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Duckdive

CarolinaSPereira

GF Bronze
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Set 7, 2010
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S.O.S, Salvem Os Sorrisos.

Há dias em que o surf nos transporta para emoções fora do alcance de si mesmo.
Há dias em que aprendemos mais do que queríamos, ou esperávamos aprender.
Há dias em que nos levantamos sem um motivo perceptível para o fazer-mos.
Há dias em que nos falha a bafagem.
Precisava de um pretexto para escrever. Não me apetecia usar os que tinha.
Peniche. O relógio marcava as 8:24 da manhã da última vez que olhei para ele antes de me sentar na areia a contemplar o mar.
Não sei se é só comigo ou se este fenómeno acontece com mais membros da comunidade surfista, mas preciso sempre de pelo menos uns 5 minutinhos a prezar o Deus Mar, a areia e, se existirem, as pessoas que me rodeiam.
Desta vez demorei mais tempo. Reparei, desde que meti o pé na areia, num senhor negro sentado em cima de um tronco.
Também eu sentada, encostei-me para trás e fechei por um instante os olhos de modo a ouvir melhor o toque das ondas e sentir com mais pujança o vento que teimava por marcar a sua figura.
Não demorou muito até notar que alguém se tinha arrumado ao meu lado.
Sem quase dar tempo para eu abrir os olhos comecei a ouvir uma voz robusta:
- Eu tive um amigo. Ter um amigo é raro! Chamava-se Elias.
Nasci em África e foi lá que cresci. Eu e o Elias estávamos sempre juntos e costumávamos correr à beira dos rios, pescar e construir abrigos onde passávamos noites a admirar os sons e o vento, tal como estavas a fazer agora – murmurava o mesmo senhor negro que olhara para mim quando cheguei –.
Um dia soube-se que tinha febre hemorrágica ebola, uma doença infecciosa grave, muito rara, frequentemente fatal, causada pelo vírus ebola.
E ao contrário do que se mostra nos filmes, é apenas moderadamente contagiosa. No entanto, como no lugar onde habitava os recursos não eram muitos, ele teria de ser isolado.
Eu sabia que muito provavelmente nunca mais o iria ver e no dia da despedida supliquei à minha mãe para o ir ver uma última vez. Ela bateu-me e vozeou comigo.
Mas eu fui na mesma e regressei a casa alagado em lágrimas.
Então, a minha mãe perguntou-me “Era para isto que querias ir? Valeu a pena?”.
E sabes, valeu mesmo a pena! Quando cheguei e vi-o entrar, sabendo que nunca mais o iria ver… ele olhou-me, sorriu e disse “Eu sabia que vinhas”.
Valeu por tudo. Valeu por todos os obrigados, por todas as lágrimas me estavam a cair, por todos os abraços. Valeu, de certeza, o teu surf.
Também eu lhe sorri e continuo a sorrir. Um sorriso pode ser uma vida.
Eu fiquei calada, ele ficou calado. Afinal não se trata apenas de liberdade, é também um pouco de lisura.
Não sei se a historia era verdadeira ou não, mas pouco me atinge.
Ganhei o dia, já tinha sobre o que escrever!
Agradeci-lhe.
Agarrei na prancha, sorri, e fui surfar.
 

CarolinaSPereira

GF Bronze
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Just do it...!

Mochila. Prancha. Maquina fotográfica. Caderno.
Uma colher de receio e quatro copos de loucura.
São os ingredientes de que preciso para uma reciclagem ao espírito.
Sim, não se trata de uma lustração, mas pode lá chegar.
Tenho 5 dias. 5 dias para curar da fadiga psicológica, da agitação rotineira, do ruído já acostumado, das pessoas repetidas.
Eu sei. Sei que não vou longe, sei que não me vou apagar tanto quanto quero. Não vou ter saudades.
Medo do quê? Só se for de mim mesma. Preciso de mim. Não me esqueço dos que também carecem.
Não vou sozinha. Apenas não tenho a companhia das pessoas que já conheço, não tenho tema de conversa com o vizinho do lado, não conheço os lugares, os cheiros, as vozes.
- Experimenta! Agarra na tua mochila, na tua prancha e mete-te num comboio para o mais remoto que te for possível de momento. Não quero que te tornes igual, Carolina. Não quero vás para onde toda a gente vai ou faças o que toda a gente faz.
Falou-me ele.
Para onde vais? – Não sei.
Porque tenho de ter tal sapiência? Não sei com quem vou estar.
Alias, porque é que interrogo sempre “porquê” e não me limito apenas a responder?
Não é preciso algo estar mal para alguém se ir embora (mais não seja 5 dias).
Não é preciso estar-se cheio para se fugir.
Não é preciso não gostar para não se ter saudades.
És livre, pássaro pacóvio!
Trata-se apenas disso: liberdade.
Liberdade e umas pingas de sangue frio (bem me parecia que me falhava alguma coisa).
Não é preciso ser-se louco para se cometer loucuras.
Os loucos só existem porque existe um descomunal grupo de pessoas que decidiram ser iguais, ou que foram débeis para se conseguirem manter únicas.
Os loucos apenas são o que sempre foram.
Por favor, peço-te, vai! Conhece e conhece-te. Respira uma vez na vida. Toca.
Por favor, sente e faz-te sentir.
 
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