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Cidade de Barcelos

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Cidade de Barcelos


Como escreveu Norberg-Schulz, "habitar entre o céu e a terra significa «estabelecer-se» na multiplicidade do entre um e o outro, isto é, concretizar uma situação geral num lugar artificial" ; é nesta medida que, uma situação geral, o atravessar de um rio, se concretizou num lugar artificial - a urbe de Barcelos.

Sendo um ponto favorável de atravessamento, este lugar foi, no baixo Cávado, o preferido dos viandantes desde a época romana; passava por aqui, uma importante via que, segundo Ferreira de Almeida, "seria uma estrada que derivava da via Braga-Porto, (...) cruzava o Cávado em Barcelos e, continuando para noroeste, iria entroncar na «via per loca marítima» . A partir deste local e para norte, seguiria outra via em direcção a Ponte de Lima.

O cruzamento de vias é, tanto no aspecto prático como simbólico, um elemento estruturador do lugar natural, ao criar uma referenciação e, consequentemente, dando significado a esse lugar. A presença do rio, símbolo de dinâmica e gerador de vida, aparece-nos como outro dos factores que favoreceram a fixação do habitat humano.

Surge-nos assim uma fixação humana, a poente da actual Barcelos, no local onde o rio oferecia facilidades para uma travessia a pé, facilitada pela existência de um vau. A época em que se deu a fixação é desconhecida, quer por falta de documentação, quer por ausência de vestígios arqueológicos que pudessem ser datáveis. Porém, o Professor Ferreira de Almeida coloca o seu aparecimento na época alti-medieval, com o nascimento da nacionalidade, refutando, por falta de provas, as teorias de outros autores que nos indiciavam para uma ocupação romana ou até anterior.

O lugar daria também origem ao nome de Barcelos, segundo hipótese bastante credível, do autor já citado, justificada pela existência de topónimos paralelos no Norte de Portugal e na Galiza. Estes nomes designam uma «terra baixa plana» e que, neste caso, será a designação de uma «terra ribeirinha e plana».

Não sendo um local favorável à agricultura, as primeiras implantações humanas na região aparecem em redor deste, na forma de vilas agrárias, das quais foram encontrados vestígios. Estes indícios levam-nos a afirmar que Barcelos nasceu da almocrevia e do comércio, actividades favorecidas pela existência do cruzamento de vias que davam acesso a várias cidades importantes - Braga, Porto, Viana do Castelo, Ponte de Lima, e ao mar; advindo-lhe assim, uma posição estratégica no território.

Os terrenos onde o atravessamento era propício, não permitiam, pela sua estrutura geológica e possível subida das águas, uma fixação duradoura, assim, o desenvolvimento urbano vai fazer-se a nascente, no promontório rochoso e planalto adjacente, que ofereciam melhores condições para uma fixação mais perene e também, pela sua cota superior, um melhor dominar do território.

A primeira notícia documental que nos aparece sobre Barcelos é a sua carta-foral, concedida por D.Afonso Henriques, numa data que se pode situar entre 1156 e 1169. Esta primeira referência, ao pôr Barcelos sobre a alçada real, permite-nos inferir sobre as implicações que daí advêm, quer em termos das leis que a cidade ficava obrigada a cumprir, quer em termos das taxas e impostos que devia pagar. Este foral permite-nos ainda concluir que Barcelos seria já uma "povoação aglomerada, tendencialmente arruada" , já seria esse o significado corrente adquirido pela palavra «villa». O documento confirma-nos ainda que, pelas contrapartidas que a vila teria de dar ao rei, a almocrevia seria a principal actividade, o que é confirmado pelas inquirições de 1220 e 1258.

Tal como era corrente nas vilas medievais, também em Barcelos foi criada uma gafaria à entrada da vila, no local da Fonte de Baixo, perto do ponto onde se atravessaria o rio a vau. Esta gafaria aparece já documentada em 1177, sendo uma das mais antigas de Portugal. Será também nesta época que se constrói uma igreja paroquial, românica, no sítio da actual igreja matriz.

As inquirições de 1258 fornecem-nos preciosas informações sobre a vila, onde esta aparece já com um núcleo urbano, certamente bastante arruado, com a igreja paroquial e o açougue, circundado por arredores como os de Cimo de Vila, de Fundo de Vila e do Vale.

Nesse tempo começava a desenhar-se a estrutura da cidade; a mancha urbana concentrar-se-ia na zona dos actuais largos do Apoio e Dr. Martins Lima. O principal arruamento seria o que ligava o ponto de atravessamento do rio, a poente, à via que se dirigia a Ponte de Lima e Viana do Castelo, a nascente. Esta linha corresponde à actual Rua Direita, que se forma então, assim como as demais ruas no seu enfiamento.

O eixo principal seria cruzado por outros dois de menor importância, mas que estruturariam o desenvolvimento futuro da vila. O primeiro cruzava a rua principal no local do actual Largo do Apoio e daria acesso ao vale e aos campos, a norte, e à igreja paroquial, a sul. O Largo do Apoio ou do poio teria assim, sido o primeiro centro cívico da vila, e apesar de não haver documentos que o provem, a casa do alcaide, localizada nesse largo, actual casa dos Carmonas, poderia ter sido a primeira sede da administração local. O segundo arruamento a cruzar o eixo urbano principal, seria o que partia do actual Largo Dr. Martins Lima e dava acesso ao rio e à fonte. O último cruzamento seria certamente muito antigo, sendo o local designado pela «cruz», topónimo carregado de simbolismo.

É talvez desta época, meados do século XIII, o aparecimento de uma feira no local onde se iniciava a via para Ponte de Lima e Viana do Castelo, consequência das principais actividades, a almocrevia e o comércio; seria o germinar da feira que tornou Barcelos num pólo de atracção de uma vasta zona. Este local manteve-se desde sempre para a feira, com pequenas variações, tal era a sua importância para a cidade.

A gafaria atingiu o seu apogeu na centúria de trezentos, sendo nesta época o seu termo de elevada extensão. Segundo o tombo de 1498, as terras pertencentes à gafaria (a maioria teria sido, certamente adquirida ou doada na época de apogeu), estendiam-se desde "a Facha (Ponte de Lima), a norte, até S. Miguel das Marinhas, junto ao mar, e Minhotães, a sul, significando-nos a extensão da doença e dos legados obtidos".

D.Dinis, em 1298, para recompensar o mordomo-mor do reino e seu diplomata, João Afonso, senhor de Albuquerque, nomeou-o conde e doou-lhe em título esta povoação; João Afonso tornou-se o primeiro conde desta vila.

Passar de vila régia a vila condal, teve uma importância decisiva no evoluir da urbe. O senhor da terra tornou-se exclusivo, o que dá um carácter e uma identidade próprias à vila e seus habitantes. O facto marcou também uma ascensão de Barcelos em relação às povoações vizinhas, já que adquire então um estatuto diferente e uma administração e jurisdição autónomas. Tendo nos seus condes homens poderosos, Barcelos consegue continuadamente, uma influência e um termo de grande importância, atestado pelo lugar de relevo que os seus representantes tinham nas cortes do reino.

As obras feitas por alguns condes mudaram a fisionomia e a estruturação da cidade, tirando importância a alguns locais e arruamentos, para a dar a outros.

Uma das obras que provocou maiores mudanças, a construção da ponte gótica sobre o rio Cávado, é atribuída ao terceiro conde de Barcelos, D.Pedro (1314-1354), filho bastardo de D.Dinis e autor do «Nobiliário». A sua construção ter-se-ia efectuado entre os anos 1325 e 1328, tendo neste último ano sido instituída a capela de Santa Maria da Ponte , na margem sul. A escolha do local prende-se essencialmente com aspectos de natureza geológica e construtiva, já que, "o afloramento rochoso com cota elevada em ambas as margens do rio, permite o lançamento da ponte. A continuação do veio granítico no interior do leito do rio possibilita a colocação dos apoios intermédios sem grandes custos das fundações".

A construção da ponte teve como consequências externas, o reforçar do papel de Barcelos como pólo comercial e local privilegiado de atravessamento do Cávado. Internamente esta obra desvaloriza toda a zona que se situa entre o Largo do Apoio e o antigo atravessamento do rio. Inversamente, toda a zona que se situa entre este Largo e a ponte, ganha uma importância urbana, que não tinha. O referido largo continua a ser a autêntica praça da vila, já que, possivelmente, será aí que os condes terão o seu paço, inclusive, o sétimo conde, D.Nuno Álvares Pereira. Este tinha, na antiga Rua dos Açougues que se iniciava no Largo do Apoio, a sua casa condal, ainda hoje existente, mas certamente com uma configuração já adquirida no séc. XVI.

"Esta modificação do trânsito acentuou o desenvolvimento das antigas ruas transversais que se tornaram principais, ligando-se à Rua Direita que continuou a urbanizar-se e a elitizar-se".

O novo troço do eixo urbano principal, futura Rua de Santa Maria, ligando o Largo do Apoio à igreja, da qual seguia um caminho para a ponte, adquiriu grande força e iria ser no futuro uma linha de desenvolvimento para o novo centro de Barcelos, que se desloca gradualmente do Largo do Apoio para a zona a norte da igreja.

Na rua referida e possivelmente nesta época, é edificada a pequena capela devotada a Santa Maria, de onde adviria o nome da rua, e para a qual tinha sido transferida uma imagem de Santa Gertrudes Beneditina, proveniente da Fonte da Baixo. Na segunda metade do século XIV, segundo Ferreira de Almeida, a sul desta capela, constrói-se o Hospital do Espírito Santo, administrado pelas autoridades municipais, juízes e regedores.

No tempo de D.Pedro iniciaram-se ainda as obras de construção da actual Igreja Matriz, sobre a pequena Igreja Paroquial, e que se prolongaram pelos dois condados seguintes, respectivamente de D.Afonso Telo (1357-1372) e D.Afonso Teles de Menezes (1372-1382).

A partir de 1385, D.Nuno Álvares Pereira, Condestável do reino e um dos homens mais poderosos do país, tornou-se no sétimo conde de Barcelos. Em 1401, por motivo do casamento da sua filha, D.Beatriz Pereira, com D.Afonso, filho bastardo de D.João I, renunciou à posse do condado, para ser entregue como dote ao seu genro.

Nos sessenta anos seguintes D.Afonso administrará o condado como o seu oitavo conde. Entra-se numa nova era para o condado Barcelense, pois o seu novo senhor torna-se gradualmente num dos mais poderosos do reino; além do dote já referido, consegue de seu pai o ducado de Bragança, o condado e ducado de Guimarães e aos quais é acrescentado, posteriormente, o titulo de marqueses de Vila Viçosa, na pessoa de seu filho, D.Fernando I. Barcelos deixava novamente de ter a exclusividade do seu senhor, adquirida com a passagem de vila régia a condal, o que não lhe foi benéfico, já que estes foram preferindo Guimarães e depois Vila Viçosa.

O desenvolvimento da feira, prova da vitalidade económica que então se verificava, leva à publicação de um diploma régio, em 19 de Fevereiro de 1412, criando uma feira anual e foi conseguido «a rrogo do conde dom affomso» . O progresso económico é também patente no aparecimento de uma notória comunidade judaica, documentada desde 1369.

Realizam-se então, obras de grande vulto na vila, patrocinadas por D.Afonso e continuadas pelos seus descendentes. Nos começos do século XV, este alcançou de seu pai, D.João I, carta para poder lançar taxas para os «muros e torres» da vila. A cerca seria terminada nos meados do século XV, como se pode deduzir de uma reclamação, em Cortes, dos representantes de Ponte de Lima.

Desta muralha ainda hoje nos restam alguns, poucos, vestígios, que nos permitem refazê-la com uma pequena margem de erro, quer com a ajuda do desenho de Duarte Darmas e da Planta Militar de 1806, quer pela estrutura actual do centro da cidade, conformado, ao longo dos séculos, pela existência da cerca. Esta possuía três torres, cada uma correspondendo a uma porta da cidade, corolários das vias mais importantes. Actualmente, das três torres, só subsiste a do cimo de Vila.

Existiam ainda, pelo menos dois postigos, dos quais o mais importante era o de Pessegal, defendido por uma pequena torre e por uma barbacã, dando acesso à fonte e ao rio. Na direcção da Fonte de Baixo e Casal de Nil, encontrava-se o postigo do Fundo de Vila, passagem de serviço muito utilizada.

A leitura feita por Maria da Conceição Falcão Ferreira dos documentos de Ponte de Lima, ao tempo do Conde D.Fernando II, permite-nos concluir que as referências que nele se fazem às obras, se referem ao Paço Condal, iniciado no tempo de D.Afonso. Segundo o Professor Ferreira de Almeida os Paços do Concelho são também da segunda metade do Século XV, incluídos nas obras para as quais se lançou talha. Fica assim atestada a importância que adquirira a zona a sul do Largo do Apoio até à ponte, com a implantação destes edifícios, deslocando-se para aí o centro cívico da urbe. É também deste tempo a formação da «Praça da Vila», entre os Paços do Concelho e a Igreja, onde se implantaria o pelourinho da vila, símbolo da lei e da administração.

D.Fernando consegue ainda, em sequência de diligências iniciadas por seu pai, que fosse instituída a Colegiada de Barcelos, em 1464, pelo Arcebispo D.Fernando da Guerra.

Nesta época, aparece também a mais importante casa senhorial medieval - o Solar dos Pinheiros - visível já no desenho de Duarte Darmas, mas cuja construção inicial não tinha ainda o volume que este desenho já apresenta.

A dinâmica que Barcelos adquiriu com a passagem a vila condal, traduzida em edificações, permite-nos afirmar que a sua estrutura como urbe estava já formada, nas suas linhas principais, ao final do século XV, no ultrapassar da idade medieval. O seu centro cívico com as sedes das principais instituições, as principais artérias estruturando o burgo intra-muros e o campo da feira, estavam já delineados.

Seguem-se anos de desgraça para o condado, pois D.Fernando, homónimo de seu pai, décimo conde desde 1478, foi setenciado em Évora (1484) sob acusação de ter conjurado contra D.João II, sendo os seus bens incorporados na coroa, estando neles incluída a vila de Barcelos.

D.Manuel, em 1496, restitui quase todos os bens ao legítimo herdeiro, D.Jaime, reabilitando assim o nome da família.

Durante o condado de D.Jaime, de 1496 a 1532, dão-se acontecimentos na cidade que vão dar um novo fôlego à sua urbanização, o principal dos quais será o milagre do Senhor da Cruz.
 

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No ano de 1504, numa sexta-feira de Dezembro, aparece miraculosamente, "uma cruz, de terra bem negra, no chão barrento do campo da feira" . Em consequência forma-se uma Irmandade, a do Bom Jesus da Cruz, e constroi-se uma pequena capela, no local do milagre, que angariaria desde logo uma grande devoção, especialmente entre os mareantes. O local de implantação da capela, em frente à Torre do Cimo de Vila, ao lado da qual se abriu um postigo encimando a Rua Direita, assumiu-se como um novo polo de desenvolvimento da urbe, já indiciado antes, mas em menor escala, com a existência do Campo da Feira. Como prova desta situação, temos o facto de o conde D.Jaime ter tentado transferir para aqui a Igreja da Colegiada, quer porque a cidade crescia nesse sentido, quer para ampliar o seu Paço Condal que se revelava demasiado pequeno. Apesar dos documentos registarem esta intenção, a mudança nunca se chegou a efectuar.

A Colegiada sofre então obras vultuosas, das quais se destacam as capelas da cabeceira, em estilo gótico, com inscrições, datando o fecho das mesmas dos anos de 1504 e 1506.

Inicia-se então uma época de renovação arquitectónica da cidade, existindo documentos que nos falam, das primeiras urbanizações extra-muros, como sejam a da Cruz, a do Salvador e a da Porta do Vale.

O crescimento das actividades mesteirais, que leva ao aparecimento nesta época da especialização de ruas pelos diversos mesteres (Rua dos Pelames, Rua dos Alenterneiros, Rua dos Mercadores, etc), indicia-nos o nível económico atingido. Como evidência disto, temos também a grande comunidade judaica, existente ao tempo, com o seu bairro próprio, na Rua da Judiaria (no local da ala nascente da actual Câmara Municipal), onde ficava também a sua casa de culto. Com o decreto de expulsão ou conversão, em 1496, a maioria dos judeus de Barcelos fizeram a sua conversão. O tombo do Hospital, de 1498, refere-nos a «casa que foi sinagoga» e a «rua nova que foi judiaria».

É ainda no tempo de D.Jaime que se cria a Misericórdia de Barcelos, ficando esta sediada na Capela de Santa Maria, a norte do Hospital. por provisão de D.Manuel, em 1520, confirmando uma situação que já se verificava de facto, a Misericórdia assume a administração de bens e encargos do Hospital do Espírito Santo e da Gafaria da Fonte de Baixo, extinta na altura por falta de doentes e de receitas. Assume-se esta instituição como uma autêntica segurança social, prestando cuidados aos doentes e necessitados, e como um autêntico «montepio» da época, emprestava juros a nobres, a agricultores e até a artistas. A leitura da sua correspondência deixa-nos ainda "(...)com a impressão de que esta instituição era um autêntico consulado e um centro de informações, dando notícias de herdeiros e descendentes de barcelenses dispersos pelo nosso mundo da Expansão (...)".

O décimo segundo conde, D.Teodósio (1532-1563), protegeu a Irmandade da Misericórdia, isentando os seus mesários da obrigação de cargos municipais.

Nos finais do século XVI a Capela de Santa Maria, sede da Misericórdia, era demasiado pequena para o culto que tinha. Decidiu-se então construir uma nova igreja para acolher a Irmandade. Foi lançada a primeira pedra no ano de 1593 e estaria concluída em 1596, a nascente dos Paços do Concelho, conformando a Praça da Vila.

Esta praça, tal como já tinha acontecido em Viana, Braga e Guimarães, recebe na segunda década do século XVII, uma configuração renascentista - o pelourinho aí existente dá então lugar a um chafariz, que hoje em dia se encontra no Largo de S. José. É também neste século que, segundo o Professor Ferreira de Almeida, o velho hospital sofre grandes remodelações.

No século XVII, a Torre do Cimo de Vila passou a chamar-se "Torre da Porta Nova e nela se instalou a cadeia comarcã por 1631 - 1636 quando se extinguiu o antigo Tronco municipal, situado no actual Largo do Apoio, hoje moradia particular".

Esta pequena praça sofre obras em 1621, sendo desta data o chafariz que ainda hoje lá existe. Um outro chafariz, também desta data, é colocado no Campo da Feira, comprovando a dignidade que este espaço já tinha alcançado.

O postigo aberto ao tempo de D.Jaime, no extremo da Rua Direita, é ampliado em 1646, segundo J. Mancelos, e transformado em porta monumental, que se passou a chamar Porta Nova. o Professor Ferreira de Almeida não partilha esta opinião, dizendo-nos que esta porta já estava ao serviço em 1595, baseado num documento referente à Capela da Senhora do Rosário. Independentemente das datas, a Rua Direita sofreu um arranjo urbanístico, de modo a direccionar-se para a nova abertura, sendo endireitada no troço que vai desde o acesso ao Postigo das Ferrarias, aberto em 1631, até à Porta Nova. A última parte desta rua, no seu lado nascente, era antigamente conhecida como Rua do Cimo de Vila.

A abertura da Porta Nova vem confirmar a progressiva importância desta zona, já que, gradualmente, esta se tinha tornado num verdadeiro centro da urbe. O Campo da Feira e o centro de peregrinação que é a Capela do Senhor da Cruz, tinham puxado a urbanização para este lado da cidade. Em 1649 foi lançada a primeira pedra do convento dos Capuchos, hoje sede da Misericórdia, dando forma ao lado nascente do Campo da Feira.

Em 1640, com a Restauração da Independência e ascensão da família ducal de Bragança à realeza, Barcelos volta a ser uma vila régia. Daí lhe advém protecção e benefícios, sendo dos mais importantes a concessão, por dois ou três anos, do Imposto «real de água» destinado a obras, o que viria a repetir-se por várias vezes no século XVIII. Paralelamente, foram remetidas vultuosas somas de dinheiro do Brasil, por Barcelenses que para lá tinham emigrado. Por vias destes factos, os anos de setecentos vão ser de franco desenvolvimento, com grandes obras, quer em termos particulares, quer em termos públicos. Houve na cidade, "um notório desenvolvimento nas áreas de serviços que prestava, administrativos, jurídicos e económicos" .

A feira é remodelada, aumenta o número de lojas e renovaram-se as construções urbanas que, pela proximidade da época, são das que mais marcam arquitectonicamente a cidade nos dias de hoje. A área do Campo da Feira circunda-se de bons edifícios, que aparecem igualmente nos arruamentos que dão saída para Ponte de Lima e Abade de Neiva. Várias zonas de Barcelos urbanizam-se nesta época, crescendo a mancha urbana muito para lá do limite dos muros.

Consequência de diligências já iniciadas em 1698 por uma Comissão angariadora de fundos, constroi-se a Igreja do Senhor da Cruz, em frente da Porta Nova, substituindo a velha Capela que já era pequena para o grande número de peregrinos e importância que a Irmandade tinha vindo a adquirir.
D.João de Sousa, arcebispo de Braga na época arranjou cinco "riscos" preliminares, três do arquitecto bracarense, Manuel Fernandes da Silva e dois do arquitecto régio João Antunes. Na carta que o arcebispo de Braga enviou ao Dr. Matias de Melo, Juiz de Fora de Barcelos e responsável da Comissão angariadora de fundos, reproduzida por Sousa Viterbo , compreendemos que o arcebispo se mostrava incrédulo quanto às possibilidades de o Templo do Senhor da Cruz ser construído, tão elevadas eram as verbas envolvidas. Junto com essa carta, D.João Matias de Sousa enviava à comissão os cinco projectos referidos, para que esta pudesse escolher um. Na referida epístola menciona-se ainda que os projectos são de planta redonda, certamente exigência da Comissão, que queria ver o seu templo, dedicado ao Senhor da Cruz, com uma imagem semelhante ao Templo de Jerusalém, de forma arredondada e cúpula. Seja porque respondia a estas exigências ou porque apresentou um projecto mais sóbrio e logo menos dispendioso, o arquitecto escolhido foi João Antunes, que delineou o Templo Barroca, de planta centrada, que hoje existe em Barcelos. A construção realiza-se entre os anos de 1705 e 1710, segundo inscrições existentes no exterior da Igreja.

Resultado, em parte, do «real de água» realizam-se várias obras de cariz público, entre as quais se contam a renovação da colegiada e do edifício da Misericórdia, com o seu hospital, e a edificação do Mosteiro do Terço, da desaparecida Igreja da Ordem de São Francisco e do Passeio dos Assentos.

O Hospital da Misericórdia é neste século ampliado até ao Largo do Apoio, sendo a fachada voltada à Rua da Misericórdia, antiga Santa Maria, regularizada de modo a ter um aspecto uniforme. Também a Igreja da Colegiada sofre obras de remodelação, para se «adaptar» ao gosto vigente.

As cada vez mais poderosas famílias de Barcelos, que dominavam a administração local, fizeram pressão para o aparecimento de um convento, onde os seus filhos pudessem aprender as leis e o latim, e um mosteiro, onde as suas filhas pudessem estudar. O convento fundado é o já referenciado, dos Frades Capuchos, cujas aulas só começaram a funcionar em 1710. O mosteiro do terço para donas é construído entre 1707 e 1713, limitando a face norte do Campo da Feira, que era a sul conformado pela Igreja da Ordem de São Francisco.

O Largo da Porta Nova, sem um arranjo digno no seu lado sul, que descia bastante até embater na propriedade rústica, suscitava discussões do foro urbanístico em meados do século XVIII. Acabou por triunfar a ideia do passeio público, hoje conhecido como Passeio dos Assentos, obra realizada entre 1780 e 1783, para a qual o rei autorizou o lançamento de um imposto especial. A obra, em estilo rococó, toma como solução o nivelamento da praça e enobrecer do socalco, com uma entrada monumental que enquadra a Igreja do Senhor da Cruz. A obra é composta por uma fachada falsa onde se colocaram janelas, assentos e fontes e que define um recinto festivo para o Templo do Senhor da Cruz, enquadrando urbanisticamente esta Igreja. A escadaria central do conjunto, que está enquadrada com uma das portas laterais da dita Igreja, sugere um percurso ao longo da encosta, possivelmente até ao rio, que nunca se chegou a realizar. Já no século XX, foi feito na cota baixa, um jardim, mas, apesar de tudo, esta obra continua incoerente, pois a sua concepção prevê a chegada a partir da cota baixa, de onde não se vem de parte nenhuma, especialmente nos dias de hoje, em que o crescimento da cidade já cortou hipótese de enfiamento que poderia ter existido.

O início do século XIX, época conturbada a nível nacional, consequência das invasões francesas e das lutas liberais, também para Barcelos não foi benéfico. A cidade sofreu com as divisões geradas pelo tomar de um ou outro partido.

À vitória da facção liberal, seguiu-se uma reforma administrativa, em 1836, que diminuiu a extensão do enorme concelho de Barcelos e da sua comarca. A cidade vê assim reduzida a sua influência, tanto em termos administrativos como judiciais, o que causa um período de recessão no comércio local.

A segunda metade de oitocentos proporciona uma recuperação económica à qual não é alheio o muito dinheiro chegado do Brasil e que se traduz, não só em Barcelos, mas em todo o Minho, numa autêntica época do «brasileiro». Reflexo do progresso, vai verificar-se uma renovação arquitectónica na cidade, com a construção de algumas obras públicas mas, essencialmente, com a construção de moradias particulares, ainda patentes na actualidade.

As reformas de 1836 tiveram ainda como consequência a extinção das ordens religiosas e a passagem das suas instalações para a alçada estatal. Isto obviou à construção de novas instalações para muitos serviços de cariz público, o que prova que, como refere Friedrich Kurrent, "as estruturas espaciais e arquitectónicas têm uma vida mais longa que as funções para as quais estavam destinadas" . Vai-se verificar então, por todo o país, uma remodelação destas instalações, onde ainda hoje se encontram muitas instituições públicas.

Em Barcelos, na sequência, é oferecido à Misericórdia local o antigo convento dos Frades Capuchos, abandonado havia dois anos. Esta muda-se para lá efectuando de seguida obras no edifício, que lhe deram um novo aspecto. O antigo edifício da Irmandade, a norte dos Paços do Concelho, é integrado nesta instituição, já que o espaço para a administração local vinha-se tornando escasso. Em 1849 iniciaram-se as obras de ampliação do edifício da Câmara Municipal, procedendo-se à anexação das antigas instalações da Misericórdia, incluindo-se o desmonte da Igreja, para ser integrada no novo edifício, e as obras na fachada procurando dar ao conjunto um aspecto homogéneo. Estas obras prolongam-se por vários anos, sendo a fachada sul do edifício alargada até à Rua da Judiaria, adquirindo então o aspecto monumental que tem hoje.

Em 1877 é aberta a via férrea até Barcelos, implantando-se a estação no limite nascente da vila. Para além do progresso que advém desta nova via de comunicação, obtém-se ainda um novo espaço urbano a ser construído, polarizado pela estação. Porém, esta nova zona só será ocupada no segundo quartel do século XX, com a implantação de fábricas de malhas e tecidos, de enorme importância para a economia Barcelense. A primeira fábrica de fiação de que se tem conhecimento, havia-se implantado junto à ponte em 1870.

Actualmente, a área urbanizável aberta com a implantação da estação, em especial a artéria que lhe dá acesso, encontra-se em fase de ocupação por prédios em altura, de comércio e habitação, suficientemente incaracterísticos para poderem pertencer a qualquer outra cidade.

Durante todo o século XIX e já desde o final do século XVIII (temos relatos que nos confirmam que a muralha estava intacta em 1758), as muralhas foram desaparecendo, com o agoramento do espaço por elas ocupado. Vão sendo integradas em construções ou simplesmente demolidas, sobrando-nos hoje muito pouco desses muros.

No inicio do corrente século, pode dizer-se que as linhas de desenvolvimento do que é a actual cidade estavam já completas. A cidade vai então, claramente, desenvolver-se a partir da estrada nacional 103, a que dá acesso a Viana do Castelo, até ao novo pólo da urbe, a estação, no seu limite nascente. A expansão vai-se fazendo ao longo das ramificações viárias que dão acesso à Facha e a Ponte de Lima, tal como vinha acontecendo desde a Idade Média.

O centro da cidade desloca-se gradualmente para o Largo da Porta Nova, perto da Igreja do Senhor da Cruz e do Campo da Feira, onde se encontra actualmente. A sul do Passeio dos Assentos, onde até à pouco tempo só existiam campos agrícolas, encontra-se hoje construído com uma série de equipamentos, como sejam o Palácio da Justiça e o Posto dos Correios. São edifícios representativos que alguém já chamou de «moderno suave», um estilo suficientemente «moderno» para ser actual, mas também, comedidamente «moderno» para ser seguro. Estilo de que se encontram muitos exemplos nos anos 70-80, em sedes de empresas, e que hoje é preterido em favor do prestígio proporcionado pela «recuperação» daquilo que é antigo, no fundo, outra face do mesmo negócio.

É ainda nesta época que o arquitecto Carlos Loureiro desenvolve um Plano de Urbanização, que vai delinear o desenvolvimento da cidade de Barcelos, já que, são nele traçadas as principais vias estruturadoras do fluxo de tráfego, assim como o novo atravessamento do Rio Cávado, condicionantes do progresso urbano actual.

Durante este século, aquilo a que se pode chamar Centro Histórico de Barcelos, onde fica inserido o edifício dos Paços do Concelho, ficou marcado mais pelas demolições do que pelas construções. Referentes a estas últimas, temos a reportar o acrescento, no início do século, da ala nascente da Câmara, sendo para isso sacrificada parte da rua que já tinha sido Judiaria e hoje é do Infante D.Henrique.

Em 1931, o quarteirão é eliminado pelo restante lado nascente desta rua e confinante com a cabeceira da igreja, sendo demolido para dar lugar a um monumento a D.António Barroso, com arranjo de Marques da Silva, arquitecto de origem barcelense. Posteriormente a esta «libertação», a actual Igreja Matriz de Santa Maria de Barcelos, antiga Colegiada, classificada Monumento Nacional em 1927, sofreu as intervenções de «recuperação da identidade», levadas a efeito pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, presumindo-se que seja desta época o arranjo da cabeceira e o corte no transepto setecentista, voltado para os Paços do Concelho. Se o transepto era igual ao outro existente, então podemos afirmar que se formaria um estrangulamento em frente à Câmara Municipal, definindo uma Praça onde teria no seu centro o chafariz seiscentista; no entanto, não existem fotografias nem plantas que nos provem isto.

Também o pelourinho, o Solar dos Pinheiros, a Ponte Medieval e o Paço dos Condes foram classificados monumentos nacionais, sendo definida uma zona de protecção em 1954.

Antes da delimitação desta zona foi demolido o lado poente da antiga Rua da Misericórdia, hoje Visconde de São Januário, ficando apenas a edificação contígua à casa de D.Nuno Álvares Pereira. A data desta demolição é imprecisa, mas pode situar-se entre 1927, ano em que existem registos fotográficos, e 1942, ano em que já existe uma planta de Barcelos. Não se sabe a razão desta demolição, mas pode-se aventar a hipótese de ser mais uma operação de «libertação de monumentos», prática corrente nos anos trinta em Portugal, de que nos resultou, entre outros exemplos, o Terreiro da Sé do Porto, com outra escala e fundamentos teóricos que o justificam, quer se concorde ou não. Aqui, resultou incoerência urbanística num espaço completamente marginal, o que nos poderá talvez, levantar outra hipótese para a justificação do arrasar da rua - a da especulação.

Anos antes da classificação da zona, como o prova a planta do decreto, tinha-se já demolido a construção que se erguia junto à casa do Condestável e que conformava o Largo do Apoio no seu lado sul, contribuindo para a indefinição deste espaço.

Apesar da classificação, em 1954, a própria edilidade municipal procedeu à demolição, à revelia da lei, das casa que completavam a Rua que dá acesso à Igreja Matriz, entre o Solar dos Pinheiros e a Rua Visconde de S. Januário, sobrando só a construção que ladeia com o referido Solar. Isto terá sido feito para inaugurar uma estátua do Alcaide Faria, em 1974, tendo-se realizado a operação de noite, como regista a memória dos Barcelenses.

A planta de 1942 permite-nos ainda assinalar a existência de uma passagem entre o Paço dos Condes e a Igreja Matriz, posteriormente fechada pela construção do museu da Cerâmica, sob o actual Museu Arqueológico fronteiro ao Paço Senhorial. Podemos ainda, por esta planta, constatar pela inexistência da Esplanada do Turismo, edifício construído depois, naquilo que é usual chamar o «português suave».

Data dos anos 70 o plano de urbanização de Barcelos, da autoria do arquitecto José Carlos Loureiro. Deste plano, resulta as linhas gerais do desenvolvimento urbano de Barcelos nas últimas décadas: a localização das novas pontes rodoviárias, a circular interna de Barcelos, uma infra-estrutura viária que veio introduzir uma grande descontinuidade no tecido urbano; a Av. de S.José, que veio delimitar o limite poente do tecido urbano; a criação de um centro cívico administrativo, transferindo algumas destas funções, nomeadamente o Palácio de Justiça, do núcleo histórico tradicional.

O acentuado crescimento urbano das últimas décadas, fez-se de forma desequilibrada, estendendo-se o perímetro urbano de uma forma linear para Norte, verificando-se paradoxalmente, dadas as condições urbanas privilegiadas, quer do ponto de vista de acessos quer do ponto de vista de proximidade com o centro de Barcelos, um estagnar do desenvolvimento urbano de Barcelinhos.
 

Navarra

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Festas das Cruzes

FESTAS DAS CRUZES

E tudo começou assim:

"(...) no ano de mil quinhentos e quatro, sexta-feira, vinte dias do mês de Dezembro, hás nove horas, pouco mais ou menos (...) vinha João Pires, sapateiro, pela dita rua que vinha da Ermida do Salvador em que há, pelo dito dia (...) que focemos ver e guardar uma Cruz que demonstrava um grande santo milagre que estava junto da Cruz, aos Carvalhos do Campo da Feira. (...) Em direito da dita cruz, no chão, em um barreiro, estava feita e assinada, que fica da mão direita quando homem veo do Salvador , uma mui proporcionada e talhada e direita Cruz, toda tão preta como esta regra em cima, de três côvados e três quartos em ancho e, de largura a quadra dela de um palmo e todo por igual... ". (Frei Pedro de Poiares, Tractado Panegyrico em Lovvor da Villa de Barcelos, 1672).

A "visão" do sapateiro João Pires, em Dezembro de 1504, conforme o etnólogo Feliciano Lopes, "arrastou gente de perto e de longe, a ver para crer, uma cruz de terra (o povo viu cruzes) no Arrabalde de Cimo de Vila. Ergueu-se o alpendre, abrigo do Sinal, onde o incrédulo viu o milagre, o povo tirava a terra e logo a cova se tornava a encher"

Em 1505, um mercador de Barcelos trouxe de Flandres uma imagem do Senhor da Cruz que foi colocada no local onde, 1504, apareceu a primeira cruz. Desta forma surge um pequeno santuário. A essa primitiva capela foi acrescentada, tempos depois, um novo corpo de capela, conforme Severim Faria.
O religioso e o profano

Mancelos Sampaio, deduz que o "milagre se comemora em Dezembro e a Festa terá sid transferida para Maio por se localizar numa região agrícola e este ser o mês de florescência.


Porém, Feliciano Lopes aponta essa mudança como resultante da "motivação no calendário litúrgico, que em 3 de Maio festeja a Santa Cruz".

Entretanto, e tendo em conta o fervor religioso em torno do Senhor do Bom Jesus da Cruz, em Maio de 1698, é constituída uma comissão presidida por António Faria Machado, Manuel de Andrade e Domingos de Faria Leite e Cana, destinada a angariar fundos para a construção de um templo que substituísse a velha capela. Inicia-se então a subscrição pública.

Em 1701, o juiz de fora de Barcelos, Matias de Melo, solicitava ao arcebispo de Braga, D. João de Sousa, para se interessar pelo programa do edifício a construir. Este arranjou então alguns esquissos de igrejas de planta centrada. Dois do "insigne arquitecto regio" João Antunes, e três do arquitecto bracarense Manuel Fernandes da Silva. O certo é que após da escolha da proposta de João Antunes, o arcebispo, temia a possibilidade de não haver dinheiro para concluir o templo, conforme carta datada de Setembro de 1701, de D. João de Sousa para o juiz de fora, Matias de Melo, (vide Sousa Viterbo, 1922)" (...). e os mais devotos e zellozos do Bom Jesus consideram se comve dar principio a esta obra, e a forma em que há de ser, por receio que, se o Senhor não fizer algum milagre, que dure depois de muitos annos sem acabar..."

Sabemos que em 1702, João Antunes terá começado a trabalhar na planta centrada octogonal, nos alçados e desenho da igreja. Em 1705, inicia-se a obra do templo do Bom Jesus da Cruz. Migue Fernandes foi o mestre da empreitada.

Em 1710, já aberto ao culto. Porém o período que medeia entre a subscrição pública para custear o novo templo (1698), a sua construção e as suas sucessivas intervenções para enriquecer o recheio do mesmo, é extremamente moroso. De facto, desde a abertura daquele templo ao culto, aquele edifício barroco foi sendo objecto de sucessivos acrescentos ao seu recheio - desde a talha dourada dos altares, entremeado pela cobertura azulejar, entalhamento dos altares laterais... até ao douramento das sanefas. Por isso, quando se dá a última intervenção, em 1804, tinha decorrido mais de um século.

Podemos dizer que até ao século XIX, as Festas das Cruzes têm um cariz essencialmente religioso. A estas acorriam milhares de romeiros, não só de Barcelos mas de outras localidades mais distantes, que vinham cumprir as promessas ao Senhor da Cruz, dando origem, assim, à romaria em honra deste. Todavia com o decorrer do tempo, o religioso e o profano conviveram sem grandes sobressaltos.

Embora não haja documentação do princípio da Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz, crê-se que ela já existia pelo menos, em 1609.

O título honorífico de "Real" ter-lhe-á sido outorgado no início do século XIX por D. Pedro IV, que aceitou ser seu juiz perpétuo. Também foi juiz vitalício da Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz, para além doutros, D. Fernando II, D Pedro V e D. Luís I, que terá visitado as Festas das Cruzes em 7 de Maio de 1852.

O tapete de pétalas

Um dos ex-libris das Festas das Cruzes é, indubitavelmente, a feitura dos tapetes de pétalas, da responsabilidade da Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz. Este trabalho, extremamente laborioso, obriga a que durante os cinco dias que acontecem as festas, uma dezena de pessoas trabalhe afincadamente na selecção e corte das flores, coloque os moldes de barro - em concordância com o desenho adoptado, que alterna de ano para ano - a colocação do serrim humedecido que, para além de dar volume, vai permitir que as pétalas das camélias, pampilos, nubeleira, chorão e soajo, acompanhadas pela murta e as pontas de cedro - estas últimas embebidas em anilina verde - criem um interessante colorido, para que os tapetes de flores naturais possam ser vistos pelos milhares de àquele templo desde o primeiro dia de festa.


A técnica para manter as pétalas com boa aparência parece radicar no serrim humedecido. Essa humidade, que demora a evaporar, vai impedir que as pétalas se deteriorem.

O Zé da Pérola, mesário da Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz é um dos organizadores desde há alguns anos, deste tipo de arte floral, refere que "uma das maiores dificuldades para fazer os tapetes são as flores". Por isso cabe-lhe a responsabilidade de garantir, pelo menos "um mês antes, que as flores não faltem; ao mesmo tempo, tem de acautelar para que estas não deterioradas, já que" - conforme sublinhou - "aquando da selecção, muitas são ara deitar fora".

Segundo alguns, a tradição dos tapetes de pétalas naturais, tem já algumas décadas.

Joaquim Matos Viana, vice-provedor da Irmandade, disse-nos que ainda se lembrava do tempo em que a organização e feitura desses tapetes ficava por dois mil escudos". Sublinha contudo que "hoje fica por cerca de oitocentos mil escudos. Esse foi, aliás, o custo total do ano anterior". Até porque "antes as flores eram oferecidas. Hoje são-no à mesma mas em menor quantidade, pelo que as restantes têm que ser compradas".

Depois desabafa: "o que tem impedido que esta tradição acabe" - apesar de acusar algumas interrupções - "é haver ainda o empenho de algumas pessoas. Por outro lado, as esmolas, têm permitido sustentar os encargos, embora nem sempre tenha sido assim.

A organização

As festas das Cruzes eram promovidas inicialmente, pela Irmandade. Mais tarde, passaram a ser responsabilidade da Câmara Municipal de Barcelos e esta, delegou, durante alguns anos, a sua organização à Associação Comercial de Barcelos.


Antes de terem sido entregues à Câmara, a comissão de festas enviava cartas aos "ilustres" da cidade, pedindo apoio monetário para as despesas.

Ainda estávamos a muitos anos de existência das empresas municipais para organizar este evento popular.

O período das festividades, no início do século transacto, era de três dias. Porém nas décadas de 60 e 70 aumentaram significativamente, até nove dias, passando desde aí a diminuir novamente. Deste modo, a sua duração oscila de três a cinco dias.

Quanto à promoção das Festas das Cruzes, o cartaz mais antigo que conhecemos remonta a 1909. A crer na fotografia que editamos dessa data, era muito frequentada, provavelmente com outro sabor popular, que os tempos foram apagando.

Alguns desses cartazes, tiveram assinatura de pintores como Cândido da Cunha, António Carlos, Gonçalves Torres e, recentemente, "Afmach", todos barcelenses.

Em 1997, a Câmara Municipal de Barcelos organizou uma retrospectiva de cartazes das Festas das Cruzes, onde foi mostrado o cartaz mais antigo (1909), bem como, entre outros, os cartazes que perfaziam as bodas de prata, ouro e dimante.

O artesanato e a feira

Mas as festas têm também sido pretexto para diversos artistas plásticos a poderem representar, quer através da a recorrência ao templo do Senhor da Cruz, quer ainda com ícones como os músicos, o Galo de Barcelos ou outra figuras do artesanato Barcelense, bem como até o próprio bulício da feira.


Outro aspecto que merece referência é binómio Festas das Cruzes/ artesanato. Há uma relação muito forte entre si mas que nunca foi explorada devidamente. Embora exista a tradição da festa do artesanato, esta acontece só em Setembro. Parece inquestionável que as Festas das Cruzes, enquanto produto turístico de relevo, não deve estar dissociado do artesanato. É uma promoção a Barcelos, mas poderia sê-lo também das produções dos artesãos!

Remontando-nos à feira e ao espaço feirante setecentista, sabemos que este compreendia uma área relativamente ampla, que ia desde o templo do Senhor da Cruz ao extremo do campo 5 de Outubro, alargando-se no começo até ao convento dos frades.

As actividades feirantes eram bem distintas das presentes, embora algumas ainda se mantenham. O templo, acabava por ser um importante centro cívico citadino.

A pujança da feira poderá estar ligada também à importância que o templo vai adquirindo, já que esta se realizava em seu redor. A periodicidade da sua realização era diferente, como diferentes eram as feiras que se realizavam durante as Festas das Cruzes.

A feira franca

A primeira referência às feiras francas anuais, encontramo-la na concessão de uma feira de ano franqueada, de 1 a 15 de Agosto de 1412, no Campo de Salvador (actual campo da República). Entretanto, essa feira franqueada passa, em 1427, a realizar-se em Outubro e a sua duração encurtou no decurso do século XVI para ficar em apenas três dias.


Por fim, o aparecimento das Cruzes vem ditar o aparecimento da Feira das Cruzes, em Maio.

Em virtude desta adquirir maior preponderância que a Feira do Corpo de Deus, esta acabou por extinguir-se, ficando apenas a Feira Franca das Cruzes, onde os feirantes podiam vender livremente e sem impostos os seus produtos.
 

Navarra

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Artesanato

ARTESANATO

O Concelho de Barcelos constitui um dos maiores centros de «arte popular» do país. Pode mesmo afirmar-se que nas suas 89 freguesias se produz a mais variada gama de artesanato regional.

Possui um cariz acentuadamente rural e popular e a sua enorme diversidade é digno de referência especial:

Bordados e Rendas
Maravilhosos trabalhos em renda de crivo de S. Miguel da Carreira, bordados pelas mãos delicadas da mulher minhota.
Actualmente só duas mulheres se dedicam a este trabalho. ANA ARAÚJO e ANA BREGUESA (S. Miguel da Carreira).

Caroças
Em junco. Trabalho feminino inteiramente manual. Encontra-se em fase de extinção. Eram utilizadas pelos camponeses para os proteger da chuva.

Cestaria e entrançados
Trabalho largamente divulgado nos nossos dias cujas peças são utilizadas para uso rural, domestico e decorativo.Podemos dividi-lo em:

1. Cestaria Grossa - Utilizando-se na sua confecção o vime groço, a vara de salguiro e a madeira de Austrália. As peças mais fabricadas eram as canastras, as condessas, os açafates e as cestas e mais recentemente peças de mobiliário.
2. Cestaria Fina - Em verga fina de vime e cana fabricavam-se os cestos de ir à feira, quase em extinção. Por ser mais procurada a produção actual resume-se a bolsas de senhora e cestinhas para criança e outros modelos para uso doméstico.
3. Esteiras - Em junco. Além das esteiras utilizadas para as coberturas de soalhos (tapete), fabricam-se também cestas para compras.


Trabalhos em Madeira
Tabuleiros, garfos, colheres de pau, brinquedos parta crianças, etc.

Rocas, Fusos e Espadelas
Destinado à execução de trabalhos rurais tais como: a fiação de tecelagem em linho.

Gamelas
Para uso doméstico

Remos e Vertedouros
Para uso marítim,o e rural respectivamente. Produção exclusiva dos artesãos de Aldreu.

Jugos
Outrora utilizados na vida rural, nas juntas de bois, e agora adaptados na decoração de casas.

Tamancos
Calçado utilizado na lida rural, agora muito procurado pelos turistas (Carvalhal).

Pipos
Utilizados como vasilhame de vinho verde e aguardente.

Móveis
Arcas, louçeiros, masseiras e outros.

Funilaria
Largamente divulgada a produção de lanternas, candeiras, candeeiros, etc. Em folha de flandres em branco ou colorido.

Fogueteiros
Serve excusivamente as festas e arraiais populares.

Tecelagem
Acitividade artesanal feminina. Execução de maravilhosos trabalhos manuais:

1. Tecelagem em Linho e Algodão - Toalhas de cesto e de mesa, panos para mesa, cobertas, almofadas, etc.
2. Tecelagem em Lã e Algodão - Mantas, colchas, tapetes e almofadas em lã de todas as cores.
3. Tecelagem em Penas - Almofadas, edredões. tapetes e estolas em todas as variedades de penas de aves.
4. Tecelagem de Farrapos - Passadeiras, tapetes e mantas.


Louças de Barro
O mais importante e variado artesanato da região de Barcelos. Divulgado além fronteiras.

1. Louças Vidradas - de uso utilitário e decorativo em barro vermelho ferruginoso e vidrado. Com pintura característica da região.
2. Louças de Vidrado Corado - De fabricação antiga. Idêntica à produção introduzida nas Caldas da Rainha em 1894 por Rafael Bordalo Pinheiro.
3. Louças de terracôta Polida - Pequenas miniaturas decorativas em cores variadas e pintadas à mão.
4. Galos de BARCELOS - De todos os tamanhos, feitios e cores. O símbolo do Turismo Português.
 

galito

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excelente trabalho amigo.
só falta a barcelos uma marginal.quando não se aproveita as condições ke temos, corremos o risco de ficarmos para trás em relação ás cidades vizinhas.
Barcelos parou no tempo e no espaço, o k é uma pena.
há k ter esperança.
Visitem Barcelos, porque é uma cidade bonita acolhedora e aonde se come bem.
 

néle

GF Prata
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Temos que correr com os políticos colados á cadeira que aqui andam, senão o futuro desta gente é emigrar.... a crise é tremenda e só vejo industriais falidos de carregar pela boca a pavonear os seus belos mercedes e bms.... excelente trabalho parabens:espi28:
 

orban89

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Visita Guiada - Barcelos - Episodio - 16 - 20 Jun 2016 - Temporada 6​



 

orban89

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A VERDADE SOBRE O GALO DE BARCELOS - LENDA OU MILAGRE?


 

gallosat

GF Platina
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Dez 26, 2006
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Festas das Cruzes, estão aí á porta.
Sabia que:
"se chover na Pascoa, chove nas Cruzes."
Velho ditado cá da Terra.
Um abraço.
 
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