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A Fábrica de Pipas

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Fev 29, 2008
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Fazia calor mas, mesmo assim, Daniel sentiu um frio na barriga
quando bateram à porta.
– Devolvam meu dinheiro — disse um garoto com ar ameaçador. –
Essa nem chegou a subir.
E enquanto Daniel devolvia o dinheiro, o garoto largava nas mãos
dele um monte de varetas e papel de seda rasgado.
Ele, Pedro e Raoni tinham decidido montar uma fábrica de pipas, mas
o negócio não ia bem. As pipas, feitas às pressas, não empinavam, não
debicavam direito, ficavam rodando à toa e, en vez de subirem,
agitadas, no ar, acabavam rasgadas, desconjuntadas no chão.
Depois do almoço, desanimados, enquanto colavam papel de seda,
Pedro reclamou:
– Ora, você sempre acha que eu é que faço alguma coisa errada –
respondeu Daniel, irritado.
Seguiram colando papel em silêncio. A alegria com que no início
trabalhavam tinha sumido.
– Se continuar assim, é melhor desistirmos! — disse Raoni.
– Agora que gastei toda a mesada nesse papel? — perguntou Pedro.
– Mas só estamos tendo prejuízo… — insistiu Raoni.
– Temos é que dar um jeito nessas reclamações — disse Daniel,
pensativo.
– Mas eles têm razão de reclamar.
A maioria das pipas que fazemos não dá certo — respondeu Pedro.
Tia Ana era uma vizinha que sabia de muitas coisas. Há semanas ela
observava os meninos e a fábrica de pipas. Da sua janela, ela
acompanhava as tentativas e os fracassos bem quieta. Tão quieta, que só
agora ela aparece em nossa história. Mas, desta vez, ela não se
conteve. Inclinou-se para fora da janela e gritou para os meninos:
Vocês têm que usar a qualidade total.
Os três olharam na direção da voz. Tia Ana, com um sorriso,
repetiu:
– A qualidade total, entenderam? — e, dando adeus, fechou a
janela.
Pedro e Raoni ficaram se perguntando: Qualidade total, o que é
isso?
– Deve ser algum tipo de rabiola — disse Daniel, com ar de
sabichão.
– Ou um tipo novo de vareta…
– Vai ver que é marca de papel.
Eles não agüentavam mais tantas dúvidas. Resolveram, então, apertar
a campainha da casa da Tia Ana.
– Não basta testar se a pipa sobe ou não, ou se debica bem –
explicou ela. — E se não subir? Vocês perdem o material e o tempo de
trabalho, como aconteceu esta tarde, não é?
Eles fizeram, ao mesmo tempo, que sim com a cabeça. Tia Ana
continuou:
– É preciso caprichar em todas as partes da pipa. Fazer um molde e
cortar o papel de um jeito que dê para aproveitar a folha toda, aparar
bem as varetas…
– Envergar cada uma bem certinho… — arriscou Pedro.
– Isso mesmo! Envergar certinho, fazer a rabiola de tamanho
preciso, sem desperdiçar, usar uma boa linha. Entender bem para que
serve cada parte da pipa e construí-la o melhor possível. Isto é
qualidade total.
A conversa prosseguiu. Os meninos tinham muitas perguntas a fazer.
E ficaram admirados com as respostas; nunca tinham imaginado que a tia
Ana soubesse tanto sobre pipas.
– …e vocês vão ver que quando fizerem o teste, no final, elas
vão subir direitinho, direitinho, e todo mundo vai ficar contente –
disse ela, concluindo a explicação.
Já era tarde quando eles se despidiram. E cada um foi dormir feliz,
ansiando pelo dia seguinte e com uma idéia na cabeça: fazer as pipas bem
feitas, com bons materiais e procurando não desperdiçar nada.
Quando de novo se reuniram, Daniel mostrou como fazer um bom
cabresto, que um antigo fabricante de pipas e amigo da família há
muitos anos lhe tinha ensinado. Raoni, por seu lado, mostrou uma
maneira nova de amarrar a linha na pipa, com um nó que ele tinha inventado.
E foi assim que, de semana para semana, eles começaram a ficar
conhecidos. As pipas que vendiam não eram as mais baratas, mas eram as
melhores, duravam muito e venciam todos os campeonatos das redondezas.
Tempos depois pedro teve a idéia de fazer uma pesquisa para
descobrir quais os times de futebol com mais torcedores e quais as
cores preferidas pelas crianças do bairro. Eles passaram a usar essas
cores nas pipas.
A fábrica de pipas funcionou por muito tempo.
Vinham garotos de outros bairros para comprá-las, ou até para
trocar idéias sobre um outro detalhe.
E tudo isso fazia com que o vento soprasse as suas pipas sempre mais para
o alto, fazendo com que os olhares dos garotos empinassem junto, cheios
de brilho, deixando o céu e os corações dos meninos cheios de cores.
 
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