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Anita e a noite de Natal

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Fev 29, 2008
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No Inverno o Sol nasce tarde e põe-se cedo. O vento do Norte gela as florestas e os prados. A música da água deixa de se ouvir. A vida não é nada fácil para os pássaros e para os animais do campo. Já não há andorinhas, nem flores nem borboletas. No entanto, o Inverno não é sempre triste: os telhados, as árvores, o campo - tudo a neve põe branco. O Natal está a chegar. A Anita e o Pedro estão de férias. - Vamos experimentar o trenó na encosta da colina.

- Como é que conseguem travar? - pergunta o Pantufa.

- Atenção, meninos!… Segurem-se bem!

À noite, a família reúne-se à volta da lareira.

- Quando eu era pequeno - diz o pai - o Inverno começava cedo. O gelo formava-se depressa, bastavam alguns dias. A neve caía com abundância. O pai foi buscar um álbum de fotografias.

- Este aqui sou eu ao lado de um boneco de neve.

- E aqui, quem é?

- É a mãe. Está a patinar no lago. Era uma grande patinadora e nesta fotografia tinha mais ou menos a vossa idade.

- Lembro-me muito bem - diz a mãe. - A propósito, onde foram parar os meus patins? … Talvez os encontrem no sótão…

- No sótão? … Vamos ver…

No sótão está muito escuro.

Que barulho é este? pergunta o Pantufa. Não é nada. É o vento que sopra

nas vigas da madeira. - Era melhor irmo-nos embora.

- Era tão bom se encontrássemos os patins da mãe, não era?…

- Vamos procurar mais um bocadinho.

- E este senhor, quem é?

- Talvez seja o retrato do tio Gilberto.

-Tem um ar tão severo!

- Será que estava preocupado?

Infelizmente não encontram os patins.

- Anita, são horas de ir para a cama.

Lá fora a noite brilha. A Lua surge no horizonte.

Dormir? Dormir? É fácil de dizer… A Anita imagina o pai e a mãe a patinar no gelo.

- Ah! Se eu tivesse patins! suspira a Anita.

No dia seguinte, de manhã, a Anita decide falar ao Pai Natal.

Mas como? Telefonar? Para onde? Para que número?

Na lista está: “PAI NATAL. Grande escolha de brinquedos antigos e modernos. Telefonar para 00.11.22.33.” - Que número tão estranho! Vamos experimentar…

Está lá? É o Pai Natal?… Está a ouvir?

- Eu sou o gravador de chamadas. O Pai Natal não está. Deixem a vossa mensagem.

- Por favor, gostava de receber uns patins de gelo neste Natal. De repente, batem à porta. É o Francisco, vem aflito.

- Anita, Pedro, socorro! Venham depressa!

- O que é que se passa?…

- … O Pantufa caiu à água. Vai-se afogar. A Anita e o Pedro seguem o Francisco até ao lago.

- Eu vinha de bicicleta e vi o cão, sobre o gelo, a perseguir uma gaivota - explica o Francisco. - Então, gritei: Pantufa, Pantufa, anda cá!… Mas ele não ligou nenhuma. O gelo estava muito fininho, fez crac!… E o Pantufa caiu à água.

- Coitado! Como é que o vamos tirar deste sarilho?

- É preciso estender-lhe um remo.

- Dá-me o camaroeiro - diz a Anita.

O imprudente foi trazido para terra. Não se mexe.

Pantufa! Pantufa! Já Nem reconhece a voz da dona. É como se não ouvisse nada.

-Acham que ele morreu?

- Não… respira um bocadinho. - Deve ter engolido um pirolito!

- Não fiquem aí parados! - suplica a Anita. - Devemos fazer-lhe respiração boca a boca. Ou então pendurá-lo de cabeça para baixo.

- Seria melhor friccioná-lo, assim vai aquecer - diz o Francisco. A mãe não está em casa. E o pai também não.

Correm a procurar ajuda… Sozinhos, nunca irão conseguir…

No caminho, as crianças chegam a um castelo. Avistam uma torre, uma varanda alpendrada e, por cima da porta, uma lanterna.

Um castelo? Não. Talvez um solar. Há um vidro partido nesta janela. E este trenó, de quem será?

-Quem é que viverá nesta casa tão grande?

- Bate à porta. Vamos descobrir.

- Está aí alguém? Parece que não…

- Por favor, abram a porta!… Não podemos esperar. Este cãozinho está muito doente.

foto clip_image001 de Anita e a noite de NatalNa verdade, a porta não está totalmente fechada.

Num aviso, um pequeno texto diz: «Em caso de urgência, entrem sem bater.»

A Anita, o Pedro e o Francisco entram em biquinhos dos pés.

A Anita deita o Pantufa no chão, coberto de palha.

Com uma mão-cheia de feno fricciona o cãozinho para o reanimar o mais depressa possível…

- Já me sinto melhor - diz o Pantufa.

- Parece mesmo que já está a recuperar.

Mesmo assim, a sua imprudência podia ter-lhe sido fatal.

- Para a próxima, pensa melhor. Não se anda em cima dos lagos gelados sem verificar se o gelo está bem duro.

O Pantufa já está de pé.

Anda num vaivém.

Corre por todos os lados.

- Olha! Encontrei uma vaca com ramos na cabeça.

- Não é uma vaca, meu tonto. É um veado - explica a Anita.

- Não, é uma rena - corrige o Francisco.

Um castelo que é um solar, uma porta que se abre sozinha, uma rena no país das vacas - isto não é normal!

Vamos ver o que há na sala ao lado… Talvez…

- Olha!

Há marionetas (com chapéus de palha, barretes e cartolas), uma bruxa montada na vassoura, bonecas e mais bonecas enchem as prateleiras. Chamam-se Tuxa, Francisca e Teresa. - Esta aqui, parece que respira.

- Não - diz o Pedro -, tens cada ideia!

- Quem viverá neste castelo?

- O marquês de Carabas ou a Bela Adormecida?

- Não, é um príncipe da Idade Média com a sua corte: cavaleiros, trovadores, bobos e homens de armas.

- Aonde irão estes cavaleiros? - Olha, vão a um torneio!

- Será que vão à caça de um dragão?

- Uma vela a bombordo!

- Deve ser o Hispaniola que volta da Ilha do Tesouro.

- Será que este veleiro transporta pedras preciosas, ouro e marfim? -Toda a gente para a ponte! Vamos içar a bandeira preta! Isto vai aquecer, rapazes!

- O que é esta bandeira preta? - pergunta o Pantufa.

- É a bandeira dos piratas.

-Mas vocês estão a sonhar ou quê? - diz a Anita. - Estes brinquedos pertencem ao proprietário da quinta.

- Parece que estamos numa loja de brinquedos. Estes embrulhos estão prontos a ser enviados. Até têm etiquetas! - Este aqui diz: “Para a Mariana, Quinta

-Nova.”

- E este: “Para o Francisco, Rua do Choupal.”

- Olha! Aqui está escrito: “Para a Anita” e ali: “Para o Pedro”! Esta agora!

Este robot diz: “Para o João Luís, o filho do dono da garagem.”

- E esta capa, não é do Pai Natal?…

- Querem ver que estes brinquedos lhe pertencem? Fizemos uma grande asneira - diz a Anita.

- Nem uma palavra disto a ninguém. Prometido?

-Sim, sim. Vamos jurar sobre a cabeça do Pantufa!

E agora, silêncio! Já é tarde. Vamos para casa…

Passam alguns dias.

A Anita tricota um cachecol com as cores do arco-íris.

Para quem será?

Para o Pai Natal, repara bem! Ele faz os possíveis para agradar a todas as crianças. Por certo que gostava de re­ceber uma prenda… E tu, o que é que arranjaste?

- É segredo.

Chegou a noite de Natal.

- Quem me dera ver o Pai Natal!

- Quando ele entrar fazemos-lhe uma festa. - Será que vem?

- Desde que não se esqueça dos meus patins!…

Quando se espera uma visita, a noite é muito longa. Ouvimos os barulhos da rua e o tiquetaque do relógio. As pálpebras estão pesadas. As crianças adormecem.

- Levantem-se! Levantem-se! Vi passar o Pai Natal!

- É feio mentir, Pantufa.

O Pantufa não estava a mentir.

O Pai Natal entrou mesmo em casa. Deixou os presentes e uma carta:

“Queridos meninos, hoje é um dia muito bonito. Deixo um par de patins para cada um e goluseimas. Muitos beijinhos…” Ah! Se pudéssemos abraçar o Pai Natal!

O Inverno que anunciou o Senhor Meteorologista chega ao seu máximo. É uma estação excepcional!

O gelo está duro, seco e profundo.

Não. O Pantufa não vai voltar a pôr as patas sobre o gelo. Nunca mais…

A Anita experimenta patinar. Não é nada fácil!

Na fotografia, a mãe patinava com tanta graça e elegância! Quando a Anita tiver algumas lições de equilíbrio, tudo vai correr melhor! Ao longe, ouve-se o trenó do Pai Natal que se afasta.
 
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