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Fausto Num Episódio da Mosca no Verão

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TIN

Visitante
Eu sou a mosca, a nogenta mosca
Todo o lugar sujo, busco, sobrevôo
Meu alimento - tudo que enjoa, é nojo
Eu sou a mosca que tudo cheira, gosta

Meus filhos têm, sim, a côr do meu sangue
Os deixo com o lixo mais rico e imundo
Quanto mais podre, mais fértil, fecundo
Mais comem e vivem, têm a sorte grande

Sou até o pai do comer sem fome
Como o que vejo, tudo beijo e lambo
Por onde passo, até do mais limpo manjo
Sou o prazer que tudo devora e come

Sou a alma de tudo que é vil e nogento
Do vício ao desejo ou prazer mais sujo
Consigo tudo pela moléstia e o abuso
A carne me chama, só em carne penso

Eu sou a mosca, nasci do saltão
Sou o pensamento que no lixo mora
Transformo o próximo com desprezo em fossa
Na minha imundice sufoca a razão

Na guerra sou eu o mais forte e valente
Medalhas? Tenho-as, sou sim general
Todo o mundo me faz continência, mal
na cabeça de alguém passe até sómente

Na juventude mais na côr de pûs
Que faz de Hitler seu modêlo de mim
Vive o meu sonho, são meus filhos, sim!
Na porcaria mais porca os depûz

Eu sou a mosca, poeta traduz
Para o mundo todo, o que ao ouvido zumbo
Que eu sou o anjo do sujo e do imundo
A noite inteira deixa acesa a luz

Vem daí Fausto, comigo com gôsto
Que eu te dou asas como as minhas, de renda
Para te ergueres, e escreveres num poema
Sobre o meu reino de fartura e gôzo

Vem por estes países onde é puro o orgulho
No tenir do dinheiro, não tenhas não dúvida
Onde ele estiver, está a coisa mais pútrida
A gente mais fina se lho vende ao avulso

Tanto visito o forte como visito o fraco
Tenho a liberdade mais livre que existe
Uma mosca nunca se satisfaz ou desiste
Não há nada não que me tenha farto

Onde houver o homem, Fausto, escuta agora
Há uma riqueza em mau cheiro e em doçura
Eu fui feito à imagem dessa criatura
Fausto, até o bem só o mal o comprova

"Tu és sim a mosca, a maldita mosca
Que me não deixas não no Verão dormir
No teu vôo constante, eterno zumbir
Eu Fausto, me afasto, Deus, minha alma implora!"
 
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