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A Baleiazinha

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Fev 29, 2008
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Filó, filha de dona Filomena, era a mais alegre de todas as pequenas
baleias.
Adorava brincar de pegador com as outras baleiazinhas e sempre
achava um lugar para se esconder.
Às vezes era numa toca de rochedos no fundo do mar. Outras vezes,
ela conseguia esconder-se detrás de Lorde Baleião, o chefe da família.
Bem juntinho dele, dava voltas em seu corpanzil, para sempre ficar do
lado oposto ao que estava a baleiazinha pegadora. Como era difícil
encontrar a Filó!
Mas o que ela mais gostava de fazer era pular para fora d’água. Ah,
que lindo ver a baleiazinha tomar impulso no fundo do mar e subir como
uma flecha, até sair da água e pular no ar, livre como um pássaro!
Tanto pulou, que acabou ficando amiga até das gaivotas e dos
pelicanos.
De todas as aves do mar, seu maior amigo era Nonô, um pelicano que
adorava conversar.
Filó ficava boiando na superfície do mar calmo e Nonô pousava em
seu dorso, tomando sol e refrescando-se com os esguichos de água que
ela de vez em quando jogava para cima.
A baleiazinha, por mais travessa que fosse, jamais poderia ir à
terra firme, coisa que Nonô fazia a toda hora. E Nonô, por mais curioso
que fosse, também não podia ir ao fundo do mar. Assim, os dois
amiguinhos sempre tinham aventuras fascinantes para contar um ao outro.
Um dia, porém, a família das baleias acordou alvoroçada. Lorde
Baleião, o chefe patriarca e líder do grupo tinha desaparecido.
– Aonde pode ter ido ele? — preocupava-se dona Filomena, quando
as baleias já estavam de volta depois de procurar Lorde Baleião por
todo o mar.
– Como é que ele pode ter desaparecido assim? — estranhava Filó
– Uma baleia grande como ele não tem onde se esconder… Já sei! Vou
perguntar ao Nonô. Ele voa por todos os lugares e na certa sabe para
onde foi nadar Lorde Baleião.
Subiu à superfície e ficou boiando. Geralmente, Nonô a via de longe
e sabia que aquela era a hora de vir bater um papinho.
Mas, dessa vez, Nonô veio voando apressado e soltando penas para
todos os lados:
– Filó! — gritou ele, antes mesmo de pousar na baleiazinha. –
Fuja! Esconda-se no fundo do mar. Não suba para cá!
– Como?! — protestou a pequena baleia. — Não subir nunca para
brincar? Nem para conversar com você? Não pular mais para o alto, para
falar com as gaivotas? Além disso, eu sou uma baleia, não um peixe
qualquer. Eu preciso subir à superfície para respirar!
– Dê um jeito de respirar debaixo dágua, Filó! — Você está em
perigo. Todas as baleias estão em perigo!
Filó não podia entender tanta preocupação do amigo. Como poderia
ela estar em perigo? O mar era o paraíso para qualquer baleia. Nem o
mais feroz dos tubarões ousaria atacar alguma delas. O que estava
acontecendo?
– Um baleeiro, Filó! Está vindo um barco baleeiro!
– Um barco baleeiro? O que é isso? Pelo nome, deve ter alguma coisa
a ver conosco, as baleias. Vai ver, as pessoas que viajam nesse barco
gostam de baleias!
Nonô balançou a cabeça nervoso:
– É claro que gostam! Eles gostam de caçar as baleias!
– Como?!
– É isso mesmo, Filó! Eu estava voando por perto do Lorde Baleião.
Vi a hora em que o baleeiro aproximou-se dele. o pobre nem desconfiou.
Esse foi seu erro. o barco aproximou-se e um homem fincou um arpão no
couro do pobre Lorde!
– Arpão? O que é isso?
– É uma lança comprida, pesada, que se enfia no couro da baleia e
que não solta mais!
Filó estremeceu:
– Que horror! Quer dizer que…
– Quero dizer que Lorde Baleião foi caçado, Filó! Nosso querido
amigo não existe mais!
Filó voltou para o fundo do mar e contou a desgraça que tinha
acontecido. Nunca mais veriam Lorde Baleião… nunca mais Filó poderia
esconder-se atrás daquela enorme baleia, sempre paciente e bem-humorada
com as crianças…
Ao saber do que estava acontecendo, todas as baleias ficaram
aovoroçadas. Nunca tinham precisado temer nada nos vastos oceanos por
onde nadavam. E agora…
– Por que será que esses homens querem nos matar? — choramingava
dona Filomena. — Nós nunca fizemos mal a eles…
Depois de muito discutir, as baleias decidiram ficar o máximo de
tempo que agüentassem debaixo dágua. Só subiriam de vez em quando, à
noite, para respirar.
Filó, corajosamente, ofereceu-se para ajudar a todos:
– Podem deixar, que eu fico de vigia. Subo de vez em quando e, se
não houver nenhum perigo à vista, volto para avisar vocês. Daí, todas
podem subir para respirar um pouco.
Dona Filomena ficou preocupadíssima, como todas as mães:
– Você, Filó? Você, não! Imagine se eu vou deixar minha filhinha
correr um risco desses! Fico eu de vigia!
– Não, mamãe! — argumentou Filó. — Eu sou a mais jovem e a mais
rápida de todas nós. A senhora está muito gorda…
– Gorda, eu?! Ora, eu acabei de fazer um regime e…
Mas todas as baleias acabaram concordando que a melhor vigilante
seria mesmo Filó. Com sua rapidez, ela era mesmo a única que poderia
fugir a tempo do tal baleeiro.
Em sua primeira subida como vigia, Filó encontrou o inimigo!
Faltavam ainda alguns metros para a tona dágua quando a baleiazinha
viu a sombra
do barco, por baixo. Até deu para ver a cara feroz de um homem, com o
tal arpão pronto para ser lançado.
Debruçado na amurada do barco, o homem tentava descobrir a sombra
de alguma baleia no fundo do mar.
E a sombra que ele descobriu foi justamente a Filó!
Coitada da baleiazinha! Mal teve tempo de pular para o lado e o
arpão já tinha sido lançado em cima dela!
– Ai! — gritou Filó, sentindo a ponta afiada resvalar por seu
corpo, deixando um cortezinho do lado.
A ferida não era muito grande, mas o arpoador já tinha recolhido a
arma e preparava-se para nova investida.
– Fugir, preciso fugir!
Não podia afundar logo. Tinha de dar uma subidinha para respirar,
senão sufocaria.
Nadou desesperada, em ziguezague, tentando afastar-se do barco
assassino.
Mas o danado era rápido demais! Tinha um motor potente e perseguia
Filó para onde ela fosse, sem dar-lhe um minuto de sossego.
Filó subiu, deu uma respiradinha e pôde ver que, a oeste, o mar
estava revolto, preparando uma tempestade.
“Quem sabe, para aqueles lados, eu consiga me livrar desse
danado?”, pensou ela, nadando naquela direção.
Nadou velozmente, ouvindo o ronco do motor do baleeiro em sua
perseguição.
Nessa luta, os dois enfiaram-se no mar revolto, no meio de uma
daquelas tempestades marítimas de tirar o fôlego.
Parecendo que queria proteger a baleiazinha, o mar corcoveava como
se tivesse um cardume de um bilhão de Filós, mais um bilhão de
golfinhos brincando em sua superfície.
O baleeiro, colhido pela tempestade, saltava e pulava na crista de ondas
enormes, sendo jogado para cima e para baixo, como um ioiô.
O mar estava salvando Filó, sua mais querida baleiazinha!
Mas, enquanto a salvava, estava condenando o arpoador à morte…
O barco, colhido pela maior das ondas, da altura de um prédio, foi
jogado para o alto, como se não pesasse quase nada e caiu de volta,
virado, estraçalhando-se de encontro à água!
Filó viu o arpoador, todo enredado na corda do arpão, afundando
tal qual uma pedra jogada no mar.
Naquele momento, a baleiazinha esqueceu-se de tudo o que tinha
acontecido: do assassinato de Lorde Baleião e do perigo de morte que
todas as baleias corriam.
Mergulhou na direção do arpoador, que afundava.
Enfiou-se por baixo dele e, com um golpe da cabeça, jogou-o para
cima, livrando-o da corda que o envolvia.
Com mais um movimento, apoiou o homem com o peso do seu corpo e
subiu à superfície.
Tossindo e cuspindo água, o arpoador pareceu voltar à vida, sem
entender direito o que estava acontecendo.
– O que é isso? Uma ilha? Oh, não! É uma baleia! Estou em cima de
uma baleia!
– Está, sim, seu malvado! — disse Filó, bem zangada. — Eu sou a
baleia que você queria matar. Está vendo este corte? Foi você quem fez
isso, com o seu arpão!
O homem chorava feito criança, agarrado às barbatanas de Filó:
– Ah, baleiazinha! Entendi. Agora você vai se vingar, não é? Está
bem. Jogue-me de volta ao mar. Eu mereço mesmo morrer…
Filó tentava manter-se firme, na superfície, nadando para longe da
tempestade.
– É isso mesmo, arpoador. Agora eu vou me vingar. Veja o que é a
vingança das baleias!
Sem dizer mais nada, Filó nadou em direção à costa, procurando
sacudir o mesmo possível e manter o homem agarrado ao seu dorso.
Em pouco tempo, a baleiazinha, montada pelo arpoador, chegou ao
caes. O homem agarrou-se a uma corda que pendia no mar e subiu para a
segurança do ancoradouro.
Filó demorou-se um pouco antes de voltar ao alto mar.
Lá em cima do caes, o arpoador olhava para a baleiazinha e chorava,
envergonhado.
– Obrigado, baleiazinha. Como posso pedir-lhe perdão? Eu nunca
mais… eu juro… eu nunca mais vou…
Filó mergulhou e nadou sem olhar para trás. Aquele homem, depois de
tudo que tinha passado, talvez procurasse outra profissão e nunca mais
voltasse a caçar baleias.
Mas, e os outros homens?
Quando as baleiazinhas ficarão livres dessa caça impiedosa?
 
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