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O poder do abraço

Luz Divina

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O poder do abraço


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As crianças precisam de demonstrações físicas de afeto para se sentirem amadas e crescerem felizes. O toque ajuda-as a gerir emoções, a aprender melhor e até a serem mais resistentes às doenças. Já abraçou o seu filho hoje?

Mimo nunca é demais

Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver, oito para manutenção do bem-estar e 12 para crescer. A quantização é da conhecida psicoterapeuta norte-americana Virginia Satir e, embora possa parecer exagerada face ao ritmo alucinado a que tantas vezes vivemos, a verdade é que a necessidade do abraço é bem mais profunda – quase orgânica – do que imaginamos.

“Os abraços são tão vitais para a saúde e desenvolvimento das crianças como a comida e a água”, defende a psicóloga Ana Margarida Marcão, da Oficina da Psicologia, explicando por que é o toque tão importante desde cedo: “Um bebé reconhece os seus pais inicialmente pelo toque e cerca de 80 por cento da sua comunicação é feita através do movimento corporal. Portanto, é mais fácil comunicar com eles pelo contacto físico. Um abraço ‘dirá’ à criança que ela é amada, querida, protegida e que está em boas mãos, dando-lhe uma sensação de segurança de uma forma que as palavras não conseguem”.

E este toque é primordial desde o primeiro minuto para estimular o processo de vinculação, que vai refletir-se no desejado desenvolvimento saudável e equilibrado da criança. “O contacto corporal mãe-bebé, desde os momentos imediatos ao parto, resulta em efeitos positivos na interação entre os dois, observados quer a curto quer a longo prazo”, confirma a psicóloga clínica Carolina Martins Faria, do Gabinete de Psicologia, acrescentando que “ao longo do desenvolvimento, as manifestações de afeto, consistentes, previsíveis e sensíveis, são essenciais para a construção de laços afetivos e para uma relação de confiança com os pais”. Além dos benefícios de uma vinculação segura, “o conforto proporcionado pelo contacto corporal (abraçar, tocar) é uma ferramenta importante na gestão emocional, particularmente em crianças pequenas”. Ou seja, ajuda a criança a regular as suas reações quando é confrontada com situações de stresse ou com emoções negativas.

Mas os benefícios do toque não se limitam apenas ao plano emocional: há todo um conjunto de efeitos positivos também a nível físico que não devem ser menosprezados: “O afeto e cuidado transmitidos através do toque aumentam os níveis de oxitocina no cérebro”, explica Ana Margarida Marcão. A ocitocina (hormona libertada na corrente sanguínea) “relaxa o corpo, diminuindo o ritmo cardíaco, a pressão arterial e os níveis de cortisol”. O excesso de cortisol no cérebro (em resposta a situações de stresse) “afeta o desenvolvimento do sistema límbico, que controla e gere as emoções, e interfere também com a capacidade da criança para aprender e crescer”. Assim, sublinha a psicóloga, “o toque tem um papel significativo na capacidade da criança regular as suas próprias respostas ao stresse”. Um abraço promove ainda “a libertação de dopamina (uma hormona que atua como um estimulante), criando uma sensação de prazer no cérebro” e “reforça o sistema imunológico, ao aumentar os níveis de hemoglobina (que transporta o oxigénio aos nossos órgãos e tecidos) no sangue”. Afinal um abraço não é “só” uma reconfortante manifestação de afeto, é um ato quase mágico, com um poder que tem tanto de ancestral e profundo como de inesperado.

Dos prematuros aos idosos

A investigadora norte-americana Tiffany Field, diretora do “Touch Research Institute” do Departamento de Pediatria da Universidade de Miami, estuda há mais de 30 anos o poder do toque ao longo das várias fases da vida, desde o nascimento à velhice, e não tem dúvidas de que o contacto físico é “muito importante”. “Desde o abraço à massagem, o toque tem efeitos positivos na saúde, ajudando a reduzir a dor, a ansiedade e a agressividade, promovendo a estimulação do sistema imunitário, melhorando a saúde cardiovascular… e sem efeitos secundários”, afirmou à Pais&filhos. O interesse da pediatra pelo toque surgiu, numa primeira fase, quando se debruçou sobre os bebés prematuros e a forma como podem ser ajudados a ganhar peso.

“Descobrimos que os prematuros que recebem massagens ganham peso mais depressa, respondem melhor aos estímulos sociais e vão para casa mais cedo”, explicou. A partir daí, Tiffany Field e a sua equipa têm realizado dezenas de estudos sobre os efeitos do toque, não só nos bebés como ao longo de toda a vida. Um das suas investigações, publicada no “Early Child Development and Care”, em 1999, concluiu que as crianças em idade pré-escolar que recebem mais demonstrações físicas de afeto dos pais são menos agressivas para os seus pares na escola.

Perante isto, valerá a pena refletir: quantos abraços (não) damos aos nossos filhos na correria do dia-a-dia? Antes de nos deixarmos amargurar com este pensamento, Carolina Martins Faria lembra que “mais importante do que a quantidade, é proporcionar abraços e manifestações de afeto enquadradas numa relação responsiva e sensível às necessidades do outro. Isto é, os abraços devem surgir de uma forma adequada ao contexto e aos sinais que nos são transmitidos pelo outro, respeitando as caraterísticas individuais de cada um, de forma a não serem intrusivos e percecionados como negativos”.

Isto é especialmente importante na adolescência. Um abraço “imposto” à frente dos amigos pode ter um efeito oposto ao desejado. “Os pares dos adolescentes são muito importantes para eles e eles importam-se com o que pensam. Envergonhá-los à frente dos amigos é uma muito má ideia”, lembra Ana Margarida Marcão. Não é que os adolescentes não precisem de abraços, pelo contrário, mas é preciso respeitar toda a transformação que estão a viver e que muitas vezes conduz a um desinvestimento no que diz respeito às demonstrações de afeto entre pais e filhos.

“O confronto com a novidade, com um corpo em transformação, com todo um novo mundo emocional (turbulento) e a constituição de uma nova identidade, levam a que o adolescente necessite de deixar os laços demasiado próximos com os pais e de interromper as ações anteriores que com eles tinha”, explica a psicóloga, sublinhando, contudo, que “existem muitas razões para abraçar um adolescente, incluindo os rapazes: eles estão diariamente numa montanha russa emocional, não entendem realmente porque sentem o que sentem e isso fá-los sentirem-se muito desconfortáveis. Um grande abraço da mãe ou do pai pode ser muito benéfico, se dado corretamente”. Até porque “os adolescentes precisam saber que podem contar com os pais” e abraçar pode ser o suficiente para que se sintam seguros. Mas se esta aproximação parecer mesmo desadequada, Tiffany Field lembra que há outras formas de contacto físico menos “intrusivas” para o adolescente: “Eles adoram uma massagem nos ombros, desde que lhes perguntemos primeiro!”.

Mimo nunca é demais

Por tudo isto, é natural que as demonstrações físicas de afeto estejam mais presentes na infância, altura em que as crianças estão mais dependentes dos pais e que a própria satisfação das suas necessidades básicas implica um contacto mais próximo. “À medida que as crianças se desenvolvem (física, cognitiva e emocionalmente), tendem a procurar a independência dos vários adultos a quem estão vinculadas, diminuindo a necessidade deste contacto físico”, diz Carolina Martins Faria. Em contrapartida, “passam a necessitar de outras manifestações de afeto, verbais e comportamentais, de maior complexidade, que as apoiem nos novos desafios das etapas do seu desenvolvimento”. Outra das razões que pode contribuir para este desinvestimento é a ideia de que “muitas demonstrações de carinho estragam a criança com mimos”. “Esta ideia é errada, as crianças não são ‘estragadas’ por demasiado afeto, são ‘estragadas’ por falta de disciplina”, sublinha Ana Margarida Marcão.

Visto de uma perspetiva mais simplista, a carência de abraços pode ser apenas uma questão de falta de tempo. “Os pais são seres humanos, não são máquinas nem têm super poderes e há dias em que tudo o que conseguem fazer, depois de terem passado o dia todo no trabalho, é satisfazer as necessidades mais básicas, funcionais, das crianças: alimentá-las, dar-lhes banho e pô-las a dormir a uma hora decente para conseguirem repetir tudo outra vez no dia seguinte. O tempo e a disponibilidade física, intelectual e emocional para estar atento e investir na transmissão de afeto vai-se perdendo nos árduos dias de trabalho, que deixam aos pais apenas um escasso tempo livre para serem pais”, lamenta a psicóloga, sugerindo que “a única forma dos pais manterem um laço forte com as suas crianças é construir um hábito quotidiano de conexão ou ligação: por exemplo, dar um abraço à criança antes de a deixar na escola, quando a vai buscar e quando a põe a dormir”. Porque quando os pais investem mais na ligação à criança “tudo muda”, lembra Ana Margarida Marcão.




“O MEU PAI NUNCA ME ABRAÇOU!”

Quantas vezes terá sido repetida esta frase em jeito de ressentimento, em desabafos confidentes ou em sessões de terapia? Referida quase sempre com tristeza e mágoa, a carência de desmonstrações de afeto na infância pode mesmo deixar marcas para a vida. “A falta de afeto físico e intimidade emocional podem causar grande dor psicológica a uma criança e essa dor pode persistir na idade adulta como a causa subjacente de disfunção social”, confirma a psicóloga Ana Margarida Marcão. E explica: “A consciência do corpo está relacionada com a consciência emocional e intelectual. A falta de toque e espontaneidade emocional nas famílias leva a que os indivíduos não aprendam a reconhecer as suas próprias experiências emocionais”.

Assim, podem vir a “reprimir as suas emoções, sofrer de doenças psicossomáticas e/ou confundir a necessidade de simples afeto físico com desejo sexual”. A ausência de demostrações de afeto e falta de toque “conduz a ressentimento, raiva e à sensação de não se ser querido”. Por tudo isto, as crianças “precisam ser tocadas e acarinhadas para desenvolverem intimidade emocional”. E tudo pode começar com um abraço, sublinha a psicóloga.





INSTINTO MILENAR

Há séculos que as mães sabem, instintivamente, que o toque tem um poder extraordinário: é através dele que acalmam o bebé que chora, pegando-lhe ao colo, confortando-o nos braços, ou massajando-lhe a barriga quando tem cólicas. Mais tarde, quando caem e se magoam, não há curativo melhor do que um beijinho da mãe. Os estudos científicos vêm apenas confirmar o que as mães já sabiam: o toque tem poderes benéficos para a saúde e o bem-estar. E com esta crescente evidência, há cada vez mais hospitais a incorporar terapias complementares, como as massagens, aos protocolos para doentes oncológicos ou do foro cardiovascular, por exemplo. Os efeitos não surgem só através de terapias mais sistematizadas, como a reflexologia, mas de gestos tão simples como partilhar um abraço, fazer uma massagem nos ombros ou simplesmente dar as mãos. Para perceber o poder do toque, basta olhar, por exemplo, para o hábito milenar das mães indianas, que massajam instintivamente os seus bebés, estimulando e fortalecendo o vínculo entre os dois. Na realidade, a massagem Shantala é “só” um momento diário de afeto entre a mãe e o bebé, que faz parte da rotina dos cuidados ao recém-nascido, mas que resulta num desenvolvimento mais saudável e harmonioso do bebé.





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