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Desenhos animados e histórias infantis

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Um pequeno paciente me disse um dia que ao ver desenhos animados sua cabeça brincava e coisas aconteciam, mesmo as proibidas. Achei curiosa a forma desta criança me comunicar uma idéia há muito conhecida dos psicoterapeutas de crianças, ou seja, a de que através das imagens dos desenhos animados podemos experimentar muitas coisas, sob uma situação controlada, a sala de TV. Os desenhos, assim como os contos de fadas, trazem à cena temas universais importantes para estruturar a psique infantil e é por esta razão que elas adoram vê-los ou escutá-los com freqüência e riqueza de detalhes.
Os primeiros registros de temas infantis contados datam a mais de 25 mil anos e permanecem ainda hoje inalterados. No século XVlll, surgiu um interesse científico em estudar as razões pelas quais a mente humana cria histórias fabulosas e as transmite de geração em geração. Milhares de contos em suas variadas versões giram em torno de assuntos de significado simbólico profundo que servirão de base para o desenvolvimento da criança humana. A capacidade de fantasiar e de usar a imaginação é um atributo e uma conquista do desenvolvimento.

Ver desenhos pede mais desenhos e assim uma história puxando outra, as crianças como que pressentem a importância das imagens para os desafios que certamente viverão. Então tem sempre o inimigo, o escuro, a noite, o dragão e o herói, a ameaça, a força ou sua falta, a espera, a incubação, o enigma, as charadas, a morte, a vitória, o anjo salvador e outros. Desenhos que abordem estas questões fortalecem o ego infantil, fornecem exemplos de respostas às situações, oferecem saídas aos impasses e sugerem gestos que os pequenos imitam, não somente em termos físicos, mas em seu sentido intrínseco. Sua repetição colabora na elaboração de um significado e é preciso que tenhamos paciência e estejamos à disposição deste amadurecer.
Podemos ajudar uma criança com medo do escuro a entender o que se passa com ela na ausência de luz, usando histórias ou desenhos animados, tornando o estranho, familiar e assim retirando dele seu poder assustador. Acesa a luz da compreensão o monstro se desmaterializa.
Aliás, esta é uma atitude que não desaparece em nós, o temor ou a surpresa diante do estranho, a necessidade de sermos apresentados aos nossos novos elementos e aceitá-los em nossa comunidade psicológica.
Em consultório, sou muito perguntada pelo pais sobre como ajudar seus filhos na resolução de dificuldades freqüentes na infância, tais como o medo do escuro, das perdas, das separações, das inferioridades físicas, um novo irmão, a morte etc... Sugiro com freqüência filmes, desenhos animados e livros de histórias, encontrados, hoje, facilmente. Há séries divididas por faixa etária ou por temas. Todos esses muito bons.
Sugiro também que apresentem às crianças produções de outras culturas a exemplo do belíssimo KIRIKU E A FEITICEIRA, uma co-produção franco-belga (em DVD), elogiada por adultos e crianças. Nascido numa aldeia do Senegal, Kiriku era zombado por todos por ser pequeno. Desde o seu nascimento o menino demonstra grande coragem e esperteza que o levam a querer saber os porquês das relações entre as coisas, inclusive a dominação da bruxa Karabá.
Do encontro com um sábio (sempre tem um!) Kiriku conhece a ferida de Karabá, liberta-a do sofrimento e cresce. Antes de se casarem e serem felizes para sempre devem juntos realizar uma tarefa importante: desfazer o preconceito quanto ao pequeno enxerido e a bruxa malvada. Vale a pena assisti-lo pelo conteúdo e pela bela trilha sonora, além é claro de aproveitarem a oportunidade para conversar com as crianças sobre o que a história conta.
MENINAS SUPERPODEROSAS, POKEMONS, SHREK e até mesmo as histórias do PATETA estão plenas de mensagens curiosas, divertidas e muito verdadeiras que interessam muito as nossas crianças. Quantos de nós não se encontram num episodio genial de Pateta, um pacato cidadão cortês com os vizinhos, protetor das crianças e dos velhinhos, que se transforma num monstro assassino ao tirar seu carro da garagem e ganhar as ruas de Patópolis a vociferar e transgredir normas de convívio? Tragicômico e antológica produção Disney, sempre muito atual.
Mesmo quando a preocupação é com o conteúdo agressivo de alguns desenhos, sugiro aos pais que observem como a crianças é tocada por este temas. Se fica perturbada ou se entra na briga, na luta, torna-se um pouco o personagem para logo depois abandonar a história e tranquilamente ir brincar de outra coisa. Aqui não há por que generalizar e sim observar caso a caso, levando em conta a faixa etária.
Crianças são tocadas por imagens e nós adultos certamente aprenderíamos muito sobre nossa alma, se pudéssemos nos entregar como elas ao mundo da imaginação suscitado pelos desenhos animados.



Artigo produzido pela doutora Denise M. Molino
Psicoterapeuta com consultórios
 
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