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Conservação dos répteis no Noroeste de Portugal

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Conservação dos répteis no Noroeste de Portugal

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José Carlos Brito​

As populações de répteis encontram-se insuficientemente estudadas, o que condiciona a implementação de medidas de conservação para as espécies ameaçadas. O estudo que se apresenta pretende avaliar a situação no Noroeste de Portugal.

O Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), criado em 1971, foi a primeira área protegida a ser constituída em Portugal, sendo os seus valores naturais, paisagísticos e arquitectónicos, reconhecidos internacionalmente. A região Noroeste de Portugal, e especialmente o PNPG, corresponde à quase totalidade da área de distribuição da Víbora-de-Seoane (Vipera seoanei) no nosso país e possui núcleos populacionais consideráveis da Víbora-cornuda (Vipera latasti). O PNPG é, assim, uma zona muito importante para a obtenção de conhecimento sobre a distribuição e os habitat ocupados por ambas as espécies, condição necessária para que se possam propor adequadas medidas para a sua conservação.

Pretendeu-se com este trabalho identificar os principais factores de ameaça às populações e habitat dos répteis desta área, seleccionar áreas prioritárias para a sua conservação, identificar áreas com risco de extinção dos répteis e formular medidas para a sua gestão, tendo em especial atenção o caso particular das víboras.

Factores de Ameaça

1. Alteração ou Destruição dos Habitat

O maior factor de ameaça para os répteis é a alteração ou destruição dos seus habitat naturais, com reflexos na fragmentação das suas originais áreas de distribuição, diminuição de efectivos e perda de variabilidade genética. Como são animais de reduzida capacidade de dispersão e que têm, por consequência, grande dificuldade em colonizar novos ambientes, são profundamente afectados por qualquer tipo de alteração que possa ocorrer nos seus habitat. Algumas espécies com especializações ecológicas de habitat e/ou dieta alimentar e reduzida fecundidade estão particularmente em risco. Alguns dos factores que contribuem mais intensivamente para eventuais alterações dos habitat incluem:

- Incêndios – os incêndios (Fig. 1) são um factor de destruição dos habitat muito forte e infelizmente muito comum nas regiões montanhosas. Estudos no País Basco espanhol e na Catalunha apontam para o facto dos incêndios provocarem uma rarefacção de diversas espécies de serpentes, entre as quais a Víbora-de-Seoane, e são considerados um dos principais factores de regressão da Víbora-cornuda.

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Figura 1 - Incêndio em Vilarinho das Furnas (Setembro/2000).

- Aproveitamento dos solos para fins agrícolas – o aproveitamento dos solos com fins agrícolas, e sobretudo os processos de agricultura intensiva, que conduzem à destruição de vastas áreas florestais autóctones, supressão de sebes, muros de pedra e matos, e a plantação florestal de exóticas, provoca o desaparecimento dos habitat favoráveis para muitas espécies. A paisagem, anteriormente dividida num mosaico composto por prados, sebes, zonas agricultadas, muros de pedra, charcos, etc., é uniformizada nas monoculturas intensivas. Um factor de ameaça específico para a Víbora-de-Seoane, e para todas as espécies que habitem em lameiros ou prados, é o abandono do corte tradicional dos fenos com “gadanho”, em favor das máquinas industriais. Estas máquinas cortam os fenos a uma velocidade muito maior, não dando possibilidade de fuga aos répteis que neles se encontrem. Além disso, cortam muito mais rente ao solo (Fig. 2), o que também implica naturalmente uma maior mortalidade dos répteis. Segundo inquéritos efectuados a agricultores é frequente encontrarem-se Licranços e Fura-pastos mortos, após o corte dos fenos.

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Figura 2 - Aspecto de um prado após o corte do feno com máquina industrial. (Rio Cávado – Cambezes do Rio).​

- Silvicultura Intensiva, Repovoamentos Florestais e Destruição de Bosques Ribeirinhos - a destruição e a sobre-exploração das florestas colocam problemas de conservação, especialmente nas zonas desmatadas, que são reconvertidas em plantações de espécies florestais de crescimento rápido (pinheiro e eucalipto). O resultado de monoculturas destas espécies traduz-se numa acidificação dos solos, que afecta as comunidades de invertebrados e, portanto, toda a cadeia trófica, para além de implicar uma menor penetração da radiação solar, que impede ou dificulta a termorregulação dos répteis.

- Urbanizações e Infra-estruturas Turísticas indiscriminadas – a construção desregrada tem impactos elevados nos habitat naturais. Para além de os reduzir, fragmentar e poluir, aumenta a predação provocada pelas espécies associadas ao Homem, tais como ratos, gatos e cães. Um aspecto específico dos riscos das urbanizações são as regularizações das margens das linhas de água (Fig. 3), que acabam por destruí-las, diminuindo ou eliminando as populações de répteis mais ligadas aos meios aquáticos.

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Figura 3 - Regularização do rio Vez, em Arcos de Valdevez.

- Construção de Barragens de Grandes Dimensões – as barragens de grandes dimensões submergem vastas áreas, afectando não só as populações de répteis, mas também todas as espécies com reduzidas capacidades de dispersão, como anfíbios e micro-mamíferos. Além disso, em muitas destas barragens não é respeitado o caudal mínimo (Fig. 4) necessário à manutenção dos vários processos ecológicos, o que acaba por eliminar todas as espécies mais dependentes da água, tais como peixes, anfíbios e muito répteis aquáticos e ripícolas, como a Cobra-de-água-viperina, a Cobra-de-água-de-colar e o Lagarto-de-água.

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Figura 4 - Açude que não respeita o caudal mínimo ecológico no Porto da Lage (Serra do Gerês).

- Abandono dos Campos e Práticas Agrícolas Tradicionais – Com o êxodo dos habitantes das regiões do interior de Portugal para as zonas litorais e para o estrangeiro, muitos campos agrícolas e florestas deixaram de ser periodicamente cortados. Esta situação levou a um aumento muito significativo da densidade do coberto vegetal arbustivo, o que impede os raios solares de atingirem o solo. Assim, muitas espécies deixam de ter locais adequados para a termorregulação, pelo que desaparecem. O crescimento desmesurado da vegetação, seja por abandono de práticas agrícolas ou como consequência de incêndios florestais, tem sido apontado como um factor de ameaça para algumas populações de Víbora-cornuda na Catalunha, ou mesmo como o principal factor responsável pela extinção de várias populações de Vipera aspis nas montanhas do Jura (Suíça).

As alterações ou a destruição dos habitat naturais dos répteis são particularmente nefastas sempre que estes possuam populações pequenas e/ou isoladas, ou com uma área de distribuição restringida. Determinadas espécies de répteis possuem no Norte de Portugal o seu limite setentrional de distribuição e só aparecem em pequenas populações mais ou menos disjuntas do resto dos indivíduos da sua espécie. Frequentemente, estas populações encontram-se restringidas a habitat muito específicos. É o caso da Osga-comum e da Cobra-cega, limitadas às encostas expostas a sul, com características climáticas e florísticas de feição mediterrânea. O seu espectro geográfico limitado e a sua dependência de habitat particulares torna-as muito sensíveis a qualquer alteração dos seus ambientes naturais. Estas duas espécies, assim como o Cágado-de-carapaça-estriada e o Fura-pastos-ibérico, foram apenas detectadas em escassas áreas, pelo que, provavelmente, possuem populações pequenas e isoladas. Deste modo, qualquer factor humano ou natural, que eventualmente as perturbe, constitui uma ameaça à sua persistência.

2. Introdução de Espécies Exóticas

Em Portugal existem poucos dados sobre a ocorrência de espécies de répteis exóticas introduzidas, mas tanto na Galiza, como em Portugal, na bacia hidrográfica do rio Lima está descrita a introdução do Vison-americano (Mustela vison), que é um mamífero predador de répteis ripícolas.

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3. Atropelamentos nas Estradas

Os répteis são um grupo de vertebrados fortemente sujeitos a atropelamentos nas estradas, visto utilizarem-nas como passagem e ajuda na termorregulação. Muitas espécies, durante a época de reprodução, percorrem extensas áreas, estando assim mais susceptíveis à mortalidade por atropelamento. Tendo em conta que a maioria dos exemplares que são atropelados são indivíduos que se iam reproduzir, então torna-se ainda mais difícil fazer uma avaliação precisa do verdadeiro impacto dos atropelamentos. Numa quantificação dos répteis atropelados na área de estudo, verificou-se que, de um total de 74 indivíduos encontrados atropelados, as espécies que mais frequentemente sofrem este tipo de acidentes são o Licranço, a Víbora-cornuda (Fig. 5) e a Cobra-de-água-viperina, e que o pico de maior mortalidade ocorre no mês de Junho, o que corresponde, de uma forma geral, à época de reprodução destas espécies.

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Figura 5 – Lagarto-de-água (A) e Víbora-cornuda (B) atropelados na Mata de Albergaria (PNPG).​

4. Contaminação dos Habitat por Produtos Fitossanitários e Fertilizantes Agrícolas

Os répteis são animais bastantes susceptíveis à poluição química e sabe-se que certas espécies podem acumular organofosforados utilizados na agricultura moderna, pois como muitas espécies são insectívoras, elas acumulam os pesticidas utilizados no combate aos insectos de que se alimentam. Embora não existam estudos para Portugal, e o PNPG seja uma região relativamente pouco agricultada e com um tipo de agricultura mais tradicional, é de esperar que em certos vales mais humanizados, e.g. vale do rio Lima, possa ocorrer alguma poluição de origem agrícola. Não são raros os casos em que se encontram embalagens usadas de organofosforados em terrenos agrícolas ou mesmo em linhas de água.

5. Captura de Exemplares para Comércio Ilegal e Coleccionismo

O comércio ilegal de répteis, a nível mundial, possui actualmente dois grandes objectivos: o comércio de serpentes e tartarugas para a indústria da moda e o comércio para serem usados como animais de estimação. No PNPG o maior problema de comércio ilegal de répteis prende-se com a comercialização das víboras, particularmente das cabeças de Víbora-cornuda.

6. Perseguição por aversão ou por serem consideradas espécies daninhas

Os répteis, com algumas excepções, são perseguidos pelo Homem desde há milhares de anos. Esta perseguição resulta de terem tido, desde sempre, uma má reputação, sendo considerados, por um grande número de pessoas, animais repugnantes e daninhos. No PNPG não existem dados concretos sobre a morte de répteis directamente provocada pelo Homem (salvo para comercialização no caso das víboras), mas é do conhecimento geral que algumas espécies são especialmente mortas, casos do Licranço, do Sardão e de uma forma geral todas as Serpentes.

Áreas Prioritárias para a Conservação

Apresentam-se na Fig. 6 as quadrículas prioritárias para a conservação dos répteis, totalizando 67 quadrículas (12.9% da área de estudo). Estas quadrículas foram agrupadas constituindo quatro áreas de maior prioridade: (1) vale do rio Gerês / Ermida / Calcedónia / Mata de Albergaria / Borrageiro / vale de Torneiros; (2) barragem de Paradela / Pitões das Júnias / Covelães / Montalegre; (3) Branda Aveleira / Gavieria / Rouças / Sr.ª da Peneda / Branda da Bouça dos Homens e (4) Ameijoeira / Castro Laboreiro / Portelinha.

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Figura 6 - Quadrículas prioritárias (Nível I com maior prioridade) para a conservação dos répteis na área de estudo, com a definição de quatro áreas prioritárias.​

Verifica-se que 81% das quadrículas consideradas como prioritárias estão dentro da área do PNPG e 2% dentro da área do Parque Natural Baixa-Limia - S. Xurés (PNBLSX), na Galiza, ficando apenas 17% fora destas Áreas Protegidas (APs). Dos 81% das quadrículas que estão dentro do PNPG, cerca de 27% estão ainda incluídas na Área de Ambiente Natural (AAN) do PNPG. Estes valores – mais de 83% das quadrículas prioritárias estão incluídas nas APs – dão-nos certa garantia de que, pelo menos do ponto de vista teórico, a conservação, a longo prazo, dos répteis nesta região estará relativamente assegurada. Refira-se ainda, a título de curiosidade, que as quadrículas prioritárias representam 23% da área do PNPG e 27.3% da AAN.

Áreas com Risco de Extinção de Espécies

Desenvolveu-se um modelo em que se pretende identificar as quadrículas UTM 1x1km onde existam riscos de extinção das populações dos répteis (Fig. 7A). Foram identificadas 430 quadrículas onde existe elevado risco de extinção de espécies (Nível I), o que representa 22% do total da região. As quadrículas com Nível II representam 25% da área, as de Nível III cerca de 34%, as de risco reduzido (Nível IV) cerca de 7% e sem risco (de acordo com as variáveis consideradas) 12%. Verifica-se que as áreas com maior risco (Nível I) localizam-se ao longo dos vales do principais rios: Vez, Lima, Homem, Gerês, Cávado e Rabagão.

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Figura 7 - (A) Quadrículas identificadas como possuindo risco de extinção dos répteis na região, representando o Nível I as quadrículas com maior risco; (B) Sobreposição existente entre as quadrículas identificadas como possuindo risco de extinção elevado e médio (Níveis I e II), com as quadrículas identificados como prioritárias para a conservação dos répteis.

Na Fig. 7B apresenta-se a sobreposição existente entre as quadrículas consideradas como prioritárias para a conservação dos répteis na região e as áreas com maior risco de extinção (Níveis I e II). Este tipo de análise permite identificar as áreas com prioridade de conservação, que se localizam em áreas com problemas de conservação. Verifica-se que 22% das quadrículas consideradas como prioritárias se encontra em área com elevado risco de extinção (Nível I) e 22% em áreas de risco de Nível II. Estes valores indicam que quase metade (44%) das quadrículas identificadas como prioritárias para a conservação dos répteis ocorrem em áreas com risco de extinção considerado médio e elevado. Estas áreas correspondem principalmente aos cursos inferiores dos vales dos rios Homem e Gerês – neste caso devido, sobretudo, ao elevado grau de humanização, ao facto de serem áreas cobertas por acácias ou áreas susceptíveis de serem submersas por barragens – e ao curso superior do vale do rio Cávado – neste caso devido, principalmente, ao elevado grau de área coberta por barragens e à presença de estradas de grandes dimensões.

Gestão das Populações e dos Habitat

As principais acções que podem ser efectuadas para a gestão das populações e dos habitat dos répteis do PNPG, e mais especificamente das víboras, são as seguintes:

1. Conservação dos Habitat

A conservação dos habitat surge como a principal medida de conservação, não só para os répteis, como para todas as outras espécies de Vertebrados. Neste sentido será necessário:

- Empreender acções mais eficazes na prevenção dos Incêndios Florestais. Esta é uma das principais medidas que se pode promover para a conservação dos répteis, pois os incêndios constituem, provavelmente, o maior factor de ameaça às populações e habitat dos répteis.

- Conservar, na medida do possível, as Sebes e Muros de Pedra, que servem para delimitar os lameiros e terrenos agrícolas. Estes locais constituem um elemento agrícola tradicional e são um habitat importante para muitas espécies, pois providenciam refúgio e locais de alimentação.

- Conservar as Massas Florestais Autóctones. Algumas populações de répteis dependem de determinados enclaves, onde subsistem bosques autóctones.

- Conservar os Meios Montanhosos, especialmente os matos, bosques e zonas de afloramentos rochosos, pois constituem meios onde existem determinadas espécies de répteis.

- Procurar manter, tanto quanto possível, as Práticas Agrícolas Tradicionais. O corte equilibrado de madeiras nas florestas é uma condição essencial para a manutenção de habitat adequados para os répteis, pois criam locais propícios para a sua termorregulação, além do que isto constitui uma medida de prevenção dos incêndios florestais. Nos locais onde a vegetação arbustiva tenha crescido exageradamente, deverão ser efectuados cortes regulares e periódicos, que proporcionarão melhores condições de insolação, o que é benéfico para a termorregulação destas espécies. O corte dos fenos de uma forma tradicional deveria também ser estimulada, embora se reconheça a dificuldade de tal se conseguir. Mais fácil seria talvez procurar que as máquinas industriais cortassem o feno ligeiramente a maior altura em relação ao solo. Esta medida beneficiaria todos os répteis que existem em lameiros e prados, mas sobretudo o Licranço, o Fura-pastos e a Víbora-de-Seoane.

- Manter o Caudal Ecológico nas Barragens. Esta medida beneficiaria todos os répteis aquáticos e ripícolas, e.g. o Cágado-de-carapaça-estriada, Lagarto-de-água, Cobra-de-água-viperina e a Cobra-de-água-de-colar, assim como todos os outros grupos de espécies que habitam na água ou nas suas margens – peixes, anfíbios e algumas espécies de aves e mamíferos.

2.Controle do Comércio de Cabeças de Víbora.

Embora este comércio tenha diminuído em relação aos anos 70 e 80, continua no entanto a existir em plena área do PNPG. Propõem-se medidas activas de fiscalização no terreno, com o controle dos pastores e outros indivíduos que se dirijam frequentemente à serra, assim como inspecções de cafés e vendedores de chá na vila do Gerês, realizadas por funcionários da Divisão de Aplicação de Convenções (DAC) do Instituto da Conservação da Natureza. Estas acções terão, no entanto, que ser acompanhadas por adequadas campanhas de sensibilização e educação ambiental.

3. Controle do Usos Indiscriminado de Produtos Fitossanitários Agrícolas

O controle da utilização de insecticidas e herbicidas agrícolas também constitui uma medida necessária, não só para proteger os répteis, mas também outras espécies insectívoras, como os anfíbios, micro-mamíferos e muitas espécies de aves.

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4.Controle da Introdução de Espécies Exóticas.

Outra medida necessária é a do controle da libertação de espécies exóticas na Natureza. A venda maciça de algumas espécies exóticas, como a Tartaruga-da-Flórida, dá azo a que muitos exemplares fujam ou sejam posteriormente libertados, constituindo sérios factores de perturbação para as populações locais. Esta espécie, por exemplo, pode afastar, por competição directa, os cágados autóctones, para além de que as espécies exóticas podem ser reservatórios de doenças que se propagam às espécies nativas. Assim, seria necessário desenvolver campanhas de sensibilização e informação pública, para evitar a libertação destas espécies, no caso das tartarugas.

5. Realização de Estudos sobre o Estado de Conservação de Determinadas Espécies.

Existe um profundo desconhecimento sobre o estado de conservação da maioria das espécies de répteis a nível mundial. Uma medida necessária para obviar esta situação seria a realização de estudos do estado de conservação e identificação dos principais factores que ameaçam as espécies. No PNPG existem quatro espécies com área de distribuição reduzida ou com populações provavelmente de pequenas dimensões, que são os principais candidatos à realização destes estudos: o Cágado-de-carapaça-estriada, a Osga-comum, o Fura-pastos-ibérico e a Cobra-cega.

6. Desenvolvimento de Campanhas de Informação e Educação Ambiental.

Esta é uma medida fundamental para a conservação a longo prazo destas espécies. É necessário o desenvolvimento de campanhas de informação e de educação ambiental, para se evitar a perseguição directa que sofrem os répteis. Nas áreas que rodeiam o Gerês, estas campanhas deverão ter maior incidência no caso das Víboras, por forma a que no futuro seja possível eliminar o ainda próspero comércio de cabeças destes animais.

Na Mata de Albergaria, e no caso particular das víboras, preconiza-se ainda a colocação de placas informativas ou de aviso destinadas aos visitantes, assinalando-se a presença destas espécies, cuidados a ter e outras informações sobre a sua biologia e interesse científico. Pode argumentar-se que estes sinais terão, possivelmente, um resultado negativo, uma vez que podem também alertar eventuais coleccionadores ou caçadores. No entanto, sendo a Mata de Albergaria uma zona onde se caçam víboras desde há várias décadas, os coleccionadores ou caçadores “já sabem” da sua existência neste local, pelo que este problema não seria de grande relevância. Assim, placas com informação geral sobre a presença da espécie, alertando para o seu estatuto legal de protecção (ilegalidade de captura, posse ou venda) e conselhos para o caso de ocorrerem mordeduras (Fig. 8), poderiam beneficiar a sua conservação.

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Figura 8 - Exemplo de uma placa de sinalização para a presença de víboras.

7. Desenvolvimento de Medidas para se evitarem os Atropelamentos.

A principal medida é a Educação Ambiental, que pode ser realizada por sessões nas autarquias, nas associações culturais locais públicas ou privadas, em escolas, principalmente Primárias e Preparatórias, e através da edição de folhetos que alertem para o problema. Adicionalmente, a sinalização e a eventual construção de barreiras que impeçam os répteis de chegaram às estradas podem ser consideradas para as áreas em que foram detectados mais répteis atropelados ou onde a intensidade de tráfego é mais elevada, como por exemplo na Mata de Albergaria.


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Fica então aqui ,pelas mãos da Satpa , a elaboração dos requisitos para manter a Conservação dos Répteis em Portugal !

Vale a pena ler !

:espi28:
 

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GF Ouro
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Bem vou-me amandar daqui a baixo ,mas que qualidade !isto nâo é um post qualquer !,tou parvinho da silva com este tópico ,cuidado amiga, fôra de série ,beleza de post ,até fiquei azul quando vi ,muito obrigado pela partilha ,muitos parabens está fantástico e vou ler melhor :espi28:
Adoro isto:espi28:
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GF Ouro
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Ainda volto
Simplesmente fabuloso ,á muito que nâo via uma coisa desta envergadura ,altamente Stapa ,agora partiste-me todo ,fiquei aqui de queixo completamente caidinho ,espectáculo mesmo ,depois frizarei aqui alguns pontos bem interessantes ,hoje tou de relax ,mas vou continuar leitura ,daqui ninguém me tira
 
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