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Escalam, remam e correm: o mau tempo não lhes mete medo

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Set 27, 2006
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Manter atividades físicas no exterior durante o inverno nem sempre é fácil, mas há quem não se deixe intimidar pelas estações do ano
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Sábado antes das 08.00. Lá fora, a chuva intensa prolonga a noite e não engana: estamos em pleno mês de janeiro, no pico do inverno. Então porquê levantarmo-nos, vestirmo-nos e prepararmo-nos para passar três horas a subir e a descer encostas? "É tentador ficar na cama quando chove mas não devemos ceder", aconselha Fátima. A psicóloga rendeu-se às caminhadas há três anos e garante: "É uma ótima maneira de conhecer sítios diferentes e pessoas giríssimas."Por isso, esta caminheira veste--se a rigor e prepara-se para o contacto com a natureza - "o importante é vestir roupa quentinha, luvas e gorro, e sair de casa". Até porque, quando está frio e chuva "o sentimento de superação e recompensa, no final, é muito maior". Felizmente, não foi preciso passar por todas estas provações para testar os prazeres da caminhada.Depois de meia hora à espera que a chuva desse tréguas, no café do Lé, no Magoito, o sol lá acabou por aparecer. Mas se não o tivesse feito, os caminhantes estavam dispostos a fazer o percurso de qualquer forma. "Nunca cancelamos por causa da chuva. A não ser que o percurso, com as condições meteorológicas adversas, se torne perigoso. Mas se for só chuva não cancelamos", explica José Pedro Calheiros, fundador da SAL, Sistemas de Ar Livre, que organiza estes passeios.Sabendo da persistência dos caminheiros, São Pedro acabou por suspender a chuva e enquanto duraram os sete quilómetros do percurso pelas areias do Magoito contámos com sol. Mas o vento, esse não deu tréguas. E a chuva lá voltou, às 13.30 quando o grupo se aproximava já do ponto de partida, mesmo a tempo de encontrar abrigo dentro dos carros.Além da veterana Fátima, os principiantes Pedro Rabaça e Maria José Reis decidiram também experimentar as caminhadas, sem temer o inverno. "Nesta altura, a chuva deixa a terra com um cheiro diferente. Vamos experimentar as caminhadas, que permitem conhecer os locais de outra perspetiva", aponta Pedro Rabaça.De facto, dentro de minutos iam estar a atravessar o pinhal até à praia, para depois subir a Duna Consolidada do Magoito. Pelo caminho, Carlos Sousa, o instrutor do passeio foi explicando os vários pontos de interesse da zona, as espécies características e até sinais das mudanças da natureza. "Vejam esta madressilva que já tem flor. Normalmente elas só florescem em março. É um sinal do aquecimento global", aponta.Outro sinal que ajuda a perceber o estado da natureza à nossa volta é a existência ou não de um pequeno fundo de cor verde acinzentada, que afinal "é um bioindicador de poluição". Mas também se aprende a identificar fósseis, aves e até movimentos arquitetónicos.Estas caminhadas "realizam-se o ano inteiro" e os guias nunca sabem quantas pessoas vão ter. "Os horários e os passeios estão disponíveis no site, colocamos o ponto de encontro e hora e esperamos pelas pessoas", explica José Pedro Calheiros. Por isso, este sábado apareceram a repetente Fátima - que nunca tinha feito este percursos, embora seja presença assídua nos pas- seios da SAL - e os estreantes Pedro e Maria José, mas "no fim de semana anterior tivemos 30 pessoas e também estava cinzento". No entanto, o facto de a chuva intensa só ter dado tréguas lá pelas 10.30 pode ter inibido alguns participantes de sair de casa. Mas a lógica é de que "o passeio faz-se sempre. Seja com uma ou 50 pessoas. Só se não aparecer ninguém é que não se faz".O público que procura as caminhadas é variado. "A maioria das pessoas que vem tem entre 35 e 65 anos, quase todas (85%) são licenciadas. Se no início da década passada vinham mais mulheres e menos homens, agora as coisas estão muito equilibradas", descreve o responsável da SAL.Fátima escolheu estes passeios como o desporto regular porque "não tenho espírito de ginásio e consigo juntar cultura e desporto". Com este grupo, a psicóloga já fez percursos à noite, na serra e à beira-mar: "São experiências muito variadas e é um ambiente seguro."Começar a remar aos 58 anosQuem também não se deixa intimidar pelas estações do ano é Mercedes Rodrigues Seco. Depois de décadas sem grande prática de exercício, a antiquária deu consigo, num passeio com uma amiga, a perguntar-se o que estavam a fazer umas pessoas junto ao Clube Naval de Lisboa. "Estavam a fazer ergómetro e vi-os a sair para o rio e fui perguntar ao treinador o que era aquilo. Ele desafiou-me para ir experimentar o remo e eu fui. Entretanto já passaram cinco anos."Aos 63 anos, Mercedes garante que nunca teve tanta energia e já não passa sem as idas ao rio Tejo. Mesmo no inverno, "faz-me falta o remo" e é tal a ligação, que mesmo nas férias sente saudades. "Tinha medo do mar, mas o remo deu-me confiança."Mercedes treina agora quatro vezes por semana e entrar no rio é algo que faz ao longo de todo o ano. Embora o inverno traga limitações. "Como durante a semana treinamos ao fim do dia, no inverno a essa hora já não há luz para ir ao rio, só vamos ao fim de semana." E quando há muita chuva e o rio está mais bravo não há saídas. Foi isso mesmo que aconteceu no dia em que o DN foi fotografar Mercedes nas instalações do Clube Naval.Mas quando é possível remar no Tejo, esta timoneira ocasional não se sente intimidada. "É mais duro andar no rio no inverno, está mais frio e o rio está pior. É mais esforçado, mas é bom na mesma, porque dá-nos aquela sensação de superação". Além de que, "gosto muito do inverno e no remo não há frio".E depois de sair de uma aula de remo - que começa com trabalho de ginásio e incluir levar e tirar o barco do rio e dura em média uma hora e meia - Mercedes, transplantada de um rim há 20 anos, garante que se sente com mais energia. "Moro num terceiro andar e não só vou a pé para casa, como ainda subo as escadas a correr. Se não for ao remo sinto-me mais cansada. Era incapaz de parar só porque é inverno e o tempo estar pior."Até porque não era capaz de abdicar "da paisagem fantástica" que tem à sua volta quando está no Tejo. Nem dos benefícios de saúde que o desporto lhe trouxe: "Tinha problemas de sinusite e isso desapareceu. O remo só me faz bem." Melhorias que a própria família e os amigos reconhecem.Correr em Lisboa todos os diasNo rol de desportos que se praticam ao ar livre e que podem ser facilmente deixados de lado durante o inverno está naturalmente a corrida. Primeiro porque para muitos corredores trata-se de seguir uma moda, depois porque não exige nenhum compromisso especial, uma vez que se pode correr sozinho, e por último, não exige despesas significativas (além do equipamento para correr).Sendo uma atividade tão livre e dependente apenas da vontade do corredor, é natural que as ruas da cidade deixem de ser pistas de atletismo durante os meses mais frios do ano. "Principalmente para quem está a começar, porque aí qualquer desculpa serve para não ir correr e a chuva é um bom ar-gumento", admite Bruno Claro. O fundador do grupo Correr Lisboa, que procura ajudar as pessoas que começam a correr a manter o ritmo, juntando um grupo de treino à segunda, terça, quarta e quinta-feira, este último só para mulheres, e ao sábado para os treinos de maratona, assegura, no entanto, que a chuva "não incomoda".Embora admita que gosta mais de correr "na primavera", o corredor ocasional - que já fez nove maratonas, desde que começou a correr há dois anos - revela o truque para manter a atividade física ao ar livre mesmo no inverno: "O segredo é cativar as pessoas pela socialização. Ir correr pelo convívio e não por obrigação."Bruno Claro considera que até é "divertido" correr com chuva. "O grande problema de correr quando está a chover é o antes e depois, porque durante a corrida é divertido". O que não significa que não tenha cuidados. Por exemplo, as filhas, que ainda só assistem, só o acompanham "nas corridas de verão".Para quem corre, os conselhos são simples: "O calçado não varia muito, apenas a roupa é que deve ser mais quente e deve usar-se um corta-vento." Já para quem corre nas cidades junta-se outra precaução extra. "A calçada é escorregadia." Outro conselho para os dias mais curtos é o de "correr em zonas iluminadas e com roupa clara para serem vistos com facilidade", uma vez que a noite cai mais cedo.Mesmo com a dificuldade em manter os corredores fiéis ao exercício durante todo o ano, Bruno Claro não tem dificuldade em juntar novos elementos aos grupos todos os dias. "É uma questão de moda e não é difícil sair de casa para correr. Além de que a corrida é um desporto onde os resultados são rápidos. Ao fim de um mês já se notam resultados."No caso de Bruno, os resultados são as maratonas que já correu. Aos 35 anos, e com dois de corrida, já completou nove maratonas e prepara-se para a décima em fevereiro. Todas no estrangeiro, já que em Portugal "ainda falta aquela cultura de apoiar o desporto. Lá fora, as pessoas saem para rua para aplaudir quem corre".A corrida e os treinos diários servem, assim, apenas para concretizar a sua paixão. "As maratonas são a minha paixão, mas tirando isso não tenho objetivos. Se me sentir obrigado a correr e a fazer treinos, então deixa de ser uma paixão."



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