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'Não poderíamos ver se não fosse o sono'

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'Não poderíamos ver se não fosse o sono'


Allan Hobson, o cientista que contrariou a teoria dos sonhos de Freud, está em Portugal para abrir o 9.º simpósio sobre o cérebro da Fundação Bial, uma oportunidade para ouvi-lo defender que quando sonhamos estamos «a treinar».

O 'Sono e os Sonhos' é o tema do Simpósio 'Aquém e além cérebro' que abre no dia 28 de Março, no Porto, com a palestra de Allan Hobson que, em entrevista telefónica à Lusa, lembrou que «o sono é algo muito elaborado, a única coisa que se perde é consciência, mas a consciência no máximo ocupa cinco por cento da actividade cerebral».

O cientista debruçou-se sobre os sonhos para concluir, por exemplo, que quando conservamos a visão durante o sono, conseguindo formar imagens perfeitas, aquilo que o nosso cérebro está a fazer «no fundo é treinar a visão e isso é muito importante que ele faça».

«A minha teoria é que não poderíamos ver se não fosse o sono REM (Rapid Eye Movement), sem aquilo que considero ser o sistema trabalhar ‘off line’ ou a criação de uma realidade virtual para o cérebro», afirmou Allan Hobson.

«E não é só a visão é também, por exemplo, a locomoção», notou.

«Todos os sonhos são animados, nós nunca ficamos quietos, sonhamos sobre correr, andar, mesmo voar, é como um programa de ensaio para o cérebro», disse, garantindo que «é muito sobre integrar visão e movimento o que não coisa fácil, é um grande trabalho».

O cientista que formulou esta teoria da «protoconsciência» que serve para o desenvolvimento e manutenção da «consciência desperta», lembrou que «nós vemos a consciência como algo que só existe depois de acordarmos», mas aquilo que tentou explicar «é que sonhar é uma outra forma de consciência, que precede no tempo o estado consciente».

Para Allan Hobbes, essa actividade «começa a acontecer no útero, na terceira semana de desenvolvimento do feto, num momento em que certamente não regista significativos efeitos do meio que o rodeia, ou seja, o cérebro já se está a preparar para estar consciente e está a ‘correr programas’ como um computador que se prepara para o trabalho do dia seguinte».

O neurocientista publicou em 1977 com Robert McCarley, um estudo em que concluiu que os sonhos são mudanças bioquímicas e impulsos eléctricos aleatórios que agitam o cérebro enquanto dormimos, sem qualquer significado no sentido que Freud lhes deu.

Só que quando acordamos a nossa consciência, habituada a que tudo faça sentido, força uma «narrativa» para dar alguma lógica a esses impulsos.

Esta é a teoria de «activação-síntese» comummente aceite no meio científico e que contraria a teoria psicanalítica, mas que Hobson actualizou em 1999 ao considerar que a parte do cérebro que gere as emoções também mantinha actividade durante os sonhos.

Apesar de ser apontado como o «maior provocador no campo dos estudos dos sonhos» afirmou que faz «o que Freud queria fazer, mas que em 1895 não podia, porque não sabia nada sobre o cérebro, por isso estava obrigado a elaborar a sua teoria dos sonhos a partir de especulação».

Para ele, «’A interpretação dos sonhos’ é um grande livro, mas não há ali nada de científico sobre os sonhos».

Usando micro-eléctrodos, capazes de gravar células individualmente, reavivou «a teoria dos sonhos» colocando-a «em linha com aquilo que hoje sabemos sobre o cérebro que, passados 115 anos, é certamente muito mais, o que não é surpreendente».

E se dormir e sonhar é para Allan Hobbes tão importante, ele não acha que estejamos obrigados a dormir as aconselhadas sete horas.

«Não percebo porque é que o sono deveria ser uniforme quando nada é uniforme na biologia», sustentou.

Só aconselhou a quem «dorme 11 horas não deve tentar ser uma pessoa que dorme 4 horas porque é como tentar ser basquetebolista sendo muito pequeno».

Por outro lado, as escolas de medicina, por exemplo, deviam perguntar se uma pessoa dorme muito ou pouco: «Quem dorme pouco deveria ser favorecido em profissões que limitam o sonho».

Lusa/SOL
 
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