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Como é que a 'serpente gigante' que os cientistas querem usar para limpar os oceanos vai funcionar

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GF Prata
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Nov 8, 2014
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Como é que a 'serpente gigante' que os cientistas querem usar para limpar os oceanos vai funcionar



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O objectivo do 'projecto serpente' é recolher o lixo existentes na chamada 'ilha de lixo' no Oceano Pacífico
Imagem: The Ocean Cleanup

Quando o adolescente holandês Boyan Slat entrou no mar na Grécia há sete anos, ficou surpreso ao ver mais plástico do que peixe na água.
Ficou tão incomodado com a poluição ai existente, que começou a fazer campanha pela a limpeza dos oceanos.

Durante muito tempo, poucas pessoas o levaram a sério.
Era apenas um universitário com uma ideia na cabeça, que, à primeira vista, parecia estapafúrdia.

Mas, neste sábado, com o a ajuda de grandes investidores e de um ambicioso trabalho de engenharia, Slat conseguiu lançar um enorme sistema de recolha de plástico, que se assemelha a uma serpente.
O dispositivo saiu da baía de São Francisco (EUA) com destino à grande "ilha de lixo" no Pacífico, que fica localizada entre a Califórnia e o Hawaí.

Até agora, o foco das campanhas de recolha de plástico têm sido nas praias e consistem, basicamente, em reunir voluntários ao redor do mundo para recolher sacolas plásticas e garrafas do litoral.

Mas poucas são as iniciativas para tentar limpar os oceanos por dentro.
Alguns especialistas mostram-se cépticos com a iniciativa de Slat, e, apesar dos testes e simulações digitais, ninguém sabe ao certo se a "serpente" vai funcionar.

Por um lado, alguns acham, que poderia ser uma distração para o problema mais eminente, o despejo de plástico no mar.
Por outro lado, há o receio de que esta operação possa causar sérios danos à vida marinha.

Mas Boyan Slat e sua equipa da organização sem fins lucrativos The Ocean Cleanup (A Limpeza do Oceano, em tradução livre) estão convencidos de que a enorme quantidade de plástico existente actualmente nos oceanos exige uma acção imediata.


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Existe quem tem ressalvas em relação ao efeito prático da ideia de Boyan Slat, mas aplaude a iniciativa de se tentar limpar os oceanos por dentro
Imagem: The Ocean Cleanup


Qual é o objetivo?


O objetivo da equipa de Slat é alcançar o Pacífico oriental, em especial a ilha do lixo, onde as correntes circulares marinhas têm concentrado uma grande quantidade de plástico numa única área.

A meta é reduzir para metade a contaminação desta área a cada cinco anos, de modo que em 2040 todo o lixo tenha desaparecido.

"Temos muita pressa", disse Lonneke Holierhoek, directora de operações do projecto, cuja sede fica em Roterdão, na Holanda.

O governo holandês é um dos principais patrocinadores, junto com algumas empresas e investidores endinheirados.
O projecto, estimado em mais ou menos US$ 20 milhões, já deixou de ser uma ideia de um jovem para se transformar numa iniciativa internacional.

No escritório do projecto, é forte o cheiro de algas e lixo.
Nas mesas e no chão, há caixas cheias de fragmentos de plástico, trazidos do mar em expedições anteriores e que representam um lembrete da tarefa, que os envolvidos na empreitada têm pela frente.

"Se não fizermos isto", diz Holierhoek, "todo este plástico começará a decompor-se em pedaços cada vez menores, e quanto menores forem as as peças, mais prejudiciais serão e mais difícil será extraí-las do ambiente marinho."



Holierhoek é uma engenheira, que tem passado as últimas duas décadas dedicando-se a projectos distantes das costas.
Não é uma activista, mas alguém com grande experiência em trabalhar com enormes estruturas no mar.

Para ela, o projecto serpente é um esforço legítimo para tentar reverter a maré de contaminação.
"Mais do que falar do problema ou de protestar, trata-se de tentar resolvê-lo", afirma a engenheira.


Como funciona?

O principal elemento do "projecto serpente" é o sistema de recolha, que é passivo.
Isto significa, que não há mecanismos ou máquinas.
Em vez disso, foi projectado para se mover e pegar gentilmente em qualquer plástico em se encontre no seu caminho.

A máquina tem a forma de uma cobra gigante e é composta por secções tubulares.
Mede cerca de 600 metros de comprimento e flutua em forma de "U", tendo por baixo, uma tela de três metros.

O objectivo é que o sistema de recolha capture plásticos até formar uma massa densa.
O peixe deve poder nadar debaixo dele e, como o aparelho tem superfícies lisas, a esperança é que nenhuma espécie sofra danos.

O sistema leva câmaras a bordo, cuja função é controlar a operação.
Aproximadamente a cada seis semanas, um navio viajará até à "serpente" para recolher todo o plástico retido e levá-lo para o continente, onde será reciclado.


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"Temos muita pressa", disse Lonneke Holierhoek, directora de operações do 'projecto serpente'
Imagem: The Ocean Cleanup

Todo material recuperado deve ser transformado em produtos a serem comercializados com o selo de "feitos a partir de plástico marinho" e serão vendidos a um preço mais alto.

Quais são os potenciais problemas?


Alguns especialistas ouvidos pela BBC News temem que a vida marinha sofra danos.
Qualquer coisa que seja lançada ao mar cobre-se de algas rapidamente, atraindo plânctons que, por sua vez, atraem peixes pequenos e, em seguida, peixes maiores.

É por isso que, por exemplo, frotas de pesca industriais instalam "dispositivos de agregação de peixes" para fazer o papel de engodo.

Mas Lonneke Holierhoek tem uma resposta para estas questões.
Ela afirma que um estudo ambiental independente descobriu, que esse impacto pode ser minimizado, por exemplo, gerando um ruído pouco antes de o plástico ser recolhido, a fim de afugentar o peixe.

Mas Sue Kinsey, da Sociedade de Conservação Marinha, é uma das que não está convencida de que o projecto serpente vai ajudar a resolver o problema da poluição sem causar danos.

Ela diz admirar a paixão e força de vontade dos envolvidos com o projecto, mas vê-o com algumas ressalvas.


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A cada ano que passa, milhões de toneladas de lixo vão parar aos oceanos
Imagem: The Ocean Cleanup

"O principal problema são as criaturas que flutuam passivamente no oceano e não conseguem sair do caminho, uma vez que estão nesse campo, elas ficarão presas sem se poderem mover", diz.

Ela também garante que, em termos de custo, é mais eficaz limpar as praias e concentrarem-se em evitar que mais plásticos cheguem aos oceanos.

O professor Richard Lampitt, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, também elogia o projecto, mas reconhece que grande parte do plástico, que vai parar aos oceanos afunda-se relativamente rápido, de modo que o esforço não faria uma grande diferença.

Lampitt também destaca os efeitos no meio ambiente para a construção e execução do projecto serpente, que prevê a construção de 60 dispositivos de recolha e o transporte dos barcos na sua ida e volta, tudo para recuperar aproximadamente 8 mil toneladas de plástico por ano.

"A relação de custo benefício não é nada vantajosa", diz o professor.

No entanto, um dos pesquisadores do projecto, Laurent Lebreton, diz que o esforço vale a pena.
Ele argumenta, que os resíduos humanos têm um impacto negativo no mundo natural.


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O plástico tornou-se parte da cadeia alimentar", diz Laurent Lebreton, um dos investigadores do 'projecto serpente'
Imagem: The Ocean Cleanup

Lebreton mostra como um pequeno pedaço de coral branco cresceu em torno das fibras de uma velha rede de pesca e como na borda irregular de uma garrafa de plástico há marcas inconfundíveis de dentes deixados pela mordida de um peixe.

"Os peixes engolem este plástico e estes mesmos peixes acabam no nosso prato mais tarde, tornando-se o plástico parte da nossa cadeia alimentar", diz Lebreton.

"Há uma solução. Em primeiro lugar é necessário ter certeza de que o plástico não entra no ambiente natural, e então tem-se que recolher tudo o que acumulámos desde a década de 1950", acrescenta.

O sistema de recolha levará três semanas para chegar à “ilha do lixo”, localizada a cerca de 2 mil quilómetros da costa da Califórnia.

Ainda este ano, deverão estar disponíveis os primeiros resultados de como está a funcionar o primeiro projecto serpente, que pretende limpar os oceanos por dentro


D. Shukman
 
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