Mães Desempregadas!
Susana, Ana Paula e Adriana são mães e desempregadas. Três casos que são o retrato de milhares de mulheres em Portugal. Estas são as histórias das mães coragem do século XXI. Estas são mães heroínas, longe de guerras, mas que travam uma luta diária: pôr comida na mesa para os filhos!
A voz doce de Susana!
A voz doce de Susana é talvez, reflexo de quem trabalhou muito tempo com crianças. Exerceu a actividade de Educadora de Infância, e está há três anos afastada da profissão. O desemprego cresceu a par com a filha, Rafaela. Depois de ter trabalhado em várias creches e jardim-de-infância, Susana Santos, actualmente com 37 anos de idade, viu o contrato acabar e não lhe ser renovado. A notícia foi chocante, pelo facto de ter sido despedida de uma instituição católica. Susana, grávida de sete meses e meio, estava internada quando foi despedida. Entretanto, conseguiu arranjar um emprego no aeroporto em part-time, que durou até Janeiro de 2013.
Hoje vive com 419 euros de subsídio de desemprego e 35 euros do abono da filha, que tem que chegar para pagar os 250 euros da renda da casa, mais água, luz e gás.
Como o pai da Rafaela também não pode ajudar muito, vai-lhe valendo o avô da Rafaela que é um santo, e que não deixa que falte nada à neta de dois anos, mas a mãe tem pena de não poder variar mais na alimentação da menina, de não ter oportunidade de comprar borrego, por exemplo, que é mais caro.
Susana recebe ainda a ajuda da Instituição de Solidariedade Ajuda de Mãe. Nesta instituição de solidariedade de Lisboa, em 2012, foram apoiadas 1126 mães, 571 estavam desempregadas, mas há ainda uma fatia de cerca de 20% com vínculos de grande precariedade.
Dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) referentes ao mês de Março de 2013, mostram que estavam inscritas nos centros de emprego 368.174 mulheres:
- 59.291 mulheres têm o ensino superior, mais 33% por cento do que em Março de 2012, altura em que 44.500 mulheres licenciadas procuravam emprego.
Nascida no pós-25 de Abril, Susana Santos olha o futuro com apreensão: «Não vejo grandes perspectivas em Portugal, e não fosse a Rafaela ser tão pequenina e tão ligada à família, e fazia as malas rumo ao estrangeiro. Voltámos muitos anos atrás na educação, na saúde. Isto tem que levar uma volta grande, e tem que começar a haver emprego». Por agora, Susana vai mandando currículos enquanto espera pela acção de formação do IEFP.
Empregada de limpeza desempregada
Mãe solteira com uma menina de 8 anos e um menino de 13 anos, Ana Paula Guedes, de 47 anos de idade, quase perdeu a conta ao tempo que está desempregada. Este foi o corolário de uma situação que já vinha sendo precária, porque quando ficou grávida da pequenina, perdeu o posto de trabalho de empregada de limpeza. Contas feitas, Ana Paula está desempregada há cerca de quatro anos.
As contas lá em casa são outras:
- Recebe 200 euros do Estado;
- Soma 80 euros dos abonos;
- 47 euros das limpezas a trabalhar meia hora por dia num centro comercial de Bragança.
Já as despesas são muitas, desde alimentação, água, luz, gás e os 11 euros de renda da habitação social.
«Estico, estico, até não dar mais». E muitas vezes não dá: «Às vezes, faltam aquelas pequeninas coisas, como o pacote do leite ou o iogurte», conta Ana Paula Guedes, mas os filhos não passam fome. «Tiro muitas vezes de mim para dar a eles», diz.
Mulher polivalente!
Palavras que parecem tiradas da boca de Adriana Silva, 40 anos de idade, a morar na Serra das Minas, em Sintra. De quem Adriana nunca se esquece é das filhas, de 13 anos e 15 anos de idade, que deixou na Baía com os avós. Nunca mais esteve com elas, vai fazer seis anos, quando saiu do Brasil com um sonho, de conseguir uma vida melhor. Mas a vida complicou-se. Uma gravidez não planeada trouxe-lhe o Pedro, agora com 4 anos de idade, mas deitou o sonho por terra. Ganhou outra vida, sem esquecer a vida que ficou para trás.
Desempregada há mais de dois anos, com os mesmos 200 euros de rendimento social de inserção que Ana Paula, Adriana contribui com 180 euros para a renda da casa de uma portuguesa que a acolheu. Este mês de Maio de 2013, vai receber 45 euros de abono do Pedro, ao fim de dois anos. O pai do filho em nada contribui.
Por isso, faz milagres, fazendo brigadeiros, bolos e salgados, e alguns trabalhos esporádicos em empresas de catering que lhe vão dando para mandar dinheiro para o Brasil. «Tenho que ajudar os três. Ninguém dá trabalho a uma mulher de 40 anos», diz.
As histórias de Ana Paula e Adriana não vêm descritas nos quadros do Instituto Nacional de Estatística. Lá são só números. E há milhares de números com histórias como estas. Mulheres, mães e desempregadas.
Segundo os dados do Censos 2011, há 416.343 mulheres a viverem sozinhas com os filhos. Destas, 41.000 estão desempregadas.
Uma realidade que as instituições de solidariedade social conhecem bem:
- A Cáritas de Bragança apoia 133 famílias de mães divorciadas ou solteiras, em que a maioria está desempregada ou com trabalhos muito precários.
“Todos os meses temos novos casos de famílias que não conseguem pagar as contas”, diz Joaquina Ramos. Estas mulheres pedem ajuda para pagar luz, água, gás, medicamentos. É por isso que Joaquina Ramos não tem dúvidas em chamar-lhes heroínas, umas lutadoras que passam por muito sofrimento e muita angústia.
O filho de Adriana Silva frequenta o jardim-de-infância do Centro Comunitário e Paroquial do Alto do Forte, e faz lá grande parte das refeições. Pode faltar dinheiro às mães, mas a coordenadora Lídia Leal, não tem dúvidas em afirmar que estas crianças não têm carências afectivas. São crianças bastante cuidadas, de mães que se preocupam e acompanham os filhos. Mulheres que são uma força da natureza. São Mães Coragem!
Fonte: TVI 24