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“A pena dele é a morte do filho”

Rotertinho

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Aveiro: MP propôs suspensão de caso de pai que deixou bebé morrer ao sol
“A pena dele é a morte do filho”

As flores são colocadas por João Moreira todas as semanas na campa do filho. Não há dia em que o pai não se lembre do pequeno João. A tragédia aconteceu em Março do ano passado, mas a imagem do bebé de nove meses morto no carro, onde João o esqueceu durante horas, continua bem viva na cabeça do programador informático. O processo ainda está no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Aveiro, mas o Ministério Público já tomou uma decisão: vai propor a suspensão do caso. Tudo indica que João Carlos Moreira, que tinha sido constituído arguido, não será acusado pela morte do bebé.

"Não levarem o caso para a frente é uma excelente atitude. A pena dele é a morte do filho. É uma condenação para toda a vida", disse ao CM uma amiga da família, que preferiu não se identificar.

João tenta seguir com a vida. Procura salvar o casamento e ter força de viver pela filha Inês, de cinco anos. Não quer nem consegue falar da tragédia. "Estou a trabalhar, a tentar seguir com a minha vida em frente. Ainda não consigo falar do que aconteceu, não consigo", disse ao CM enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.

O pai regressou à empresa, onde continua a trabalhar, semanas depois da tragédia. Reside no mesmo apartamento, no centro de Aveiro, mas deixou de viajar no carro onde o filho faleceu. Está a receber apoio psicológico.

Na altura da tragédia, João foi ouvido pela Polícia Judiciária de Aveiro e indiciado pelo crime de homicídio por negligência, cuja pena pode ir até aos cinco anos de prisão. Perante os inspectores, João não conteve o choro, mostrando um enorme sentimento de culpa pela morte do filho. Liliana, mãe do menino, também não escondeu a revolta. Lavada em lágrimas, culpou o marido pela morte da criança. Dias depois, no funeral, surgiram de mãos dadas, decididos a superar a dor. A tragédia aconteceu a 13 de Março do ano passado. Como todos os dias, João saiu de casa por volta das 09h30, no seu Opel Corsa, com o filho no banco traseiro. O pai deveria deixar o bebé no berçário a cerca de quatro metros do local onde trabalhava, mas o silêncio do pequeno João, que tinha adormecido durante a viagem, fez com que se esquecesse do filho no automóvel. As horas passaram e só por volta das 12h30, altura em que uma das funcionárias da creche ligou a João a perguntar pelo menino, é que o homem se apercebeu da tragédia. Saiu disparado do trabalho, mas Joãozinho estava já inanimado. Morreu desidratado ao sol, sob uma temperatura de 22 graus. "Não há dia em que não pense no Joãozinho", disse Catarina, funcionária da creche.

FUNCIONÁRIAS NÃO ESQUECEM

A tragédia continua bem viva na memória de Joana e Catarina, as duas funcionárias do berçário onde o menino deveria ter sido entregue. As duas raparigas continuam a recordar Joãozinho com muita saudade e não conseguem esconder a dor ao recordar o bebé. "Foi uma história muito triste, que nos deixou muito abaladas. Nunca vamos esquecer", disse Catarina.

PAI NÃO FOI OUVIDO POR JUIZ

João foi ouvido pela PJ e por um procurador do MP e indiciado por um crime de homicídio por negligência, cuja pena vai até aos cinco anos de prisão. Por esse motivo, não chegou a ser ouvido por um juiz de instrução criminal. Mesmo que fosse acusado, o homem nunca seria condenado a uma pena efectiva, pois a lei só permite prisão para penas superiores a cinco anos.

PORMENORES

CAUSAS DA MORTE

Devido à insolação e desidratação a que esteve sujeito durante cerca de três horas, o pequeno João sofreu uma paragem cardiorrespiratória. No dia da tragédia, as temperaturas atingiram os 22 graus.

CASAL CONTOU À FILHA

João e Liliana Moreira contaram à filha Inês que o irmão tinha morrido. O casal omitiu no entanto as razões que estiveram na origem da tragédia.

SOLIDÁRIOS

Os colegas de trabalho de João mostraram-se solidários com a tragédia desde o início e têm apoiado o homem no seu dia-a-dia.

CASAL TENTA SALVAR A RELAÇÃO

Os meses que se seguiram à morte do pequeno João foram muito complicados para Liliana e para o marido. João culpou-se pela morte do menino, sentimento que ainda hoje tem, e a mulher não escondeu a revolta perante o esquecimento do marido.

Nos últimos tempos, o casal tem tentado seguir em frente e salvar o casamento. Permanecem grande parte do tempo refugiados em casa com a filha, mas sempre que saem mostram-se unidos. "Eles saem muito raramente de casa, mas sempre que o fazem é juntos com a filha. Vejo-os algumas vezes, principalmente ao fim-de-semana. Estão a tentar salvar o casamento, é difícil para os dois enfrentar a vida depois da tragédia", explicou ao Correio da Manhã o dono de um café no prédio onde a família reside.

A filha de cinco anos é agora a principal razão para o casal se manter unido e tentar salvar o casamento. João já confessou muitas vezes que a menina é a única alegria que tem. "Falamos algumas vezes e ele diz sempre que a filha é a única alegria que tem, que é ela que lhe dá força para continuar a viver. Ele andava muito em baixo depois da morte do menino, mas tentou ganhar força ", disse a mesma testemunha.


Correio da Manha
 
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