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Os Mitos Revelam os Nossos Medos!

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GF Platina
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Fev 10, 2010
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A principal motivação por detrás da propagação dos rumores é a ansiedade. Foi isto que vieram demonstrar os estudos feitos por psicólogos como o americano Robert Knapp. Um mito urbano tem quase sempre origem em situações que nos angustiam e propagá-lo funciona como catarse. Não admira que os principais temas dos boatos passem pela xenofobia, epidemias e tráfico de órgãos. Estudar os mitos urbanos permite-nos perceber as questões que mais preocupam a sociedade num dado momento. Por exemplo, quando nos anos 60, o sociólogo francês Edgar Morin investigou os rumores que denunciavam o desaparecimento de raparigas em lojas de judeus em Orleães, concluiu que se tratava apenas de uma manifestação de anti-semitismo.

O problema dos boatos é que rapidamente ganham vida própria, característica ampliada a níveis inimagináveis com a net. Graças ao e-mail, as histórias circulam facilmente em várias partes do globo ao mesmo tempo, com adaptações locais. Há uns anos, Teresa Guilherme apresentava o concurso "Não se Esqueça da Escova de Dentes", em que os casais concorriam para testar os conhecimentos de um sobre o outro. A determinada altura, começou a correr o boato de que num dos programas a apresentadora teria perguntado a uma concorrente onde é que o casal tinha feito amor pela última vez. A concorrente disse: "Na cozinha". À mesma pergunta, o marido hesitou, até que respondeu: "No rabinho". Seria uma divertida história se não fosse mentira. O episódio nunca aconteceu e a apresentadora sempre se questionou sobre a sua origem, até que anos depois, num encontro de produtores em Cannes, o ouviu da boca de um produtor francês. A única diferença é que se referia a um programa de televisão local.
 
O sucesso dos mitos urbanos deve-se em grande medida à grande simplicidade e carga simbólica das suas histórias. Os especialistas dizem que no fundo eles recriam e servem a função dos antigos contos tradicionais. Ratos gigantes no Convento de Mafra são substitutos modernos do lobo mau, do bicho papão ou do lobisomem. E tal como os contos, estas histórias também se transmitem de geração em geração e circulam apoiadas num mecanismo irracional de crença. Apelam com frequência ao nosso espírito de bom samaritano para se propagarem, e é normal virem travestidas de alertas urgentes que devemos enviar aos nossos amigos. Algumas sugerem mesmo a criação de correntes solidárias que ajudem a travar o perigo passando a mensagem

Não há registos de óbitos de chineses em Portugal!


O semanário Expresso publicou em 2006, uma notícia que dizia não haver registos de óbito de cidadãos chineses em Portugal nos últimos cinco anos. Rapidamente se espalharam boatos com explicações macabras: cozinhar os corpos em chop suey nos restaurantes ou usar os documentos dos mortos para encobrir imigração ilegal foram algumas das mais populares.

A verdade: Contactado pelo Correio da Manhã, em 2007, e pela jornalista Susana André, em 2009, o Instituto Nacional de Estatística garante que há registo de óbitos de chineses em Portugal e em número considerado normal, tendo em conta a dimensão da comunidade. A explicação sociológica para este boato vê no crescimento acentuado desta comunidade a razão do boato. O medo gera desconfiança, sobretudo quando as comunidades em causa são fechadas e pouco dadas ao convívio com outras nacionalidades.

Tráfico de orgãos em lojas de chineses.

Em 2005 começou a circular na net um e-mail que avisava para o perigo de ir às lojas de chineses.

A história macabra relatava que um pai teria combinado esperar pela filha no parque de estacionamento enquanto ela entrava numa destas lojas no Norte do País. A filha nunca saiu e a polícia descobriu-a debaixo de um alçapão com o corpo cheio de marcas. Objectivo: tráfico de órgãos.

A verdade: A GNR, a PSP e a PJ garantem que a história é falsa. De resto, em 2007, o mesmo e-mail começou a circular nos Açores também sem fundamento real. Por ter contornos xenófobos, a situação chegou até ao alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Rui Marques, que lembrou que a difusão de rumores xenófobos é crime. O receio e a tentativa de prejudicar o negócio destas comunidades, que veio afectar sobretudo o comércio tradicional, é uma das explicações avançadas pelos sociólogos.

EASY DATE - Droga do Sexo!

O primeiro e-mail surgiu em 2001 com o título em letras garrafais: "ATENÇÃO A UMA NOVA DROGA".

A droga em questão era o easy date e circulava em discotecas onde era facilmente diluída em bebidas de raparigas incautas. Actuava em menos de cinco minutos e causava amnésia total, permitindo violações. A mensagem vinha assinada por um professor da Universidade Nova de Lisboa.

A verdade: As autoridades desconhecem a existência do easy date. A história circula desde os anos 90 e terá começado nos Estados Unidos. Em Portugal, o professor que a assinava esclarece que apenas se limitou a reencaminhar o e-mail. Resultado: foi contactado por centenas de pessoas à medida que a história ia circulando.

Ladrões de rins.

Os locais variam, mas a história é a mesma. Na discoteca ou no cinema alguém vai à casa de banho, leva uma pancada na cabeça e acorda numa banheira com gelo e um telefone ao lado e um recado: "Se quiseres viver, liga para o 112 e não saias da banheira". Diagnóstico: menos um rim, traficado pela máfia russa ou outra entidade maléfica.

A verdade: As autoridades portuguesas não têm conhecimento de nenhum caso. A história existe em várias partes do mundo e assenta num fenómeno real, que é o tráfico de órgãos. Uma das explicações sociológicas para a sua disseminação diz que estes mitos expressam os problemas de consciência do primeiro mundo face a um mal social que atinge sobretudo cidadãos de países como o Paquistão, África do Sul, Moçambique, China e Índia.

Agulhas infectadas no cinema.

Quem não se lembra de receber um e-mail, no fim dos anos 90, que alertava em letras garrafais para o perigo de contrair o vírus da sida numa sala de cinema? O texto contava a história de uma rapariga que se tinha picado numa agulha infectada deixada numa cadeira onde também estava a nota: "Bem-vindo ao mundo real. Agora tens sida".

O filão das agulhas infectadas apareceu depois noutras variantes tanto ou mais assustadoras, como a das cabinas telefónicas onde os toxicodependentes colocariam agulhas infectadas nas ranhuras de devolução de moedas, por exemplo.

A verdade: Esta história macabra teve como ponto de partida os Estados Unidos, alastrou para o Canadá e daí para o resto do mundo. O aparecimento da sida e os medos associados a esta nova doença explicam a propagação desta história, que faz lembrar vagamente o célebre conto de fadas da Bela Adormecida, em que a princesa Aurora se pica na roca envenenada. A polícia portuguesa garante não existirem registos de casos destes e qualquer médico explica que o vírus do HIV sobrevive escassos segundos fora do corpo humano, não tendo a história qualquer credibilidade sequer.
 
Cápsulas Nespresso para o IPO e a Acreditar.

No Natal de 2009, um e-mail solidário apelava à recolha de cápsulas Nespresso para fazer uma bonita árvore de Natal para as crianças do Instituto Português de Oncologia (IPO) e da Acreditar. Vinha com morada e contactos. Foram e continuam a ser enviadas milhares de cápsulas para estas duas instituições.

A verdade: Este mito começou num apelo verdadeiro feito pela Acreditar no Natal de 2008. A adesão foi tanta que os responsáveis tiveram de oferecer as tampinhas a outras entidades.

Problema: O e-mail continuou a circular e em 2009, voltaram a ser inundados de cápsulas. Pior: entretanto, outra versão do e-mail tinha sido criada, desta vez referindo o IPO como entidade destinatária, o que levou a que o hospital fosse inundado de cápsulas inúteis.

Sangue raro!

As correntes apelando à dádiva de sangue são comuns. Um dos mais antigos pedia sangue tipo B e Rh- para um menino de três anos do IPO, mas há muitas variantes.

A verdade: O IPO e os hospitais nunca lançam pedidos de sangue dirigidos a pessoas em particular. O sangue é de facto um bem escasso e as dádivas são bem-vindas, mas no Instituto Português do Sangue ou noutro hospital. Sempre que precisam, os hospitais recorrem aos bancos de sangue, que usualmente é decomposto em vários elementos. O IPO também nunca faz apelos para pagamento de tratamentos de pacientes, que são sempre custeados pelo Serviço Nacional de Saúde. Vale a pena tornar-se dadora de sangue e medula, mas não propague estes e-mails alarmistas.
 
Filmes e pijamas para o IPO.

Se tem e-mail, já deve ter reparado que todos os anos por alturas do Natal, o Instituto Português de Oncologia lança campanhas de recolha de cassetes VHS ou DVD, de preferência comédias, bem como pijamas para as crianças. A corrente começou em 2005 e a versão mais recente circula no Facebook.
Os apelos contêm contactos para envio dos filmes e roupa.

A verdade: O IPO nunca fez tais pedidos. Não só não tem falta de filmes ou roupa, como estas correntes se converteram numa chatice que os obriga a despender tempo e recursos. Desde 2005 que recebem milhares de cassetes VHS, inúteis, já que os quartos estão equipados com DVD portáteis, o que obrigou a uma pesada logística de selecção e entrega a outras instituições. A corrente dos pijamas começou em 2007 e levou à emissão de um desmentido nos media a esclarecer que todos os pacientes trazem os seus pijamas de casa. Neste caso, descobriu-se a origem da história, que começou de forma bem intencionada numa empregada de escritório do Cacém que pôs a circular um e-mail pedindo pijamas para a Liga Portuguesa Contra o Cancro. O pedido escapou-lhe do controlo e a mensagem foi apropriada por outras pessoas e adaptada a outras instituições. Actualmente circula como tendo origem no IPO.

Boca de Palhaço!

Pelo Carnaval, duas jovens universitárias foram abordadas por um grupo de rapazes no Bairro Alto com a pergunta: "Morte, violação ou boca de palhaço?" Acharam que era brincadeira carnavalesca e responderam 'boca de palhaço'. Foram esfaqueadas da boca às orelhas. O e-mail, que circulou pela internet terminava dizendo que a história já se tinha passado mais do que uma vez e era estranho não ter sido divulgada nos media, pedindo para se alertar toda a gente. Vinha assinado por uma jornalista e tinha um telefone.

A verdade: A jornalista que assinava esta história violenta e alarmista garante que apenas reenviou um e-mail que recebeu a uns amigos. Mais tarde surpreendeu-se ao recebê-lo novamente, de outra fonte, e com os seus contactos em rodapé. Durante mais de um mês recebeu dezenas de telefonemas a tentarem confirmar a história e teve de desactivar o número de telefone. A Polícia Judiciária não tem conhecimento de qualquer história destas, mas o argumento é demasiado parecido com o da série norte-americana "Nip Tuck", que tem milhões de fãs em todo o mundo, incluindo Portugal. Na série, um psicopata com máscara de palhaço desfigura as vítimas com um corte dos lábios às orelhas antes de as violar. Um argumento com todos os ingredientes para se converter em mito urbano.

Mito: Ratos em Mafra!

É uma lenda bem anterior à era da Internet. Quase toda a gente já ouviu as histórias que dizem haver ratos gigantes nos subterrâneos do Convento de Mafra. Tão grandes que têm de ser alimentados para não virem à superfície em busca de comida. Já devoraram dois militares que os tentavam alimentar. Nalgumas versões, são cegos e albinos. Para lá ir só de lança-chamas, e até já foram contactadas várias empresas internacionais para equacionar soluções.

A verdade: Há ratos nos esgotos do convento, mas são em número e de tamanho normal. Já lá foi uma equipa de televisão fazer uma visita para desmistificar. Encontraram apenas alguns exemplares na zona dos esgotos, perto da cozinha e casas de banho, sobretudo as que servem o quartel. Há um fundo de verdade na história do militar morto, mas foi distorcida. Segundo o capitão Álvaro Campeão, da Escola Prática de Infantaria, houve um militar que caiu nos esgotos, mas morreu na queda, não por ter sido comido por ratos. Só foi encontrado dois dias depois, e como estava a sangrar, tinha sido mordido pelos ratos.
 
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