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Motorizadas Portuguesas!

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Motorizadas Portuguesas: O Património sempre desprezado!

Estes motores propulsionaram um País!

Basta falarmos de Zundapp, Casal ou Sachs, para nos vir logo à ideia uma tasca e uma motorizada parada à porta, com um capacete Motassis pendurado num espelho retrovisor ferrugento.

Ou então, para recordarmos aquele ritual estranho nas bombas de combustível, onde o funcionário de mala à cintura dava à manivela num bidon estranho, que vomitava gasolina encarnada para dentro de um tubo transparente, enquanto uma motorizada esperava pacientemente com um condutor de mangas cavas e capacete empoleirado na cabeça, enquanto fumava um SG cravado ao pendura. (Sim, fumar nas bombas, era facultativo).

Em seguida, tanto na tasca como na bomba, um barulho ensurdecedor irrompia pelas imediações, acompanhado de um fumo azul, e perdurava até muito depois do veículo ter desaparecido no horizonte. Já tinham passado 10 minutos, e ainda podíamos ouvir a Sachs a evoluir alegremente pelo monte acima, lá ao fundo.

Isto tem um senão... estes veículos sempre foram conotados com proprietários de baixos recursos, que uma vez, eventualmente libertos do estigma de ter de andar com a família toda na motorizada, debaixo de chuva e de um oleado, jamais quiseram ouvir falar de tal engenho. O uso de motorizada como meio de locomoção básico, é um episódio para esquecer, agora que se encontram ao volante de um digno Citroên AX ou Opel Corsa.

Por outro lado, o entusiasta de veículos clássicos, como qualquer ser humano, tem tendência a idolatrar o que vem de fora. Nada mais natural. Muitos ingleses acham certos modelos de BSA e de Triumph "rubbish", e preferem modelos de outros países. Japonesas principalmente. Porque não querem voltar a ser conotados como protagonistas de tempos difíceis e de escassez.

Basicamente, o problema das motorizadas portuguesas, é que não conferem prestígio. A maioria prefere dirigir as suas atenções para motas estrangeiras dispendiosas, pois estas são consideradas símbolos de posição social. Ter uma BSA de mil contos, não chega se calhar para aparecer na revista "Caras", mas já dá para chamar uns Doutores e Engenheiros, para a conversa. Ou mesmo ser confundido com um. Uma Casal não.

Em Inglaterra, porém, acontece o inverso. Mergulhado que está o mercado em motos inglesas, é com satisfação que os entusiastas se amontoam em redor de algo "novo", e algo nunca visto. E mostram-nos que nós somos por vezes os maiores inimigos de nós próprios, não nos apercebendo do valor que temos em mãos.

Para restaurar uma scooter que trouxe para Inglaterra, tenho comigo um motor Zundapp, que diz orgulhosamente numa chapinha: "Fabricado em Portugal". Não queiram saber o burburinho! Coleccionadores a maçarem-me com perguntas acerca do fabrico de Zundapp em Portugal, acerca de modelos, e se ainda se pode adquirir algum. Tiram fotos com o telemóvel. Mostro-lhes fotos de motorizadas do Zé das Couves, e eles deitam as mãos à cabeça. Querem uma daquelas!

Temos de melhorar a nossa auto-estima, e perceber que também nós tivemos uma indústria competente e que motorizou massas, e que serviu na medida das possibilidades de um país de fracos recursos, uma vasta fatia da população. Isto em tempos em que não havia cá subsídios da CEE, nem computadores.

Estas motos de fabrico nacional deram de comer a muita gente. E em localidades com um autocarro de dia e outro à noite, eram a diferença entre poder ir para o trabalho com uma marmita cheia de batatas cozidas, ou não ir.

Estes veículos eram extremamente bem construídos, robustos, e à prova de bomba, sobrevivendo a todo o tipo de maus tratos, chuva, intempéries, gordos de 120 kg em cima, mudanças directas, má lubrificação, acidentes e despistes (pois as motas não carregam vinho) e desprezo generalizado. O que muitas destas motos sofreram, envergonharia um tanque T 34 em plena campanha de 1944.

Sem luzinhas ou apitos! Apenas o olhar focado num futuro melhor!

Temos de respeitar a nossa herança metalúrgica e industrial, fazendo o possível e o impossível para tentar salvar o máximo de modelos e unidades destas máquinas recheadas de História, de suor, de lágrimas e de luta. Não podemos entregar estes exemplos da nossa história recente, aos putos para partirem a fazer piões. Já parti algumas, infelizmente. Mea-culpa. Quem me dera que alguém me tivesse posto palavras sábias na altura e se calhar não tinha "malhado" tanto.

Autor: Mike Silva.
 
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Famel Zündapp: Glória de um Passado!

A FAMEL - Fábrica de Produtos Metálicos, foi fundada em 1949 na Mourisca, em Águeda, por João Simões Cunha, Augusto Valente de Almeida e Agnelo Simões Amaro. Nos anos 50, produzem motorizadas com motores Pachancho, Victoria e JLO. Em 1958 registaram a marca Famel, para a comercialização dos veículos. Em 1965 iniciam a montagem de motores Zündapp.

Com motores maioritariamente Zündapp, a Famel produziu inúmeros modelos que dominaram o mercado de vendas português, entre as décadas de 60 e 80, sendo uma das maiores empresas de motorizadas em Portugal.
[video=youtube_share;mgBPcYJLqzA]http://youtu.be/mgBPcYJLqzA [/video]
Actualmente as instalações da fábrica encontram-se em elevado estado de degradação na EN1 à entrada de Mourisca do Vouga, no sentido Lisboa-Porto. Com a entrada de Portugal na CEE, a empresa não resistiu à concorrência vinda da Europa, tendo decretado falência em 2002, após vários processos em tribunal, relativos a cobranças de dívidas. Porém a falência da companhia alemã Zündapp em 1984 prejudicou a FAMEL, que dependia muito dos motores alemães para o fabrico das suas motorizadas. A partir de 1984 a empresa Famel portuguesa inicia um ciclo descendente muito acentuado.

Grandes modelos de sucesso marcaram a história da Famel, entre eles destaca-se a Famel Foguete lançada em 1959, que entre muitos detalhes, tinha a bomba de ar debaixo do banco, o que fazia deste modelo, um exemplar único dentro do panorama das motorizadas portuguesas. Uma das características deste modelo era o guiador que tem uma forma que faz lembrar os que são usados nas scooters. Além disso, o velocímetro colocado numa posição recuada tinha enquadrado uma chapa da Famel, onde se podia escrever o nome e a morada do proprietário.
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A elegante Famel Foguete tem um motor JLO de 3 velocidades, sendo
que a primeira velocidade era para cima, seguindo-se as restantes para
baixo.
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Esta linda motorizada Zündapp Mayal fabricada em Aveiro pela famosa equipa Maya, os irmãos Maya,
dai o nome modelo Mayal. Lançada em 1956. Mas na foto, este modelo é de 1961, com motor de 2
velocidades.

Em 1970 produzem o mais emblemático dos seus modelos: a Famel XF-17. Equipada com o motor Zündapp de 5 velocidades, 7.1 cv e refrigerada a ar ou a água (como era o caso da XF-17 Super), esta motorizada teve o seu auge no final dos anos 70 a meados dos anos 90. É considerada por muitos um mito, sendo actualmente alvo de grande procura para restauros.
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Com o seu motor Zundapp de 5 velocidades refrigerado a ar,
montado na sua aparentemente frágil estrutura fazia as delícias
da juventude da época, pois a Famel XF-17 em recta atingia de
velocidade de ponta: 110 Km/h. Em curva era espectacular
sentindo-se a traseira constantemente a querer descolar do chão,
tal era a vibração.
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Famel X-17 Super equipada com jantes de alumínio, radiador
e farol desportivo.

Também o modelo XF-21 que teve o seu auge no final da década de 80, era uma motorizada robusta e bastante rotativa, tal como sua quase idêntica XF-17. A XF-21 era equipada com carburador bing 21, motor Zündapp de 5 velocidades, e nas últimas edições da Famel XF-21 já era constituída por volante electrónico que substituía os platinados.
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A Famel XF-21 era uma das motorizadas mais bonitas e cobiçadas
em Portugal. Existia somente nas cores vermelho e em preto.

No intuito de substituir a mítica Famel XF-17 que começava a envelhecer perante o panorama motociclismo na segunda metade da década de 90, a FAMEL investiu fortemente no novo modelo: a Famel XF-25. Motorizada potente e rápida, que segundo os seus proprietários, atingia de velocidade: 120 km/h. Equipado com quadro duplo berço, em tubos de alta resistência, motor de 2 tempos de 7.5 cv a 7500 rpm e 50 c.c., refrigerado a líquido, caixa de 5 velocidades e possuía um velocímetro com relógio incorporado. Infelizmente o seu fim foi precoce e resta a recordação.
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Famel XF-25 equipada com motor Zündapp e caixa de 5 velocidades.
Apesar do seu design moderno e apelativo, bem como sua promessa
de ser uma bomba, não conseguiu salvar a situação da empresa.

O último modelo da FAMEL saiu em 1997, designado como Famel Electron, e trata-se de uma scooter 100% eléctrica. Foi desenvolvida em parceria com a EFACEC e que parecia ter todos os ingredientes necessários para vingar no mercado e dar um novo rumo à FAMEL.
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Diz-se que pelo menos 500 unidades deste modelo foram fabricados e entregues para os correios franceses. Em Portugal apenas ficou o protótipo amarelo que encontra-se ainda em parte incerta. Sabe-se no entanto, que foi adquirida em leilão, depois de a fábrica ter encerrado, pela modesta quantia de 45 contos. Infelizmente este modelo nunca foi legislado em Portugal, pelo que nunca foi comercializado no mercado nacional.



 
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SIS-SACHS: As Motorizadas Míticas!

A SIS - Sociedade Irmãos Simões foi fundada em 1953 por Joaquim Simões Costa, e dispunha de duas unidades industriais, em Sangalhos e Arcos. Em 1964, Aulácio Almeida (OSP - Organização Sachs Portugal, J. Simões Costa), compra a SIS - Sociedade Irmãos Simões, Sangalhos (produtores da marca Cruzador e das montagens das marcas OSP, Rex, Tansini, etc.), mudando o nome para SIS - Veículos Motorizados, Lda, passando a utilizar a designação SIS-Sachs. Mais tarde, em 1971, fundiu as duas instalações numa só, localizada em Malaposta, Anadia. A ligação à empresa alemã Fitchel & Sachs começou pouco depois da fundação de SIS, com a concessão da licença de produção destes motores germânicos em Portugal. Produziu alguns dos mais emblemáticos modelos nacionais.

As primeiras motorizadas SIS surgiram na década de 50. Desde então surgiram vários modelos até ao recente GP1 com motor de 75 c.c., destinado ao mercado exterior. Entre as primeiras motorizadas SIS destaca-se a SIS Sachs Cruzador, que juntamente com a Famel Foguete, é uma das motorizadas mais míticas e fascinante da segunda metade dos anos 50 e começo dos anos 60. Ficou famosa pela pintura e decoração lindíssima - algo raro numa motorizada estrangeira da época.
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A lindíssima e decorativo SIS Sachs Cruzador: motorizada mítica
dos anos 50.
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Na edição de 2013 do salão Motor Clássico, em Lisboa, houve
uma exposição de motorizadas portuguesas que incidiu na SIS
Sachs. Mas no meio dos exemplares em exposição estava esta
Dover Felino restaurada.
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Outro modelo, a SIS Sachs Lebre tinha a imagem de uma lebre
em corrida estampada no depósito de combustível. A produção
começou na década de 60, e é um modelo que aparece regular-
mente em feiras e exposições.

De entre os modelos de grande sucesso comercial que a fábrica nacional produziu, destaca-se a V5.
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SIS-Sachs V5 Top Racing com motor Sachs, carburador Bing,
caixa de 5 velocidades e capacidade para 15 litros de combustível.

Hoje, a SIS- Sachs parte à conquista de novos mercados no estrangeiro, na esperança de fazer frente a modelos oriundos de outros países, no que respeita à classe de 75 c.c., com a SIS-Sachs GP1.

SIS-Sachs V5 - Um sucesso comercial!

No entanto, o modelo que constituiu um verdadeiro sucesso comercial foi a SIS-Sachs V5. O motor era a sua principal arma e contribuiu para a reputação da marca ao longo dos anos.

A SIS Sachs V5 foi uma das motorizadas mais míticas que alguma vez rolou nas nossas estradas! Possui linhas e características únicas que diferenciam das restantes:
- As malas laterais com o famoso V5;
- A protecção do escape com a letra SIS;
- O depósito com a almofada no topo.
A SIS-Sachs V5 a par da Famel Zündapp XF-17 é uma das motorizadas mais procuradas em Portugal, sendo alvo de restauração. Actualmente, ainda circulam alguns destes modelos.

A partir dos anos 70, a SIS-Sachs V5 já tinha uma estética que traduzia velocidade e aerodinâmica. Mas toda essa velocidade tinha um preço que foi pago por alguns condutores da época: a SIS-Sachs V5 tinha uma velocidade que superava os 100 km/h, fazendo dela a motorizada mais rápida do mercado português na altura, e até mesmo em relação as motorizadas japonesas.

Evolução da emblemática V5, a SIS Sachs V5 Lotus Special foi um sucesso de vendas e tinha um desempenho interessante.
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Esta versão pesava 97 kg e tinha um depósito com
capacidade para 12 litros. Estava equipada com motor
Sachs 50 S, caixa de 5 velocidades e travões dianteiros
de disco.
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Estando sempre na sombra da V5, a SIS Sachs V4 Racing, também
tem um lugar na história como modelo mítico da Sociedade Irmãos
Simões. Actualmente, é um modelo mais raro de encontrar no mercado
que a V5.
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A SIS Sachs Minor 505 possui um quadro em tubo de aço. O
seu depósito tinha capacidade para 3,5 litros e pesava 60 kg.
Além de estar equipada com caixa de 2 velocidades.



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A Metalurgia Casal: Um Caso de Sucesso!

A Metalurgia Casal foi a maior empresa Portuguesa do sector das motorizadas. Nenhuma outra empresa portuguesa conseguiu ter a capacidade produtiva e o número de unidades vendidas, nem mesmo conseguiu produzir motorizadas, motas, motores e alfaias agrícolas em grande escala e com um motor de produção própria. Baseando-se inicialmente no modelo alemão da Zundapp, aproveitando e imitando o que esta empresa tinha de bem feito, a Casal conseguiu destacar-se da Zundapp e de todas as empresas nacionais, tornando-se uma marca respeitada tanto no mercado nacional como no mercado externo.

A Metalurgia Casal deve o seu nome ao seu fundador, João Casal, e dele herdou todo o espirito empreendedor. Em 1945, a convite de António Marabuto, João Francisco do Casal fundou uma empresa de comércio de mercearias. Deixou mais tarde esta empresa e fundou outra do mesmo ramo. Foi através destas empresas que João Casal viajou regularmente à Alemanha, na tentativa de exportar produtos alimentares. Terá sido nestas viagens que terá tomado contacto com a enorme indústria motociclismo e automobilismo alemã. Talvez tenha sido desse contacto com a indústria alemã que João Casal tenha tido a ideia de construir uma empresa de motorizadas em Portugal.

Em 1953 João Casal pede autorização ao governo português para exercer a montagem de motorizadas com motor Zundapp, mas devido à enorme pressão exercida pela Famel e pela Vilar, o pedido é negado. Em 1961, João Casal, dois irmãos e um primo, fundam a Casal Irmãos & Companhia, mais tarde Veículos Casal. Nesta oficina, monta, vende e repara motores Zundapp, que vinham desmontados para facilitar a sua importação. Para além disso, fabrica alguns componentes para esses motores. Para vender os seus produtos, João Casal cria um circuito de distribuição que assegura a distribuição por todo o país.

Em 1963, João Casal tenta pedir mais um alvará. Parece que depois de ter visto o pedido para montagem de motorizadas negado, João Casal tenta dar um passo de cada vez, conquistando a simpatia e o respeito dos governantes, para numa altura certa formular novamente o pedido para criação de uma fábrica de motorizadas. Desta vez pede uma autorização para a construção de uma fábrica de carretos para motores. Quase todas as fábricas nacionais de motorizadas protestam contra esse pedido, dizendo que mais um concorrente iria colocar em causa as fábricas já existentes. Protestaram na altura as firmas Famel, Quimera Alma, Pachancho, Miralago e Rufino de Almeida.

João Casal pretendia fabricar motores Zundapp até 250 c.c. sobre licença, com a maior parte das peças a serem produzidas em Portugal e as restantes a virem da Alemanha, isto nos primeiros 2 anos. Apesar do protesto de todas as outras firmas de motorizadas, João Casal consegue finalmente o alvará de construção de motores até 250 c.c. A sorte favoreceu ainda mais a empresa quando o engenheiro Robert Erich Zipprich, director técnico da Zundapp, que sempre tivera uma boa relação com João Casal desde os tempos em que este representava os motores Zundapp para Portugal, não se conforma com a atribuição da licença de importação de motores Zundapp à Famel. Por este motivo, abandona a Zundapp e vem trabalhar para Portugal para a Casal. Em 1965 é aumentado o capital social da empresa com o intuito de se começarem a produzir os motores Casal. A firma passa de um capital social de 6000 contos (30.000 euros) para 30.000 contos (150.000 euros).

Em Junho de 1966 inicia-se a produção do motor Casal e alguns meses mais tarde inicia-se também a produção da scooter Carina (inspirada na Zundapp R50). Recorde-se que nesta época havia muitos produtores de scooters, mas quase todos produziam scooters com mais de 125 c.c. Entre esses construtores a Piaggio com a sua Vespa, foi sempre a marca mais acarinhada pelo público.
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A scooter Carina veio satisfazer um nicho de mercado de scooters de baixa cilindrada.
Foi a primeira scooter de produção 100% nacional, apesar de ter aparecido depois das
Vespas e das Lambretas.

Infelizmente, as pessoas tinham preferência pelas scooters italianas por serem mais bonitas. A scooter ia chamar-se Casal S170 mas por votação das funcionárias da empresa, passou-se a chamar-se Carina, que aparentemente na zona da Aveiro significa "querida". Pelo que se sabe foram produzidas cerca de 7000 unidades. Houve 3 modelos diferentes com diferenças mínimas.
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Um modelo tricarro Carina foi produzido pela Casal, apesar de haver pessoas
que afirmam que não era original de fábrica, mas sim uma adaptação.

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Em 1967 são lançados os motores M151 e M148 e a motorizada K160.
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A Casal procurava ter um modelo simples e acessível, lançando
em 1967 a Casal K160. Esse tipo de filosofia permitiu após várias
evoluções, dar origem mais tarde, à mítica Casal Boss.

Iniciaram-se estudos para produção de novos motores e motorizadas. Foi ainda neste ano que que se iniciaram contactos com vista a exportação de produtos para as colónias portuguesas em África, e para a Holanda e Dinamarca. A Metalurgia estaria exposta nas feiras de Joanesburgo e Milão. Em 1968 é lançada a Casal K163, o terceiro modelo produzido pela Metalurgia Casal, ainda sob orientação da equipa alemã dirigida pelo Engenheiro Robert Erich Zipprich.
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Em 1969 é lançada a Casal K181, que tinha como trunfo principal
a estrutura superior fundida em liga leve de alumínio.

São mostrados protótipos de motores de 50 c.c. automáticos, 75 c.c. e 150 c.c. A empresa começa a concorrer com a Famel e a Vilar, no mercado para a produção de jantes de alumínio para motorizadas. No início da vida da empresa Metalurgia Casal, a firma teve planos bastante ambiciosos, um dos quais foi o lançamento de uma mota de 125 c.c. A K260 foi a primeira mota 100% nacional fabricada em Portugal. Havia já projectos portugueses com motores de cilindrada de 125 c.c. e até superiores, mas nenhum era de total produção nacional (Vilar e Nacional).

O Projecto da K260 remonta ao final da década de 60, mas o lançamento da mota só aconteceu no ano de 1972. Aquando do seu lançamento, rapidamente a Casal chega à conclusão, que principalmente a nível estético a mota está ultrapassada e em 1973 lança a Casal K270, com uma linhas muito mais desportivas e actualizadas para a época. Sendo assim a Casal K260, esteve à venda apenas durante 1 ano e pelos registos foram apenas produzidas 200 unidades contra a cerca de 7000 unidades que foram produzidas da irmã mais nova K270. Dizem os especialistas que a K260 é mais mota do que a K270, sendo muito mais estável e confortável de conduzir do que a K270.
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Em 1970 é apresentada na Feira de Março em Aveiro, a
K260, uma mota de 125 c.c. que é posta à venda em 1972.
Foi a primeira mota 100% nacional.
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A Casal K270 com as suas linhas mais desportivas teve um grande
sucesso: foram produzidas cerca de 7000 unidades.

Em 1972 sente-se um pouco os sinais de uma pequena recessão nos lucros na empresa:
- Os aumentos salariais dos empregados e aumento das matérias-primas.
- A concorrência por parte de pequenos montadores que conseguiam produzir mais barato, e por consequência vender mais barato.
- O aumento de motores de origem estrangeira e a obrigação do uso do capacete.
Todos estes problemas agravam a situação económica da Metalurgia Casal.

Para assegurar a fiabilidade da Casal K270 125 c.c. posta à venda em 1973, foi efectuado um teste em estrada com a duração de 15.000 km em 48 dias, em que foram atravessados os seguintes países: Portugal, Espanha, França, Itália, Jugoslávia, Bulgária, Turquia, Grécia, Áustria, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Suécia, Holanda e Bélgica.

Ainda em 1973, Holanda, Dinamarca e Estados Unidos da América tornam-se bons mercados para exportação dos produtos Casal. Em 1974, o Jornal Motor, transcreve um teste feito por uma equipa de técnicos Franceses, que ficaram maravilhados com a motorizada K187S, comparando as suas performances às de uma mota de 125 c.c.

A queda do regime fascista governado na altura por Marcelo Caetano, é muito prejudicial á Metalurgia Casal, bem como as outras indústrias nacionais de motorizadas. Com a queda do regime fascista, acaba o proteccionismo aos produtos nacionais, e Portugal é invadido pelos modelos mais bonitos, tecnologicamente mais desenvolvidos e mais baratos dos construtores Japoneses. Quando se implementassem na Europa, os preços baixos seriam aumentados paulatinamente. A própria instabilidade politica que se vivia na altura com o pós 25 de Abril, apesar de ter sido pouco sentida, também ajudou a prejudicar a firma. O preço da matéria-prima sobe e os ordenados também. Os produtos da Metalurgia Casal vão perdendo competitividade.

Os anos 80 deveriam ter sido de reestruturação da empresa. Com a entrada na CEE em 1986, o poder económico dos portugueses aumentam, e a motorizada do chefe de família é encostada de vez na garagem, para dar lugar ao automóvel. Apesar deste processo ter-se começado a dar já no final dos anos 70, a entrada na CEE veio permitir uma melhor condição de vida a muitas famílias e este fenómeno da troca da motorizada pelo automóvel foi mais evidente.

Essa troca é compreensível pois o automóvel é mais seguro, leva mais pessoas e protege da chuva. A motorizada começou a ser o meio de transporte escolhido pelos jovens. Modelos inspirados na competição, tais como as Honda NSR 50 c.c. e 125 c.c., entre outras, levavam os jovens ao delírio. Estes modelos eram bem diferentes dos envelhecidos modelos Casal, e as vendas foram caindo.
Casal_K276jamorim_jamie_ramalho_j.jpg

Destaque para o lançamento da Casal K276, uma mota de Enduro
com 125 c.c., de linhas muito bonitas. Foram vendidas bastantes
para os CTT. No total, foram vendidas 15.000 unidades produzidas.

Na década de 90, a Metalurgia Casal continuou com a mesma linha de modelos envelhecidos, apesar da ténue tentativa de mudança realizada ao lançarem dois modelos: A Casal Magnum e a Casal Arizona. A sua salvação veio dos seguintes modelos para venda ao público:
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A Casal K168 Boss que com a sua simplicidade e versatilidade,
tornou-se um sucesso comercial. Equipado com motor de 2,5 cv
a 5500 rpm e caixa de 2 velocidades.
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A Super Boss que foi um autêntico campeão de vendas, produzido
durante quase 20 anos.

A Super Boss era usada para todo o tipo de serviço:
- Levava o trabalhador ao emprego;
- O jovem à escola;
- O parceiro de trabalho do carteiro;
Até usado como veículo de entrega de Pizzas. Foi sempre muito amada e quase todos os portugueses podem dizer que já guiaram uma. Existiram versões com caixa de 4 e 6 velocidades.

Foi lançada a Casal K554 RZ50, uma motorizada pouco virada para os jovens, com bastantes semelhanças à Macal M83. As letras RZ, provavelmente seriam as iniciais do nome do Engenheiro Alemão Robert Ziprich, pelo que deveria constituir uma homenagem ao falecido Engenheiro, que tanto fez pela Metalurgia Casal.
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As seguintes características técnicas da Casal RZ 50 ou K 554
eram as seguintes: quadro tubular, 1,83 metro de comprimento,
83 kg de peso, velocidade máxima: 98 km/h, equipada com motor
Casal M 105 de 6 velocidades.

A Casal Magnum foi um dos últimos modelos a ser criado e fabricado pela Casal antes de fechar as portas, e a última tentativa da Casal concorrer com modelos japoneses como a Yamaha RZ, a Suzuki Wolf e a Honda NSR. Inspirada na Suzuki Wolf (na altura a empresa Veículos Casal, era o importador dos motociclos e ciclomotores da marca Suzuki), era uma motorizada sem grande personalidade, mas que a Casal conseguiu interpretar de maneira bem mais interessante.
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Casal K556 Magnum, uma motorizada muito bem conseguida. Bonita, com um design bastante jovem e fresco, potente, com
caixa de 5 velocidades e motor de 7.5 cv às 7500 rpm.

Outro modelo interessante era a Casal K558 Arizona, uma trail com um design muito estilizado. Era uma ideia interessante, pois a motorizada poderia andar tanto em asfalto, como em pistas de terra.
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A Casal K558 Arizona foi uma das últimas tentativas da Metalurgia
Casal para se actualizar e tornar mais competitiva no mercado
nacional e internacional. Apesar do esforço em conseguir uma linha
actual e das boas prestações do motor, também não foi um sucesso
comercial, foram vendidas muito poucas unidades.

Curiosidade:

A Casal Huvo foi uma parceria entre duas empresas, Portuguesa Casal e a Holandesa Huvo. Eram focadas em motorizadas e motos de competição. Um dos seus momentos altos foi o famoso recorde de velocidade numa 50 c.c. em 224,5 km/h.
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Em 1981 a fábrica Casal, em parceria com a holandesa Huvo conseguiu pôr uma motorizada com
50 cc, pilotada por Jan Huberts, à velocidade de 224,5 km/h.

Em Maio de 2000, surge a notícia de que um grupo de credores iriam recorrer a via judicial para exigir a falência da Casal. Surge ainda a notícia da destruição dos arquivos da Metalurgia Casal por parte do Carrefour. Ao mandar destruir o edifício onde estava o arquivo da Casal, perdeu-se assim um importante testemunho de uma empresa que marcou o país. Projectos de motorizadas produzidas, ou de protótipos que nunca passaram à produção, como por exemplo o projecto do automóvel Casal ou o projecto do motor nº 2 que bateu um record do mundo de velocidade, entre outros, até às fichas dos funcionários, ter-se-á perdido todo o espólio conservado durante 40 anos.
 

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História da Vilar

A Vilar, Vilarinho e Moura, sediada na Rua do Bonjardim, 826-828, no Porto, foi o 1º fabricante nacional de bicicletas. Sob a sigla FNB (Fábrica nacional de bicicletas), começou a produzir bicicletas e seus acessórios em 1922. Tendo na época fabricado bicicletas completas e acessórios de substituição, nomeadamente, cubos, aros e raios. A década de 1930 é decisiva para a empresa: consegue obter licenças de produção da chamada nova indústria, tendo já na mira a construção de motas. O fabrico de motores terá sido equacionado, mas posto imediatamente de parte, pois poderia atrasar muitos anos o lançamento das tão aguardadas motas, inviabilizando o projecto e não havia tempo a perder.

O mercado das motas encontrava-se em forte expansão, e Portugal estava a ser invadido por uma importação muito forte de marcas com muita qualidade: BMW, DKW, Norton, BSA, AJS, Coventry Eagle, Matchless, Ariel, entre outras. A Vilar tinha que ser muito rápida a lançar as suas motas, e é então que Ilídio Vilarinho parte para Inglaterra na busca de um motor fiável e de fácil adaptação aos seus quadros, ou eventualmente quadros completos, tendo conhecido diversas marcas inglesas equipadas com o famoso motor Villiers.

Terá sido a Excelsior a utilitária que melhor se identificava com o seu projecto de utilitária para Portugal. Terá Ilídio Vilarinho trazido um destes exemplares 125 c.c. para copiar? Não se sabe, o que se sabe é que a primeira mota Vilar é muito parecida com esta inglesa.
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Só no ano de 1949 é que a Vilar terá conseguido fabricar a famosa
Vilar 125 c.c. do 1º modelo.

Segundo se consta só terão sido fabricadas 4 motas do 1º modelo, com motor Villiers de dois escapes com 122 c.c. de cilindrada, com a suspensão da frente em aço estampado com uma única mola central, e traseira rígida. Há três modelos sobreviventes. Um quarto modelo pereceu nas chamas, quando a fábrica ardeu nos anos 80 no final da sua vida: seria a mota dos testes.

Com o lançamento das motas e ciclomotores a fábrica começa a intitular-se FNBM (Fábrica Nacional de Bicicletas e Motocicletas). As motorizadas começam a sair da fábrica de Lugar da Ermida - São Mamede de Infesta. A Vilar redesenha o seu logotipo baseado no símbolo Villiers, para colocar nas motas de alta cilindrada. Este gesto dá credibilidade à marca no fabrico de motas pois o motor Villiers era já sobejamente conhecido dos portugueses pelos seus motores de rega. Nesta altura multiplicam-se os contactos entre a Vilar e a direcção-geral de transportes terrestres, no sentido de conseguir homologação para esta cilindrada. Esta homologação foi muito difícil e caracterizada por avanços e recuos por parte da direcção-geral de transportes terrestres.

Viriam a surgir mais dois modelos da VILAR 125 c.c. mantendo os traços originais da primeira, mais evoluídas. Dentro dos modelos seguintes, havia algumas variantes catalogadas por letras: havia entre outras a variante E de 1954 e a variante J de 1952, que demonstrava a utilização de motor JAP 125 c.c. A colocação deste motor foi aprovada pela direcção geral de transportes terrestres, mas nunca terão lançado nenhuma mota com esta motorização. Estes modelos só viriam a ser comercializados em 1952, altura da sua aprovação pela direcção-geral de transportes terrestres, este processo levou tanto tempo que já foi homologado o 2º modelo, e não o 1º. A Vilar, produziria também modelos com maior capacidade, além da 125 c.c., tais como 98 c.c. e 200 c.c. todos estes modelos eram equipados com motores da empresa inglesa Villiers.

Em 1949 avizinhavam-se outras marcas portuguesas a aparecer no mercado, são exemplo a Alma, a Famel, e a Pachancho. A SIS Sachs viria mais tarde, primeiro com modelos alemães e posteriormente, com montagens portuguesas. A Metalúrgica Casal também virá mais tarde, mas com uma política de mercado muito imponente para a época. Em 1950 surge a necessidade de adaptar motores às bicicletas criando os velocípedes a motor, para usar sem carta, pois na altura poucas pessoas tinham estudos ou dinheiro para tirar a carta.
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Este modelo de 1955 é um dos ciclomotores mais emblemático da Vilar, com motor
Cucciolo, vulgarmente conhecido como pescoço de cavalo, devido à forma do quadro
que também servia de depósito. Tinha suspensão tanto na parte da frente, como na de
trás, sendo esta melhorada com a suspensão do selim.

A Vilar começa por lançar a Vilar Pachancho com um dos seus belos quadros, fabricados propositadamente para este motor, utilizando o famoso micromotor Pachancho. A partir daqui muitos foram os modelos construídos pela Vilar até aos dias da década de 1980.
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O modelo VM 72 fabricado pela Vilar, tinha como características:
garantia, comodidade, segurança, elegância e qualidade. A Vilar
VM72 podiam ser equipadas com motor Casal e Zundapp de 4 e 5
velocidades.
 
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Modelos de Motorizadas mais produzidos em Portugal

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SIS Sachs Minor - 35.000 unidades produzidas.

Famel Zundapp XF17 - 27.000 unidades produzidas.

EFS Formula 1 - 20.000 unidades produzidas.

Macal M70 - 15.000 unidades produzidas.

Casal K276 - 15.000 unidades produzidas.

Casal Boss K168 - 14.000 unidades produzidas.

Casal K270 - 7000 unidades produzidas.

Famel XF 21 - 7000 unidades produzidas.

Casal Carina S170 - 7000 unidades produzidas.

Casal K181 - 6921 unidades produzidas.
 
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