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Adriana Calcanhotto-A criança que escreve canções para gente grande

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A criança que escreve canções para gente grande

A imprensa brasileira diz que Adriana Calcanhotto voltou aos "discos para adultos", depois de Adriana Partimpim (2004). A cantora e compositora simplifica: "Essa é apenas uma leitura de superfície, acima das ondas." Hoje apresenta Maré ao vivo em Lisboa, no Teatro São Luiz, um disco escrito com a mesma "dose de inocência e a mesma seriedade que se pede a quem canta para crianças".

Hoje, quatro anos depois do sucesso que o alter ego Adriana Partimpim lhe concedeu, a cantora é perseguida pela sua cara-metade. "Quando me encontram na rua pedem-me um novo disco para crianças. No futuro vão existir novas canções, mas não sei quando", afirma, recordando anos de "muita exigência e trabalho", com uma gigantesca digressão que a obrigou a adiar consecutivamente a gravação de um novo álbum com o carimbo Calcanhotto.

Maré acabou por conquistar o seu espaço, depois de uma série de concertos fora do Brasil, de Espanha ao Japão, com um final que traz sempre a alegria de regressar ao Rio de Janeiro, "porto seguro e inspirador". Maré é o segundo disco de uma trilogia nunca pensada. Maritmo, de 1998, reunia odes dedicadas ao mar e à sua simbologia. O mesmo contexto que Adriana Calcanhotto descobriu enquanto "filtrava" os novos temas: "Mais uma vez, canto o mar enquanto imensidão natural mas também como símbolo." Espelho de um período de reflexão, descoberta e saudade daqueles que partiram, Maré é "o mar que vai e vem", com despedida, viagem e morte, esperando o regresso, "feito de alegria, como as ondas na praia de Ipanema".

Mas este "não é um exercício musical adulto". Adriana Calcanhotto poderia mesmo cantar os mesmos temas num disco para crianças: "De forma diferente, mas sem esconder que estes são elementos que nos constroem os dias." As palavras, escolhidas com cuidado - "a poesia é feita de força frágil", diz -, são envolvidas por música "sem rótulo". Com Kassin, Domenico e Moreno Veloso como principais parceiros de composição e gravação, Calcanhotto quis entrar em estúdio "sem grande rumo". Multi-instrumentistas, jam sessions, canções favoritas e temas recusados. Tudo para fugir aos "dogmas da música" que dizem "no samba há o certo e o errado, no jazz existe o sim e o não". O cancioneiro brasileiro é recurso natural em Maré (por lá passam temas de Dorival Caymmi ou Caetano Veloso), até porque "a fonte é inesgotável". Adriana Calcanhotto recusa o exemplo de iconoclastas, presos a "fórmulas de sucesso de uma cultura musical ímpar". Antes, procura a referência de uma nova geração de criativos, "moços" (diz-nos que é expressão carinhosa) como os que a acompanharam em estúdio. Dispensa virtuosismos e procura "o valor do silêncio". Gente como Kassin e Domenico, aprendizes de mestres que voltam a confirmar que "o nível dos músicos no Brasil é muito elevado e será assim para sempre". A música está em toda a parte, de tal forma que Adriana Calcanhotto tem de fugir do "ruído". "Para quê música em elevadores?", pergunta, apontando o dedo a quem tem "medo do silêncio". Recorda tempos de início de carreira, entre bares que pediam intérpretes de versões e um público pouco atento. Desistiu até encontrar quem quisesse ouvir a sua visão da música que a apaixonava, descoberta "no quarto, ao som de um violão". Maré é "o balanço entre esse intimismo e o profissionalismo que me faz crescer". De Partimpim a Calcanhotto. Hoje também em palco, a partir das 21.30.|


TIAGO PEREIRA
ORLANDO ALMEIDA
DN Online
 
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