• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Realidades - A mulher que ganha a vida matando traficantes

Furabilhas

GF Prata
Membro Inactivo
Entrou
Nov 8, 2014
Mensagens
429
Gostos Recebidos
0

Realidades - A mulher que ganha a vida matando traficantes


Traficantegforum.jpg
Maria é uma assassina profissional, mas quer deixar de o fazer

Quando conhecemos alguém que já matou seis pessoas, não imaginamos que possa ser uma mulher pequena, bastante nervosa e com um bebé a tiracolo.
"o meu primeiro assassinato foi há dois anos e estava muito assustada, porque era minha primeira vez", confessa María, que hoje é uma assassina profissional envolvida na guerra que o governo das Filipinas trava contra as drogas.
A jovem faz parte de uma equipa formada por três mulheres, que são muito valorizadas por conseguirem aproximar-se das vítimas sem levantar suspeitas, facto que seria extremamente difícil se fossem homens.
Desde que Rodrigo Duterte foi eleito presidente, em junho deste ano, e afirmou aos cidadãos e à polícia para matarem narcotraficantes, Maria já matou mais cinco pessoas (todas com um tiro na cabeça) desde a sua "estreia" nesta estranha carreira.
Questionada sobre quem lhe deu a ordem para acabar com essas vidas, ela responde: "Nosso chefe na polícia".

Traficante1gforum.jpg
'Sinto culpa e angústia. Não quero que as famílias dos que mato se vinguem de mim', diz Maria.

A controversa guerra do Estado Filipino contra as drogas é uma oportunidade de trabalho, mas também traz os mais variados riscos.
Na mesma tarde do encontro com esta reportagem, ela e o seu marido disseram aos seus superiores que a casa onde moram havia sido exposta e que precisavam mudar-se quanto antes.
Conta ter começado a matar quando um policia encarregou o seu marido de assassinar um narcotraficante endividado.
Essa actividade acabou tornando-se algo rotineira para ele, até que a sua própria mulher foi sugerida para efectuar o mesmo tipo de trabalho.
"Certa vez, precisaram de uma mulher, e o meu marido me escolheu.
Quando vi o homem que tinha de matar, aproximei-me dele e atirei", conta.

Traficante2gforum.jpg
O presidente Duterte chegou ao poder com a promessa de acabar com o crime e o tráfico de droga

María e o marido provêm de um bairro pobre de Manila.
Não tinham renda fixa, que mudou quando aceitaram passar a ser assassinos profissionais.
Actualmente ganham perto de 380 € (430 US$), por assassinato, que uma pequena fortuna nas Filipinas, e dividem esse valor entre três ou quatro profissionais do ramo e da equipa.
No entanto, María quer deixar esta vida.
Só que não sabe como o fazer.

- Vidas 'sem importância'

Este tipo de actividade não é uma novidade nas Filipinas, mas nunca houve tanta procura por esquadrões da morte como agora.
A mensagem passada pelo presidente Duterte é inequívoca.
Antes da sua eleição, prometeu acabar com a vida de 100 mil criminosos nos primeiros seis meses no cargo
Fez uma dura advertência aos narcotraficantes: "Não destruam o meu país, porque os matarei".

Traficante3gforum.jpg
O crime a desigualdade impera em alguns bairros das Filipinas

No fim-de-semana passado, Duterte repetiu a ameaça, enquanto defendia os assassinatos extrajudiciais de criminosos.
"Será que as vidas destes criminosos realmente importam?”
“Será que as vidas de cem destes significam alguma coisa?".
O ponto de partida para esta impiedosa campanha foi a proliferação de metanfetaminas, ou shabú, como a droga é conhecida no país.
Cada grama custa cerca de 1000 pesos filipinos, cerca de 20 € ou22 US$.
Barata, fácil de fabricar e muito viciante, ela pode ser fumada, injetada, inalada ou dissolvida em água.
Tem efeitos instantâneos e serve como uma via de escape para a miserável monotonia dos bairros pobres, permitindo desta forma um escape para suportar os trabalhos pesados.

Traficante4gforum.jpg
A proliferação do 'shabú' levou à campanha impiedosa do actual presidente filipino

Duterte disse que esta era uma verdadeira epidemia, que afecta milhões de cidadãos.
O presidente filipino afirma que é também um negócio muito lucrativo, onde perto de 150 altos funcionários, oficiais e juízes se encontram ligados ao mesmo.
Cinco chefes de polícia são mesmo os comandantes deste tipo de negócio, garantiu ele.

- Os mais pobres

Os alvos dos esquadrões da morte são, no entanto, aqueles que estão nas classes sociais mais baixas.
Segundo a polícia, mais de 1,9 mil pessoas foram assassinadas em episódios relacionados às drogas desde que Muterte assumiu a Presidência, em 30 de Junho.
Destes, 756 foram mortos em operações policiais.

Traficante5gforum.jpg
A guerra contra o narcotráfico é travada quase que exclusivamente nas áreas mais pobres do país

O restante número de mortes estão, oficialmente, sendo investigadas, mas na prática, a maioria segue sem explicação.
É uma guerra travada quase exclusivamente nas áreas mais pobres do país, onde corpos ensanguentados são descobertos todas as noites, juntos a cartazes advertindo as pessoas para não se envolverem com drogas.
Também é uma guerra popular.
No bairro de Tondo, uma zona de favela próxima ao porto de Manila, a maioria dos moradores aplaude a dura campanha do presidente.
Culpam o shabú pelo aumento da criminalidade e por destruir vidas, ainda que alguns se preocupem que esta iniciativa esteja a levar inocentes à prisão e à morte.

- Medo e culpa

Um dos mais procurados pelos esquadrões da morte é Roger.
Ele conta ter-se viciado em shabú quando era jovem.
Como muitos outros, começou a traficar para manter o vício, pois via nisso um trabalho mais fácil do que trabalhar em canteiros de obras.
Diz ter trabalhado com muitos polícias corruptos, obtendo muita da droga que vendeu, da droga confiscada em operações policiais.

Traficante6gform.jpg
Roger é traficante e viciado em 'shabú'

Agora, está em fuga, mudando-se de um lugar para outro para evitar ser morto.
"Não consigo livrar-me do medo que carrego no peito todo o dia e a toda hora.
É aterrador e exaustivo ter de me esconder sempre", diz ele.
"O mais difícil é não saber em que confiar.
Nunca sei se a pessoa que está na minha frente é um informador ou o meu assassino.
É difícil dormir à noite.
Acordo a todo o instante, sobressaltado com o mínimo ruído.
Não sei para onde ir, em busca de um lugar seguro para me esconder."

Traficante7gforum.jpg
O lixo acumula-se nas ruas de Happyland, distrito de Tondo, em Manila

Roger sente-se culpado:
"Cometi muitos pecados.
Fiz coisas terríveis.
Prejudiquei muita gente, porque ficaram viciados, porque sou um dos muitos que vendem a droga".
Ele diz que nem todos os que consomem o shabú são criminosos.
"Também sou viciado, mas não mato, não roubo".
Ele mandou os seus filhos viverem com a família da mulher no interior do país e, assim, mantê-los longe da epidemia de drogas.
Calcula que cerca de um terço dos seus vizinhos estejam viciados.

Traficante8gforum.jpg
A metanfetamina é usada como uma forma de escapar ao estado de pobreza

Roger ficou com medo quando Duterte afirmou que mataria traficantes e jogaria seus corpos na baía de Manila?
"Sim, mas pensei que (o presidente) perseguiria as grandes facções que fabricam as drogas, não os pequenos traficantes como eu.
Gostaria de voltar atrás no tempo, mas é muito tarde.
Não posso entregar-me, porque a policia provavelmente me mataria."

Traficante9gforum.jpg

Traficante10gforum.jpg
Na periferia, a falta de recursos é evidente, como se pode observar nestas imagens do bairro de Tondo, em Manila

María também se arrepende das suas escolhas.
"Sinto culpa e angústia.
Não quero que as famílias de quem matei se vinguem de mim."
Preocupa-se ainda com o que seus filhos pensarão, já que os mais velhos começam a perguntar como ela e seu marido ganham tanto dinheiro.
María costuma pensar que o próximo trabalho será o último, mas o seu chefe já ameaçou matar quem deixar a equipa.
Ela sente-se presa.
Pede perdão ao padre quando se confessa na igreja, mas não se atreve a contar-lhe o que faz.
Ela e os seus companheiros acreditam que a campanha do presidente é justificada.
"Só falamos da missão e como executá-la.
Quando termina, nunca mais tocamos no assunto."
No entanto, ela retorce as suas mãos e fecha os seus olhos com força, enquanto diz isto, perseguida por pensamentos que não quer partilhar.

*Os nomes dos entrevistados foram alterados para preservar sua identidade.

BBC
 
Última edição:
Topo