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A comunidade das abelhas e a produção de mel

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Um problema ético ou um ponto de vista utilitário?
Se, por um lado, alguns se interrogam sobre se a comunidade sofre assim tantos maus-tratos com a criação em cativeiro pelos apicultores, outros há que defendem que se a produção de mel não fosse coordenada pelo homem este produto, proveniente da espécie animal, mas exclusivamente natural, nem sequer chegaria às lojas e hipermercados.

Como é que então se lida com este conflito? A questão não é fácil. O mel é um produto muito saboroso e apreciado por grande parte das pessoas. Ao produzirem o mel as abelhas terão de ser em número suficiente para sugar o néctar das flores, matéria-prima usada para esse produto final. Para as pessoas que apreciam mel e o incluem na sua alimentação teríamos um primeiro obstáculo a ser resolvido: como se conseguiria extrair o mel das colmeias que são constituídas por abelhas selvagens? Se as chamadas abelhas domésticas, ou abelhas-do-mel, como são vulgarmente conhecidas, não existissem (uma vez que também não existia a apicultura), então como chegaríamos sequer à sua descoberta? Imaginemos como seria um primeiro apicultor: Provavelmente, ter-se-ia picado, apanhado ferroadas, tido muitas dores, etc., mas talvez tivesse provado o sabor doce e aconchegante do mel. Então, surgiria a questão: é ético comer mel? É ético domesticar abelhas para conseguir dominá-las, tirando o proveito, sem levar ferroadas? Por último: é ético criar abelhas em cativeiro?

Entre cerca de 25 mil espécies de abelhas conhecidas, a espécie que nós nos debruçamos aqui será a da raça que cientificamente tem o nome de Apis Mellifera, de origem europeia (abelha doméstica ou abelha-do-mel). Esta raça é, normalmente, criada nas colmeias pelos apicultores. As abelhas-do-mel, sendo animais domésticos, são extremamente sociáveis, embora haja abelhas de outras raças que são solitárias. Mas essas não se organizam numa colónia. E o sentido de colónia é este: é que, independentemente da manipulação humana, elas criam uma sociedade extremamente organizada, tal como um vasto formigueiro que se organiza, por obra do acaso, em solos de terra batida ou areia fértil.

Uma colónia de abelhas - que pode sobreviver até aos 20 anos - contém, em média, populações na ordem das 42 a 60 mil abelhas, sendo que se reproduzem de geração em geração, aprendendo as tarefas como se nada fosse. No interior de uma colónia uma sociedade inteira nasce, cresce e reproduz-se até que morre. Mas a vida continua com a geração seguinte. Existem três tipos de abelha que compõem a colmeia: a abelha-rainha, o zangão e as operárias, que são às centenas dentro de uma geração. A abelha-rainha é responsável por gerar todas as que compõem uma determinada geração. Vive cerca de 5 anos e é fecundada uma só vez por um ou mais zangões. Quando gera as abelhas fica envolta numa geleia característica, única da espécie. Todas as outras são operárias, encarregues de todo o tipo de trabalhos no interior da colmeia. Quanto ao zangão, nasce de um ovo não fecundado e a sua única função é fecundar uma rainha virgem. Por isso não contém qualquer ferrão.

Esta comunidade sofre, porém, ao contrário do que possa parecer, uma série de maus-tratos. Uma vez que as abelhas são grandes produtoras de dádivas para consumo humano, os próprios apicultores são responsáveis, em grande parte, pela instigação da exploração excessiva da espécie. Assim, numa colmeia de abelhas, nicho ecológico fabricado pelos homens, ocorrem desde excessivos exames às diferentes colónias de abelhas (para verificar se elas estão saudáveis, se são produtivas, etc.), inseminação artificial nas rainhas para poderem gerar muitas abelhas no menor espaço de tempo possível e, subsequentemente, a sua chacina de dois em dois anos, uma vez que a sua produção de ovos diminui drasticamente. Ora, não querendo perder a média da produção apiária, os donos das abelhas fazem isto para que a colmeia continue produtiva, e assim manipulam a comunidade para esse fim. Em Israel chegam a matar a rainha-mãe todos os anos.

Outro factor importante é quando os apicultores retiram os favos de mel produzidos pelas abelhas e como o fazem. De um lado, um dos apicultores segura o favo, enquanto o outro lança fumo para as abelhas que a ele estão agarradas, por forma a combater as ferroadas. Fá-lo com um instrumento denominado fumegador e, embora a intenção fulcral seja a de retirar a produção de favo, serve também para gerar atrito na reacção das abelhas, pois ao estarem sujeitas a fortes pressões muitas delas são esmagadas e são-lhes arrancadas as asas ou as pernas. Deste modo, não só estão a retirar o produto apiário, como também a controlar a colmeia dentro daqueles limites, garantindo que elas não irão fugir para se “enxamearem”, ou seja, reproduzirem-se fora das suas colmeias.

Tal como depois controlam a fecundação através de feromonas artificiais que lançam para a colmeia, também lhes controlam a alimentação através de pólen artificial e xarope de açúcar branco. Assim, surgirão abelhas maiores e mais produtivas, ao invés das que se alimentam de produtos naturais: o mel e o pólen verdadeiro. O uso de pesticidas e a forma como são transportadas são outros modos de maltratar a comunidade das abelhas, que não só estão mais sujeitas a espalhar doenças graves como, ao longo do seu transporte, muitas acabam por morrer, devido ao frio excessivo, demasiado calor ou sufocamento. Só para que se faça uma pequena ideia, as abelhas são compradas e vendidas por todo o mundo, por isso interessa ao apicultor vender sempre mais.

Após estas descrições, o que surge à primeira vista é, sem dúvida, o mero proveito utilitarista que a venda de mel e de abelhas traz aos apicultores. Por outro lado, sem as abelhas controladas não haveria tanta importação/exportação de mel, logo não haveria tanta oferta. Mas também há outra questão, que tem a ver com a fisiologia e organismo das abelhas. Do ponto de vista anatómico a abelha apresenta um sistema nervoso pequeno, mas sofisticado. Consegue processar informação vinda do exterior, através de sinais que recebe pelas suas antenas, mandíbulas, audição e visão. A interrogação é: até que ponto o cérebro de uma abelha, sujeita a maus-tratos, consegue sentir as dores ou os efeitos desses maus-tratos? Se a abelha não sente nada de físico, até que ponto é que esses ditos “maus-tratos” podem ser chamados assim?

Estão a ser realizados estudos no que toca ao funcionamento do cérebro das abelhas, pois, dada a sua capacidade elevada de percepcionar tudo o que a rodeia, suspeita-se que, para além da cor, do cheiro, do ruído, dos gostos e do que percepcionam no terreno e na própria colmeia, o cérebro talvez tenha a capacidade de processar informação acerca dos níveis de dióxido de carbono, das radiações químicas, do electromagnetismo e também dos níveis de poluição. Daí serem libertadas nas cidades para servirem de bio-indicadores dos níveis de poluição.

Refira-se ainda, sobre as abelhas, a capacidade extraordinária que têm de aprender e memorizar um caminho em direcção às flores do pólen, saindo da colmeia em linha recta e voltando em zig-zag, de tal forma que indica às parceiras o caminho onde existe o pólen necessário para a produção do mel e outros produtos. Isto faz-nos pensar se, de facto, a abelha não terá a tal "sensibilidade" à dor.

Publicado por Tiago Alegre em 12 janeiro 2010 às 22:17 em Apicultura​

Curioso ;O vegetariano não consome mel...
 
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