denso coberto vegetal do tipo bosque e sub coberto mediterrânico, é fácil encontrá-lo também em zonas mais nuas de vegetação ou apenas cultivadas. A espécie revela uma invulgar capacidade de adaptação a muitos e diferentes tipos de ambientes, com o único senão de não lhe faltar a alimentação ( igualmente muito variada) e a água (é pouco provável encontrar javalis em zonas demasiado áridas ou secas). Revela, ainda, um elevado grau de nomadismo (capacidade de deslocar de umas regiões para outras conforme os hábitos da espécie, o clima, a disponibilidade de alimento ou ainda - sendo este o factor mais importante - a tranquilidade na zona).
A espécie revela igualmente uma invulgar robustez física, dado que é pouco afectada por doenças virais ou epidémicas sabendo-se que a sua taxa de mortalidade por estes motivos é muito baixa (inferior a 3% dos efectivos de qualquer região), apresentando também uma taxa de reprodução muito elevada associada a uma taxa de mortalidade post natal muito baixa ( as fêmeas atingem a maturidade sexual cerca dos 8-10 meses de idade, e enquanto a primeira camada é de cerca de 3-4 crias, nas restantes parições este valor quase que duplica.)
Por estes motivos e de uma forma geral podemos dizer que existem javalis em praticamente todo o lado.


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Javali Fêmea e crias


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Anatomia do Javali

Dados os factos enunciados, poderemos questionar-nos então porque não está a espécie em vias de extinção, considerando o número oficial de animais abatidos anualmente, de forma legal, ao longo do território nacional (os números oficiais apontam para uma média de 3 000 a 4 000 exemplares por ano); os valores reais são, contudo, muito superiores aos números oficiais, uma vez que nestes quantitativos não estão considerados o furtivismo e os restantes processos não declarados. Calcula-se que este valor possa, realmente, triplicar .

A resposta está no facto do Javali ter uma actividade predominantemente nocturna, e ser dotado de alguns sentidos ultra sensíveis - olfacto e ouvido - defendendo-se dos predadores mais frequentes, neste caso o Homem, de uma forma extraordinária. Sendo o homem o único predador sistemático da espécie, o animal habituou-se a pressentir a sua presença e a evitar o mais elementar contacto visual. Pelo que a sua caça se torna altamente atraente por difícil e incerta, apesar da evolução dos meios de caça actuais.

As imagens que se seguem pretendem ajudar a identificar a presença destes animais no seu ambiente natural.

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Evolução do Javali até ao estado adulto



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Sinais de presença do Javali (fossado)


WildPigs_prints.jpg

Desenho esquemático do rasto


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Rastos reais deixados na lama


E porque caçar é uma coisa, atirar é outra e finalmente cobrar o animal atirado é outra ainda, aqui ficam algumas referências sobre a reacção mais habitual do javali em função da colocação do tiro.



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1 - Tiro de Rim ( Raramente se cobra. A morte sobrevém 48 a 36 horas após o ferimento).
2 - Tiro de Pata Traseira ( Nunca se cobra. )

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3 - Tiro de Coluna atrasado ( Temporariamente paralisado no local do tiro, seguido de fuga arrastada. Cobro perigoso com animal vivo).
4 - Tiro de Pança baixo ( Raramente se cobra. Vestígios de banha, pêlos, conteúdo estomacal e tripas no local do tiro).

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5 - Tiro de Hipófise. ( Nunca se cobra. Queda instantânea no local devido a desmaio; rápida recuperação e fuga desenfreada).
6 - Tiro de Focinho. ( Nunca se cobra. Queda e fuga instantânea).
7 - Tiro de Pata dianteira. ( Nunca se cobra. Queda e fuga instantânea).

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8 - Tiro de coração. ( Cobro fácil. Pode acontecer a chamada "corrida da morte" caindo seco relativamente perto do local do tiro - até 150m)
9 - Tiro de coluna. ( Cobro fácil, mas atenção que pode ainda estar vivo quando nos aproximar-mos do animal )

Assim sendo qual será a melhor colocação para um tiro mortal ? A imagem que se segue mostra-nos a área vital do javali ( pulmões/ coração/coluna onde devemos colocar o tiro. Quanto mais intensa a cor mais perto ficará morto o animal.
Sobre o calibre mais adequado, todos servem a partir do .243 W , dependendo dos gostos e habilidade de quem se dedica a esta caça.

Tiro%20fatal.jpg


Finalmente, e como penso que todos sabem (?) o principal objectivo da caça maior é a obtenção do troféu, que, no caso do javali, é o conjunto das suas defesas - 2 navalhas (caninos inferiores) e duas amoladeiras ( caninos superiores). A seguir apresenta-se um esquema da evolução das defesas do javali bem como a sua localização nas maxilas e finalmente, o troféu já montado.

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Evolução do troféo do Javali



In: A Página do Monteiro (O JAVALI)
 

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Muflão (ovis amon musimon)

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Autor: A Página do Monteiro
Este animal é seguramente o mais estranho e o mais desconhecido da maioria dos caçadores portugueses. Primeiro porque não é uma espécie originária da Península Ibérica tendo, no entanto, aqui sido introduzido pelos Romanos, e em segundo lugar por serem muito poucos os núcleos populacionais existentes no nosso país, apesar de, nestes, os efectivos atingirem por vezes números significativos.

Pertencente à família dos ovídeos (Ovis), afirmam os Paleontologistas ser este o antecessor do carneiro doméstico. Assim e teoricamente, todos as espécies de carneiros e ovelhas que hoje se conhecem, seriam descendentes do Muflão da Córsega (designação usual da espécie por ser esta ilha o local de origem do muflão). Logo é uma espécie de caça maior completamente distinta das restantes que neste domínio foram já apresentadas.

De coloração acastanhada que escurece à medida que a idade dos animais aumenta, o muflão macho exibe, quando se torna adulto, uma mancha branca de cada lado do dorso (designada por cela) e ainda um dimorfismo sexual nítido, patente no facto de apenas os machos possuírem hastes (cornos) de forma circular e que se desenvolvem inicialmente no seu sentido posterior formando depois um círculo até atingirem, por vezes, o aspecto de um círculo completo. E este é o troféu de caça do Muflão.


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Muflão Fêmea e cria


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Anatomia do Muflão




Enquanto animal bravio, o muflão, apesar de exibir umas orelhas de tamanho mínimo, apresenta capacidades equivalentes às das restantes espécies de caça maior, mas que me arriscaria a dizer muito mais desenvolvidas. O Ouvido consegue detectar o mais pequeno rumor a distâncias superiores a 200 metros. A capacidade visual em nada se compara com a seu descendente doméstico, já que frequentemente nos observa do alto de uma escarpa muito antes de nos termos apercebido da sua presença. Do Olfato, em contrapartida não se apercebe uma acuidade fora do vulgar mas tão somente aquela que é característica dos animais bravios. Para além disso evidencia uma capacidade de adaptação ao habitat extraordinária, bem como uma resistência física indescritível.

Apesar de se dar bem em qualquer tipo de coberto vegetal a espécie prefere as regiões mais declivosas e rochosas, por estas constituírem um factor defensivo mais favorável, pelo que, existindo estas, é ali que devemos procurar estes animais.

Associado a esta capacidade de adaptação está o seu tipo de alimentação. Sendo um herbívoro por excelência, o muflão consome tudo o que a Natureza lhe disponibiliza desde as plantas leguminosas e forrageiras, passando pelos diferentes tipos de frutos silvestres, chegando a subsistir, em períodos de carência alimentar, à custa do simples mato e das estevas, sem por isso revelar perdas de peso ou enfraquecimento. Revela uma grande apetência por frutos de maior teor de açúcar, frequentando igualmente bem, as pedras de sal gema.

De uma forma mais geral e em termos alimentares, podemos comparar o muflão com a cabra doméstica.

Gregário, constitui grupos mistos sendo vulgar os machos acompanharem as fêmeas e respectivas crias, por vezes em número de indivíduos que pode ultrapassar as duas dezenas.


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Apesar de terem um período de reprodução definido (de Outubro a Dezembro) e de a gestação durar cerca de 5 meses, as fêmeas parem com frequência (em ambiente selvagem) duas crias, facto este que facilita um incremento rápido dos diferentes efectivos populacionais.


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Casal de Muflões


Outro atractivo da espécie é a rapidez de desenvolvimento do troféu dos machos que, por volta dos 4 anos de idade, exibem já uma armação com cerca de 50 cm de comprimento.


No que se refere à existência da espécie no nosso país, os primeiro exemplares foram introduzidos nos princípios da década de 90 em algumas (poucas) Zonas de Caça Turística constituídas na Região Centro e no Alto e Baixo Alentejo, mas sempre em áreas vedadas com malha cinegética ( 2,20 m de altura). Os povoadores foram todos originários de diferentes regiões da vizinha Espanha, tendo os efectivos convivido frequentemente (quer na origem, quer no destino) com javalis e veados também existentes nas ditas Zonas de Caça. No entanto a sua facilidade de adaptação fez com que o seu desenvolvimento se sobrepusesse ao das outras espécies, facto este que levou os serviços competentes a exigiram às entidades gestores a realização de estudos de impacte ambiental morosos e caros, para então (e depois de levantarem montes de problemas) permitirem a introdução da meia dúzia de exemplares.

Mas diz o ditado que Deus escreve direito por linhas tortas, e em quase todas as zonas de introdução a espécie, no seu desenvolvimento natural, cresceu tanto e tão depressa que, não comportando o espaço disponível o número de animais existentes, estes começaram a fugir delas através do mais pequeno buraco ou passadiço das redes. A facilitar esta estratégia natural de povoamento esteve o facto de, em vários Invernos e devido a enxurradas e outras intempéries, as vedações se terem rompido ou até caído por largas extensões deixando as "prisões" de portas abertas (facto este devido, por vezes, a localizações ou construções deficientes).

E desta forma o Muflão povoou (repovoou) naturalmente as zonas envolventes, sendo vulgar observarem-se grandes grupos destes animais nas mais variadas zonas de caça abertas.

Falando agora dos processos de caça para o muflão podemos referir que todos os indicados neste tema servem, apesar de uns serem mais adequados que outros. É frequente o muflão ser caçado de montaria ou de batida mas estes não são os processos de caça mais aconselhados porque, quando entram aos postos, se deslocam em grandes corridas (muita rápidas) e frequentemente em rebanho, tornando-se muito difícil identificar um troféu razoável bem como conseguir um tiro eficaz com carabina. Raramente entram sozinhos e devagar.

Assim sendo os processo mais adequados são seguramente a aproximação (revalidando-se todos os conselhos e observações anteriormente apresentadas) e a espera, nos locais de comida e água.


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A imagem acima mostra-nos a evolução do troféu do muflão em função da idade; dela se constata que o animal tem um troféu dito completo, por volta dos 8 anos de idade (dois anos mais cedo que o Veado e o Gamo). Este facto permite considerar a espécie, em termos de gestão cinegética, como bastante rentável já que os seus troféus "se fazem" mais rapidamente do que os das restantes espécies. E tal como para as restantes, quando se caça de aproximação, devem-se ter em atenção as diferentes marcas de presença, tais como os rastos e a existência de folhas ruídas na vegetação, pois seguramente estes são sinais evidentes da presença dos muflões.



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Rasto de Muflão


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Pegadas de Muflão, a passo, sobrepondo a pata traseira sobre a dianteira



Sobre os calibres mais aconselhados para cobrar um muflão devemos tecer algumas considerações.

Foi referido mais acima que este animal evidenciava uma resistência física inconcebível. Apesar de atingido em áreas vitais, raramente fica no sítio, se estiver de sobreaviso ou desconfiado (a adrenalina tem nele um papel muito preponderante). Para as restantes espécies dizia eu que todos os os calibres possíveis para caça maior serviam, dependendo do gosto e habilidade do utilizador. No caso do muflão ressalvo esta informação para a utilização de calibres de grande poder de parada (e não grandes calibres) carregados com pontas de grande efeito de choque (p.ex. de ponta expansiva, macia e cabeça ogival). Já os vi caírem secos a 150 m, com tiros de coluna, e quando nos aproximamos para o cobro levantam-se qual bêbado e trambolhão aqui, levante ali, arrastam-se para o mais denso coberto vegetal de onde só se tiram com ajuda de um cão. Já os vi ficarem com coração e pulmões desfeitos, atirados com o 30.06 de ponta expansiva e correram 200 metros sem deixarem uma gota de sangue. Já os atirei com .243 e ponta expansiva de 100 grães, sem ter cobrado nenhum; deixam sangue com fartura que, á medida que se deslocam erraticamente, vai diminuindo até que se perde irremediavelmente (e nem sempre o cão vai ou está onde faz falta). Para dizer que os melhores resultados que conheço se obtiveram com o mínimo do calibre 270 W. com ponta de expansiva de 150 grães. Assim só posso recomendar a utilização de calibres que em termos de energia disponibilizem, pelo menos, 2 000 joules a 100 metros da boca do cano.


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In: A Página do Monteiro ( O MUFLÃO )
 

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Veado (Cervus Elaphus)

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Autor: A Página do Monteiro

Os Veados são os mamíferos de maior porte e dimensão existentes actualmente na Europa Ocidental. Segundo os Paleontologistas estes animais apareceram à cerca de 30 milhões de anos na Ásia Central, com características morfológicas muito diferentes das actuais. Por essas épocas ainda não eram providos de hastes ramificadas. A evolução para o aspecto actual só se iniciou à cerca de 10 milhões de anos, momento a partir do qual se começaram a espalhar pelo resto do mundo. Apresentam o aspecto actual desde à 250 000 anos. Os cientistas explicam o aparecimento das hastes (baseando-se no modelo evolucionista de Darwin), pela necessidade destes mamíferos se defrontarem à cabeçada, facto que primeiro levou ao endurecimento do osso frontal e à formação de protuberâncias (calos) que evoluíram, ao longo dos séculos, para as formações ramificadas que actualmente conhecemos. Revelam ainda uma outra característica, designada por dimorfismo sexual, isto é, há características físicas diferentes nos machos e nas fêmeas: só os machos são portadores de hastes. E esta é uma característica patente em todos os cervídeos (gamos, corços e restantes subespécies de veados).


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Cerva e cria


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Anatomia do Veado


Na sua proliferação espacial ao longo de milénios, os veados aproveitaram-se da existência de um continente único ( Pangêa) para se difundirem através de todo ele. Mais tarde com a separação das diferentes placas continentais que originaram os actuais continentes, o veado adaptou-se às características de cada biótipo e originou várias subespécies, todas elas derivadas do mesmo padrão biológico. É o caso do Wapiti (Elk), do Cervo Mulo (Mule Deer), do Cervo de Cauda Branca (White Tail Deer) existentes ao longo de todo o continente americano, para referir apenas algumas subespécies existentes.


Na Europa as subespécies são, para além do padrão original, o gamo e o corço, as quais revelam características físicas e comportamentais muito semelhantes à do Cervus Elaphus.

E na origem do aparecimento das diferentes subespécies esteve (mais uma vez segundo Darwin) a capacidade de adaptação do nosso veado. Preferindo as zonas florestadas ou de coberto vegetal denso, onde tem protecção contra o clima e a alimentação variada que necessita como herbívoro ruminante, encontrou no bosque mediterrânico da península ibérica e nas matas florestais da Europa Central o biótipo ideal para a sua fixação e desenvolvimento. Este mamífero atinge um peso bruto médio, em vivo, de cerca de 150 kg na Europa Ocidental podendo este valor atingir os 300 kg nos países da Europa Central e de Leste. Aliás, no que se refere às diferentes espécies de caça maior, o factor clima e consequentemente os factores qualidade e disponibilidade de alimento fazem com que a corpulência dos diferentes animais aumente progressivamente à medida que, no espaço Europeu, se caminha para Oriente. Vive em média cerca de 15 anos e atinge a maturidade sexual por volta dos 16/20 meses de idade. As fêmeas parem, normalmente, uma cria por ano, não sendo raras as parições gémeas; contudo, a taxa de sobrevivência dos gémeos e bastante baixa quando comparada com a das crias únicas.

Apesar da sua capacidade de adaptação esta espécie é também muito sensível ás condições fitossanitárias, sofrendo intensamente as consequências de uma alimentação insuficiente ou sem qualidade. Os animais perdem peso com muita facilidade, tornam-se débeis e padecem das maleitas mais vulgares dos animais bravios - parasitismos internos e externos, tuberculose, etc . A recuperação destes desequilíbrios é por sua vez lenta e deixa, frequentemente, sequelas irreparáveis. Estes factores do meio reflectem-se na qualidade dos troféus: uma população cervídeos confinada a uma área fechada em que a alimentação seja insuficiente ou deficiente, nunca terá animais com troféus de qualidade.

Outra condicionante da qualidade dos troféus, esta frequentemente esquecida pela maioria dos gestores de caça, é a consanguinidade. Este factor é frequente nas áreas fechadas onde as populações se reproduzem, anos a fio, através de animais do mesmo sangue. Para superar esta condicionante recomenda-se a introdução de novos indivíduos (machos e ou fêmeas) provenientes de regiões diferentes da origem dos primeiros indivíduos, a cada 5 anos. Por outro lado, dado a mobilidade da espécie, em zonas abertas este factor não actua, sendo de descorar a sua influência na qualidade dos troféus.

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Veado adulto (cerca de 10 anos de idade) com troféu fraco
( tronco fino, curto e incompleto), devido a provável consanguinidade.


Os veados evidenciam ainda um carácter gregário, patente na constituição de grupos sociais separados por sexos. Os machos juntam-se em grupos de indivíduos de diferentes idades, enquanto as fêmeas se reúnem em grupos familiares mais ou menos extensos, constituídos pelas mães e respectivas crias do ano e ano anterior, liderados pela cerva mais velha, a qual conduz e protege o grupo.


Em Portugal, a espécie esteve extinta - em zonas abertas - durante os primeiros 3/4 do século XX. As poucas e raras observações de veados, em terreno livre (assim se designou até à bem pouco tempo), ocorriam em zonas fronteiriças com Espanha ( Bragança, Castelo Branco e Barrancos), enquanto nalgumas áreas muradas os exemplares existentes e até então aí conservados definhavam à mingua de gestão, de alimento em qualidade e de sobredensidade. No entanto, na vizinha Espanha, a espécie esteve sempre presente e o veado foi a principal captura de caça maior ao longo de todo o século passado, fosse em Montaria fosse em caça de aproximação ou eventualmente de espera.


Enquanto espécie de caça, o veado fez e satisfez as emoções de milhares de caçadores, primeiro pela qualidade da sua carne e depois pelo tipo e qualidade do seu troféu. Volta a salientar-se que a caça maior é, fundamentalmente, uma caça de troféu e não uma caça de abastecimento de carne. E sobre este assunto cabe fazer a distinção entre os países da Europa do Norte ( Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca) e os da Europa Central e do Sul. Para os primeiros a caça maior constitui uma fonte primordial de alimentação (baseada no armazenamento temporário para consumo próprio), acima de tudo por questão cultural e de gestão de recursos naturais disponíveis, (mas também porque nestes países a caça é propriedade do dono da terra e há neles um respeito enorme pela propriedade privada), e nos segundos a importância é posta na qualidade do troféu e no acto de caça, pelo que o valor comercial pende para a vertente turística. Nos países do Norte, o valor da carcaça do animal caçado é bem superior (felizmente para nós turistas cinegéticos) ao valor que cobram ao caçador pela sua taxa de abate. No resto da Europa a carne, actualmente, pouco ou quase nenhum valor tem e a qualidade do troféu é paga (taxa de abate) a peso de ouro. E este modelo turístico é característico dos continentes europeu e africano, enquanto que no continente americano (Canadá, América do Norte e Central e América do Sul) se adopta um modelo misto de caça de troféu (para turismo cinegético) e de consumo de carne na prática da caça não comercial.


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Veado da Europa Centrar ( Atente-se na Qualidade do Troféu)


Em Portugal, a caça ao veado tem um valor comercial e emocional elevado. Os processos de caça a esta espécie são, fundamentalmente, a Montaria - aqui o valor comercial dos postos duplica quando se pode atirar aos veados - e a Aproximação, normalmente destinada á caça de troféus na época da brama (cio) - e nesta os valores por unidade animal cobrada são ainda mais elevados. Estes factos levam-nos a considerar cuidadosamente a evolução do troféu (só existente nos machos, repete-se), tal como a observação no campo e no momento de caça já que, de acordo com a posição em que o animal se encontra, se torna mais fácil ou difícil a sua apreciação e julgamento (são vulgares os erros de julgamento, quando não se tem muita experiência nesta área).




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LEGENDA
1 - Tronco Principal ; 2 - Coroa; 3 - Estoque; 4 - Contraestoque; 5 - Ponta Intermédia; 6 - Pivot; 7 - Roseta; 8 - Tronco
a e b - 1ª Cabeça (Vareto); c e d - 2ª Cabeça; e, f e g - 3 ª Cabeça; h - 4ª Cabeça; i - 5ª Cabeça; j - 6ª Cabeça


A imagem acima apresenta a constituição e a evolução do troféu do veado escalonado pelas diferentes classe de idade. Assim, quando se indica uma "2ª cabeça" estamos a referir-nos a um animal de 3 anos de idade. No primeiro ano de vida a identificação do sexo dos jovens torna-se muito difícil já que as pequenas hastes dos machos apenas se tornam visíveis entre os 8 e os 12 meses, sendo que a "primeira cabeça" identificável só se observa a partir de um ano de idade. Nestes termos uma primeira cabeça corresponderá, no mínimo, a ano e meio de de vida do animal. Atente-se no facto das hastes dos cervídeos terem a particularidade de, todos os anos, caírem ( Fevereiro/Março) e voltarem a crescer num espaço de tempo muito curto (cerca de 4 a 5 meses, dependendo da condição física e sanitária dos animais).

Face ao que se referiu, importa salientar que qualquer veado só terá um troféu de qualidade a partir dos 9 ou10 anos de idade. Apesar do crescimento das hastes atingir a sua envergadura total por volta dos 6 anos, os tempos vindouros proporcionarão ao veado um engrossar progressivo dos troncos das hastes bem como um possível aumento do número de pontas na coroa.

E como se determina exactamente a idade de um veado?

Tal como a Biologia refere esta determinação só é real e exacta através da análise dos sedimentos de crescimento dos dentes molares do animal. Para tal seria necessário extrair o dente e cortá-lo longitudinalmente para, através de uma lupa binocular, se poderem observar os sedimentos depositados em cada ano ( oito estratos = a oito anos). Por outro lado, existe um outro processo de resultado aproximado, e que nos permite conhecer, não a idade exacta do veado, mas pelo menos a sua classe de idade: se é jovem (até 3-4 anos de idade) se é adulto (4 a 10 anos de idade) ou se é maduro (mais de 10 anos de idade). Trata-se da apreciação dos desmogues (hastes que os veados perdem todos os anos) encontrados no campo e correspondente análise dos seus pivots.


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1 - Implante do pivot de um jovem; 2 - Implante do Pivot de um adulto; 3 - Implante do Pivot de um maduro



Sobre a sua caça, remetemos os visitantes para o que se mencionou na caça de Aproximação (por ser esta a mais adequada e usada para a obtenção de veados de troféu) e na Montaria ( sendo este o segundo processo mais utilizado). Convém apenas deixar uma referência às marcas de presença, para facilitar a quem anda no campo a identificação dos sinais de existência destes animais.



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Representação do rasto do veado: a - a passo; b - a galope



MARCAS DE PRESENÇA


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Rasto real a Passo



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Excrementos Recentes


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Desmogue



Contrariamente ao javali e devido a todas as fragilidades enunciadas, o veado é uma animal que, normalmente, enfraquece rapidamente quando atingido a tiro. Pelas suas dimensões (altura ao garrote, peso e volume) deixa vestígios nítidos de ter sido atingido, pelo que a sua busca e cobro se tornam relativamente fáceis. Quando não ferido de morte, a tendência do animal é, numa primeira fase, de fuga rápida e repentina, mas logo que se sente minimamente seguro abranda o passo e pára, numa tentativa de recuperar as forças; por vezes deita-se em qualquer lugar - normalmente em zonas abertas - e aí morre. Por tanto e para além de constituir um dever de qualquer monteiro procurar e cobrar um animal ferido, torna-se imperativo cumprir com este dever no caso específico dos veados e sempre que haja o mínimo indício de ferimento. Exceptuam-se desta regra os casos dos tiros de pata, uma vez que os animais feridos desta forma conseguem deslocar-se kilómetros sem que as suas forças enfraqueçam. Por estes motivos, não se considera necessário apresentar as reacções do animal ao tiro.

Finalmente e sobre os calibres mais adequados para a caça do veado, repetimos o que se mencionou para o caso do Javali: a partir do . 243 W todos servem, dependendo do gosto e habilidade do caçador. Pessoalmente e para evitar trabalhos de busca e cobro, utilizo um 30.06 em Montaria (mais do que suficiente se deixarmos "cumprir"), um .300 Magnum em aproximações de troféu e desbaste (porque por vezes é necessário atirar a 200 ou muitos mais metros) e finalmente o .243 em caça de espera à água ou ao cevador (porque se atira relativamente perto, com o animal descansado e se coloca o tiro onde se quer); e até hoje ainda não me ficou nenhum veado por cobrar.


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Veado entrando ao posto numa Montaria



In: A Página do Monteiro ( O VEADO )
 
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