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Cultivar Espargo em Portugal

R@ul

GF Ouro
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Nos últimos dois anos tem aumentado significativamente o número de empresários agrí­colas interessados na cultura do espargo e a área vem-se expandindo. Contudo, nem sempre com o desejado e merecido sucesso.

Esta cultura é de grande interesse, reco­mendada desde há muito tempo, mas de forma devidamente ponderada, pois há inúmeras variáveis a ponderar. Com a cultura do espargo hortícola con­segue-se:

• substituição das importações (o país é de­ficitário);

• trabalhar com um produto com elevado valor agregado (sobretudo mão de obra e produção temporã).

Apesar de não ser uma cultura com tradição em Portugal, esta planta é nossa conhecida desde há séculos, não só por ocorrerem espécies nativas de espargo nas nossas matas mas, também, porque desde há muito que foi importada a sua cultura.

Apesar de ser uma planta que se adapta a uma ampla gama de condições climáticas, e virtualmente ser possível produzir em qualquer uma das nossas regiões, tem-se uma noção clara que, do ponto de vista económico, há regiões do país onde ela é mais interessante e outras onde produzir pode ser um desafio económico.

Do ponto de vista climático (consultar AGROTEC 5 e 6) as melhores condições para o espargo são encontradas nas regiões quentes no verão mas de influência marítima, isto é, uma fai­xa litoral que se estende bastante para o interior, mas que exclui o norte litoral que, por sua vez, sendo demasiado húmido e fresco acaba-se reve­lando menos interessante para a planta e menos ainda para a cultura, por implicar maior incidên­cia de doenças e pragas.

O clima também influi na performance eco­nómica, zonas demasiado quentes ou onde o frio seja excessivo acabam por, no primeiro caso, resultar em produções menores por hectare, por haver deficiente diferenciação dos turiões, e no segundo caso, a produção dar-se em momento em que os preços são mais baixos.

Ou seja, a produção temporã é, também, um dos requisitos para o sucesso de quem quer cultivar espargos. Este último requisito acaba empurrando a cultura para Sul de Portugal, tal como em Espanha, a cultura também é mais in­teressante nas regiões de primavera mais quen­te e que permite colher antes da Europa central, sendo comum, em Espanha, investir-se na cul­tura em camas aquecidas, estufins e abrigo para se alcançar a pretendida precocidade.

Outro aspeto de enorme importância é o solo. O espargo é uma cultura que, por um lado, acaba fugindo dos solos ricos em matéria orgâni­ca, e dos excessivamente argilosos, com má dre­nagem interna. A má drenagem é um inimigo do espargo por fazer proliferar alguns fungos radiculares bastante perigosos para a cultura, por outro lado, sendo solos pesados, a planta tem maior dificuldade em emergir, resultando turiões mais fracos, por vezes até deformados.

Por outro lado, ao mesmo tempo que é uma cultura que responde muito bem à estrumação, esta deve ser particularmente cuidadosa, por ser difícil de realizar após a cultura estar instalada, pelo que se deve fazer genero­samente à plantação, os solos ricos são geral­mente mais húmidos e demasiado férteis, não apenas para o espargo, mas também para uma miríade de infestantes ruderais.

E, em nossa opinião, o maior constrangi­mento à cultura do espargo é, efetivamente, o problema das infestantes. Como em Portugal são muito poucos (apenas 1 e para monocotiledóne­as) os herbicidas autorizados nesta cultura, e com grandes restrições, a monda de infestantes tem, imperativamente, que ser feita ou por monda tér­mica ou manual, sobretudo no interior das linhas plantadas.

Esta motivo é suficiente para justificar que a cultura do espargo, que já de si é absorvente em termos de mão-de-obra, deva ser relegada para áreas que, garantidamente, estejam bem limpas em termos de ervas infestantes pois, de outro modo, as despesas disparam de tal modo que se torna uma cultura anti-económica. E o Norte Litoral de Portugal apresenta con­dições muito favoráveis para o desenvolvimento de ervas infestantes, com bancos de sementes riquíssimos que garantem uma sucessão de ger­minações quase incessante e que, assim, tornam, também por esta razão, esta uma região onde a cultura raramente reunirá boas condições para a produção comercial.

Fazendo um modelo de análise utilizando ferramentas como o ArcGis com base em dados climáticos, cartas de solos, litológicas, a que se adicionou uma componente económica, gerou-se uma carta de aptidão para a cultura do espargo em Portugal Continental e que acompanha este artigo. Nesta carta, as cores indicam diferentes graus de interesse económico/adaptação da cultura a cada região, estando numeradas de 1 a 8, desde a mais interessante ou apta até às menos interessantes.

O que se conclui, (embora se trate de um modelo genérico e que não se pode considerar nem definitivo nem representativo de uma re­gião, pois existem sempre microclimas e diferen­ças entre propriedades) é que a cultura tem pou­co interesse no Norte Litoral de Portugal, nomea­damente, a maior parte dos distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto, a que se deve acrescentar algumas localidades do distrito de Aveiro, na sua área interior.

Tratam-se de zona frescas, onde a precocida­de não é possível, com elevada humidade propí­cia a doenças e, finalmente a elevada fertilidade conduz à presença de uma densidade excessiva de infestantes. Em contrapartida, verifica-se que as áreas de solos muito soltos, arenosos mesmo, apresentam condições favoráveis à cultura e, simultaneamen­te, apresentam baixa incidência de infestantes, por coincidência, são áreas de clima relativamen­te benigno para uma produção forçada com co­lheita temporã, ou seja, quando as cotações ainda são altas e a competitividade é maior.

Em termos gerais as zonas de altitude e o interior do Alentejo são locais onde a cultura é possível, porém, há perdas de interesse em termos de pre­cocidade da produção, e o excesso de calor aca­ba prejudicando o desenvolvimento da cultura. Trás-os-Montes e a parte Norte da Beira Interior têm regiões que podem ser interessantes para a cultura, quer do ponto de vista de adaptação quer económico e onde, aliás, o espargo selvagem ocorre com alguma frequência, mas a região do Litoral Sul é a que tem melhores condições de sucesso.

A planta do espargo é muito fácil de ser mantida e, por vezes, ela própria acaba tendo um comportamento de infestante, contudo, não é uma boa concorrente, pelo que facilmente é dominada e, se não forem proporcionadas con­dições excelentes em termos de nutrição e cuida­dos, a produção é dececionante.

Ao mesmo tempo, a absorção de mão-de-obra é grande e quase constante, de modo que sendo cultura que pode ter interesse para o minifúndio e para a agricultura familiar, há dificuldade de ser ampliada sem se passar para um modelo capitalista, e como em todas as produções agrícolas em que há forte inclusão de mão-de-obra, a rentabilidade pode cair a pique caso não se esteja numa região de condi­ções ótimas e competitivas.

Como sempre dizemos, deve-se investir nos locais onde o dinheiro pode crescer melhor, ten­do cada cultura no seu lugar.


agrotec
 

r.dealer

GF Bronze
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Mar 14, 2017
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Comprei na agríloja umas saque tas para semear, nunca experimentei. Alguém tem feedback de fazer plantação com estas sementes? Pretendo apenas ter uns espargos na horta para fazer uns petiscos de vez em quando.
Este mês já fui colher uns espargos selvagens, são muito diferentes dos de compra tanto a nível de sabor como textura.
 
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