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Pensionistas acorreram ontem aos bancos mas só hoje poderão levantar as suas reformas
Gregos pensam no dinheiro que a partir de hoje podem tirar das caixas multibanco e fazem contas à vida. Despesas como telefone ou luz podem vir a passar para segundo plano.
Em Plaka, um dos bairros históricos de Atenas, o dono de um dos muitos restaurantes que existem naquela zona queixa-se à repórter do Guardian Phoebe Greenword que as mesas estão vazias. Invulgarmente vazias para um país habituado a comer fora, onde os turistas também enchem as esplanadas da capital grega. Este foi um dos primeiros sinais de retração no consumo dos gregos, no primeiro dia de controlo de capitais, em que tudo esteve fechado: bancos, bolsa e caixas multibanco. Estas começam hoje a funcionar, mas só para levantar 60 euros por dia. Mas como se vive com tal racionamento de dinheiro na Grécia?
"É possível viver com levantamentos de 60 euros por dia se não pagarmos as contas e os impostos, se não tivermos uma família muito numerosa", conta ao DN Leonidas Chrysantopoulos, embaixador grego reformado, que integrou a equipa que ajudou a negociar a adesão da Grécia à UE. O diplomata constata: "O preço médio de um litro de leite é um euro, tal como um quilo de tomates, por exemplo. Então, os produtos alimentares é possível comprar, mas coisas como as contas do telefone ou da eletricidade não é possível pagar. Também é difícil pagar a gasolina para o carro, que por aqui custa 1,69 euros o litro."
Membro de um pequeno partido que defende a saída da Grécia da zona euro, o EPAM, Chrysantopoulos conta que com todas as medidas de austeridade que têm sido impostas no país já está a dever "mil euros relativos a três meses, dos quais só 400 são relativos a eletricidade e os restantes são relativos a impostos". Está a tentar pagar tudo em prestações mais pequenas de 200 euros por mês. O diplomata critica o rumo que o país tomou e o conteúdo dos memorandos negociados com a troika. Por isso, no próximo domingo vai votar oxi - não, em grego, no referendo convocado por Alexis Tsipras.
Ainda não se sabe oficialmente qual será a pergunta a colocar aos gregos nesta consulta popular, mas uma tradução de um documento ontem veiculada no Twitter pelo blogue Greek Analyst aponta para uma questão altamente técnica, longa e confusa na sua formulação.
Tosio Morphy, jornalista na publicação online Popaganda, nota ao DN que não sobra muito dos 60 euros ao final do dia se uma pessoa almoçar e jantar fora, apanhar um táxi, beber dois cafés, comer um bolo e à noite tomar uma ou duas bebidas com os amigos. E enumera: "Comer fora duas vezes são 20 euros, o táxi cinco, os cafés quatro, o bolo três e as bebidas dez." Assim, dos 60 euros levantados da caixa multibanco sobram menos de 20.
O jovem repórter, que enquanto estudante fez Erasmus em Lisboa, especifica os preços médios de alguns produtos na Grécia para dar uma melhor ideia do custo de vida: "Uma embalagem de massa custa um euro, um litro de leite 1,5 euros, um pão um euro, uma cerveja custa um euro se for num quiosque, mas três ou quatro euros se for num bar, um souvlaki (pequena espetada de carne grega) custa entre um euro e 1,20 euros, uma pita gyros, dois euros, e um chocolate Mars ou Snickers, um euro."
No entender de Stratos Karakasidis o problema com este racionamento de dinheiro não é propriamente com as coisas da vida do dia a dia mas, por exemplo, "com outras coisas como os medicamentos de que precisam os idosos". O jornalista da versão grega do site Huffington Post nota ao DN: "Têm de ser pagos em dinheiro."
dn