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Carteiros com ordens para atrasar entrega de correio normal

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Carteiros com ordens para atrasar entrega de correio normal


OS CTT estão a atrasar de propósito a entrega do correio. A denúncia parte dos sindicatos do sector e dos próprios carteiros que lidam cada vez mais com ameaças, injúrias e agressões físicas por parte dos clientes, devido à demora na recepção dos vales de Rendimento Social de Inserção (RSI), abonos de família ou reformas.

«O correio está a ser deliberadamente atrasado porque houve decisão dos CTT de fazer uma distribuição segmentada»,, acusa o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), Vítor Narciso.

«A segmentação foi introduzida para diminuir o número de trabalhadores; foi uma forma que a empresa arranjou de poupar dinheiro à custa dos trabalhadores e da população», acrescenta Jorge Costa, dirigente da Comissão de Trabalhadores dos CTT. Ainda segundo este sindicalista, os CTT pretendem eliminar cerca de 4.000 dos 11.500 postos de trabalho.

Fonte oficial dos CTT nega as acusações, indicando que «o modelo de distribuição de correio não tem implicações no número de funcionários da empresa».

Mas afinal o que é a distribuição segmentada? Um carteiro tem determinada área e essa área, segundo este modelo, passou a ser dividida ao meio. Ou seja, num dia, o carteiro leva todo o correio (normal e prioritário) só à primeira parte da área e na outra metade entrega apenas o correio prioritário.

No dia seguinte, na primeira metade entrega apenas a correspondência prioritária; e na segunda, todo o tipo de correio. E assim sucessivamente. Ou seja, o que podia ser entregue num só dia, acaba por chegar ao destinatário dois ou três dias depois, na melhor das hipóteses.

«Não há dia nenhum em que não apareçam dezenas de utentes à procura de correio na estação de Olhão», conta Jorge Costa. «Isto é uma zona piscatória, onde se assiste a cada vez mais pessoas a passar dificuldades e dois ou três dias antes da data em que está previsto virem os vales da Segurança Social já cá estão a pedi-los», contextualiza o dirigente sindical.

Jorge Costa diz ainda que quando, num mesmo dia, um carteiro entrega o RSI a alguém de determinada zona e não entrega o RSI a um vizinho, este rapidamente sabe e vai à estação dos correios mostrar a sua insatisfação. Os sindicalistas dizem, ao SOL, que a prioridade dos CTT é o correio azul: «Atrasa-se de propósito a entrega, para obrigar as pessoas a usar correio azul».

Jorge Costa conta que chega a haver casos em que, num dia, uma mesma pessoa tem prontas a seguir, duas cartas (uma em correio normal e outra em correio azul) e só a carta prioritária, chega atempadamente a casa do cliente, quando nada impedia a entrega das duas no mesmo ‘giro’. Na rua, diz Vítor Narciso, «quando questionados sobre os atrasos, os carteiros têm de se fazer de parvos, para não serem penalizados pela empresa».

Em Vila Real de Santo António, há poucos anos, o descontentamento face ao atraso de correspondência foi de tal ordem que os funcionários dos CTT foram ‘obrigados’ a abrir as portas do centro de distribuição aos populares.

«Aconteceu durante três ou quatro meses; as pessoas não recebiam os vales em casa e começaram a juntar-se; a pressão era tanta, com ameaças e pontapés na porta», recorda Vítor Narciso. «A solução foi deixar entrar duas pessoas de cada vez para irem seleccionar o seu correio; foi quase como atirar o poder à rua», diz.

Seis livros cheios de reclamações

À Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) chegaram, no ano passado, 8.753 queixas dos serviços postais, o que representa, segundo a ANACOM, um aumento de 20% face a 2010. Por seu turno, os CTT indicam que em 2011 houve uma diminuição de 10,6% ao nível das reclamações entradas na empresa (passaram de 5.127 para 4.586).

No entanto, a percepção dos carteiros é de que a insatisfação dos clientes é crescente.

Jorge Costa conta que, no posto dos CTT de Olhão, por exemplo, não há livro de reclamações que chegue: «Em 2011, a três ou quatro meses do final do ano, já iam no quinto ou sexto livro de reclamações». E não são apenas os clientes a reclamar. Os próprios carteiros se queixam.

«Tem havido casos de trabalhadores dos CTT que vão fazer depósitos aos bancos, ao final do dia, e que têm sido assaltados, porque as rotinas deles são conhecidas», refere ao SOL Vítor Narciso. O dirigente sindical lamenta que «os CTT nunca providenciem escolta ou a ida de dois trabalhadores fazer depósitos ao banco».

«Não há nenhuma medida tomada pela direcção dos CTT de, pelos seus meios, ou até pelo pagamento à PSP ou GNR, de ser feito o acompanhamento de carteiros».

A excepção foi o Bairro social de Paradinha, em Viseu, onde durante três anos houve escolta policial durante o ‘giro’ do carteiro e onde agora se optou por criar apartados. O porta-voz da PSP, Paulo Flor, referiu ao SOL que «só pontualmente é feito acompanhamento de um profissional dos CTT, ou do gás ou mesmo de um técnico das águas de Portugal». .

Um carteiro que trabalha no concelho do Seixal– e que quis manter o anonimato – conta ao SOL que já foi agredido, devido ao atraso na entrega do correio:

«Houve um fulano que me encostou uma faca ao pescoço». Um outro cliente deu-lhe um murro na cara e ameaçou-o com pistola porque queria que deixasse o correio na morada onde já não residia. Para evitar mais situações destas, o carteiro trata os vales da Segurança Social como se fosse correio azul.


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