• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Como funciona a grafologia

Luz Divina

GF Ouro
Entrou
Dez 9, 2011
Mensagens
5,990
Gostos Recebidos
0




Como funciona a grafologia


Introdução


Quando alguém é suspeito de um crime e uma das provas é um bilhete manuscrito, os investigadores podem chamar um especialista em caligrafia para resolver a questão. A análise de um documento escrito é uma das bases legais para a identificação forense de um indivíduo. Em alguns casos, pode ser justamente a prova que faz com que o suspeito seja acusado e até mesmo condenado. E se for uma combinação falsa? Como os especialistas conseguem analisar a caligrafia de alguém?

No mundo das análises forenses, que incluem investigação da cena do crime, testes de DNA, análise de fibras, digitais, narcóticos e identificação de voz, a análise de caligrafia se enquadra na área de documentoscopia - que é a parte da criminalística que tem por objetivo o exame de todos os elementos que compõem um documento. Os pesquisadores de documentoscopia analisam os documentos questionados em busca de sinais de alteração e falsificação e, quando existem amostras, comparam a caligrafia ou datilografia para determinar ou desconsiderar os autores.

No caso de datilografia, eles usam máquinas específicas para identificação. A análise de caligrafia é um processo cansativo e metódico, que requer um vasto conhecimento de como as pessoas formam as letras, de quais características de formação de letras são únicas e do processo psicológico por trás da escrita. É a análise de como as habilidades motoras das pessoas podem afetar suas caligrafias e deixar pistas sobre a identidade do autor. Mas a grafologia não é utilizada somente em perícias criminais. Ela pode ser útil na admissão de um funcionário ou ajudar no diagnóstico de distúrbios psíquicos.





handwriting-analysis-4.jpg

[SIZE=-1]O seqüestro de Weinberger, 1956:
uma análise conduzida pelo FBI determinou
uma combinação entre as duas primeiras escritas,
retiradas das anotações do seqüestro, e as duas últimas,
de Angelo LaMarca, o suspeito principal[/SIZE]



O fundamento principal da análise de caligrafia como uma ciência é que cada pessoa no mundo tem uma maneira única de escrever. De acordo com João Bosco, autor do livro Grafologia: a ciência da escrita, "Da mesma forma que uma impressão digital jamais se repete, não existe no mundo uma grafia igual a outra. Também não se pode alterá-la de propósito, mesmo que mudem alguns detalhes". Quando crianças, aprendemos a escrever com um caderno de caligrafia um determinado estilo de escrita.

O caderno de caligrafia em que baseamos nossa escrita vai depender de quando e onde crescemos. Então, a princípio, provavelmente escrevíamos de uma maneira parecida com a das crianças de mesma idade e local. Com o passar do tempo, aquelas características de escrita que aprendemos na escola, nossas características de estilo, ficam apenas subjacentes em nossa caligrafia.

Desenvolvemos características individuais, que nos são peculiares e diferenciam nossa caligrafia daquela de outra pessoa. A maioria de nós não escreve da mesma maneira que escrevia na primeira ou segunda série. Enquanto duas ou mais pessoas podem ter certas características individuais semelhantes, a chance de elas terem 20 ou 30 características iguais é tão improvável que muitos analistas consideram isso impossível.



Primeiramente, os grafologistas devem ser capazes de distinguir com precisão as características de estilo e as individuais, o que requer muita prática. Eles podem ignorar as características de estilo, que são úteis apenas para determinar com um bom grau de exatidão que caderno de caligrafia a pessoa usou. As características individuais são as mais importantes para determinar a autoria dos documentos.


Portanto, uma análise de caligrafia de dois documentos, um de autor conhecido e outro de um desconhecido, não começa pela busca de semelhanças, o que qualquer um poderia fazer com um bom grau de exatidão, mas sim pela busca de diferenças. São elas que inicialmente determinam se é possível que a mesma pessoa tenha escrito os dois textos. Se existem diferenças chaves em características individuais suficientes, os documentos não foram escritos pela mesma pessoa. Essas diferenças não podem parecer resultado de uma imitação (uma tentativa de disfarçar a caligrafia de alguém ou a cópia da maneira de escrever de outra pessoa).

A imitação tem características reveladoras, sobre as quais falaremos na próxima seção. No entanto, se as diferenças não impedirem uma combinação e se existirem semelhanças significativas nos traços individuais de escrita dos dois documentos, é possível que o autor seja a mesma pessoa.

Na hora de mudar de possibilidade para probabilidade é que o problema aparece.



Analisando uma amostra


A análise de caligrafia é um processo longo e cuidadoso, que requer muito tempo e, de preferência, muitos exemplos ou amostras para comparação: os documentos com autoria conhecida. Não se trata de apenas observar dois documentos e dizer: "Olha, os dois têm um 'B' um pouco abaixo da linha, é o mesmo autor". No caso do seqüestro de Lindbergh, em 1932, a polícia tinha alguns documentos questionados.

Ao todo, o seqüestrador enviou 14 bilhetes para Lindbergh com instruções para o resgate. Os analistas de caligrafia não tiveram problemas para determinar que todos os bilhetes de resgate foram escritos pela mesma pessoa. Mas as amostras anteriores do principal suspeito, Richard Bruno Hauptmann, eram insuficientes, e a polícia precisou usar um mandado para conseguir outras na delegacia. Com essas amostras solicitadas, os analistas determinaram a combinação.



handwriting-analysis-7.jpg

[SIZE=-1]Resultados parciais da análise de caligrafia no caso do seqüestro de Lindbergh[/SIZE]



No entanto, os meios que os policiais utilizaram para conseguir essas amostras foram questionados. Hauptmann foi forçado a escrever por horas a fio até quase desmaiar de exaustão. Também disseram como ele deveria escrever e mostraram um bilhete de resgate, que deveria ser copiado da melhor maneira possível. Essas são apenas algumas das coisas inaceitáveis que aconteceram. Isso significa que a veracidade da combinação de caligrafia determinada é questionável, mas a execução de Hauptmann torna impossível refazer o teste. Atualmente, existem regras bastante rígidas sobre como um policial deve obter uma amostra solicitada.


Possuir várias amostras boas e sem falsificações faz com que a análise de caligrafia seja bem mais confiável do que a simples comparação de dois documentos. Apesar de a caligrafia de cada um ser única, ninguém escreve exatamente igual duas vezes. Existem variações naturais na escrita de uma pessoa em um mesmo documento. Se houver 10 documentos questionados e 10 amostras de um suspeito, já é possível que as palavras e as letras dos documentos questionados apareçam nas amostras, além de haver quase todas as características individuais do suspeito nos dois, se ele realmente for o autor.


O processo de análise forense de caligrafia é muito meticuloso. Um analista irá usar uma lente de aumento e algumas vezes um microscópio para fazer as comparações. Um analista procura uma série de traços individuais, como:




  • formato da letra - inclui curvas, inclinações, o tamanho proporcional das letras (relação entre o tamanho das minúsculas e maiúsculas e entre a altura e largura de cada uma), a inclinação da escrita e o uso e aparência das ligações entre as letras. É válido observar que uma pessoa pode fazer uma letra de forma diferente dependendo de onde a letra estiver, se no começo, meio ou fim da palavra. Então, o analista irá tentar encontrar exemplos das letras em cada uma das disposições;


  • pressão da grafia - observa-se o quão fortes ou fracas as linhas são, o que indica a pressão utilizada e a velocidade da escrita;


  • formatação - inclui o espaço entre as letras e as palavras, a disposição das palavras na linha e as margens em branco na página. Também leva em consideração o espaço entre as linhas. Observa-se se as palavras encostam na linha de cima ou na de baixo.

Com esses traços em mente, vamos dar uma olhada em um método comum de comparação, no qual o analista começa com a letra inicial da primeira palavra do documento questionado e monta uma tabela. Para ilustrar o processo, vamos simular uma comparação usando um documento questionado e uma amostra, cada um contendo uma única sentença, o que seria um pesadelo se o caso fosse real, mas que é perfeito para esse exemplo.


handwriting-analysis-questioned.gif

[SIZE=-1]Documento questionado[/SIZE]





handwriting-analysis-exemplar.gif

[SIZE=-1]Amostra fornecida pelo "suspeito"[/SIZE]


À primeira vista, as duas sentenças não parecem ser diferentes o suficiente para comprovar que foram escritas por duas pessoas distintas. Se analisadas mais de perto, as duas irão parecer bem similares. Então, vamos montar uma tabela que cataloga cada forma variada de letra que aparece na versão questionada da sentença. Se encontrarmos um "a" muito parecido com aquele que já temos na tabela, podemos pulá-lo.

Utilizaremos somente as formas diferentes de "a" que constam no documento, levando em conta o formato, a ligação entre as letras, os espaços e outros traços. Na análise forense, cada forma de letra seria "copiada" usando uma câmera digital, mas aqui vamos fazer isso à mão. As letras também seriam separadas entre maiúsculas e minúsculas. Mas aqui vamos simplificar o processo que determina se as sentenças são compatíveis, já que é apenas um exemplo e não uma comparação exata ou profissional.



handwriting-analysis-questioned.gif



handwriting-analysis-table1.gif



A seguir, vamos fazer o mesmo tipo de tabela usando a amostra:


handwriting-analysis-exemplar.gif


handwriting-analysis-table2.gif




Por fim, vamos comparar as tabelas e ver se as formas de letra do documento questionado são compatíveis com as da amostra. Como nosso documento possui apenas uma sentença, não temos muitos casos para escolher. Sob circunstâncias normais, obteríamos uma série de combinações em potencial para cada forma de letra, e teríamos de encontrar letras na amostra que fossem compatíveis com as do documento questionado. Para simplificar, a terceira tabela irá comparar lado a lado as duas primeiras, embora os especialistas provavelmente montassem a terceira com as palavras exatas que constituíssem as combinações de letra de cada documento.



handwriting-analysis-table3.gif

[SIZE=-1]Tabelas do documento questionado (esquerda) e da amostra[/SIZE]





Embora essa análise não seja válida no tribunal por causa de sua proporção limitada e da cópia imprecisa das letras, parece que encontramos combinações na amostra para cada letra do documento questionado. Provavelmente uma única pessoa escreveu as duas sentenças.


Mas e se quem escreveu a amostra estivesse tentando copiar a caligrafia no documento questionado? A imitação é um grande problema na análise de caligrafia. Ela ocorre quando uma pessoa tenta disfarçar sua caligrafia para impedir a determinação de uma compatibilidade ou quando tenta copiar a de alguém para que a comparação com a amostra seja imprecisa.

Embora a imitação dificulte (e às vezes impossibilite) uma análise exata, existem certos traços que os analistas profissionais procuram para determinar se a amostra foi falsificada. Esses traços incluem linhas sinuosas, começos e finais de palavras mais escuros e fortes e marcas de que a ponta da caneta foi tirada várias vezes do papel. Eles mostram que a pessoa não escreveu de uma forma rápida e natural, mas sim formando as letras com cuidado e lentamente.




handwriting-analysis-3.jpg

[SIZE=-1]A primeira é a assinatura verdadeira de Mickey Mantle. O FBI determinou que as duas últimas são falsificadas. Perceba as linhas sinuosas e as variações nos começos e finais das palavras.[/SIZE]




A imitação é apenas um dos fatores que pode impedir uma análise de caligrafia exata.



Empecilhos para a análise de caligrafia



Embora um especialista possa descobrir muitos casos de falsificação, uma imitação bem feita pode passar despercebida. Um caso de falsificação que os especialistas não perceberam foi o dos diários "perdidos" de Hitler (embora exista uma boa razão para isso).

Nos anos 80, um homem chamado Konrad Kujau, suposto colecionador de coisas do período nazista, entrou em contato com uma editora alemã e disse possuir 60 diários manuscritos por Adolf Hitler que, segundo Kujau, tinham acabado de ser encontrados nos destroços de um avião que havia saído da Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial.

Como os textos pareciam ser autênticos e Kujau aparentemente tinha uma boa reputação, a editora pagou US$ 2,3 milhões pelo lote. Os diários foram imediatamente publicados em fascículos em um jornal alemão da mesma editora. Os direitos de publicação foram vendidos para vários jornais internacionais, incluindo The London Times. Foi o The Times que solicitou uma análise profissional de caligrafia para garantir a autenticidade.


Três especialistas internacionais em análise forense de caligrafia compararam os diários com amostras que eram consideradas de Hitler. Todos concordaram que os diários haviam sido escritos pela mesma pessoa que escreveu as amostras. Eles aparentemente eram autênticos.


Foi uma análise da tinta e do papel usados para escrever os diários que revelaram a falsificação. Uma análise com luz ultravioleta mostrou que o papel tinha um componente que só começou a ser usado em papéis no ano de 1954. Hitler morreu em 1945. Outros testes forenses com a tinta indicaram que ela havia sido aplicada no papel nos últimos 12 meses. No entanto, as análises de caligrafia estavam corretas. A pessoa que escreveu os diários também escreveu as amostras. A polícia descobriu que Kujau era um falsificador com experiência e que ele também havia falsificado as amostras utilizadas para fazer as comparações.


Esse é um caso extremo de fraude e falsificação profissional, pois os diários passaram por todos os estágios de análise e foram considerados autênticos. Embora esse nível de perícia seja raramente encontrado em falsificações, permanece o fato de que, se a investigação tivesse contado somente com a análise de caligrafia, os "diários de Hitler" agora fariam parte dos livros de história. Alguns outros problemas que afetam a exatidão da análise de caligrafia são:



  • não é possível fazer uma comparação significativa entre letras maiúsculas e minúsculas;
  • drogas, exaustão ou doença alteram a caligrafia de uma pessoa;
  • a qualidade das amostras determina a qualidade de uma análise comparativa, e é difícil conseguir boas amostras.

No caso do professor norte-americano John Mark Karr, que confessou em agosto de 2006 o assassinato, em 1996, de JonBenet Ramsey, uma menina de apenas seis anos de idade, na cidade de Colorado, o bilhete de resgate encontrado na casa de Ramsey era longo o suficiente para ser usado como um documento questionado, mas encontrar boas amostras foi um problema.

Em uma série de análises de caligrafia preliminares, o especialista em documentos John Hargett, antigo chefe de análises de documentos do Serviço Secreto dos EUA, comparou o bilhete de resgate com duas amostras: uma inscrição de Karr em um anuário do colegial e uma carta de apresentação que Karr preencheu na Tailândia.

Hargett não encontrou combinações, apesar de os resultados serem inconclusivos porque a dedicatória no anuário foi escrita com uma caligrafia artística há mais de 20 anos e a carta de apresentação foi toda preenchida com letra maiúscula, ao passo que o bilhete de resgate foi escrito com letras maiúsculas e minúsculas. O teste de DNA posterior fez com que não houvesse mais necessidade de outras análises, já que o DNA de Karr não era compatível com o encontrado no corpo de JonBenet.

Com certeza, o empecilho mais significativo para a análise de caligrafia como uma ciência é o fato de que ela é essencialmente subjetiva. Isso quer dizer que sua aceitação na comunidade científica e como prova no tribunal ainda não foi comprovada. Apenas recentemente a análise de caligrafia começou a ser mais aceita como um processo científico produtivo e profissional, já que o treinamento dos analistas está mais padronizado e com normas de certificação.

Os resultados de uma comparação de caligrafia nem sempre são aceitos como provas em um tribunal, em parte porque a ciência tem alguns problemas para resolver, como determinar uma margem de erro confiável em análises e estabelecer padrões para o processo. O uso de sistemas computadorizados para fazer as análises de caligrafia permite que os examinadores passem os manuscritos por scanners e digitalizem o processo de comparação. Isso pode acelerar a aceitação geral da análise de caligrafia como uma ciência e uma prova no tribunal.



HowStuffWorks
 
Última edição por um moderador:
Topo