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História de Organizações Criminosas

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GF Platina
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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que os historiadores, sociólogos, polícias e políticos, se dedicam-se a tentar definir o que é o crime organizado. Outros indivíduos, desde o chefe do FBI, J. Edgar Hoover, até ao Senador do Estado do Nevada (E.U.A.), Patrick McCarran, e ao líder dos camionistas, Jimmy Hoffa, responderam que a Máfia não existe na América e em nenhuma parte do mundo.

“O crime organizado é em primeiro lugar e acima de tudo, um negócio de dinheiro, e a sua especialidade é o dinheiro cuja origem é indetectável.”

O que é o crime organizado?

O crime organizado refere-se a organizações caracterizadas por uma estrutura hierarquizada, interesses diversificados, acumulação de capitais, acesso e protecção por parte dos políticos e grande longevidade. Seja qual for a sua definição, o crime organizado é um empreendimento económico, diferente dos grupos terroristas, que cometem crimes brutais motivados por razões políticas ou religiosas. Ao longo da história, o crime organizado serviu ou comandou políticos e influenciou e corrompeu os maiores partidos políticos e igrejas.

Em cada país, os grupos do crime organizado recebem um nome próprio:
- Assim costuma-se chamar de Máfia (do italiano maffia) ao crime organizado italiano e ítalo-americano;
- Tríade à Máfia chinesa;
- Yakuza à Máfia japonesa;
- Cartel ao colombiano e mexicano;
- Bratva ao russo e ucraniano.
A versão brasileira mais próxima disso são os Comandos ou Falanges, facções criminosas sustentadas pelo tráfico de drogas, sequestros e comércio de automóveis roubados seja através de esquema de exportação e importação ou comércio de sua peças em lojas de sucata socialmente reconhecidas e valorizadas.

Qual a diferença entre Gangues e Gângsteres?

Em termos modernos, os gangues são grupos de indivíduos que partilham algum aspecto de identidade comum: raça, religião, origem nacional, e até podem ser do mesmo bairro. Envolvem-se em actividades criminosas por motivos de ganância, racismo, vingança, orgulho étnico ou defesa do território. Historicamente, muitos membros de gangues oferecem-se como «gorilas» ou assassinos mercenários durante as campanhas eleitorais e disputas laborais.

Um gângster é um membro de uma organização criminosa que está envolvido em alguma actividade ilícita como contrabando, jogo, prostituição, tráfico de drogas, etc. A origem dos gângsteres aconteceu nos Estados Unidos, quando a Emenda 18 (1919) proibiu a produção e venda de bebidas alcoólicas. Assim, surgiram várias quadrilhas que faziam o contrabando de álcool. Mais tarde, quando a Emenda 18 ficou sem efeito, ocorreram várias tentativas para desmantelar as organizações criminosas comandadas pelos gângsters, mas isso não foi possível, porque elas já tinham atingido uma grande força e autonomia. Alguns dos contrabandistas mais famosos dessa altura foram Al Capone (em Chicago) e Lucky Luciano (em Nova Iorque).

Na terminologia americana, os gangues são distinguidos das máfias, e os gângsteres dos mafiosos, referindo-se o último termo a criminosos mais velhos, envolvidos em empreendimentos criminosos de longo prazo. Infelizmente, os meios de comunicação social e mesmo a própria polícia usa o termo «gângster» a todo o tipo de criminosos.

Exemplo notável dessa ignorância: No Website do FBI, surge uma declaração de que a agência prendeu todos os principais gângsteres (sendo alguns condenados à morte) em 1936. Na realidade, o FBI só prendeu apenas bandos rurais e raptores, ignorando despreocupadamente a Máfia nas suas várias formas.

Depois de negaram publicamente a existência da Máfia, desde 1924 até 1961, o FBI descobriu subitamente La Cosa Nostra, através de um informador, Joe Valachi, que revelou ao mundo a sua versão dos trabalhos internos daquela organização. Paul Lunde, na introdução do seu livro "Crime Organizado" (2004), refere que o crime organizado genuíno difere dos gangues de rua, como os Bloods e os Crips, não apenas no grau de organização e objectivos, mas também porque o crime organizado acumula capital e reinveste-o. Essa acumulação de capital permite subornar agentes policiais e funcionários públicos, os quais por seu turno, garantem medidas de protecção a criminosos e organizações criminosas específicas. Não obstante, os Bloods e Crips são gângsteres, equipados com armas e a ganhar milhões de dólares por ano, através da venda de droga e outro contrabando, e recrutam membros por todo o país, e até no estrangeiro.

Existem outro grupo de criminosos: os gangues de motociclistas fora-da-lei, que se dedicam ao tráfico de drogas e armas, mas raramente, entram em conflitos com a polícia. Apesar de haver tendência de alguns gangues motards assaltarem ou matarem polícias, advogados de acusação e juízes, não houve até agora, nenhuma ligação provada entre estes motoqueiros e agentes de autoridade.

A Diferença entre Submundo e Supramundo

O Submundo é o nome dado ao tenebroso mundo criminoso, onde gângsteres, gangues e mafiosos, engendram os seus golpes, conduzem os seus negócios ilícitos.

O Supramundo é o nome dado a personalidades importantes, do mundo político e económico, como empresários, políticos, militares, etc, que se envolvem em corrupção na economia legal.

Olhando os jornais e os noticiários televisivos, não se nota diferenças nos actos criminosos praticados tanto pelo submundo (negócios ilegais) e Supramundo (corrupção). A história está cheia de reis e papas, ministros e presidentes, que agiram à escala nacional ou global, como gângsters, aceitando e pagando subornos, ignorando ou subvertendo a legislação e as decisões judiciais que constituíam obstáculos à sua demanda por riqueza e poder.
 

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GF Platina
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Actividades do Supramundo

A Guerra do Ópio

A Guerra do Ópio foi um conflito armado ocorrido entre a Grã-Bretanha e a China nos anos de 1839 a 1842 e 1856 a 1860. O Ópio é uma substancia extraída da papoila-dormideira, e causa dependência química. Era transportada ilegalmente pela Grã-Bretanha para a China, e lá muitas vezes os ingleses forçavam os chineses a consumi-lo, o que provocava dependência e assim obtinham grande lucros e aumentava o volume do comércio. Com isso, o Governo Chinês proíbe todo comércio do ópio e os ingleses irritados, declaram guerra a China em 1839.
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No mesmo ano, um súbdito chinês foi assassinado por marinheiros britânicos e o Comissário Imperial ordenou a expulsão de todos os Ingleses que estavam na cidade e confiscou cerca de 20.000 caixas de ópio que foi encontrado. Em 1840 o Chanceler Britânico, Lord Palmerston, enviou uma força de 16 navios de guerra para uma determinada região chinesa que resultou no afundamento de boa parte dos navios Chineses, além do estado de sítio de Guangzhou e o bombardeamento da cidade de Nanquim. Esse conflito termina em 1842, com a assinatura do Tratado de Nanquim, pelo qual a China aceitou suprir a tudo que a Grã-Bretanha queria, abrindo cinco portos ao comércio britânico, pagar uma grande indemnização de guerra e entregar a ilha de Hong Kong, que ficaria sob domínio inglês durante 100 anos.

Em 1856 desencadeia a Segunda Guerra do Ópio. Oficiais chineses abordaram e revistaram um navio chamado "Arrow", que tinha bandeira britânica. Isso desagradou muito os ingleses que desta vez se aliaram à França e aplicaram um ataque militar em 1857. O governante chinês nesse momento continuou com sua política de intransigência, não querendo respeitar de forma nenhuma, a vontade dos ingleses. E mais uma vez a China sai derrotada. Desta vez, 11 portos chineses seriam abertos ao comércio Ocidental. O governante Chinês tentou resistir, mas com isso a capital Pequim foi ocupada, obrigando-o a aceitar o Tratado de Tianjin que propunha a abertura da China aos estrangeiros: diplomatas estrangeiros seriam aceites na China, e a permissão de missionários cristãos e a legalização do ópio.

Após a Convenção de Pequim (1860), o Tratado de Tianjin foi aceite. A China criou um Ministério dos Negócios Estrangeiros, permitiu que se instalassem legações ocidentais na capital e renunciou ao termo "bárbaro", usado nos documentos chineses para denominar os ocidentais. Em 1900, o número de portos abertos ao comércio com o ocidente, chamados de "Portos de Tratado", chegava a mais de 50, sendo a maior parte das potências europeias, assim como os Estados Unidos, tinham concessões e privilégios comerciais. Hong Kong permaneceu em poder dos britânicos até ser devolvida à China em Julho de 1997. O estatuto de Macau, como colónia do Império Português a cerca de 60 km da colónia britânica, foi prorrogado, devolvida apenas em 20 de Dezembro de 1999.

A Era dos Robber Baron

A expressão provém de senhores feudais da Idade Média alemães que cobravam as portagens dos navios que atravessavam o Reno, sem acrescentar nada de valor. Mas há controvérsias sobre a origem e a utilização do termo. Robber Baron é um termo inglês que significa em alemão Raubritter, e em português Barão Ladrão. Este termo era aplicado aos ricos e poderosos empresários norte-americanos do século XIX. No final do século XIX, o termo era usado tipicamente para se referir aos empresários que usaram o que eram consideradas práticas de exploração para acumular sua fortuna.

Essas práticas incluíam:
- Controlar recursos nacionais;
- Acumular altos níveis de influência no governo;
- Pagar salários extremamente baixos;
E por fim, esmagar a concorrência através da aquisição de rivais, com o objectivo de criar monopólios, e eventualmente, aumentar os preços e criar esquemas para vender acções a preços inflacionados para investidores desavisados ​​até acabar por destruir a empresa para a qual o estoque foi emitido, causado o empobrecimento dos investidores. O termo combina o sentido de crime (ladrão) e aristocracia ilegítima (um barão é um papel ilegítimo na república).
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O comentarista político e económico norte-americano, Matthew Josephson, popularizou a expressão durante a Grande Depressão em 1934, no livro com o mesmo título. Ele atribuiu a frase a um panfleto anti-monopólio de 1880, sobre magnatas de ferrovias. Josephson alegava que os grandes empresários norte-americanos acumularam grandes fortunas de forma imoral, anti-ética e injusta. Nos Estados Unidos, a Revolução Industrial foi liderada por famosos barões ladrões como James Fisk e Jay Gould, cuja chicana financeira levou a nação à bancarrota.
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J. P. Morgan e John D. Rockfeller contrataram exércitos privados para chacinarem trabalhadores sindicalizados.
Henry Ford tinha entre o seu pessoal de segurança, em Detroit, membros da Máfia e grupos marginais nazis leais a Adolf Hitler.

Mas terá esta imagem de ladrões barões mudado?

Nos Estados Unidos, empresas como a Boeing, Grumman, Hughes, Raytheon, General Motors, McDonnel Douglas e Teledyne, que recebem encomendas ligadas ao sector da Defesa Nacional, foram alvo de condenações penais por fraude, fixação de preços e outros crimes graves, e no entanto, continuam a ser beneficiadas com contratos governamentais no valor de milhares de milhões de dólares por ano. A General Motors encabeça a lista, com 14 condenações criminais entre 1961 e 1990.

Os executivos de várias empresas tabaqueiras norte-americanas manipularam durante décadas os níveis de nicotina dos cigarros que produziam, matando centenas de milhares de pessoas, e depois mentiram acerca disso quando estavam sob juramento perante o Congresso. Escaparam sem qualquer punição, apesar das provas documentadas.

Os dirigentes da Eron Corporation podem não ser comparáveis a gângsteres, no entanto, encenaram uma falsa «crise energética» na Califórnia, complementada com «apagões selectivos», para defraudarem em milhares de milhões de dólares o Estado e os cidadãos. Quando foram apanhados em flagrante, os patrões da empresa declararam falência em Novembro de 2001, atirando para o desemprego 4000 empregados e fazendo com que milhares de accionistas perdessem os seus investimentos.
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A Enron Corporation era uma companhia de energia situada em Houston, no Texas. Empregava cerca de 21.000 pessoas, tendo sido uma das companhias líderes no mundo em distribuição de energia: electricidade, gás natural e comunicações. Seu facturamento atingia 101 biliões de dólares em 2000, pouco antes do escândalo financeiro que ocasionou sua falência.

No fim de tudo, alguns dos dirigentes da Eron foram para a prisão. Mas isso não aconteceu com os chefes da empresa Halliburton Energy Services (anteriormente presidida pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney). Com o seu ex-CEO a um passo da Casa Branca, os dirigentes da Halliburton confessaram ter subornado políticos nigerianos e cobrado a mais às Forças Armadas por petróleo iraquiano (assegurado pelo favoritismo presidencial através de contratos amigáveis sem concurso). Uma vez mais, ninguém foi punido, apesar de em 2005 um júri do Illinois ter indiciado o antigo dirigente de uma filial da Halliburton (a Kellog, Brown and Root), por alegadamente ter recebido de altos funcionários no Kuwait subornos no valor de 1 milhão de dólares.

Actualmente, a Halliburton Company, empresa multinacional americana, é uma das maiores do mundo, no campo de petróleo, e as suas empresas de serviços operam em mais de 80 países. Possui centenas de subsidiárias, filiais, sucursais, marcas e divisões em todo o mundo e emprega aproximadamente 100.000 pessoas. A empresa tem duas sedes, localizado em Houston, no Texas (E.U.A.) e no Dubai.
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Principal segmento de negócios da Halliburton é o Energy Group Services (ESG). ESG fornece produtos e serviços técnicos de petróleo e gás natural de exploração e produção. Ex-subsidiária da Halliburton, a Kellogg Brown & Roo é uma grande empresa de construção de refinarias, campos de petróleo, oleodutos e fábricas de produtos químicos. Halliburton anunciou em 5 de Abril de 2007 que tinha vendido a divisão e cortou sua relação corporativa com KBR, que tinha sido a sua contratação, de engenharia e de construção da unidade como uma parte da empresa.

Em que é que estas acções diferem das realizadas pelo crime organizado?

Alguns podem argumentar que o que diferem destes criminosos do colarinho branco de outros criminosos do submundo, é que não recorrem à violência. Mas nem sempre é assim.


Em 1954, a empresa norte-americana United Fruit Company, desempenhou um papel de relevo na queda do governo da Guatemala, que tinha sido livremente eleito, depondo o presidente Jacobo Arbenz e instalando uma junta militar que, menos segundo as estimativas mais conservadoras, matou 200.000 cidadãos, enquanto enviava para o exílio mais de 1 milhão de pessoas, na situação de refugiados sem lar.

A United Fruit Company (1899-1970), multinacional norte-americana, destacou-se na produção e no comércio de frutas tropicais (especialmente bananas e ananás) em plantações na América Latina, Estados Unidos e Europa. Seus interesses comerciais abrangeram grandes extensões na América Central e nas Caraíbas.
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Tinha muito poder nos países da América Central, já que com a colaboração do governo dos Estados Unidos, ajudava na derrubada de governos democráticos e a implantação de ditaduras repressoras nos países que hostilizavam sua actuação empresarial. Dando lugar para que esses países e seus governos fossem chamados "República das Bananas", já que a empresa estabeleceu líderes locais para favorecer seus interesses económicos.

Em Cuba, a United Fruit Company era uma das empresas que controlavam a produção de açúcar e foram expulsos em 1959, por causa da Revolução Cubana que um ano mais tarde, em 1 de Janeiro de 1960, nacionalizaria todas as suas possessões. Em 1969 foi comprada por Zapata Corporation, empresa relacionada com George H. W. Bush. A empresa modificou sua razão social para Chiquita Brands e até hoje opera com esse nome.
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Em 2007, Chiquita Brands enfrentou um julgamento nos Estados Unidos por haver financiado grupos paramilitares na Colômbia que foram responsáveis pelo massacre de sindicalistas e camponeses. A companhia teve que pagar uma multa às autoridades de seu país, agora as autoridades colombianas buscam cooperação dos E.U.A. para que extraditem os funcionários responsáveis por esses delitos e sejam julgados no país.

Chiquita Brands, empresa norte-americana de agricultura e líder mundial no cultivo de distribuição de bananas ao redor do mundo, tem a sua sede na cidade de Charlotte no Estado da Carolina do Norte nos Estados Unidos, e foi fundada por Lorenzo Dow Baker em 1863. A empresa foi criada em 1863 com o nome de United Fruit Company. Em 1899 fundiu-se com a Boston Fruit Company, e em 1990 passou a usar o nome de Chiquita Brands International e que se mantêm até hoje. A companhia é dona de diversas fazendas em países da América Central e de onde vem a maior parte de sua produção. Em 2014 a Chiquita possuía operações em 70 países e mais de 20.000 empregados e actua no cultivo e distribuição de bananas, ananás, mangas e também produz alimentos derivados de frutas cultivadas pela empresa.

Proposta de fusão com a Fyffes

Em Março de 2014 a distribuidora de frutas Irlandesa Fyffes e a Chiquita anunciaram que iriam se fundir. A união das duas companhias iria formar uma nova empresa com facturamento de 4.6 biliões de dólares e uma produção de 16 biliões de bananas por ano. Se a fusão fosse concluída os accionistas da Chiquita iriam deter 50,7% da nova companhia e os accionistas da Fyffes 49,3%. Em Agosto de 2014, os grupos empresariais Brasileiros Safra e Cutrale ofereceram 611 milhões de dólares para comprar a Chiquita, porém ela teria que desistir da fusão com a Fyffes. Os accionistas de ambas as empresas recusaram a oferta dos brasileiros e continuaram com a fusão.

Cutrale e Safra compram Chiquita
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Em 24 de Outubro de 2014, a Chiquita desistiu da fusão com a Fyffes e aceitou analisar a proposta dos grupos brasileiros para comprar toda a empresa, e em 27 de Outubro a Chiquita é vendida para as empresas brasileiras Safra e Cutrale por 1,3 bilião de dólares. Após a desistência da fusão a Chiquita terá que pagar uma multa equivalente a 3,5% do seu valor de mercado para a Fyffes pelo fim da fusão. A desistência da fusão foi porque os accionistas das duas empresas não aprovaram um acordo de transição e resolveram acabar com o contrato de junção das duas companhias.

Outras empresas envolvidas na conspiração na América Latina

Em 1973, um consórcio de empresas norte-americanas, incluindo a ITT e diversas companhias mineiras, conspiraram para derrubar o regime eleito do Presidente do Chile, Salvador Allende, o que resultou no assassinato deste presidente, e a instalação de uma ditadura chefiada por Augusto Pinochet Ugarte, que executou pelo menos 2000 vítimas durante os seus primeiros seis meses no cargo. Este golpe de estado foi bem-sucedido, graças ao auxílio prestado pelos americanos, através da CIA e da Casa Branca.
 
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CIA no Tráfico de Drogas

Segundo fontes, a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, supostamente esteve envolvida em várias operações de tráfico de drogas. Muitas vezes, a agência trabalhou com grupos que sabia que estavam envolvidos em tráfico de drogas, de modo que esses grupos iriam fornecer-lhes informação útil e material de apoio, em troca de permissão para a continuação de suas actividades criminosas.

Triângulo Dourado

CIA e Kuomintang (KMT): Operações de Contrabando de Ópio

A fim de proporcionar fundos secretos para o Kuomintang (KMT) durante a Guerra Civil Chinesa, as forças leais ao Generalíssimo Chiang Kai-Shek, que lutava contra os comunistas chineses, liderados por Mao Tse-tung, a CIA ajudou o KMT no contrabando de ópio da China e da Birmânia para Banguecoque, na Tailândia, fornecendo aviões de propriedade para um de seus negócios de fachada, o Air America. O general do KMT Sun Li Ren assumiu o comando dessas forças, que controlavam a região entre a Birmânia e Tailândia, mas foram forçadas a saírem da área. A CIA depois pressionou Sun Li Ren para realizar um golpe de Estado em Taiwan contra Chiang Kai-Shek, mas foi descoberto e colocado sob prisão domiciliar pelo filho de Chiang, Chiang Ching-kuo.

Afeganistão Soviético

Foi denunciado pelos soviéticos em múltiplas ocasiões, que os agentes norte-americanos da CIA estavam ajudando a contrabandear ópio para fora do Afeganistão, ou para dentro da Europa, para conseguir dinheiro para a resistência afegã; ou para a União Soviética a fim de enfraquecer os russos por meio do uso de drogas. A CIA apoiou vários "barões das drogas" no Afeganistão, como Gulbuddin Hekmatyar, que lutavam contra os soviéticos.
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Segundo afirmações do historiador Alfred W. McCoy: «Na maioria dos casos, o papel da CIA envolveu várias formas de cumplicidade, tolerância, ou ignorância intencional sobre o tráfico, nenhuma culpabilidade directa no tráfico real. A CIA não lidava com a heroína, mas deu aos seus aliados, os senhores das drogas, transporte, armas e protecção política. Em suma, o papel da CIA no tráfico de heroína do Sudeste Asiático envolveu cumplicidade indirecta, em vez de culpabilidade directa».

Operação Ciclone

A Operação Ciclone foi o nome em código do programa da CIA para armar os mujahideen durante a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989). A Operação Ciclone é uma das operações da CIA mais longas e dispendiosas já realizadas, cujo financiamento começou com 20 a 30 milhões de dólares por ano em 1980, e chegou a 630 milhões de dólares por ano em 1987.
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Após o golpe de Estado comunista no Afeganistão em 1978 e a invasão soviética do Afeganistão em 1979, o Presidente dos E.U.A. Jimmy Carter disse que a invasão soviética do Afeganistão é a maior ameaça à paz desde a Segunda Guerra Mundial. O Conselheiro de Segurança Nacional de Carter, Zbigniew Brzezinski, afirmou que o esforço dos E.U.A. para ajudar os mujahidins afegãos foi precedida por um esforço para forçar a União Soviética a se envolver num conflito custoso como a Guerra do Vietname.

Em 3 de Julho de 1979, Jimmy Carter assinou o decreto presidencial que autoriza financiamento da guerrilha anti-comunista no Afeganistão. Esta ordem secreta foi assinada depois de um golpe comunista e da instalação de um presidente pró-soviético, e seis meses antes da invasão do Afeganistão pela U.R.S.S. em Dezembro de 1979, a conselho de seu assessor de segurança nacional, Zbigniew Brzezinski, que esperava que Moscovo interviesse com as suas tropas no país, e atolasse no chamado "Vietname Soviético". Em 1998, Brzezinski disse ao Nouvel Observateur: «O dia em que os soviéticos atravessaram oficialmente a fronteira e escrevi ao presidente Carter: Nós temos agora a oportunidade de dar à U.R.S.S. uma guerra do Vietname».

A Operação Ciclone baseou-se fortemente no uso dos serviços secretos paquistaneses, o ISI, apoiado pelos serviços secretos MI6 da Grã-Bretanha, Egipto, Arábia Saudita, China e Israel, como um intermediário para a distribuição dos fundos, passar armas, treino militar e apoio financeiro aos grupos da resistência afegã.
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Um mujahideen afegão em 1988, equipado com um lançador de mísseis
terra/ar 9K32 Strela-2 da Operação Ciclone financiada pela CIA.

Na administração de Ronald Reagan, o apoio dos E.U.A. aos mujahideen afegãos evoluiu para se converter numa parte central da política externa norte-americana, a chamada de "Doutrina Reagan", pelo qual os Estados Unidos forneceram assistência militar a movimentos de resistência anti-comunistas no Afeganistão, Angola, Nicarágua e outros países. Para implementar essa política, o presidente Ronald Reagan implantou a oficiais paramilitares da Divisão de Actividades Especiais da CIA para treinar, equipar e comandar as forças de mujahideen contra o Exército Vermelho.
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Através do ISI, a CIA ajuda tropas de Ahmad Shah Massoud, mas também movimentos islâmicos, como os de Jalaluddin Haqqani (futuro ministro das fronteiras do Taliban) ou de Gulbuddin Hekmatyar, um dos senhores da guerra mais favorecidos pelo ISI paquistanês. A ISI treina mais de 100.000 homens entre 1978 e 1992, com um orçamento americano progressivo no total entre 3 e 20 biliões de dólares. Cerca de 35.000 muçulmanos estrangeiros de 43 países islâmicos, participaram nesta guerra.
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O bilionário Osama bin Laden, fundador da Al-Qaida, foi um fervoroso defensor da operação da CIA, e é enviado em 1986 à província de Khost por Jalaluddin Haqqani. Bin Laden foi então encarregado de Maktab al-Khadamāt, para o recrutamento de combatentes para o Afeganistão. A Operação Ciclone foi um fabuloso sucesso indirecto para os Estados Unidos, o que contribuiu para o enfraquecimento do Bloco do Leste em 1991, mas é também um precursor para a ascensão dos Talibãs, que perderá seu poder após a Guerra no Afeganistão de 2001.

Era do Vietname

O Vietname Ocidental e o Camboja Oriental tinham alguns campos de ópio. Foi amplamente alegado entre vários soldados que se viraram contra a guerra, que a CIA estava envolvida no contrabando deste ópio aos produtores de heroína nos Estados Unidos a um lucro considerável. Existe provas disso no livro "A Política da Heroína no Sudoeste da Ásia", escrito por Alfred W. McCoy, um professor da Universidade de Wisconsin-Madison. O livro discute o uso do ópio no custo de operações camufladas pela CIA no Vietname. A agência também intimidou as fontes de McCoy e tentou barrar a publicação do livro, citando "interesses de segurança nacional".

Caso Irão-Contras

O Caso Irão-Contras foi um escândalo político nos Estados Unidos revelado pela meios de comunicação social em Novembro de 1986, durante o segundo mandato do presidente Ronald Reagan, no qual figuras chave da CIA facilitaram o tráfico de armas para o Irão, que estava sujeito a um embargo internacional de armamento, para assegurar a libertação de reféns e para financiar os Contras nicaraguenses.

Lançado em 13 de Abril de 1989, o relatório do Comité Kerry concluiu que membros do Departamento de Estado dos Estados Unidos "forneciam apoio para os Contras, estavam envolvidos em tráfico de drogas, e os próprios componentes dos Contras recebiam assistência financeira e material dos traficantes de drogas".

Em 1996, Gary Webb escreveu uma série de artigos publicados no "San Jose Mercury News" que investigaram nicaraguenses ligados aos Contras apoiados pela agência que faziam contrabando de cocaína para os Estados Unidos. A cocaína era então distribuída como crack em Los Angeles, e os lucros canalizados para os Contras. A agência tinha conhecimento das operações de cocaína e dos grandes carregamentos de drogas para os Estados Unidos pelo pessoal dos Contras e ajudou directamente os traficantes de drogas a arrecadar dinheiro para os Contras.

Em 1996, o director da CIA, John M. Deutch, foi para Los Angeles para tentar refutar as alegações levantadas pelos artigos de Gary Webb, e ficou famoso por enfrentar o ex-oficial do Departamento de Polícia de Los Angeles, Michael Ruppert, que testemunhou que ele havia testemunhado sua ocorrência.

A CIA foi acusada de lavagem de dinheiro dos recursos de drogas no Irão-Contra através do Banco BCCI. O ex-comissário da Alfândega dos Estados Unidos William von Raab disse que, quando os agentes alfandegários invadiram o Banco BCCI em 1988, encontraram numerosas contas da CIA. A CIA também trabalhou com o BCCI para armar e financiar os mujahideen afegãos durante a Guerra do Afeganistão contra a União Soviética, usando o BCCI para lavagem dos rendimentos do crescente tráfico de heroína na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, aumentando o fluxo de narcóticos para os mercados europeus e norte-americanos.

Haiti

De acordo com fontes anónimas, em meados de 1980, a CIA criou uma unidade no Haiti cujo suposto objectivo era a actividade antidrogas, mas na realidade, foi usada como um instrumento de terror político, e estava envolvido no tráfico de drogas. Os membros da unidade eram conhecidos por torturar apoiantes de Aristide, e ameaçaram matar o chefe local da Força Administrativa de Narcóticos. De acordo com um oficial norte-americano, a unidade fez tráfico de drogas e nunca apresentou qualquer informação útil sobre as drogas.

Cartéis de Cocaína no México

O mais antigo cartel mexicano, o Cartel de Guadalajara, foi beneficiado pela CIA por ter ligações com o narcotraficante hondurenho Juan Matta-Ballesteros, um activo da CIA, que foi o chefe da SETCO, uma companhia aérea usada para o contrabando de drogas para os Estados Unidos, e também utilizada para transportar suprimentos militares e pessoal para os Contras da Nicarágua, usando fundos das contas estabelecidas por Oliver North.

Também é alegado que a DFS, a principal agência de espionagem do México, que foi em parte uma criação da CIA, e posteriormente tornou-se Centro de Investigación y Seguridad Nacional (CISEN), teve entre seus membros mais próximos, aliados do governo da CIA no México. Os distintivos da DFS entregues aos traficantes de drogas mexicanos de alto nível, foram marcados por agentes da DEA como uma virtual licença para traficar. Sabe-se também que o Cartel de Guadalajara, a mais poderosa rede de tráfico de drogas do México no início de 1980, prosperou em grande parte, entre outras razões, porque contava com a protecção da DFS, sob seu chefe Miguel Nazar Haro, um activo da CIA.

Miguel Ángel Félix Gallardo, conhecido como o padrinho do negócio das drogas mexicano, forneceu um montante significativo do financiamento, armas e outros auxílios para os Contras na Nicarágua. Seu piloto, Werner Lotz afirmou que Gallardo teve uma vez que entregar 150.000 dólares em dinheiro a um grupo Contra, e Gallardo muitas vezes se gabava de contrabandear armas para eles. Suas actividades eram conhecidas por várias agências federais norte-americanas, incluindo a CIA e DEA, mas foi-lhe concedida imunidade devido a suas contribuições beneficentes para os Contras. Vicente Zambada Niebla, filho de Ismael Zambada García um dos principais senhores das drogas no México, afirmou depois de sua prisão ao seus advogado que ele e outros altos membros do Cartel de Sinaloa haviam recebido imunidade por agentes americanos e uma licença virtual para contrabandear cocaína para a fronteira dos Estados Unidos em troca de informações sobre cartéis rivais envolvidos na Guerra contra o narcotráfico no México.

Invasão do Panamá

A invasão militar norte-americana do Panamá em 1989, destruiu grande parte da infraestrutura e tirou muitas vidas civis, mas não conseguiu capturar Manuel Noriega.


Em 1989, os Estados Unidos invadiram o Panamá como parte da Operação Justa Causa, que envolveu 25.000 soldados norte-americanos. O general Manuel Noriega, chefe do governo do Panamá, deu a assistência militar aos grupos Contras na Nicarágua, a pedido dos Estados Unidos, que em troca, lhe permitiu continuar a sua actividade de tráfico de drogas, que era conhecida desde 1960. Quando a Força Administrativa de Narcóticos tentou indiciar Noriega em 1971, a agência impediu de fazê-lo. A CIA que era dirigida pelo futuro presidente George H.W. Bush forneceu a Noriega, centenas de milhares de dólares por ano como pagamento por seu trabalho na América Latina.
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General Manuel António Noriega,
Presidente do Panamá, entre 12 de
Agosto de 1983 e 15 de Dezembro
de 1989.

No entanto, quando o piloto da agência, Eugene Hasenfus, foi abatido sobre a Nicarágua pelos sandinistas, os documentos a bordo do avião revelaram muitas das actividades da CIA na América Latina e as conexões da agência com Noriega tornaram as relações públicas uma responsabilidade para o governo dos Estados Unidos, que finalmente permitiu à Força Administrativa de Narcóticos indiciá-lo por tráfico de drogas, depois de décadas permitindo que as suas operações de drogas continuassem irreprimidas.

A Operação Justa Causa, cujo objectivo aparente era capturar Noriega, matou muitos civis panamianos, mas não conseguiu capturar Noriega, que encontrou asilo no Núncio Apostólico, e mais tarde, se entregou às autoridades dos Estados Unidos em Miami, onde foi condenado a 45 anos de prisão. A sentença de prisão de Noriega foi reduzida de 30 anos para 17 anos por bom comportamento.
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Depois de cumprir 17 anos em detenção e prisão, sua pena de prisão terminou em 9 de Setembro de 2007. Foi mantido sob custódia dos Estados Unidos antes de ser extraditado para a custódia francesa, onde foi condenado a sete anos por lavagem de dinheiro de cartéis de drogas colombianos.

Caso da Guarda Nacional da Venezuela

A CIA, apesar das objecções da Força Administrativa de Narcóticos (Drug Enforcement Administration), permitiu que pelo menos, uma tonelada de cocaína quase pura fosse enviada ao Aeroporto Internacional de Miami. A agência alegou ter feito isso como uma maneira de reunir informações sobre os cartéis de drogas colombianos. Mas a cocaína acabou sendo vendida nas ruas. Em Novembro de 1993, o ex-chefe da DEA, Robert C. Bonner apareceu no programa "60 Minutes" e criticou a CIA por permitir que toneladas de cocaína pura fosse contrabandeada para os E.U.A. via Venezuela sem primeiro notificar e garantir a aprovação da DEA.

Em Novembro de 1996, um júri de Miami indiciou o ex-chefe do antinarcóticos venezuelano e activo de longa data da agência, o general Ramón Guillén Dávila, que estava contrabandeando muitas toneladas de cocaína para os Estados Unidos a partir de um armazém venezuelano de propriedade da CIA. Na sua defesa no julgamento, Guillen alegou que todas as suas operações de tráfico de drogas foram aprovadas pela CIA.

Fonte: Wikipédia.
 
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Presidentes dos Estados Unidos envolvidos com Criminosos

Não é novidade que alguns presidentes dos Estados Unidos da América tiveram ligações de uma maneira ou outra, com organizações criminosas.
Podemos citar os seguintes presidentes:
- A administração de Ulisses Grant (1869-1877) viu-se envolvida em repetidos escândalos com vários barões ladrões. Foi a idade de ouro da corrupção.
- William McKinley (1897-1901) foi a figura de proa escolhida a dedo de uma máquina corrupta.
- Franklin Roosevelt (1933-1945), apesar de ser um dos melhores presidentes dos Estados Unidos, acolheu representações de organizações criminosas na convenção que pela primeira vez o nomeou para a presidência em 1932.
- Harry Truman (1945-1953) foi uma criação do patrão do Missouri, Tom Pendergast, cujo Procurador-Geral aceitou subornos para libertar da prisão, antes do prazo, mafiosos de Chicago.
- John Fitzgerald Kennedy (1961-1963) foi eleito presidente depois de o seu pai, um antigo contrabandista de bebidas alcoólicas durante a Lei Seca, ter trocado promessas de imunidade jurídica pela ajuda do submundo durante as eleições.
- Lyndon Johnson (1963-1969) rodeou-se de corruptos com ligações à Máfia Americana.
- Richard Nixon (1969-1974) aceitou donativos de organizações criminosas durante décadas, antes de se tornar presidente dos Estados Unidos, e depois declarou guerra ao crime organizado, ao mesmo tempo que libertava da prisão vários mafiosos de alto gabarito.
- Ronald Reagan (1981-1989) e George W. Bush (1989-1993) aliaram-se ao Sindicato dos Camionistas, controlado pela Máfia Americana.
Cada um deles declarou guerra às drogas e depois fez cortes no financiamento das agências responsáveis pela interdição das drogas. Bill Clinton (1993-2001) deixou um rasto de rumores de fraudes desde o Arkansas até Washington. Entre os amigos mais próximos de George W. Bush (2001-2009) conta-se o CEO da Enron, enquanto o seu vice-presidente Dick Cheney puxou os cordelinhos para enriquecer a Halliburton Corporation. Hoje em dia, as linhas de separação entre o Supramundo e o submundo desvaneceram-se ao ponto de os seus limites se terem tornado difusos. O crime organizado poderia ser varrido da noite para o dia, se não fosse protegido por uma legião de polícias, procuradores de justiça, juízes, legisladores e executivos corruptos.
 

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Sociedades Secretas Criminosas

É possível que as primeiras sociedades secretas criminosas tenham surgido na Antiguidade, quando um grupo de salteadores se juntavam para assaltar os viajantes azarados. O segredo da sua identidade era também importante, mesmo o seu estilo de vida, de forma a não levantar suspeitas. Outro segredo mais importante ainda era as redes de comunicação entre eles. Assim, as sociedades criminosas criaram sistemas que garantem o seu bom funcionamento, baseado na sua identidade e actividades secretas.
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Por vezes, os seus membros baseiam-se no código de honra, comprometendo-se a proteger a sua organização e o seu chefe. Há ainda um domínio no qual se exerce o segredo: os ritos. O crime organizado por não ser uma actividade inofensiva exige da parte dos membros compromisso e silêncio. A cerimónia iniciática exige assim, o silêncio sobre todas as actividades da organização, às quais estará ligado o iniciado.
 

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Ordem dos Assassinos

A Ordem de Assassinos foi uma seita fundada no século XI por Hassan ibn Sabbah, conhecido como "O Velho da Montanha". Seu fundador criou a seita com o objectivo de difundir uma nova corrente do Ismaelismo, que ele mesmo havia criado. O ismaelismo é uma das correntes do esoterismo islâmico, que se enquadra no Islão Xiita. A sede da Ordem dos Assassinos era numa fortaleza situada na região de Alamut, no Irão.
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A fama do grupo se alastrou até ao mundo cristão, que ficou surpreendido com a fidelidade de seus membros, mais até que com sua ferocidade. Seu líder possuía cerca de 60.000 seguidores, segundo alguns relatos da época. Para Bernard Lewis, autor do livro "Os Assassinos", haveria um evidente paralelo entre essa seita e o comportamento extremista islâmico, assim como o ataque suicida como demonstração de fé.

Do alto de sua fortaleza na montanha, Hassan conduziu uma forte campanha contra os senhores de outras facções na Pérsia, Iraque e Síria.
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Ruínas da Fortaleza de Alamut, no Irão.

Alamut era acessível através de um único caminho quase vertical, o que fazia da montanha parte natural de sua defesa. Quando em 1090 Hassan tomou o castelo ele foi rebaptizado como "Abadia da Fortuna". A sua organização tinha como marca o uso de veneno e adagas para o cometimento de assassinatos. De 1090 a 1256, os Assassinos destronaram quase todos que se opuseram a eles: Emires, governantes de cidades, comandantes de fortalezas e até religiosos notórios. Hassan treinou e organizou um bando de destemidos assassinos políticos como jamais se havia visto. Certa vez, durante a visita de um emir, querendo demonstrar a lealdade de seus homens, Hassan pediu que um de seus homens se suicidasse como prova de lealdade, e a ordem foi cumprida imediatamente na frente de todos.

A origem do nome Assassino

O termo Assassino viria de "Assass", ou seja, "os fundamentos" da fé islâmica. Mas muitas são as versões sobre essa nomenclatura, como nome da seita teria dado origem às palavras "assassino" e outras semelhantes em várias línguas europeias.

Desde Marco Polo que se acredita que o termo provém de "haxixe" ou que o nome da erva haxixe tem origem no ato de "haschichiyun", que significa "fumador de haxixe". Algumas fontes cristãs medievais relatam que os Assassinos teriam por hábito consumir haxixe antes de perpetrarem os seus ataques, induzindo-lhes a visão do Paraíso. Contudo, as fontes ismaelitas não fazem referência a qualquer prática deste tipo, sendo esta lenda resultado de relatos de Marco Polo e de outros viajantes europeus no Médio Oriente.

De acordo com textos que chegaram até nós a partir de Alamut, Hassan-i Sabbah gostava de chamar seus discípulos de Asasiyun, ou seja, pessoas que são fiéis à Asas, que significa "fundação" da fé. Esta é a palavra, mal compreendida pelos viajantes estrangeiros, que parecia semelhante ao haxixe.

O método dos Assassinos

Apesar de andarem uniformizados na fortaleza de Alamut com trajes brancos e um cordão vermelho em volta da cintura, quando recebiam uma missão, camuflavam-se. Preferiam se misturar aos mendigos das cidades da Síria, da Mesopotâmia, do Egipto e da Palestina para não despertarem a atenção. No meio da multidão urbana, eles levavam uma vida comum para não atrair suspeitas, até que um emissário lhes trazia a ordem para atacar. Geralmente, eles aproximavam-se da sua vítima em número de três. Se por acaso dois punhais, lâminas ocultas nas mangas ou espadas fracassassem, haveria ainda um terceiro a completar o serviço.
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Actuavam em qualquer lugar, nos mercados, nas ruas estreitas, dentro dos palácios e até mesmo no silêncio das mesquitas, lugar por eles escolhido em razão das vítimas estarem ali entregues à oração e com a guarda relaxada. Até o grande sultão Saladino, seu inimigo de morte, eles chegaram a assustar, deixando um punhal com um bilhete ameaçador em cima da sua alcova.

Origens da Ordem dos Assassinos

Os Assassinos resultaram de uma disputa sucessória no Califado Fatímida, uma dinastia xiita que governou o Norte de África e o Egipto nos séculos X e XI. Após a morte do califa fatímida al-Mustansir em 1094, Hassan ibn Sabbah recusou-se a reconhecer o novo califa, al-Musta'li, decidindo apoiar o irmão mais velho deste, Nizar.
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Em 1090, Hassan e os seus partidários já tinham capturado a fortaleza de Alamut, situada perto da actual cidade iraniana de Teerão. Esta fortaleza serviu como centro de operações, a partir da qual Hassan comandava a realização de ataques nos territórios que são hoje o Iraque e o Irão. A partir do século XII, os Assassinos começam a atacar a Síria, tendo tomado vários castelos situados nas montanhas de An-Nusayriyah. Um desses castelos foi Masyaf, a partir do qual Rashid ad-Din as-Sinan governou de forma praticamente independente em relação a Alamut. Após a destruição da base de Alamut em 1256, os Hassins sobreviventes se refugiaram na Europa, e mantendo-se ocultos, puderam manter viva a ordem.

Há vestígios de que os Hassins tenham actuado em várias guerras, sendo peça chave em grandes vitórias, como na conquista de Constantinopla em 1453. O sultão Maomé II teria contratado assassinos para se infiltrarem e se misturarem com o povo em Constantinopla colhendo informações, espalhando boatos falsos e assassinando os principais comandantes. Há indícios de que eram apenas cinco homens e uma mulher liderados por Hassan Abn Sur. Um ismaelita por influência de seu pai, mas que também tinha nas suas veias o sangue latino de sua mãe, e ainda era noivo de uma europeia, Sophie Chermont, sendo muita vezes questionado por seus seguidores.
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A série de jogos de videogame "Assassin's Creed" é baseada nesta ordem, porém o jogo trata de factores não ligados aos Assassinos, como luta por liberdade, justiça ou vingança, o que não ocorria na ordem, visto que não lhes era permitido guardar rancores ou demonstrar emoções e apenas matavam se lhes fosse pago.
 

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Ninjas: Guerreiros da Sombra

O ninja era um agente secreto do Japão feudal especializado em artes de guerra não ortodoxas. As funções do ninja incluíam espionagem, sabotagem, infiltração e assassinato, assim como combate aberto em determinadas situações.
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Na sua obra "Buke Myōmokushō", o historiador militar Hanawa Hokinoichi escreve sobre o ninja: «Eles viajavam disfarçados para outros territórios, para avaliar a situação do inimigo, teriam de achar o seu caminho no meio do inimigo para descobrir as falhas, e invadir castelos inimigos para incendiá-los, e realizar assassinatos, chegando em segredo».

Os ninjas eram uma classe de combatentes comparáveis aos samurais, mas com origens, funcionamento e técnicas muito mais ocultas. Aparecem pela primeira vez no fim do período de Heian, no século XII, durante a Idade Média Japonesa. A origem do ninja é obscura e difícil de determinar, mas no entanto, os antecedentes dos ninjas podem ter existido tão cedo quanto o período Heian e no início da era Kamakura. Existem poucos registos escritos sobre as suas actividades. A palavra "jounin" não existia para descrever um ninja como agente até ao século XV, e é improvável que os espiões e mercenários antes dessa época fossem vistos como um grupo especializado. Na agitação do período Sengoku (séculos XV-XVII), mercenários e espiões contratados surgiram das regiões de Iga e Koga no Japão, e é a partir desses clãs que muito do conhecimento posterior sobre o ninja é referido.

Após a unificação do Japão sob o xogunato Tokugawa, os ninjas caíram novamente no esquecimento. No entanto, nos séculos XVII e XVIII, manuais como o Bansenshukai (1676), muitas vezes centrados em torno da filosofia militar da China, apareceram em número significativo. Estes escritos revelaram uma variedade de filosofias, crenças religiosas, a sua aplicação na guerra, bem como as técnicas de espionagem que formam a base da arte ninja. As palavras Ninjutsu e Ninjitsu mais tarde viriam a descrever uma grande variedade de práticas relacionadas com os ninjas. De acordo com certos relatos, os ninjas descenderiam directamente do último herdeiro da dinastia Qinm derrubada em 206 A.C. Instalaram-se a sul de Quioto, e aí no isolamento das montanhas escarpadas de Iga teriam fundado o clã dos Hattori, no seio do qual os segredos da arte ninja se transmitiam de geração em geração.

A arte de ser um Ninja

Tornar-se ninja não era tarefa fácil. Desde os 5 ou 6 anos de idade, as crianças eram submetidas a uma preparação física e psicológica desgastante. O jovem ninja aprendia a dominar o corpo, tornando-o leve e flexível, através da prática assídua de exercícios completos. Exercia-se a resistência, devia ser capaz de nadar sem respirar durante longos minutos, ser ágil, leve e rápido. Devia também aprender a suportar a dor, a falta de sono, a fome e as temperaturas extremas. A arte da dissumulação era uma especialidade dos ninjas: vestidos com os disfarces mais variados, deviam ser capazes de se introduzir em qualquer casa inimiga. De noite, vestiam-se com um fato negro.
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Os ninjas tinham à sua disposição armas de todo o tipo, mas temíveis e eficazes. Aos
clássicos punhos e sabres, acrescentavam veneno, «shûko» (garras de ferro), «shuriken»
(estrelas cortantes com 4, 6, 8 ou 10 pontas).
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Para escalar os muros ou as encostas escarpadas, auxiliavam-se do «shinobi kumade», feito de corda e de bambu, sustentado por um forte gancho.
Finalmente, para proteger uma eventual fuga, utilizavam os «makibisi» (pregos com várias pontas que trespassavam as sandálias dos adversários).

Uma vez acabada a aprendizagem, os ninjas deviam submeter-se a uma rígida hierarquia em três graus:
- O primeiro, os «Jõnin», era composto pelos elementos mais experientes, encarregados de conceber os planos de acção.
- O segundo, os «Chûnin», preparava as intervenções.
- O terceiro, os «genin», executantes mais ou menos experimentados.

Missões dos Ninjas na História

Os ninjas foram inicialmente utilizados como espiões e assassinos pelos «Daimyo» (senhores feudais do Japão). Durante a era Sengoku (1467-1600), o Japão dividiu-se em clãs rivais, cujos senhores se entregaram a guerras sem piedade. Nessas lutas feudais, os ninjas são preciosos auxiliares, recrutados por uns ou por outros, para descobrir os planos e os objectivos do inimigo, ou mesmo assassina-lo pura e simplesmente.

A sua aparência modesta distinguia-os dos samurais e dava-lhes uma outra utilidade, louvada pelo estratega Sun Tzu na obra "Arte da Guerra": «Como espiões voadores, devemos recrutar homens inteligentes, mas que têm um ar estúpido e homens arrojados em oposição ao ar inofensivo deles. Um exército sem agentes secretos é exactamente como um homem sem olhos, nem orelhas».
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A partir do século XVI, o regresso à estabilidade deixa os ninjas sem emprego. Tornaram-se então bandidos e assassinos temíveis, de modo que em 1581, a região de Iga passou a ser controlada pelo grupo. Foram necessários 46.000 homens para derrotar apenas 4000 ninjas, que só sobreviveram apenas na lenda.

Iga: Berço dos Primeiros Ninjas

A cidade de Iga situada no centro da Península de Kili, tem hoje um museu dedicado aos primeiros ninjas, retractando a sua gloriosa história.
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A colecção do museu inclui escritos do Ninjutsu antigos analisados ​​cientificamente juntamente com as armas Ninjutsu antigas.
O museu tem audiovisuais, modelos e exposições estáticas extensas do armamento e técnicas empregadas por ninjas.
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Existem mais de 400 ferramentas ninja em exposição, incluindo shuriken utilizada na época do ninja. O museu também apresenta um modelo de aldeia, com passeios e demonstrações de suas características. Há também uma versão virtual do museu em Second Life.
 
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História incrível de Hiroo Onoda

Hiroo Onoda (1922-2014), segundo tenente do exército imperial durante a última guerra mundial, pode-se considerar um perfeito ninja dos tempos modernos. Agente secreto formado na escola de Nakatono, Onoda aliava uma completa mestria do Ninjutsu a conhecimentos específicos em psicologia, criminologia, telecomunicações ou ainda métodos de descodificação sofisticados.
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Hiroo Onoda (1922-2014), segundo tenente do Exército
Imperial Japonês.

Enviado em missão secreta para a ilha Lupang, nas Filipinas, em Dezembro de 1944, fica a aguardar uma ordem oficial até 1974. Repatriado sob o olhar atento das autoridades, o seu primeiro gesto foi recolher-se sobre as campas dos companheiros de combate enterrados no Japão.

Hiroo Onoda tinha 20 anos quando se alistou. Foi treinado como oficial dos serviços secretos, o que certamente não o ajudou a convencer que a guerra tinha terminado. Em Dezembro de 1944 foi enviado à ilha Lubang, nas Filipinas, com ordens para fazer todo o possível para evitar sua queda em mãos inimigas. Onoda não devia sob nenhuma circunstância se render, nem se suicidar. Quando as tropas americanas desembarcaram, o tenente Onoda e outros três soldados se refugiaram nas montanhas e começaram sua resistência pessoal. Várias vezes Onoda e seus três soldados tiveram notícias de que a guerra tinha terminado, mas não acreditavam. Liam e reliam folhetos que relatavam a rendição japonesa e acabaram concluindo que se tratava de falsidades da propaganda inimiga. Um dos soldados se rendeu em 1950 e os outros dois foram mortos em confrontos com moradores ou com a polícia filipina. Em 1972 Onoda ficou sozinho.

Onoda disse que não se renderia até que recebesse a ordem de seu oficial superior. Assim, o governo japonês localizou o major Taniguchi e o enviou a Lubang, onde em 9 de Março de 1974 Onoda finalmente se rendeu, depondo sua espada e seu rifle de ferrolho Arisaka, a arma padrão do Exército japonês, que conservava em perfeito estado de revista.
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Arisaka tipo 99, arma padrão do Exército Japonês, durante Segunda
Guerra Mundial. Foi fabricada entre 1939 e 1945 nos arsenais de
Tóquio e Nagoya.
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Magro, marcial e orgulhoso, Onoda voltou ao Japão e foi recebido como um herói (e recebeu todos os pagamentos em atraso). Foi o último dos soldados japoneses encontrados ainda em serviço (embora ainda continue havendo registos de rumores de outras pessoas que podem ter sido ainda mais teimosas do que ele). Na realidade, Onoda não foi o último.

O soldado Teruo Nakamura ganhou por alguns meses. Ele foi recuperado na ilha indonésia de Morotai em 18 de Dezembro 1974. Mas Nakamura, embora alistado no Exército Imperial, nasceu em Taiwan, na China, e era membro do povo Amis, por isso os japoneses costumavam não considerá-lo. Além disso, não era oficial.
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Teruo Nakamura nasceu em Taiwan, em 1919. Foi soldado do Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial, e só se rendeu em 1974. Recrutado pela unidade de voluntários de Takasago do Exército Império Japonês em 1943, quando ele tinha 24 anos de idade, foi enviado para Morotai, uma ilha da Indonésia, pouco antes de ser invadida pelas tropas americanas, em Setembro de 1944, na Batalha de Morotai. Nakamura foi declarado morto em Março de 1945.

Onoda, perdoado pelo presidente Marcos das Filipinas pelo deslize de ter matado alguns civis após o termo da guerra, não se sentia confortável no Japão moderno e imigrou para o Brasil, onde se dedicou à criação de gado. Posteriormente, ele voltou ao seu país e criou escolas de natureza para jovens. Tinha experiência, sem dúvida: sua estada em Lubang é um excelente exemplo das primeiras técnicas de sobrevivência. Onoda alimentava-se principalmente de bananas cozidas e de cocos, além do arroz que podia roubar das populações vizinhas. De vez em quando caçava uma vaca e secava a carne. Manteve seu boné e uniforme com remendos, e fabricava sandálias. Curiosamente conservou uma saúde quase perfeita. Só teve que ficar de cama uma vez em 30 anos. Escovava meticulosamente os dentes e não perdeu nenhum deles.
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Hiroo Onoda, o militar que não depôs suas armas até se render 30 anos depois de a guerra ter terminado, morreu em Tóquio, no Japão, no dia 17 de Janeiro de 2014, aos 91 anos de idade. Para os admiradores do "Espírito Ninja", Hiroo Onoda é sem dúvida uma perfeita reincarnação do ninja, simultaneamente agente secreto capaz de sobreviver em condições extremas e homem de honra.
 
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O Processo dos Coquillards

Conhecidos por assassinos, bandidos e moedeiros falsos, os Coquillards alimentaram os jornais na Borgonha do século XV, tornando-se uma das sociedades criminosas mais importantes da Idade Média.
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Em 1454, inicia-se em Dijon, na França, um processo inédito contra a seita da Coquile (Conchas), um grupo de ladrões e salteadores. Alguns meses antes, no surgimento de uma investigação policial, foi descoberto um atelier onde se fazia moeda falsa. Rapidamente, as suspeitas viraram-se sobre um grupo de companheiros, ociosos e vagabundos, que nada faziam, senão beber e gastar dinheiro, jogar aos dados e às cartas.
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O procurador encarregado da investigação, Jean Rabustel, descobre que alguns cidadãos de Dijon protegem a associação suspeita e beneficiariam da sua generosidade. Jacquot de la Mer, um sargento, que tem uma casa de prostituição (que alguns membros frequentam), é denunciado por uma das raparigas que lá trabalha. Ela afirma que Jacquot de la Mer estava todos os dias com esse grupo, e conhecia os segredos da organização. Outro suspeito, o barbeiro da cidade, confessa que alguns homens do grupo vieram frequentemente à sua casa para cortar o cabelo, e assim tomou conhecimento dos projectos malévolos. Graças ao seu testemunho, Rabustel faz várias detenções de homens desse grupo, obtendo confissões. Estes reconheceram pertencer a uma confraria, cujos membros se chamam entre si "Coquillards" ou "Companheiros da Coquille", designação cujos segredos nunca se conseguiu desvendar.

A confraria é desmascarada, e rapidamente os coquillards confessam vender moedas falsas. Na época, era considerado um crime gravíssimo. A sociedade era muito hierarquizada: à cabeça está o Rei dos Coquille que dirige os companheiros, divididos em Mestres e Aprendizes. A seita da Coquille constitui uma corporação do crime: carregadores de bugigangas, arcas e cofres, estão junto de assaltantes das florestas e dos caminhos, ladrões e assassinos, enquanto outros se especializam nos jogos de cartas e de dados ou ainda na fabricação da falsa moeda ou falsas pedras preciosas de diamantes, rubis, etc.

Quanto à origem destes homens, é atribuída aos tumultos da Guerra dos 100 anos. Durante os longos períodos deste conflito, uma parte das tropas compostas por mercenários, estabeleciam-se nos locais para os quais a guerra a levara e transformavam-se muitas vezes em grupos de malfeitores. Os Coquillards não escaparam à regra.

Diferenciam-se pela sua organização especializada e pelo uso de uma linguagem misteriosa que lhe garante a segurança de não serem compreendidos. Compreendemos o calão deles graças ao poeta François Villon, que frequentou a confraria, e provavelmente teria sido membro. O calão misturava palavras francesas fora do seu contexto, com latinas e estrangeiras. Esta linguagem atraía homens vindos de todas as regiões: franceses, espanhóis, picardos, bretões e savões. É difícil saber quantos membros havia: seriam 1000 ou 100, ou apenas 45 homens que o barbeiro identificou formalmente? Nunca se saberá. Sabe-se apenas que 10 foram condenados à morte, enquanto os nomes dos restantes são comunicados a todos os tribunais do reino.

Durante o século XV, outros grupos de ladrões causam estragos, mas nenhuma terá a amplitude da seita da Coquille, cujo nome está para sempre associado ao poeta francês François Villon, que antes de desaparecer misteriosamente em 1463, terá tido oportunidade de deixar um testemunho marcante.
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François Villon, pseudónimo de François de Montcorbier
ou François des Loges (1431-1463), foi um dos maiores
poetas franceses da Idade Média. Ladrão, boémio e ébrio,
é considerado precursor dos poetas malditos do romantismo.
 

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Os Thugs: Partidários da Deusa Kali

A história desta seita fascinante remonta ao século XIII. O termo Thugs que os designa deriva do sânscrito que significa «enganar» ou «roubar». Alguns séculos depois, o viajante francês Jean de Thévenot designa-os de verdadeiros assassinos, referindo-os como os mais hábeis ladrões do mundo. Têm por hábito usar um laço com nó corredio que mandam tão subtilmente para o pescoço de um homem ao seu alcance que nunca falham.

A lenda que deu origem aos Thugs

Estranguladores manhosos, os Thugs servem a Deusa negra da destruição, Kali. Esta Deusa teria declarado guerra contra um demónio feroz que cortara em duas golpadas de espada. Mas cada gota do seu sangue deu lugar a um novo inimigo. Apercebendo do erro, Kali criou os Thugs a partir de pérolas de suor. A fim de não cometer o mesmo erro, pede-lhes para estrangular os demónios sem entornar sangue. É assim que, ajudada pelos Thugs, a Deusa Kali triunfou sobre o exército infernal. No final da luta, pede aos seus novos servidores que continuem a sua obra de destruição na terra.

Matadores impiedosos

No século XIX, a Índia estava nas mãos dos britânicos, e nessa época ouve-se falar dos Thugs e das suas mortes bárbaras, transmitidos por emissários, criando o espanto e o receio. Os Thugs para se aproximar da sua vítima, usava os seguintes métodos: juntavam-se em grupos, conquistando a amizade dos viajantes, especialmente dos ricos. Quando o momento surge, estrangulam a presa pelas costas, com a ajuda de um pedaço de tecido com um nó corrediço, o «roomal».
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Esta foto mostra um grupo de Thugs em 1894.

Fiéis ao seu nome, usando astúcia e dissimulação, enganam as vítimas com a finalidade de as despojar dos seus bens em honra de Kali. Após os crimes, realizam cerimónias chamadas «tuponee», durante as quais comem açúcar amarelo, considerado um alimento sagrado, rezando à Deusa Kali, e por vezes, sacrificando-lhe um carneiro.
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Deusa Kali ou Cali, uma das divindades mais respeitadas do hinduísmo. É considerada uma manifestação da deusa Parvati, a esposa de Xiva.
Aprecia sacrifícios sangrentos e é representada manchada de sangue, com cobras e um colar de crânios de seus filhos.

Por outro lado, afirma-se que os Thugs fazem desaparecer todos os vestígios do morto, mutilando-o selvaticamente com os seus machetes, antes de os enterrar cuidadosamente. Os Thugs apenas atacam os homens; excluem as mulheres e as crianças que por vezes, até adoptam. Quanto aos britânicos, evitam-nos com medo das represálias.

Iniciação de um jovem Thug

Tornar-se Thung implica uma iniciação. O jovem que queira juntar-se à seita deve previamente ser aceite pelo grupo, que lhe marca um encontro nocturno. A cerimónia começa com uma purificação, a que sucede a entrega de roupas novas. Depois, são confiados ao noviço o «roomal» e a catana. Por fim, o padre da Deusa Kali dá-lhe um pedaço de açúcar consagrado, o «goor», enquanto implora à Deusa Kali que acolhe o novo fiel, dirigindo-lhe um sinal. Geralmente, basta para manifestar o consentimento desta, o voo de um pássaro ou o grito de um animal. O jovem Thung pode então começar a servir como auxiliar: vigia e imobiliza as vítimas, até ao dia onde lhe confiarão a tarefa de os assassinar.

O fim dos Thungs

Em 1828, o coronel William Sleeman (1788-1856), nomeado administrador do distrito de Jabalpur, na Índia Central, será o responsável pelo fim dos Thugs.
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Coronel William Sleeman (1788-1856).

Convencido de que a seita está espalhada pela Índia e que é responsável por todos os desaparecimentos que lhe comunicam, consegue persuadir Londres dos riscos que a seita representa para a colónia britânica. Encarregado de dar um fim aos Thugs, o coronel Sleeman lança uma gigantesca investigação policial. Capturas, prisões e confissões sucedem-se. Muitos são condenados à morte. As autoridades britânicas surpreendem-se com a coragem dos Thugs que, no momento da morte, passam a corda pelo pescoço para simbolizar que eles próprios se estrangulam, segundo o seu ritual. Em 1853, o coronal Sleeman gaba-se de ter acabado com esta seita sinistra criminosa. Mas os historiadores interrogam se muitas dessas vítimas não seriam apenas vulgares assassinos que assaltavam os viajantes? A resposta é difícil, mas apesar de muitos Thugs terem sido mortos, será que ainda existe alguns descendentes? Os Thugs ainda hoje nos fascina.
 

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A Sociedade dos Homens-Leopardos

A África Negra sempre transbordou de sociedades secretas. De entre as mais célebres, as dos Homens-Leopardos, fez durante muito tempo, reinar o terror, do golfo da Guiné até ao antigo Congo Belga.
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Em Dezembro de 1933, um administrador territorial belga atravessa a cidade de Kitobi, onde se chora um defunto de uma maneira que o intriga. Quando ele entra na câmara do morto, constata que o corpo está entalhado de numerosas e profundas feridas, devido a instrumentos cortantes. Mal se chama a atenção para o caso, começa uma gigantesca vaga de crimes selvagens na província. Dezenas de corpos são encontrados dilacerados e atrozmente mutilados.
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As autoridades belgas levam a cabo o inquérito nas piores condições: as populações locais aterrorizadas, recusam a colaborar, temendo sofrer represálias sangrentas. No entanto, após meses de esforços, os suspeitos são apanhados. A hecatombe terá durado aproximadamente um ano. As forças policiais e os magistrados descobrem uma África que desconheciam totalmente: a das sociedades secretas.

Vingança e Iniciação

Os massacres de 1933-1934 estão relacionados com a rivalidade entre duas populações: os Bapkombe e os Wanande, os primeiros acusam os segundos de invadir o seu território.


A investigação permitiu aos belgas aprender mais sobre os homens-leopardos. Esta sociedade criminosa tem as suas origens numa seita iniciática existente, não só nos Bapkombe, mas também no grande número de tribos, que ainda vive no Congo, no Sudeste e na Guiné, no Noroeste. Nos clãs Bapkombe, a iniciação tinha lugar alguns dias após a circuncisão dos jovens. Durante a cerimónia, os padres designam aqueles que poderiam tornar-se Wahokohoko. Estes últimos anunciavam à família que eles tinham de partir para uma longa viagem. Na realidade, os padres da seita juntavam-nos na floresta, longe da aldeia. Aí, durante meses, os futuros adeptos eram submetidos a um rude tratamento: regularmente espancados deviam treinar-se para levantar troncos pesados de árvores, correr e saltar de uma cabana para outra sob uma chuva de zagaias. Aprendiam também a manejar todo o tipo de armas. Depois vinha o dia em que era necessário que provassem a sua coragem ao matar a sangue frio. A primeira vítima era muitas vezes, uma mulher ou uma criança. Se conseguissem cumprir todas as provas, davam-lhes a máscara em casca batida sarapintada, que os tornava parecidos às feras, e eram admitidos na sociedade dos homens-leopardos. No momento de cometer os crimes, colocavam a máscara, armavam-se de garras em ferro e pintavam o corpo ou vestiam uma pele de leopardo.

Os Homens-Caimões

Outra sociedade secreta criminosa da África negra, os homens-caimões, estava sobretudo presente nas antigas colónias africanas francesas, em particular na Costa do Marfim.


Tal como os homens-leopardos, matavam para se vingar. No entanto, esta seita distinguia-se das outras ao conferir uma dimensão ritual e mágica a cada um dos crimes. Com efeito, revestidos de uma vestimenta em pele de caimão, transportando uma cobertura constituída pela cabeça do animal, armados de garras, os membros matavam homens ou mulheres para lhes retirar certos órgãos, como o coração, os pulmões, o cérebro, com os quais os feiticeiros fabricavam poções que tinham alegadamente virtudes medicinais.

Em 1945, um tribunal do Congo desmascarou membros da seita, que reconheceram os seus crimes. Para além da preparação de drogas, desejavam conciliar-se com os espíritos dos mortos para se tornarem mais poderosos. Todavia, apesar das confissões dos que caíram nas mãos da polícia, as populações locais ficarão durante muito tempo, persuadidas de que os feiticeiros têm efectivamente poder de se transformar em caimão. Na África Negra existe muitas sociedades criminosas: para além dos homens-leopardos e homens-caimões, existem os homens-leões, homens-panteras, etc. Estes grupos representavam o papel de estruturas políticas ou justiceiras, nas mãos dos chefes de clãs ou feiticeiros. Todos os diferendos se resolvem por seu intermédio.
 
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O Império Diabólico do Ku Klux Klan

Nascido no imaginário de alguns oficiais sulistas ociosos, o sinistro Ku Klux Klan, tolerado durante muito tempo, incarna os demónios racistas e homicidas da América branca e puritana.

Na véspera do Natal, dia 24 de Dezembro de 1865, em Pulaski, no Estado do Tennessee, os veteranos James Crowe, Frank McCord, Calvin Jones, John Kennedy, John Lester e Richard Reed, criam uma associação de irmãos de armas cujo nome, em forma de altercação misteriosa, retoma o nome grego «kuklos» (círculo) associado ao latim «lux» (luz). Esta associação recebe o nome de Ku Klux Klan.
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Durante cavalgadas nocturnas, estes homens percorrem a cidade, vestidos com lençóis brancos e máscaras pontiagudas, mostrando apenas os olhos.
O disfarce sugere o regresso dos soldados confederados mortos durante a Guerra da Sucessão.
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Movidos pelo racismo, os cavaleiros-fantasmas tem como objectivo
assustar a população negra, considerados responsáveis pela derrota
dos confederados e pela crise económica que atinge a região do sul.

Rapidamente, as cavalgadas espalham-se pelas cidades de outros Estados: Alabama, Geórgia e Mississípi, hostis ao poder federal dos nortistas responsáveis pela abolição da escravatura. Os clansmen tornam-se cada vez mais agressivos, multiplicando as expedições punitivas, as pilhagens e as vinganças pessoais, em nome da superioridade da raça branca. Em pouco anos, o Império do Ku Klux Klan reúne perto de 500.000 membros, tornando-se difícil controlá-los.

Além de divertirem-se com os aterrorizados negros, esta sinistra associação também atacava brancos que protegiam os negros, principalmente os professores que leccionavam em escolas para negros, temendo que os negros se instruíssem, tornando impossível a volta à escravidão. Além da prática racista, os klanistas faziam visitas surpresas aos negros, obrigando-os a votar nos democratas, acompanhadas de algumas chibatadas.

Em consequência dos excessos, o grupo foi posto na ilegalidade em 1871 pelo então presidente dos Estados Unidos Ulysses Grant. Nesse mesmo ano, o Senado vota uma lei, Anti-Ku Klux Klan Bill que leva o general Nathan B. Forrest, antigo mercador de escravos e Grande Mago do Império dos Fantasmas, a proclamar a dissolução da sua sinistra organização. A Ku Klux Klan é dissolvida, deixando atrás de si, mais ou menos, cerca de 4600 vítimas negras.

O nascimento de uma Nação

Em 1915, o cineasta D. W. Griffith dirigiu um filme intitulado "O nascimento de uma nação", baseado no romance e na peça "The Clansman", ambas de Thomas Dixon, Jr. O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos: os Stonemans, nortistas pró-União e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme.
[video=youtube_share;4PK_g2xh7fQ]http://youtu.be/4PK_g2xh7fQ [/video]
O filme foi um enorme sucesso comercial, mas foi altamente criticado por retractar os afro-americanos
(interpretados por actores brancos com as caras pintadas de negro) como ignorantes e sexualmente
agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan como uma força
heróica. O filme é creditado como um dos responsáveis pelo ressurgimento da Ku Klux Klan.

A segunda ordem nasce então numa noite de Inverno de 1915, nas mãos de um antigo pregador metodista, o reverendo William Joseph Simmons, em Atlanta. Motivados pela película, vários racistas se reuniram e retomaram a seita, usando todos os meios para atiçar o ódio contra os negros, fustigando os judeus, os católicos, os pacifistas ou os bolchevistas, assim como os sindicatos e todos cuja moral lhes parece ímpia. Uns são considerados responsáveis pela corrupção dos costumes, outros são suspeitos, a começar pelo Papa, de querer comandar o país.
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Este grupo foi criado como uma organização fraternal e lutou pelo domínio dos brancos protestantes sobre os negros, católicos, judeus e asiáticos, assim como outros imigrantes. Este grupo ficou famoso pelos linchamentos e outras actividades violentas contra seus inimigos. Chegou a ter 4 milhões de membros (outros dizem serem 5 milhões) na década de 1920, incluindo muitos políticos. O Ku Klux Klan torna-se então, numa enorme máquina financeira que enriquece os dirigentes. A partir do palácio imperial de Atlanta, o Imperador e os seus comparsas orquestram a repartição das quotas: em cada 10 dólares, 4 dólares vão para o recrutador, 6 dólares para o Klan. Em poucos anos, só as despesas de propaganda atingem 35 milhões de dólares.
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Marcha de integrantes da Ku Klux Klan em Washington, DC em 1928.

Pouco a pouco, a implementação política do klan ganha terreno: 11 governadores e vários senadores são iniciados.
Novamente instalada em Washington, a organização faz uma demonstração de força ao fazer desfilar 30.000 cavaleiros nas ruas da capital federal.

Uma organização esotérica-sectária

A organização Ku Kux Klan baseia-se num programa que era acompanhado de um ritual que mistura a iniciação cavaleiresca, religião e o esoterismo barato. A direcção da Ordem pertence ao Feiticeiro Imperial ou ao Imperador, apoiado pelo Klonvocatória Imperial, composta pelos kloppers. Cada Estado é governado por um Grande Dragão; cada distrito por um Grande Tirano; cada província por um Grande Gigante. Juntam-se-lhe os graus de Ciclope, Fúria e Vampiro. Uma linguagem secreta une os iniciados: os dias e os meses são baptizados de Mortal, Tenebroso, Terrível, Furioso. Os Clansmen reúnem-se em Covis ou Cavernas, onde preparam as investidas sangrentas, vestidos com os uniformes brancos com uma cruz de Santo André vermelha ao peito.
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Cruz sendo queimada, actividade introduzida por William J. Simmonk, o fundador da segunda
Klan em 1915.

Os candidatos 100% norte-americanos, nascidos nos Estados Unidos, brancos e protestantes, são recebidos de noite, diante de uma cruz alta, incendiada, que ilumina um altar envolto numa bandeira estrelada e sobre o qual estão colocados uma Bíblia aberta e um punhal. Aí, rodeados por uma multidão de homens encapuçados que rezam pela salvação do Imperador, respondem a um questionário para depois prestarem um juramento, no final do qual lhes dizem: «Lembrai-vos sempre de que a fidelidade ao juramento prestado é honra, vida, felicidade, e de que a sua transgressão, pelo contrário, significa vergonha, infelicidade e morte». O Grande Ciclope baptiza-os com um pouco de água vertida sobre a testa e os ombros, pronunciando a seguinte fórmula: «in mind, in body, in sirit and in life». Depois de integrados no grupo dos clansmen, podem desde logo, participar nos crimes dos vingadores de direito.

O fim do Ku Klux Klan

Entretanto, as suas vítimas eram marcadas com três letras K na testa. A perda de respeitabilidade da Ku Klux Klan devido aos métodos brutais, ilegais ou meramente arbitrários, e as execuções sumárias de inocentes, unidas as divisões internas, levou à degradação de seu prestígio, apesar de a organização continuar a realizar expedições punitivas, desempenhando, por exemplo, o papel de supervisora de uma agremiação de patrões contra os sindicalistas, cuja cota estava em alta depois da crise de 1929.

Na década de 1930, o nazismo exerceu uma certa atracção sobre a Ku Klux Klan. Mas na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, os klans cortaram as relações com os alemães. Muitos membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo amarelo". Em 1944, o serviço de contribuições directas cobrou uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o compromisso, a organização morreu pela segunda vez. O clã foi perdendo forças, alguns integrantes foram amadurecendo, e a mentalidade foi mudando até que o clã se desfez novamente. A popularidade do grupo caiu durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, já que os Estados Unidos se posicionaram ao lado dos aliados, que eram contrários às ideias totalitárias, extremistas e racistas, como as nazis.

A tentativa do ressurgimento do Klan

Após a Segunda Guerra Mundial, apesar de ter perdido muitos adeptos, a organização goza de simpatia de muitos americanos cuja xenofobia é reavivada devido à chegada de novos imigrantes. Na década de 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu anticatolicismo fanático. Em 1966, o Klan que conta com perto de 60.000 membros, é finalmente proibido.

A Ku Klux Klan entra para a história negra da América, denunciada em 1989, no filme de Alan Parker, "Mississípi em Chamas, 1964".
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Mississipi, 1964. Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe), dois agentes do
FBI, investigam a morte de três militantes dos direitos civis numa pequena cidade onde a segregação
divide a população em brancos e pretos e a violência contra os negros é uma tónica constante.

Nos dias actuais, alguns racistas ainda se reúnem em grupos, promovendo a superioridade dos arianos. Mas em termos de contingente, não se compara com o auge do clã, no século XIX.
 
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Máfia – A Sociedade de Honra

Conhecida por "Polvo", "Honorável Sociedade", ou ainda "Cosa Nostra", não faltam designações para mais célebre das sociedades criminosas, cujas ramificações são mundiais.

«A Máfia não existe. Não passa de uma invenção puramente literária forjada, ao mesmo tempo, por romancistas, jornalistas, esbirros (polícias), e por todos os que denigrem as nossas actividades. Preferimos usar a expressão "Cosa Nostra"». (Segundo palavras de um padrinho da Máfia)

Origem da Máfia

Não há registos do nascimento da Máfia. Várias fontes publicadas datam a sua criação algures entre o século XIII e meados do século XIX. A tradução do nome é igualmente confusa. Alguns estudiosos insistem em origens linguísticas árabes, mas não chegam a acordo quanto ao significado da raiz; se quer dizer «local de refúgio», «belo», «uma reunião», ou «gabarolice agressiva». Outros defendem que é um anagrama de um grito de batalha italiano contra os invasores franceses, enquanto a primeira entrada no dicionário de 1868 definia Máfia como «as acções, feitos, e palavras de alguém que tenta agir como sábio».

A Máfia fez a primeira aparição nos registos oficiais em 1865, mencionada no relatório do Procurador-Geral de Palermo. Após 11 anos, o deputado italiano Leopoldo Franchetti viajou pela Sicília, e escreveu um relatório explicando o seguinte: «O termo Máfia encontrou uma classe de criminosos violentos aptos e que aguardavam um nome que os definisse, e dado o carácter especial e a importância destes na sociedade siciliana, eles tinham o direito a um nome diferente do utilizado para definir criminosos vulgares noutros países». Muitos sicilianos discordaram, vendo os Mafiosi como homens de honra e respeito que apenas pediam o que lhes era devido para defender uma pátria em luta. Referindo-se a um homem, «mafiusu», no século XIX, significava alguém ambíguo, arrogante, mas destemido; empreendedor e orgulhoso. Em referência a uma mulher, no entanto, a forma feminina do adjectivo «mafiusa» significa bonita e atraente.

A Honorável Sociedade, como se chamou durante muito tempo, nem foi sempre uma internacional do crime. A Máfia nasceu no contexto da unidade italiana quando em 1860, a queda dos Bourbons, que reinavam na ilha durante séculos, fez antever dias melhores aos sicilianos. Mas rapidamente terão de se render à evidência face às medidas do novo governo italiano, que envia funcionários para o Norte e aumenta os impostos. Quando a lei sobre o recrutamento obrigatório é votada, muitos homens refugiam-se no «maquis» (espécie de matagal). O descontentamento generaliza-se, os actos de banditismo aumentam e o poder central fica em breve desamparado. O povo siciliano detesta o governo italiano.

É neste contexto quase anárquico que se organiza um contra-poder oficioso. Baseados em clãs familiares, redes, constituídas essencialmente por personalidades locais importantes, formam paulatinamente um sistema paralelo de autoridade, tornando-se na única garantia da ordem social. Por um lado, as redes canalizam as violências dos saqueadores; por outro, favorecem a eleição dos candidatos do Norte que os clãs apoiam. Sem tardar, esses grupos criam um sistema de extorsão junto das populações, em troca de protecção. Rapidamente, passam a controlar alguns comércios, como o do gelado ou do contrabando de café, e os que tentam resistir-lhes são impiedosamente assassinados, como sucede ao Presidente da Câmara de Palermo em 1893. Assim nasceu a Máfia.

Uma versão conta que a Máfia surgiu no sul da Itália na época Medieval. Seus membros eram lavradores arrendatários de terras pertencentes a poderosos senhores feudais. Mas eles pretendiam dividir essas terras, e para isso, começaram a depredar o gado e as plantações. Quem quisesse evitar esse vandalismo deveria fazer um acordo com a Máfia.

No sul da Itália existem diversas máfias, sendo mais conhecida a Cosa Nostra (em português "nosso assunto" ou "nossa coisa"), de origem siciliana. A Sacra Corona Unita, na Apúlia; a Camorra, na cidade de Nápoles e arredores; e a Ndrangheta, na Calábria.
 
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Cosa Nostra: A Sombra da Máfia

A Cosa Nostra (também conhecida apenas como Máfia) é uma sociedade criminosa secreta que se desenvolveu na primeira metade do século XIX na Sicília, uma ilha a sul da Itália.

De acordo com alguns mafiosos, o verdadeiro nome da Máfia é Cosa nostra (Coisa nossa) que pode ser traduzido como: "Assunto nosso" ou "Nosso assunto". Muitos alegaram que a palavra "mafia" foi uma criação literária. Outros traidores da Máfia, como Antonio Calderone e Salvatore Contorno, disseram a mesma coisa. De acordo com eles o nome verdadeiro era "Cosa nostra". Para os homens de honra pertencentes à organização, não há necessidade de um nome. Os Mafiosos apresentam membros conhecidos a outros membros conhecidos como pertencentes à "cosa nostra" (nossa coisa) ou la stessa cosa (a mesma coisa). Apenas pessoas de fora da Máfia precisam de um nome para descrevê-la, daí a forma em letras maiúsculas "Cosa nostra".
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Cosa nostra foi utilizada pela primeira vez no início dos anos 1960, nos Estados Unidos por Leonardo Marcelo Camargo, um mafioso que se tornou testemunha do Estado, durante as audiências da Comissão McClellan. Naquele momento, foi entendido como um nome próprio, adoptado pelo FBI e divulgado pelos meios de comunicação social. A designação ganhou popularidade e quase substituiu o termo Máfia. O FBI até incluiu um artigo sobre o crime organizado chamando-o de La Cosa Nostra. Na Itália, o artigo 'la' nunca é utilizado quando o termo refere-se à Máfia.

Rituais da Cosa Nostra Siciliana

O ritual de orientação na maioria das famílias acontece quando um homem torna-se um membro e depois soldado:


O novato é trazido à presença de pelo menos, três homens de honra da família e o membro mais velho presente o adverte que "esta Casa" tem como função proteger o fraco do abuso do poderoso; então, fura o dedo do iniciado e pinga seu sangue sobre uma imagem sagrada, geralmente uma santa ou santo. A imagem é colocada na mão do iniciado e é acesa com fogo. O novato deve aguentar a dor, passando a imagem de uma mão para a outra, até a imagem ser consumida por completo, enquanto promete manter fé aos princípios da "Cosa nostra", jurando solenemente "que minha carne queime como este santo se eu falhar em manter meu juramento". Por fim, proclama as três virtudes do irmão da Máfia: «honra, dever e coragem». Ao juramento feito no dia da iniciação, juntam-se-lhes certos valores tradicionais: respeito pela hierarquia, pelo segredo relativamente às actividades do grupo, culto da virilidade, da violência.

Omertà: Lei de Silêncio

Os mafiosos sicilianos também têm uma lei de silêncio, chamada omertà, que proíbe a homens e mulheres de cooperar de qualquer maneira com a polícia ou com o governo, sob pena de morte. Se um dos homens trair a organização é julgado e condenado à morte. Colocam uma pedra sobre a boca do morto para mostrar que se trata de um bufo.

Estrutura Hierárquica da Máfia
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Na original Cosa Nostra siciliana, cada grupo é denominado famiglia ou Cosca. Na Máfia ítalo-americana apenas a primeira denominação é utilizada.
Cada "Família" é organizada da seguinte forma:

No topo da hierarquia está o Capo, conhecido como Don. Por ele passam todas as decisões acerca da família, e para ele devem chegar uma percentagem dos lucros de todas as operações de seus membros.

Logo abaixo do Don, está o Sottocapo (Subchefe). Serve como substituto temporário no caso da ausência do chefe e também como intermediário entre este e os outros membros abaixo na hierarquia.

O Consigliere actua como conselheiro do Don, é o único que de facto pode ponderar as acções do chefe, servindo como uma segunda opinião.
Normalmente é um posto ocupado por alguém de muita experiência e perícia para intermediar conflitos e negociações.

Subordinados directamente ao Subchefe estão os Caporegimes, conhecidos também como Capitães ou erroneamente como Capos (como dito anteriormente, este nome designa o próprio "Don"). Cada um destes comanda um regime ou equipa, que são compostos por soldados e associados. Uma percentagem de todo o lucro obtido por esta equipa é passada directamente ao chefe da família em forma de tributo.

Os Soldatos ou Soldados é o posto básico da hierarquia. São membros efectivos da organização, conhecidos como homens feitos. São eles os responsáveis por conduzir as operações nas ruas e executar os serviços de maior importância. O requisito básico para se tornar um membro efectivo da família é possuir ascendência italiana; Predominante no caso da Máfia ítalo-americana, e completa no caso da Cosa Nostra siciliana.

Os Associados são membros externos da organização. Embora não façam oficialmente parte da Família, actuam como colaboradores de seus membros efectivos. Dependendo de sua influência e poder, o associado pode actuar inclusive junto aos postos mais altos da hierarquia de uma família. Um exemplo real de um influente e poderoso associado foi Meyer Lansky. Caso a origem de um associado seja italiana, este pode vir a ser convidado a tornar-se um soldado.

Os Dez Mandamentos

Em Novembro de 2007, a polícia da Sicília declarou ter encontrado uma lista com dez mandamentos, ou seja, um código de conduta, nos esconderijos do chefão da Máfia Salvatore Lo Piccolo.

Seguem-se os 10 mandamentos da Máfia:
1. Ninguém pode se apresentar directamente a um de nossos amigos. Isso deve ser feito por um terceiro.
2. Nunca olhe para as esposas de seus amigos.
3. Nunca seja visto com polícias.
4. Não vá a bares e boates.
5. Estar sempre à disposição da Cosa Nostra é um dever, mesmo quando sua mulher estiver prestes a dar à luz.
6. Compromissos devem sempre ser honrados.
7. As esposas devem ser tratadas com respeito.
8. Quando lhe for solicitada uma informação, a resposta deve ser a verdade.
9. Não se pode apropriar de dinheiro pertencente a outras famílias ou outros mafiosos.
10. Pessoas que não podem fazer parte da Cosa Nostra: qualquer um que tenha um parente próximo na polícia; qualquer um que tenha um parente infiel na família. Qualquer um que se comporta mal ou que não tenha valores morais.

Os Valores Mafiosos

O juiz Giovanni Falcone comparou uma vez a admissão na Máfia à conversão religiosa: «Nunca se deixa de ser padre. Nem mafioso».
As semelhanças entre a religião e a Máfia não terminam aqui, em grande parte porque muitos homens de honra são crentes:

O chefe de Catânia, Nitto Santapaola, mandou construir um altar e uma pequena capela na sua mansão; uma vez, segundo um mafioso, mandou matar quatro miúdos e atirá-los a um poço por terem assaltado e agredido a mãe dele.

Bernardo Provenzano "O Tractor", comunicava a partir do seu esconderijo através de pequenos bilhetes, alguns que foram interceptados, incluíam palavras como bênção e pedidos de protecção divina: «Pela vontade de Deus quero ser um servo».

Um dos antigos chefes que dirigia um esquadrão da morte, como "Lo Scannacristiani", rezava antes de qualquer operação: «Deus sabe que são eles que querem morrer e que eu não tenho culpa nenhuma».

Sentimentos deste tipo são em parte consequência da tolerância para com a Máfia demonstrada durante muito tempo pela Igreja Católica. Os sacerdotes muitas vezes trataram homens cujo poder se baseava no assassínio regular como se estes fossem pecadores do mesmo calibre que todas as outras pessoas. Ignoraram a influência malévola da Máfia porque esta parecia partilhar dos mesmos valores de deferência, humildade, tradição e família que a própria Igreja. Aceitaram donativos de origem criminosa para procissões e caridade. Permitiram que «cosche» (plural de cosca) se disfarçassem de confrarias religiosas e entregassem à administração fundos para caridade, a dignitários com sangue nas mãos. Alguns padres foram mesmo assassinos. A história das relações da Igreja Católica com a Máfia está cheia deste género de episódios.

Durante décadas, os homens de honra guardaram ciosamente o segredo da cerimónia de iniciação. Supõe-se que esse ritual surgiu no século XIX, quando os Padrinhos não passavam de rendeiros de proprietários de terras e cuja função era manter a ordem, ainda que impiedosamente. Mas tal cerimónia sobreviveu ao êxodo da Cosa Nostra dos campos para a cidade, para alcançar notabilidade nos anos 70. Além dos iniciados, ninguém lhe conhecia os pormenores. Foi preciso esperar pelo princípio dos anos 80 para que os homens de honra se atrevessem a transgredir as proibições e a contar como funcionam as Famílias sicilianas, com risco das suas próprias vidas. Graças a eles, sabe-se agora que este estranho ritual de admissão acontece na Sicília quase todos os dia. Seja em luxuosas moradias, em cabanas miseráveis ou até no interior das prisões estatais italianas, a cerimónia obedece sempre às mesmas regras.
 

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A Origem da Cosa Nostra

O verdadeiro criador da Cosa Nostra foi o italiano Carlo Accappatollo, mais conhecido como Don Carlone. É possível que a Máfia original tenha-se formado como uma sociedade secreta, criada para proteger a população siciliana dos invasores espanhóis no século XV. Mas não existem provas históricas a confirmar esse facto.
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Após a Revolução de 1848 e o Risorgimento, a Sicília caiu em completa desordem. Os primeiros mafiosos, então separados em pequenos grupos de bandidos, ofereceram suas armas à revolta. O autor John Dickie alega que as razões principais para isto foram as oportunidades de queimar arquivos da polícia e provas, e matar polícias e delatores durante o caos. Entretanto, uma vez que um novo governo se estabeleceu em Roma, ficou claro que a Máfia seria incapaz de executar essas acções e esta começou a refinar seus métodos e técnicas ao longo da segunda metade do século XIX. Proteger as grandes plantações de limão e as propriedades se tornou um negócio perigoso, porém lucrativo.

Palermo foi inicialmente o foco principal destas actividades, mas a dominância da Máfia siciliana logo se espalhou pelo oeste da Sicília. Para fortalecer a ligação entre as gangues dispersas e garantir lucros maiores e um ambiente de trabalho mais seguro, é possível que a Máfia como tal tenha-se formado nesta época, por volta da segunda metade do século XIX, e com isso, o neto de Don Carlone, Lucca Nunes, conhecido como Il Costa Brava, por ter morado muito tempo numa praia no sul da Itália, tomou as rédeas da família.

O negócio das laranjas e limões

Os limões foram pela primeira vez valorizados como artigo de exportação no final do século XVIII. Em meados do século XIX, o comércio dos citrinos aumentou na Sicília. Esse aumento de venda dos citrinos deve-se ao modo de vida dos britânicos: a partir de 1795, a Real Marinha Britânica obrigou as suas tripulações a consumir limões como remédio para o escorbuto. O óleo de bergamota, outro citrino, era usado para aromatizar o chá Earl Grey. A produção comercial começou na década de 40 do século XIX.

As laranjas e os limões da Sicília eram enviados para Nova Iorque (E.U.A.) e Londres, na Inglaterra, por via marítima quando eram ainda praticamente desconhecidos nas montanhas do interior siciliano. Em 1834 foram exportados mais de 400.000 caixotes de limões. Em 1850 eram já 750.000. Em meados dos anos 80 do século XIX, chegava a Nova Iorque todos os anos, a espantosa quantidade de 2,5 milhões de caixotes de citrinos italianos, a maior parte da zona de Palermo. Em 1860, calculava-se que os pomares de limoeiros da Sicília fossem a terra agrícola mais lucrativa da Europa, ultrapassando mesmo os pomares dos arredores de Paris.

Em 1876, o cultivo de citrinos rendeu mais de 60 vezes o lucro médio por hectare do resto da ilha. Os pomares de citrinos do século XIX eram empresas modernas que exigiam um investimento inicial muito elevado. Era preciso retirar as pedras dos terrenos e levantar socalcos; construir armazéns e estradas; erguer os muros à volta do terreno para proteger o cultivo contra o vento e os ladrões; fazer canais de irrigação e instalar comportas. Além disso, depois de plantadas as árvores levavam cerca de 8 anos para começar a dar frutos. O lucro chegava vários anos depois disso.

Além de exigirem um grande investimento, os limoeiros são também muito vulneráveis. Mesmo uma pequena interrupção no abastecimento de água pode ter um efeito devastador. O vandalismo exercido sobre as árvores ou o fruto é um risco constante. Foi esta combinação de vulnerabilidade e lucros elevados que criou o ambiente perfeito para os esquemas de extorsão da Máfia. Embora existissem e ainda existem pomares de limoeiros em muitas regiões costeiras da Sicília, a Máfia foi até muito recentemente, um fenómeno sobretudo da Sicília Ocidental. As suas origens estão na zona circundante da cidade de Palermo.
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Baía de Palermo (1861) de Carl Frederik Sørensen
(1818-1879), pintor dinamarquês.

Com perto de 200.000 habitantes em 1861, Palermo era o centro político, jurídico e banqueiro da Sicília Ocidental. Circulava muito dinheiro nos sectores imobiliário e do arrendamento do que em qualquer outro lugar na ilha. Palermo era o centro dos mercados grossista e de consumo, além de ser o porto principal. Era lá que grande parte das terras da província circundante e mais longínqua eram compradas, vendidas e arrendadas. Palermo ditava também a agenda política. A Máfia nasceu não da pobreza e do isolamento, mas do poder e da riqueza.
 

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Dr. Galati: A Primeira Vítima Lucrativa da Máfia!

Foi no cenário destes, nos arredores de Palermo, nos pomares de limoeiros, que a Máfia fez a sua primeira vítima lucrativa: um médico respeitado chamado Dr. Gaspare Galati, administrador (por herança em nome das suas filhas e da sua cunhada) de um pomar de limoeiros e tangerinas de 4 hectares, o "Fondo Riella", em Malaspina, situada perto de Palermo.

O Fondo era uma empresa-modelo: as suas árvores eram regadas por meio de uma moderna bomba a vapor de 3 cv que exigia um operador especializado. Mas quando assumiu a direcção da quinta, Gaspare Galati já sabia que o enorme investimento na empresa se encontrava em perigo. O anterior proprietário, o cunhado do Dr. Galati morrera de um ataque de coração por ter recebido cartas ameaçadoras. O responsável por essas ameaças era o caseiro da quinta, Benedetto Carollo, analfabeto, que mandava alguém escrever. Dr. Galati descrevia esse homem a pavonear-se na quinta como se fosse o dono. Benedetto Carollo recebia 20% a 25% do preço da venda dos limões e tangerinas. Chegava mesmo a roubar carvão destinado à máquina a vapor da quinta.

No início da década de 70 do século XIX, os correctores compraram os direitos sobre os frutos da quinta, e descobriram que os limões e tangerinas que já tinham pago estavam a desaparecer das árvores. A quinta "Fondo Riella" adquiriu uma péssima reputação comercial. Não havia dúvidas que Benedetto Carollo era o responsável pelos roubos, e a sua intenção era fazer descer o valor da empresa para depois poder comprá-la.

Quando assumiu a gerência da quinta, o Dr. Galati arrendou a sua quinta a outra pessoa. Mas Carollo ameaçava os potenciais rendeiros, com as seguintes palavras: «Pelo sangue de Judas, este jardim nunca será arrendado ou vendido». Foi a gota de água para o Dr. Galati que despediu Carollo e contratou um substituto. Estranhamento, alguns amigos do Dr. Galati sugeriram que admitisse Carollo. Mas Galati não aceitou. No dia 2 de Julho de 1874, por volta das 10 horas da manhã, o homem que substituiu Carollo foi baleado várias vezes nas costas no pomar dos limoeiros, da quinta. A vítima faleceu no hospital de Palermo, algumas horas mais tarde. Os atacantes tinham feito uma plataforma de pedras dentro de outro pomar para que pudessem disparar por detrás do muro exterior: método usado nos primeiros atentados da Máfia.

O filho do Dr. Galati apresentou queixa contra Carollo na esquadra da polícia local. Mas o inspector ignorou a pista e deteve dois homens que não tinham ligação com a vítima, e mais tarde foram libertados. Apesar da falta de apoio da polícia, o Dr. Galati contratou outro caseiro. A partir daí, recebeu uma série de cartas ameaçadoras que diziam que o médico fizera mal em despedir um «homem de honra» como Carollo e contratara um «espião abjecto» no seu lugar. Ameaçavam que se o médico não voltasse a empregar Carollo teria o mesmo fim que o seu caseiro, só que de uma forma mais bárbara. Um ano mais tarde, Dr. Galati ficou a saber com quem lidava: «Na linguagem da Máfia, um ladrão e assassino é um «homem de honra»; uma vítima é um «espião abjecto».

Apesar das queixas apresentadas à polícia, o Dr. Galati compreendeu que a recusa do inspector em prender Carollo era por estar ligado à Máfia. Descobriu que a Máfia local tinha a sua base na aldeia vizinha de Uditore e agia a coberto da fachada de uma organização religiosa. O padre Rosário dirigia uma pequena confraria na aldeia, a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, aparentemente dedicada à caridade e assistência da Igreja na sua obra. O padre Rosário, homem com fama de espião da polícia durante o antigo regime dos Bourbon, era também capelão da prisão e tirava partido da sua posição para entregar e receber mensagens dos presos.

O presidente da Ordem Terceira de São Francisco de Assis era o chefe da Máfia de Uditore, Antonino Giammona. Nascera no seio de uma família de camponeses muito pobres, e iniciara a sua vida de trabalho como operário. A sua ascensão ao poder e à riqueza coincidira com as revoluções que acompanharam a integração da Sicília na nação italiana. As revoltas de 1848 e 1860 deram-lhe a oportunidade que precisava para mostrar o que valia e fazer amigos importantes. Em 1875, aos 55 anos de idade, Giammona era já um homem de prestígio, segundo o comandante da polícia de Palermo. O Dr. Galati resumiu o carácter de Antonino Giammona: «taciturno, pomposo e matreiro».

A Máfia de Uditore baseava o seu poder na gestão de esquemas de extorsão e protecção aos pomares de limoeiros. Podiam obrigar os proprietários a aceitar os seus homens como mordomos, caseiros e correctores. A sua rede de contactos com carroceiros, grossistas e estivadores podia ou ameaçar a produção de uma quinta ou garantir que ela chegasse em segurança ao mercado; quando aplicada com astúcia, a violência permitia à Máfia estabelecer pequenos cartéis e monopólios. Uma vez em poder de uma quinta de citrinos, os mafiosos podiam roubar quanto quisessem, quer como objectivo de conseguir algum imposto confortável, quer para comprá-lo a um preço baixo. Giammona não estava só a implicar com o Dr. Galati, mas a organizar uma campanha para dominar a indústria dos citrinos em toda a região de Uditore.

Consciente de que a Máfia exercia influência na polícia local, o Dr. Galati apresentou as suas provas a um juiz investigador. Entretanto, chegaram mais cartas ameaçadoras, dando uma semana para substituir o caseiro por um «homem de honra». Como as queixas tinham levado ao afastamento do inspector da polícia local, e não acreditando que a Máfia pudesse matar um homem de posses e com o seu prestígio, o Dr. Galati ignorou o ultimato. Terminado o prazo, em Janeiro de 1875, o novo caseiro foi atingido com três tiros em plena luz do dia. Benedetto Carollo e dois outros antigos trabalhadores da quinta foram detidos sob suspeita. Antes de desmaiar devido aos ferimentos, o caseiro conseguiu identificar os seus agressores, e no hospital fez um depoimento ao juiz investigador.

Mas as cartas ameaçadoras continuaram a chegar às mãos do Dr. Galati, e numa delas, dizia que ele e a sua família seriam apunhalados à saída do teatro. Era evidente que os chantagistas sabiam que o Dr. Galati tinha uma assinatura para a temporada. O médico descobriu que havia um espião no gabinete do juiz, uma vez que os mafiosos fizeram saber que tinham acesso aos pormenores dos seus depoimentos. Para piorar a situação, o caseiro que tinha sido ferido, foi ter com Antonino Giammona e fez as pazes. Depois foi convidado a celebrar o acordo no banquete e alterou o seu depoimento e o processo contra Carollo. Com a sua família em perigo, a falta de uma testemunha, a falta de confiança na polícia, na justiça e nos proprietários rurais da sua classe, o Dr. Galati pegou na sua família, e sem esperar para se despedir dos seus parentes e amigos, fugiu para Nápoles, deixando para trás, a sua propriedade e uma lista de clientes que levara um quarto de século a conseguir.

A Máfia de Uditore dirigida por Antonino Giammona, com o apoio do juiz do Tribunal de Apelação de Palermo, a polícia local, políticos e uma série de latifundiários, prosperou nos seus negócios ilegais. Extorsão, assassínio, domínio territorial, concorrência e colaboração entre quadrilhas e até mesmo a sugestão de um código de honra, eram métodos essenciais usados pela Máfia nos pomares de citrinos já no início da década de 70, do século XIX, e mencionados nas memórias do Dr. Galati.
 

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Segurança Pública na Sicília: 1º Livro sobre a Máfia Siciliana!

No início do Verão de 1863, um nobre siciliano, Nicolò Turrisi Colonna, Barão de Buonvicino, regressava à noite a Palermo vindo de uma das suas propriedades. A estrada onde viajava, ladeada de limoeiros, atravessava a próspera zona rural nas imediações das muralhas da cidade. Em determinado local, entre as aldeias de Noce e Olivuzza, cinco homens disparando de diferentes pontos na berma da estrada abateram os cavalos da carruagem antes de apontarem as armas ao viajante. Turrisi Colonna e o cocheiro sacaram rapidamente dos seus revólveres e responderam ao fogo enquanto corriam para se esconder. O barulho tinha atraído um dos caseiros do próprio Turrisi Colonna. Ao estrondo da sua caçadeira seguiu-se um grito de dor entre os arbustos à beira da estrada. Os potenciais assassinos desistiram e fugiram, arrastando o companheiro ferido com eles. Turrisi Colonna escreveu o ensaio intitulado "Segurança Pública na Sicília", um ano depois deste ataque. Foi o primeiro de muitos livros publicados após a unificação da Itália com a Máfia Siciliana como termo de análise, controvérsia e confusão.

Turrisi Colonna foi um dos primeiros a alertar sobre a existência de um crime organizado poderoso na Sicília. O estudo de Turris Colonna baseava-se nos jornais que anunciavam extorsões, assaltos e assassínios, mas apenas uma pequena fracção dos crimes praticados em Palermo e arredores era noticiada. Isso levantou dúvidas. Acerca da seita, Turrisi Colonna disse: «Não podemos iludir-nos. Na Sicília existe uma seita de ladrões com ligações em toda a ilha. A seita protege e é protegida por toda a gente que tem de viver no campo, como os agricultores, rendeiros e os pastores. Oferece protecção e recebe ajuda de comerciantes. A polícia incute-lhe pouco ou nenhum receio, porque a seita tem a certeza de que não terá qualquer problema em esquivar-se a qualquer perseguição policial. Também os tribunais pouco a assustam: a seita orgulha-se do facto de as provas da acusação raramente serem apresentadas devido à pressão que exerce sobre as testemunhas».

Turrisi Colonna calculou que a seita teria cerca de 20 anos. Em todas as regiões, a seita recrutava os seus filiados entre os camponeses mais espertos, os caseiros que vigiavam as quintas em redor de Palermo e as legiões de contrabandistas que faziam passar cereais e outros produtos fortemente taxados pelos postos aduaneiros de que a cidade dependia para o seu rendimento. Os membros da seita tinham sinais específicos que usavam para se reconhecerem quando transportava gado roubado através do interior para os marchantes da cidade. Alguns dos membros da seita especializavam-se em roubar gado, outros em transportar os animais e em remover as marcas de identificação, outros ainda em abates ilegais. Nalguns lugares a seita estava tão bem organizada, recebendo protecção política das facções corruptas que dominavam o governo local, que podia intimidar qualquer cidadão. Até alguns homens honestos davam por si a recorrer à seita na esperança de que pudesses trazer alguma aparência de segurança às regiões rurais.

Movida pelo seu ódio à corrupta e violenta polícia dos Bourbons, a seita oferecera os seus serviços às revoluções de 1848 e 1860. Como muitos homens violentos, os membros da seita tinham interesse na revolução porque esta oferecia-lhes a oportunidade de abrir prisões, queimar registo policiais e eliminar polícias e informadores no meio da confusão. Um governo revolucionário concederia uma amnistia às pessoas perseguidas pelo antigo regime; formaria novas milícias que precisaria de recrutas rudes e fortes, e daria empregos aos heróis da luta contra a velha ordem. Mas a revolução de 1860 trouxera poucos destes benefícios e a reacção dura e indiscriminada do novo governo italiano à onda de crime que se seguira só contribuiu para tornar a seita ainda mais desejosa de causar problemas. Só quatro meses depois da publicação do relatório de Turrisi Colonna é que a seita receberia o seu nome: quando a palavra «Máfia» foi registada pela primeira vez.
 
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A Máfia após a unificação da Itália

A partir de 1860, o ano em que o novo Estado italiano unificado apossou-se da Sicília e dos Estados Papais, os Papas se tornaram hostis ao Estado. Em 1870, o Papa se declarou emboscado pelo Estado italiano e encorajou os católicos a recusar cooperação com o Estado. A Sicília era fortemente Católica, e sempre teve a tradição de ser fechada a estrangeiros. Teve fortes influências de Luigi Anriquelli, Lubbone, assim conhecido por seus afilhados. Os atritos entre a Igreja e o Estado deram uma grande vantagem aos gangues criminosos na Sicília que alegavam aos cidadãos que cooperar com a polícia (que representava o Estado italiano) era uma actividade anticatólica.

Foi nas duas décadas seguintes a 1860 que o termo Máfia chegou à atenção do público, ainda que na época fosse considerado mais como uma atitude ou código de valores do que uma organização. O roubo de gado, a cobrança de taxas por protecção e o suborno de oficiais do Estado eram as maiores fontes de renda e protecção da Máfia naqueles tempos. A Cosa Nostra também se apoderou de juramentos e rituais maçónicos, como a famosa cerimónia de iniciação.

A Era Fascista de Mussolini

Os primeiros registos de actividades da Máfia envolviam membros da sociedade a servirem como guardas armados de produtores de citrinos, nos arredores de Palermo, no século XIX. A partir daí, a rede cresceu via disputas de território, extorsões por protecção e subornos oficiais. Na altura em que Benito Mussolini chegou ao poder em 1922, a Máfia já estava bem estabelecida como um governo paralelo na Sicília.
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Mussolini desprezava a Máfia e concedeu poderes especiais a Cesare Mori, Prefeito de Palermo, para erradicar as sociedades secretas criminosas. Este passo, juntamente com os julgamentos encenados, levaram a muitos mafiosos a procurar refúgio na América. Porém a cruzada de Mori perdeu fôlego quando indiciou membros da Máfia que se tinham infiltrado na hierarquia fascista e se viu de repente, retirado do lugar. Curiosamente, apesar da guerra que fez à Máfia, havia membros que mesmo assim admiravam Mussolini. Em Nova Iorque, Vito Genovese ordenou o assassinato de um editor de jornal italiano que havia criticado o regime de Mussolini. Por sua vez, Mussolini tinha entre os seus admiradores na Máfia de Nova Iorque, o próprio Vito Genovese (apesar dele ser de Nápoles e não da Sicília). Apesar da Máfia Italiana ter sido enfraquecida, não foi derrotada como havia sido alegado.
 

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Vito Cascio Ferro: Pioneiro da Máfia!

Vito Cascio Ferro (1862-1943), natural de Palermo, na Sicília, também conhecido como Don Vito, foi um proeminente membro da Máfia Siciliana. É muitas vezes descrito como o "chefe dos chefes", embora tal posição não existe na estrutura hierárquica da Cosa Nostra na Sicília.
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A vida de Vito Cascio Ferro está cheio de mito e mistério. Tornou-se uma lenda, mesmo quando estava vivo, e que a lenda é parcialmente responsável pela criação da imagem do cavalheiro capo mafia galante (chefe da máfia). Amplamente considerado como tendo sido o assassino do polícia de Nova Iorque, Joe Petrosino, em 1909. No entanto, nunca foi condenado pelo crime. Com a ascensão do fascismo na Itália, a sua posição intocável diminuiu. Foi preso e condenado à morte em 1930 e permanecerá na prisão até à sua morte. O ano exacto da sua morte permanece desconhecido.

Apesar de muitas fontes tê-lo identificado como um nativo da cidade rural de Bisacquino onde ele foi criado, na verdade nasceu na cidade de Palermo. Os seus pais, Accursio Cascio Ferro e Santa Ippolito, eram pobres e analfabetos. Vito Cascio Ferro nunca foi à escola, mas aprendeu a ler e a escrever com a sua esposa, Brígida Giaccone, professora de uma escola primária de Bisacquino. Vito foi introduzido na Máfia na década de 1880. Trabalhou como cobrador de impostos do Estado entre os seus 20 e 30 anos de idade, utilizando o seu cargo como disfarce para um negócio em expansão de extorsão por protecção. A extorsão era a sua especialidade.

A sua ficha criminal começou com um assalto em 1884 e progrediu através da extorsão, fogo posto e ameaças e o sequestro rapto da jovem de 19 anos, Baronesa Clorinda Peritelli di Valpetrosa em Junho de 1898, pelo qual recebeu uma sentença de três anos. Enquanto preso por tentativa de extorsão, Cascio Ferro foi recrutado para o Fasci Siciliani, um movimento popular de inspiração democrática e socialista, por Bernardino Verro, o presidente da Liga, em Corleone. As Ligas necessitavam de força muscular na sua luta social de 1893-1894. Cascio Ferro tornou-se o presidente do Fascio de Bisacquino.

Em Janeiro de 1894, o Fasci foi proibido e brutalmente reprimido sob as ordens do primeiro-ministro Francesco Crispi. Muitos líderes foram colocados na prisão. Cascio Ferro fugiu para Túnis, na Tunísia, durante um ano. Depois de cumprir sua sentença por seu papel na agitação camponesa, Vito Cascio Ferro retornou a uma posição de poder social e pressionou as autoridades em Palermo para colocá-lo no comando de concessão de emigração de licenças, no distrito de Corleone. De acordo com o historiador da Máfia, Salvatore Lupo, Vito Cascio Ferro estava envolvido em redes de emigração clandestina.

Vito Cascio Ferro nos Estados Unidos

Condenado pelo rapto da Baronesa de Valpetrosa em 1898, Vito Cascio Ferro foge para os Estados Unidos, chegando a Nova Iorque, em Setembro de 1901. Viveu durante cerca de dois anos em Nova Iorque, na qualidade de importador de frutas e alimentos. Também passou seis meses em Nova Orleães, na Louisiana. Nos Estados Unidos, Don Vito mergulhou no negócio lucrativo de extorsão da Mão Negra até 1903. Em Nova Iorque, Don Vito tornou-se associado com o gangue Morello em Harlem, liderada por Giuseppe Morello e Ignazio Lupo.
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Giuseppe "Mão de Gancho" Morello também conhecido como "The Old Fox", foi um gângster italo-americano e o primeiro chefe da organização criminosa, Família Morello, a primeira Família da Máfia em Nova Iorque. Na década de 1890, Giuseppe fundou um gangue conhecido como a Rua 107 Mob e que viria a evoluir para a Família Morello.
Hoje a Família Morello é conhecida como a Família Genovese e é a mais antiga das cinco famílias em Nova Iorque.
 

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Mão Negra

A Cosa Nostra utilizou uma organização beneficente para se estabelecer, a Unione Siciliana, que auxiliava os imigrantes de origem siciliana que chegavam sem lugar para morar ou dinheiro para comida e com muitos filhos para alimentar. Tal organização logo caiu nas mãos dos mafiosos para a utilizarem como fachada para recrutar novos membros, fazerem agiotagem a juros exorbitantes aos recém-chegados e receberem doações da sociedade civil. A fachada era tão bem feita que logo a Cosa Nostra nos Estados Unidos foi chamada entre os seus de Unione Siciliana, principalmente em Chicago, onde houve uma disputa entre os sicilianos (liderados por Joseph Aiello) e os napolitanos (comandados por Al Capone) pelo seu domínio.

O primeiro nome da Cosa Nostra nos Estados Unidos foi Mano Nera (Mão Negra), assim conhecida devido ao desenho de uma mão a tinta preta contida nas cartas de chantagens ou ameaças enviadas às suas vítimas, que davam dinheiro aos criminosos para se livrarem deles. Don Vito foi um dos principais responsáveis pela introdução da Máfia nos Estados Unidos, dando origem à Cosa Nostra Americana no início do século XX. Don Vito era um membro do alto escalão da Máfia siciliana (era o "Capo di tutti Capi" da Cosa Nostra na Sicília), e introduziu vários grupos mafiosos sicilianos nos Estados Unidos. As primeiras cidades a receberem sicilianos da Cosa Nostra foram Nova Iorque, Nova Orleães, Detroit, Cleveland e Tampa, entre outras. Em 1903, Don Vito foi detido e acusado pelo tenente da polícia de Nova Iorque, Giuseppe Petrosino. Ganhou o caso da mesma forma que ganhou noutras 68 vezes em que foi acusado ao longo da sua vida.

O temível Polícia

Joseph "Joe" Petrosino (1860-1909) era um oficial da polícia de Nova Iorque, que foi um dos pioneiros na luta contra o crime organizado. As várias técnicas de combate ao crime de que Petrosino foi pioneiro durante sua carreira, são hoje em dia praticadas por várias agências policiais.
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Fluente em vários dialectos italianos, Joe Petrosino foi capaz de resolver casos criminosos na comunidade italiana, pois muitos dos seus colegas não dominavam a língua como ele. Além disso, Petrosino era natural da aldeia de Padula, no sul da Itália. A sua capacidade de resolver crimes na comunidade italiana era de tal modo eficiente, que sempre que havia um crime grave na zona, os seus superiores o mandavam para lá.

Em 20 de Julho de 1895, o comissário de Polícia de Nova Iorque, Theodore Roosevelt, promoveu-o a sargento-detective encarregado de Homicídios do departamento. O auge de sua carreira veio em Dezembro de 1908, quando foi promovido a tenente e colocado no comando da equipa italiana: um corpo de elite de detectives italo-americanos que reuniram-se especificamente para lidar com as actividades criminosas de organizações como a Máfia, o que Petrosino viu como uma vergonha para os italianos decentes e italo-americanos.

Um caso notável de sucesso de Joe Petrosino com a equipa italiana, foi quando o tenor italiano Enrico Caruso, que actuava no Metropolitan Opera House, em Nova Iorque, estava sendo chantageado pelos gângsters Mão Negra que exigiam dinheiro em troca de sua vida. Foi Petrosino que convenceu Caruso a ajudá-lo a pegar aqueles que estavam por detrás da chantagem.

Alguns observadores consideram Vito Cascio Ferro como aquele que trouxe a extorsão prática de "protecção contínua" em troca de dinheiro de protecção (pizzo) da Sicília para os Estados Unidos. Don Vito resumia assim o sistema de extorsão: «Você tem que roçar o creme fora do leite sem quebrar a garrafa. Não jogue as pessoas à falência com exigências ridículas por dinheiro. Oferecer-lhes protecção, em vez de ajudá-los a tornar seu negócio próspero, e não só eles serão felizes para pagar, mas vão beijar suas mãos por gratidão».

Assassinato por Barril

Em Setembro de 1904, Don Vito regressou à Sicília, fugindo logo após o sargento de polícia Joseph Petrosino, do Departamento de Polícia de Nova Iorque ordenar a sua prisão por envolvimento com a Barrel Murder (Assassinato por Barril). Um assassinato por barril era um método de execução usado pelos mafiosos americanos desde a década de 1870. Embora os primeiros assassinatos por barril só foram registados em Nova Iorque em 1895 e 1900.
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As vítimas, geralmente imigrantes italianos, seriam encontradas recheadas dentro de um barril, após ter sido baleadas, esfaqueadas, ou estranguladas até à morte. O sistema de assassinato foi usado pela primeira vez pelos mafiosos sicilianos da Família Provenzano em Nova Orleães e a Família Morello em Nova Iorque. Os assassinatos por barril alertaram as autoridades sobre a existência da Máfia, o que levou à investigação pelo chefe de polícia de Nova Orleãs, David C. Hennessy, cujo assassinato por eventual mafiosos sicilianos em 1890, exporia o crime organizado nos Estados Unidos. Joseph Petrosino iniciou as suas primeiras investigações sobre os assassinatos por barril. A Família Morellos, suspeita de mais de 100 assassinatos, continuou a usar o assassinato por barril durante mais de 30 anos. O método foi utilizado mais tarde em Johnny Roselli, quando foi encontrado dentro de um tambor de óleo com 55 galões, ao largo da costa da Flórida, em 1976. Embora argumenta-se que, dado o envolvimento de Roselli com a CIA, não se sabe se isso foi feito pela Mafia ou mesmo pela CIA.

Regresso à Sicília

De regresso à Sicília, Don Vito exerceu influência sobre a Máfia local, nas cidades de Bisacquino, Burgio, Campofiorito, Chiusa Sclafani, Contessa Entellina, Corleone e Villafranca Sicula, bem como alguns bairros da cidade de Palermo.

O jornalista Luigi Barzini contribuiu muito para formar a lenda em torno de Don Vito: «Don Vito trouxe à organização, a sua mais alta perfeição, sem recurso à violência indevida. O líder da Máfia que espalha cadáveres por toda a ilha, a fim de alcançar seu objectivo, é considerado inepto, tal como o estadista que tem de travar guerras agressivas. Don Vito tinha umas maneiras principescas, sendo o seu comportamento humilde, mas majestoso. Era amado por todos. Sendo muito generoso por natureza, nunca recusou um pedido de ajuda e dispensou ​​milhões em empréstimos, presentes e filantropia geral. Quando começou a viagem para a Sicília, tinha à sua chegada, grandes personalidades vestidas com suas melhores roupas, que o aguardava na entrada de sua aldeia. Perante Don Vito, as pessoas beijavam as suas mãos, e prestaram homenagem, como se ele fosse um rei. Durante o seu reinado, houve a paz mafiosa, não havendo conflitos de grande importância».

Os relatórios da polícia descreveram Don Vito como associado ao alto escalão da Máfia siciliana. Levava uma vida de luxo, ia ao teatro, cafés, jogos de azar, gastando grandes somas no Circolo dei Civili, um clube para cavalheiros, reservada para aqueles com pretensões à educação e à elite do Estado.

Morte do Tenente Petrosino

O tenente Petrosino não se tinha esquecido de Don Vito, e investigou o estatuto dos fugitivos da Mão Negra em Nova Iorque. Em 1909, enquanto visitava Palermo para recolher ficheiros policiais, Petrosino caiu numa emboscada e foi assassinado. Em 12 de Março de 1909, depois de chegar a Palermo, Petrosino recebeu uma mensagem de alguém que diz ser um informante, pedindo ao detective para se encontrar na cidade de Piazza Marina para dar-lhe informações sobre a Máfia. Petrosino chegou ao encontro, mas era uma armadilha. Enquanto espera por seu informante, Petrosino foi morto a tiros por assassinos da Máfia.
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Mais tarde, um pequeno memorial (uma placa de bronze gravada no poste)
foi erguido na Piazza Marina, em memória de Petrosino.

Don Vito foi preso pelo assassinato de Petrosino, mas foi libertado após um amigo ter fornecido um álibi. No entanto, afirmou mais tarde a outras figuras do crime que havia matado Petrosino, e isso ajudou-o a impulsioná-lo para a posição de «capo di tutti capi» (chefe dos chefes).

O Comissário de Polícia de Palermo, Baldassare Ceola, listou cinco suspeitos sicilianos pelo assassinato de Petrosino:
- Pasquale Enea, com ligações à Mão Negra, em Nova Iorque.
- Giuseppe Fontana, anteriormente envolvido com um assassinato na Sicília e actividades da Mão Negra em Nova Iorque.
- Gioacchino Lima, acusado de um assassinato.
- Ignazio Milone trabalhou com Fontana, em Nova Iorque.
- Giovanni Pecoraro, ligações com o crime da Sicília e Nova Iorque.
- Don Vito Cascio Ferro, o mafioso elegante, suspeito nº 1.
Mike Dash (nascido em 1963), escritor, historiador e investigador britânico, identificou os assassinos mais prováveis ​​como Carlo Costantino e Antonio Passananti. Costantino e Passananti morreram no final de 1930 e em Março de 1969, respectivamente. Em 2014, depois de uma série de investigações da polícia italiana, um século após o assassinato, foi descoberto que o assassino era Paolo Palazzotto, da Família Palazzotto de Palermo.

Queda de Don Vito

A sorte de Don Vito manteve-se até Benito Mussolini assumir o comando de Itália em 1922, lançando a partir daí uma cruzada contra a Máfia e outras sociedades secretas criminosas. Don Vito gabou-se um dia aos seus amigos do crime, que foi ele o autor do assassinato de Petrosino, mas mais tarde, negou a sua versão. Ironicamente, Don Vito morreu na prisão em 1943 depois de ser preso em 1927 e acusado de um assassinato que provavelmente não cometeu. Recebeu uma pena de prisão de 50 anos. Ainda estava preso em 1943, quando um ataque aéreo dos Aliados abateu a prisão em Palermo, deixando-o morto entre os destroços.
 
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