• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

A Pequena Vendedora

edu_fmc

GForum VIP
Entrou
Fev 29, 2008
Mensagens
21,260
Gostos Recebidos
14
A Pequena Vendedora

Era uma hora muito avançada da véspera de Ano Novo.
Fazia um frio terrível e nevava copiosamente. Uma pobre menina andava
errante pelas ruas deser- tas; ia descalça e com a cabeça descoberta.

Ao sair de casa levava seus sapatos velhos, mas não lhe serviam de
muito, por estarem muito grandes para ela. Sua mãe os usara até - que se
rasgassem e caí- ram dos pés da menina, quando ela atravessara a rua
correndo, para evitar os carros que corriam a toda pressa. Um deles ela
não pôde encontrar, por mais que procurasse, e o outro fora levado por
um traqui- nas, que saiu correndo, dizendo-lhe que o utilizaria como
berço para seus filhos, quando os tivesse.

E assim a pobre menina teve que continuar andando com os pés descalços,
os quais já estavam vermelhos

6

e enregelados pelo frio. Levava uma quantidade de fósforos no avental
velho e na mão carregava um pacote. Não vendera nada durante aquele
longo dia e ninguém também lhe dera uma só moeda de cobre. A pobrezinha
estava faminta e morta de frio, oferecendo o mais triste aspecto de
miséria.

Flocos de neve iam caindo em seus cabelos louros, que emolduravam
lindamente o seu rosto, mas ela não se importava com isso. Em todas as
vitrinas e janelas brilhavam as luzes, o ar estava impregnado de um
delicioso aroma de pato assado, porque aquela era a véspera de Ano Novo.
A menina não podia esquecê-lo.

Encontrou um cantinho formado ror uma casa que avan- çava mais do que a
vizinha e ali acocorou-se, escon- dendo os pés descalços embaixo do
corpo e sentindo- os mais frios que nunca. Não se atrevia a voltar para
casa, porque vão vendera nem um pacote de fósforos e assim não ganhara
nem uma moeda de cobre. Seu pai lhe bateria e, por outro lado, em sua
casa fazia quase tanto frio quanto na rua.

A família não tinha mais do que um telhado por proteção e o vento
sibilava à vontade no interior da habitação, embora seus moradores
tapassem com palha os buracos das paredes.

As mãos da menina estavam geladas. Oh, que calor lhe daria um único
fósforo! Poderia acender um riscan-

7

do-o contra a parede, a fim de esquentar os dedos. Apanhou, pois, um
fósforo e o riscou na parede. Mara- vilha! Como chispou e brilhou logo!
Começou a arder com uma chama luminosa e clara, como se fosse uma
pequena vela, enquanto ela o rodeava com as mãos. Era, ademais, uma vela
muito rara.

A menina teve a ilusão de estar sentada ante uma grande estufa de metal
brilhante. Dentro dela ardia um esplêndido fogo que aquecia
maravilhosamente, mas, aconteceu que, quando ela estendeu os pés para
aquecê-los, a chama do fósforo apagou-se e a estufa desapareceu, de
forma que a menina ficou sentada, com o fósforo apagado na mão.

Acendeu outro, que também resplandeceu como o anterior e quando a luz se
projetou na parede, esta ficou transparente com se fosse de gaze e a
menina pôde ver o interior da habitação. A mesa estava pos- ta, coberta
com uma toalha alvíssima corno a neve e ela também viu urra vasilha de
porcelana; um pato assado recheado de maçãs e ameixas estava no cen-
tro.

E o melhor é que o pato saltou da vasilha em que estava, com o garfo
espetado nas costas e avançou pelo chão. Chegou até onde estava a pobre
menina e então … o fósforo se apagou e não restou mais nada, senão um
pauzinho enegrecido em sua mão.

Acendeu outro fósforo. Dessa vez a menina viu-se sentada ao pé de uma
árvore de Natal. Era muito maior e estava muito melhor ornamentada do
que

8

uma que ela vira numa loja no dia de Natal daquele mesmo ano. Milhares
de velinhas cintilavam entre seus ramos e bolas coloridas e brilhantes
iguais às que vira nas vitrinas a contemplavam.

A menina estendeu a mão para elas … mas o fósforo se apagou. Todas as
luzes da árvore de Natal se ele- varam cada vez a maior altura, até que
a menina viu que elas não eram senão as estrelas cintilantes. Uma delas
caiu, descrevendo uma linha de luz através do céu.

“Alguém está morrendo - pensou a menina, porque sua avó, a única pessoa
que a tratara com carinho, costumava dizer:

“Quando cai urna estrela, é que uma alma está voan- do para Deus”.

Acendeu outro fósforo riscando-o na parede e dessa vez, no círculo da
chama apareceu sua avó. Viu-a com a maior claridade e pôde notar que a
anciã sorria com bondade e que parecia ser muito feliz.

- Vovó! - exclamou a menina. Oh, leve-me com você! Sei que quando o
fósforo se apagar você desaparecerá; o mesmo aconteceu com a estufa, com
o delicioso pato e com a arvore de Natal.

Apressadamente acendeu um pacote inteiro de fósfo- ros, para conservar
por mais tempo possível a visão de sua avó. A luz dos fósforos foi quase
tão intensa

9

como a luz do dia. Nunca sua avo parecera ser tão alta nem tão formosa.
Levantou a menina em seus braços e ambas começa- ram a voar num círculo
de luz para longe, muito longe da terra, onde não havia frio, nem fome,
nem sofri- mento, porque estavam ao lado de Deus.

Na fria manhã do dia seguinte, a luz foi iluminar a pobre menina,
acocorada no cantinho formado pelas duas casas. Tinha o rosto rosado e
um sorriso nos lábios. Estava morta.

0 dia de Ano Novo amanheceu sobre aquela figurinha sentada e que ainda
segurava na mão as pontas dos palitos de fósforos queimados. Todo mundo
pensou que ela tivesse querido esquentar-se. Mas ninguém imaginou que
belas visões ela tivera, nem com quan- ta alegria e em que união com sua
avó ela entrara nas glórias do Ano Novo.
 
Topo