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História da vinicultura portuguesa

Nelson14

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História da vinicultura portuguesa




O vinho é um produto de relevo na história da humanidade. Este, envolto em simbologia e religiosidade, cedo se tornou fonte de inspiração para os mais variados povos, alimentando mitos e lendas. No início desta longa história, as uvas serviam como fonte de alimento acessível, visto que se adaptam até nas áreas mais inóspitas, mas com o passar do tempo e com um conhecimento cada vez mais apurado a respeito das suas características, o seu prestígio aumentou.


Acredita-se que a vinha foi cultivada em 2000 a.C. (no território que hoje corresponde ao Vale do Tejo e ao Vale do Sado) pelos Tartesos, civilização com uma cultura e técnicas bastantes avançadas para a época, que se destacaram como bons negociantes por trocarem diversos produtos com outros povos, entre os quais o vinho (que provavelmente serviu como moeda de troca no comércio de metais).
No século X a.C. os Fenícios ficaram com o comércio dos Tartesos. Alguns estudos referem a introdução de novas castas na Península Ibérica por este povo. Os Gregos, por sua vez, instalaram-se na Península Ibérica no século VII a.C.. Estes aqui desenvolveram a cultura da vinha e trouxeram progressos nos métodos de elaboração do vinho. Já os Celtas, no século VI a.C., também deram o seu contributo, na medida em que introduziram novas castas de uvas. Acredita-se que os Celtas no século VI a.C., a quem a videira já era familiar, teriam trazido para a Península Ibérica as variedades de videira que cultivavam e, provavelmente, também técnicas de tanoaria (a tanoaria consiste numa arte ancestral dedicada ao fabrico de vasilhames em madeira para o armazenamento do vinho. A madeira mais utilizada é a de carvalho, destinada ao fabrico de pipas, tonéis, celhas, canecos e outros artefactos, principalmente para a colheita, tratamento e transporte de vinho). Mais tarde, os Celtas e os Iberos fundiram-se num só povo – os Celtiberos – ascendentes dos Lusitanos, povo que se afirma no século IV a.C..
A expansão romana na Península Ibérica conduziu aos primeiros contactos com os Lusitanos, cerca de 194 a.C.. Seguiram-se longos anos de lutas e de guerrilhas, vencidas pelos Romanos que venceram os Lusitanos somente dois séculos depois, determinando a conquista de toda a Península em 15 a.C. Já nos séculos II e VII d.C. os Romanos ocuparam a Península Ibérica e com eles trouxeram novos conceitos e técnicas na arte do cultivo da vinha – nomeadamente a poda-, criaram os socalcos, modernizaram a cultura da vinha e introduziram novas variedades. Saliente-se que a necessidade de enviar vinho de qualidade, ou ao menos bebível, para Roma, proporcionou grandes desenvolvimentos na produção de vinhos em território português, deixando marcas até os dias correntes.
Seguiram-se as invasões e com o declínio do Império Romano, o território foi palco para diversas invasões bárbaras. A Lusitânia foi disputada aos romanos por Suevos e Visigodos que terminaram por vencê-los. Com o decorrer do tempo, houve a fusão de raças e culturas, o que colaborou para a transformação dos valores culturais e dos costumes, passando-se do paganismo ao Cristianismo, religião que cultuava o vinho como sagrado, o que veio a fomentar o consumo desta bebida. É nesta época (séculos VI e VII), que se dá a grande expansão do Cristianismo (apesar de já ser conhecido na Península Ibérica desde o século II). O vinho torna-se então indispensável para o acto sagrado da comunhão. Os documentos canónicos da época evidenciam a “obrigatoriedade” da utilização do vinho genuíno da videira na celebração da missa (produto designado por “não corrompido”, ao qual tivesse sido apenas adicionada uma pequena porção de água). Os “bárbaros” ao incorporarem a civilização e religião dos romanos, adoptaram igualmente o vinho, considerando-o como a bebida digna de povos “civilizados”. No entanto, não introduziram quaisquer inovações no cultivo da videira.



Com a invasão Árabe nos séculos VI a XIII, o consumo de vinho foi proibido por motivos de cariz religioso. Todavia, o cultivo das vinhas foi resgatado na medida em que motivava os agricultores aumentarem a sua produção agrícola, sendo a agricultura um aspecto importante na cultura árabe.

No período compreendido entre os séculos XII e XIV, o vinho era dos produtos mais exportados por Lisboa e com a reconquista cristã e a fundação de Portugal a produção voltou a se fortalecer, ganhando notoriedade, sendo este um período de prosperidade vitivinícola. Com o desígnio de povoar áreas devolutas, foram doadas vastas extensões de terras às Ordens Religiosas e Militares que povoaram e cultivaram a vinha que havia sido destruída no período da Reconquista, assim a subsistência da população alicerçou-se na agricultura, onde de forma agregada encontrava-se a vinha e a vinificação das uvas e o vinho passou a fazer parte da dieta do homem medieval.

Alcançamos assim os séculos XV, XVI e XVII, período de expansão marítima em que o vinho fora utilizado como produto de grande qualidade nas trocas comerciais com outros povos, chegando a novos continentes e sendo reconhecido por todo o mundo. Foi neste período que se deu mais uma nova descoberta para o melhoramento do vinho: o produto era armazenado em pipas que ficavam nos porões dos barcos, passando por diferentes temperaturas que em conjunto com o balanço do mar, amaciava a bebida, elevava a sua qualidade e o tornava mais apetecível ao paladar. Esta descoberta portuguesa de aperfeiçoamento das técnicas de envelhecimento permitiu o especial apreço pelo vinho de roda – que ia submerso junto aos porões das embarcações – e que a qualidade ímpar do vinho português fosse conferida por pessoas mundo a fora.



Na idade contemporânea, o Tratado de Methuen celebrado em 1703 com a Inglaterra, relativo às trocas comerciais (sendo o vinho um dos produtos elencados no objecto do tratado), assegurou condições especiais para a penetração do vinho Português em Inglaterra. Mediante este tratado, o vinho português passou a beneficiar de taxas aduaneiras moderadas, o que enalteceu o produto e levou com que as exportações de vinho tivessem um aumento significativo, contribuindo para a popularidade deste vinho. Anos mais tarde, começou-se a vivenciar uma concorrência acirrada nos mercados internacionais, pelo que em 1756, o Marquês de Pombal, para afastar possíveis equívocos e regulamentar as práticas na produção e comercialização do vinho do Porto (produto de grande relevo para a economia nacional da época), criou a primeira região demarcada do mundo, a região demarcado do Alto Douro. Surge também neste período uma entidade para regulamentar a qualidade do vinho do Douro, uma vez que a fácil venda em quantidade acabara por ditar um decréscimo na qualidade do vinho.




O século XIX representa uma época penosa para a vitivinicultura em Portugal. Primeiramente pela devastação provocada pela doença do oídio, a que se lhe seguiu a praga da filoxera, inicialmente verificada na região do Douro em 1856, mas que rapidamente se espalhou a todo o país, devastando a maior parte das regiões vinícolas. Com a eclosão da praga da filoxera, a cultura do vinho ficou seriamente comprometida, já que esta praga dizimou todas as vinhas portuguesas e europeias. Resistiu, porém, na região de Colares, cujo cultivo é feito em terrenos arenosos (meio não favorável ao ciclo biológico do bicho da filoxera). Nos fins do século XIX a produção de vinho principiou uma lenta recuperação e os vinhos portugueses voltam a estar sob os holofotes na grande Exposição de Londres de 1874.




No século XX, o rigor do Estado Novo (1926-1974) preservou o sector vitivinícola e lhe trouxe uma certa estabilidade ao sector. Neste período foi criada a Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal (1933) que visava contribuir para a regularização do mercado. Sucedeu-lhe em 1937 a Junta Nacional do Vinho, organismo de âmbito mais alargado e com uma forte componente cooperativista, cuja intervenção prezava o equilíbrio entre a oferta e o escoamento, a evolução das produções e o armazenamento de excedentes em anos de grande produção, de forma a garantir a compensação dos anos de escassez. Durante o governo de Salazar, foi incentivado o cultivo de uvas mais comerciais, sendo que, após a Revolução dos Cravos (1974), voltou-se a incentivar o cultivo das variedades regionais.

Nos anos 30, dá-se início à regulamentação de diversas denominações de origem portuguesas, tais como: Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Colares, Dão, Vinho Verde e Madeira que então se juntaram ao Vinho do Porto e aos vinhos de mesa do Douro.

No ano de 1986 dá-se início à uma nova e muito significativa era para o mercado vitivinícola português. Como principais mudanças, podemos destacar as seguintes:

– A então Junta Nacional dos Vinhos foi substituída pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo adaptado às estruturas impostas pela nova política de mercado decorrente da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia;

– as regiões vinícolas foram redefinidas, (testemunhou-se o surgimento de novas regiões);

– A legislação comunitária harmonizou o conceito de “Denominação de Origem” e regulamentou o “Vinho Regional” – isto é, os vinhos de mesa com indicação geográfica-, reforçando-se a política de qualidade dos vinhos portugueses;

– A constituição das Comissões Vitivinícolas Regionais (associações de direito privado e carácter interprofissional, regidas por estatutos), devido à crescente produção de vinhos e a dificuldade de gerir a sua qualidade.

É ainda de salientar neste período, a importâncias dos subsídios comunitários que permitiram que investimentos avultados fossem realizados tanto nos vinhedos como nas adegas, impulsionando a actividade vitivinícola e permitindo um significativo incremento na qualidade do vinho. Depois da adesão de Portugal à CEE, presenciou-se uma revolução do mercado vitivinícola, inúmeras propriedades privadas conceberam instalações para produzir e engarrafar seus próprios vinhos, ao invés de entregar as suas uvas ou vinhos às cooperativas ou a grandes empresas. As vinícolas passaram a dispor de tecnologias mais modernas, a contar com os mais rigorosos padrões de controlo de qualidade, a formar enólogos renomados e a produzir bons vinhos (como nunca) que podem descansadamente competir mundialmente.

Actualmente, o país possui variadas cooperativas, algumas das quais excelentes, mas conta igualmente com grandes empresas de sucesso – apesar de nas últimas décadas assistir-se ao crescimento de um grande número de pequenos produtores e produtores independentes. No que toca às vinhas, algumas são novas e modernas, com castas seleccionadas em função dos actuais mercados, já outras são decenária ou mesmo centenárias, com uma variedade de castas antigas que apesar de terem uma baixa produtividade, apresentam uma alta concentração aromática. As novas gerações ainda continuam a assumir os negócios da família e beneficiam-se da experiência de seus antecessores, porém nota-se uma diferença, a nova geração de enólogos é altamente capacitada e tem um novo estatuto profissional dentro do comércio do vinho Português. São viticultores e enólogos apaixonados pela vinificação moderna, mas que também primam profundamente pela tradição e herança cultural, para além de serem guardiões de um tesouro valioso e único: a enorme variedades de castas autóctones que fazem com que os vinhos portugueses sejam inconfundíveis.

Em suma, podemos dizer que os vinhos portugueses são fruto da sucessão de tradições que foram historicamente inseridas pelas diversas civilizações que pelo seu território passaram.

Fonte:winelicious
 
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