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Sexo e amor sÃo coisas diferentes

Antonio A Alves

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Mai 14, 2016
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O fato de o sexo e de o amor andarem juntos em um grande número de ocasiões não significa que sejam a mesma coisa. Tampouco significa que sejam manifestações distintas de um mesmo instinto - termo usado para designar impulsos que nascem espontaneamente dentro de nós. Esta última idéia foi defendida por Freud, o genial médico de Viena que, no inicio do século XX lançou as bases de uma nova ciência, à qual denominou psicanálise.

A idéia de que sexo e amor sejam a mesma coisa causou grande confusão na época em que foi lançada, sendo responsável por grande parte da oposição inicial que a psicanálise sofreu. Dizer, por exemplo, que um menino de 7 anos sente desejo sexual por sua mãe pareceu chocante e, ao mesmo tempo, duvidoso. Atualmente, ninguém duvida que um menino dessa idade é extremamente ligado sentimentalmente a sua mãe. É bom que se saiba, também, que a confusão era generalizada na maneira de pensar das pessoas daquela época; é exemplo disso a atitude que os pais tinham com seus filhos do sexo masculino: não os beijavam e nem eram muito carinhosos com eles por medo de estarem contaminando-os com desejos homossexuais. Essa atitude só começou a se modificar de uns trinta anos para cá, quando as pessoas passaram a perceber que ternura é bastante diferente de tesão.

Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e feijão - andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são coisas bem diferentes. O amor é um desejo forte que temos por aconchego. O amor busca a sensação de paz e harmonia que sentimos quando estamos junto de uma pessoa muito especial que “elegemos” como o nosso ser amado. Nos primeiros anos de vida, esse objeto do amor é a própria mãe. Com o passar dos anos, nos desligamos dela e buscamos outra pessoa para ser o nosso par na aventura romântica. Uma vez escolhido, só serve aquele parceiro. Sua substituição é possível, mas lenta e dolorosa.
 

Antonio A Alves

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O sexo é um impulso que se manifesta pela primeira vez no fim do primeiro ano de vida. É o momento em que a criança começa a perceber com mais clareza que não está “grudada” na sua mãe, que não é uma parte dela. Começa a perceber a sua individualidade, e passa a pesquisar-se. É o período em que a criança, ao se tocar inteira, percebe que as sensações variam conforme a parte do corpo que é tocada. Percebe bem claramente que a região correspondente aos órgãos genitais provoca uma sensação muito especial, uma inquietação agradável, a qual chamamos de excitação sexual. É muito importante perceber que as primeiras sensações de natureza sexual se dão quando a criança, sozinha, está pesquisando o seu corpo. Trata-se, pois, de um fenômeno pessoal, individual, e que foi denominado “auto-erótico” por essa razão. Diferentemente do amor, que sempre envolve outra pessoa, o sexo é, nas primeiras descobertas infantis, uma manifestação individual.
Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e feijão - andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são coisas bem diferentes.
Podemos dizer, portanto, que existem duas grandes diferenças entre o fenômeno amoroso e o sexual. A primeira diferença é que o amor é paz e harmonia, ao passo que o sexo é excitação, tensão. A segunda diferença é que a paz derivada do amor depende sempre da existência de uma outra pessoa, o objeto específico do nosso sentimento; por sua vez, o sexo é um processo pessoal, auto-erótico e, ao menos na infância, totalmente independente de um objeto específico.

Na vida adulta, o sexo e o amor com freqüência andam juntos. Quando isso acontece, é claro que a pessoa que é objeto do nosso amor tende a se transformar naquela criatura com a qual queremos trocar carícias eróticas. A separação entre amor e sexo torna-se difícil de ser observada, derivando dai as confusões feitas pelos primeiros pesquisadores dos fenômenos psíquicos, tão essenciais ao entendimento de nós mesmos.
 

Antonio A Alves

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A VIDA SOCIAL IMPÕE LIMITES AO HOMEM

Freud acreditava, diferentemente do que tenho defendido, que o amor era uma manifestação sofisticada, mais intelectualizada, do impulso sexual. Ele chamava esses processos de sublimação, ou seja, a transformação de um impulso mais grosseiro em algo mais sublime, mais especial. Essa transformação era o efeito da nossa razão sobre o fenômeno mais físico, mais animal, da sexualidade. Eu costumo dizer que nós somos criaturas especiais, dotadas de características próprias dos macacos. Porém, temos um “computador”, que é a nossa razão, que nos faz criaturas especiais e únicas. Os impulsos do “macaco”, depois de modificados pelo “computador”, tornam-se mais requintados; transformam-se em produtos sublimados.

A verdadeira história da evolução da nossa espécie e a passagem de um modo de vida primitivo, nômade, para as organizações sociais complexas em que vivemos hoje ainda estão longe de serem conhecidas. A verdade é que foi uma história difícil, cheia de sofrimentos internos e externos. Os sofrimentos externos derivaram do fato de que a Terra não era um local tão apropriado para a nossa espécie. Tivemos de aprender a nos defender dos outros animais, do frio rigoroso, da escassez de alimentos etc.. Se hoje temos casas confortáveis, alimentos preservados para consumo durante o inverno e condições objetivas de combate às doenças e às dores, essas são as conquistas das quais podemos nos orgulhar. O planeta está muito mais adequado às necessidades humanas do que a selva original que aqui encontramos.
Para conseguirmos avançar na conquista do meio externo, tivemos de nos agrupar em núcleos sociais cada vez mais complexos e organizados. Esses grupos impuseram severas limitações à expressão da nossa natureza instintiva, ou seja, nossa natureza mais animal. Muitos dos desejos que surgiram e ainda surgem espontaneamente, graças à nossa biologia, tiveram de ser proibidos. A palavra que se usa em psicologia para isso é repressão.

A repressão, quando muito forte, tira o desejo até da nossa consciência e cria, assim, uma outra parte da nossa subjetividade, que é chamada de inconsciente. O inconsciente contém os desejos que a nossa razão consciente não aceita. E não aceita por causa da repressão, que inicialmente é externa – social – e depois se transforma em interna – pessoal. Por exemplo, se fico com raiva do meu pai e sinto desejo de matá-lo, eu mesmo me censuro por isso, e reprimo o desejo para o inconsciente.
Passamos então a ter um mundo interior dividido: uma parte dos nossos desejos se esconde de nós mesmos, porque os consideramos inaceitáveis. Tudo isso é fruto de uma “domesticação” que o homem teve de impor a si mesmo para viver em sociedades complexas. Os impulsos agressivos estão entre os que mais tiveram de ser reprimidos, do contrário a violência seria causadora da desagregação do grupo.
 

Antonio A Alves

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Sabemos, por experiência própria, que o processo de repressão da agressividade não é perfeito. Sabemos também que boa parte dos nossos desejos violentos são conscientes – ou seja, aceitamo-los, mas não os exercemos, seja por medo, seja por não os acharmos adequados. E mais: vez por outra, eles vencem as barreiras internas e se exercem sob forma de agressões físicas ou verbais. Em algumas pessoas, o controle agressivo se dá de modo mais eficaz; em outras, é bastante precário.
A verdadeira história da evolução da nossa espécie e a passagem de um modo de vida primitivo, nômade, para as organizações sociais complexas em que vivemos hoje ainda estão longe de serem conhecidas.

Os fenômenos amorosos foram se tornando mais fortes e mais importantes só de alguns séculos para cá. É provável que, no passado, as pessoas permanecessem vinculadas a seus parentes – pais, irmãos, tios, primos etc. – de forma tão intensa que sentiam pouca necessidade de aconchego por meio de ligação com uma pessoa que não fizesse parte do grupo familiar. Essa ligação também existia, mas era escolhida pelas famílias, de acordo com as regras de conveniência de cada sociedade. Ou seja, as pessoas se casavam com criaturas que eram escolhidas por outras pessoas, e é provável que, com o tempo, se afeiçoassem a elas e, inclusive, passassem a sentir amor por elas.
Qualquer tipo de encantamento amoroso que surgisse fora das regras da vida social era violentamente reprimido. Isso só mudou nas últimas décadas: agora as pessoas podem se unir ao parceiro que quiserem, e se separar daquele por quem não têm mais interesse.

As histórias dos amores impossíveis, que estavam em oposição às regras, povoam nossas bibliotecas, sendo a mais famosa a de Romeu e Julieta, de Shakespeare. A luta é travada entre a emoção querendo se impor e a regra social querendo prevalecer e indo contra aquela união que a contraria. Esse tipo de repressão é hoje coisa do passado, apesar de ainda existirem alguns resíduos em certos grupos sociais. Pessoas casadas que se apaixonam por outras pessoas, por exemplo, podem se divorciar para realizar seu desejo romântico; ainda esbarram, porém, com fortes oposições, principalmente as de seus próprios filhos, que, não raro, se sentem prejudicados.
 

Antonio A Alves

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Nenhum dos impulsos humanos é mais difícil de ser “domesticado“ do que o instinto sexual. O amor necessita de um objeto definido, e a "domesticação” consiste no indivíduo não se fixar em um objeto proibido; já a nossa agressividade é sempre uma relação, ou seja, se a pessoa não for provocada, não tende a agir com violência. Dessa forma, as normas da vida em sociedade, quando respeitadas, geram quantidades pequenas – e, portanto, suportáveis – de provocação. Mas o desejo sexual está presente em nós o tempo todo! Não temos, como os outros mamíferos, um período de cio e outro de repouso desse instinto. Ao menos nos homens, o desejo se manifesta principalmente em função do estímulo visual: olhar moças e mulheres de todas as idades provoca o desejo dos homens de todas as idades, e em qualquer época do ano.
A repressão, quando muito forte, tira o desejo até da nossa consciência e cria, assim, uma outra parte da nossa subjetividade, que é chamada de inconsciente.

As mocas e as mulheres sabem que provocam o desejo dos homens e se excitam e se envaidecem com isso. Por essa razão, estão sempre querendo aprimorar cada vez mais a sua aparência física. Conseguem atingir os objetivos com facilidade, pois provocam cada vez mais o desejo dos homens. E vejam a complexidade da questão: quanto maior o grupo social, mais os homens estão expostos a mais mulheres que lhes são atraentes. Dessa forma, à medida que a civilização se sofistica e se expande, mais vezes por dia homens e mulheres se encontram e fazem surgir a faísca do desejo.

Já vimos, também, que o sexo, na sua origem, não tem relação com uma só figura, especial e única, como acontece com o amor. Dessa forma, somos estimulados sexualmente por praticamente todas as pessoas do sexo oposto. E isso acontece mesmo quando estamos sentimentalmente envolvidos e satisfeitos. A mulher enamorada não tem intenção de ter outros parceiros sexuais, além do amado. Porém, continua gostando muito de provocar o desejo de outros homens. Dessa maneira, é um pouco hipócrita quando diz que se veste e se arruma tanto só para agradar ao homem que ama. No caso dos homens, o desejo visual transborda muito claramente as fronteiras do amor. Concluímos, logo, que a fidelidade, quando existe, é fruto de uma regra que a pessoa se impôs, e não da natureza da nossa espécie.
Então para onde vai tanta energia que não pode se expressar, sob pena de desorganizar toda a vida em sociedade?
 
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