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«A Ronda Nocturna» estreia no Teatro Maria Matos dia 19
Dois irmãos e suas mulheres passam uma noite infernal num apartamento, depois do funeral da mãe deles - assim se resume o enredo da peça «A Ronda Nocturna», que estreia quarta-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
Da autoria do dramaturgo sueco Lars Norén, de 63 anos, considerado o herdeiro artístico de Ingmar Bergman, este texto escrito em 1983 convoca o universo retratado por Edward Albee em «Quem Tem Medo de Virginia Woolf».
É o encenador, João Paulo Costa, da companhia ACE/Teatro do Bolhão, que o sublinha, apontando «uma série de recorrências», como «a questão da dissolução da família, com a sociedade moderna, a perda da memória, o individualismo exacerbadíssimo das pessoas, o conflito entre marido e mulher que se transforma quase numa guerra de cérebros, com as palavras como arma de arremesso».
«Penso que este texto, no seguimento do texto do Albee, leva ainda um pouco mais longe a questão: é uma enorme chamada de atenção para a alteração de comportamentos», disse o encenador à Lusa.
Em palco, estão quatro personagens - Charlotte (Luísa Cruz) e John (António Capelo) e Monika (Custódia Gallego) e Allan (Orlando Costa) - que formam dois casais à beira da ruptura, em confronto «numa noite sem tempo», no apartamento de Charlotte e John, com a filha deste ao telefone durante toda a peça e a urna com as cinzas da mãe sempre presente.
«O facto de haver uma filha que pode estar a ouvir toda esta noite infernal gera elementos de reprodução, isto é, socialmente, nós reproduzimos aquilo que vemos nos nossos pais - e também não é por acaso que a urna está permanentemente em cena», observou João Paulo Costa.
«De alguma maneira, Lars Norén é um nostálgico da família: tal como Ingmar Bergman era um nostálgico da religião - a sua maior dor era não acreditar - em Norén, o que temos é uma dor enorme de já não acreditar na família», referiu.
Este texto vem na sequência de outros dois que o ACE/Teatro do Bolhão já apresentou, no âmbito de um ciclo dedicado ao teatro realista: «Quem tem Medo de Virginia Woolf», de Edward Albee, e «A Noite da Iguana», de Tennessee Williams.
«Queríamos dedicar esta trilogia a um teatro que voltasse a introduzir o trabalho do actor como a parte essencial do espectáculo, dando-lhe de novo protagonismo», explicou.
Esta escolha prende-se, segundo o encenador, com o argumento de que «uma das coisas que têm afastado algum público do teatro é a sobreposição do trabalho do encenador ao trabalho de actor».
Sobre os desafios da encenação de «A Ronda Nocturna» e da transposição do texto para a língua portuguesa numa linguagem do quotidiano, João Paulo Costa afirmou que a companhia não queria fazer um Lars Norén «à portuguesa», mas também não queria fazer «à sueca».
«Descontextualizar um pouco o texto em relação à localização, na Suécia, foi para nós um objectivo, para tornar a peça muitíssimo mais abrangente», sustentou.
«Uma vez que nós próprios temos um determinado tipo de linguagem, por que não utilizá-lo, por que não aproximarmo-nos um pouco do espectador, estabelecer com ele uma relação mais próxima, para que as pessoas se revejam, para que haja um processo de identificação», prosseguiu.
A necessidade de usar uma linguagem com que o público se identifique é ainda maior - argumentou - porque «as pessoas, no fundo, são convidadas a ver uma coisa que é quase do domínio do voyeurismo, há um certo incómodo, parece que estão a ver qualquer coisa a que não deveriam assistir».
«Há qualquer coisa de... chamar-lhe-ia quase uma pornografia intelectual - além de um aspecto muito irónico, que é o do questionamento que o Norén faz do próprio espectador», apontou.
«A Ronda Nocturna», uma co-produção com o ACE/Teatro do Bolhão, estará em cena no Teatro Maria Matos até 13 de Abril, de quarta-feira a sábado às 21:30 e ao domingo às 17:00.
Dois irmãos e suas mulheres passam uma noite infernal num apartamento, depois do funeral da mãe deles - assim se resume o enredo da peça «A Ronda Nocturna», que estreia quarta-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
Da autoria do dramaturgo sueco Lars Norén, de 63 anos, considerado o herdeiro artístico de Ingmar Bergman, este texto escrito em 1983 convoca o universo retratado por Edward Albee em «Quem Tem Medo de Virginia Woolf».
É o encenador, João Paulo Costa, da companhia ACE/Teatro do Bolhão, que o sublinha, apontando «uma série de recorrências», como «a questão da dissolução da família, com a sociedade moderna, a perda da memória, o individualismo exacerbadíssimo das pessoas, o conflito entre marido e mulher que se transforma quase numa guerra de cérebros, com as palavras como arma de arremesso».
«Penso que este texto, no seguimento do texto do Albee, leva ainda um pouco mais longe a questão: é uma enorme chamada de atenção para a alteração de comportamentos», disse o encenador à Lusa.
Em palco, estão quatro personagens - Charlotte (Luísa Cruz) e John (António Capelo) e Monika (Custódia Gallego) e Allan (Orlando Costa) - que formam dois casais à beira da ruptura, em confronto «numa noite sem tempo», no apartamento de Charlotte e John, com a filha deste ao telefone durante toda a peça e a urna com as cinzas da mãe sempre presente.
«O facto de haver uma filha que pode estar a ouvir toda esta noite infernal gera elementos de reprodução, isto é, socialmente, nós reproduzimos aquilo que vemos nos nossos pais - e também não é por acaso que a urna está permanentemente em cena», observou João Paulo Costa.
«De alguma maneira, Lars Norén é um nostálgico da família: tal como Ingmar Bergman era um nostálgico da religião - a sua maior dor era não acreditar - em Norén, o que temos é uma dor enorme de já não acreditar na família», referiu.
Este texto vem na sequência de outros dois que o ACE/Teatro do Bolhão já apresentou, no âmbito de um ciclo dedicado ao teatro realista: «Quem tem Medo de Virginia Woolf», de Edward Albee, e «A Noite da Iguana», de Tennessee Williams.
«Queríamos dedicar esta trilogia a um teatro que voltasse a introduzir o trabalho do actor como a parte essencial do espectáculo, dando-lhe de novo protagonismo», explicou.
Esta escolha prende-se, segundo o encenador, com o argumento de que «uma das coisas que têm afastado algum público do teatro é a sobreposição do trabalho do encenador ao trabalho de actor».
Sobre os desafios da encenação de «A Ronda Nocturna» e da transposição do texto para a língua portuguesa numa linguagem do quotidiano, João Paulo Costa afirmou que a companhia não queria fazer um Lars Norén «à portuguesa», mas também não queria fazer «à sueca».
«Descontextualizar um pouco o texto em relação à localização, na Suécia, foi para nós um objectivo, para tornar a peça muitíssimo mais abrangente», sustentou.
«Uma vez que nós próprios temos um determinado tipo de linguagem, por que não utilizá-lo, por que não aproximarmo-nos um pouco do espectador, estabelecer com ele uma relação mais próxima, para que as pessoas se revejam, para que haja um processo de identificação», prosseguiu.
A necessidade de usar uma linguagem com que o público se identifique é ainda maior - argumentou - porque «as pessoas, no fundo, são convidadas a ver uma coisa que é quase do domínio do voyeurismo, há um certo incómodo, parece que estão a ver qualquer coisa a que não deveriam assistir».
«Há qualquer coisa de... chamar-lhe-ia quase uma pornografia intelectual - além de um aspecto muito irónico, que é o do questionamento que o Norén faz do próprio espectador», apontou.
«A Ronda Nocturna», uma co-produção com o ACE/Teatro do Bolhão, estará em cena no Teatro Maria Matos até 13 de Abril, de quarta-feira a sábado às 21:30 e ao domingo às 17:00.