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Estatuto de novo mediador de Teerão pode ser adquirido à custa da Arábia Saudita, principal aliado da América no Médio Oriente.
O levantamento das sanções ao Irão atesta a sua nova relação com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, o país passa de um Estado pária a uma potência regional, um estatuto que poderá ser adquirido à custa da Arábia Saudita, o principal aliado árabe de Washington.Tanto os inimigos como os aliados têm de se adaptar ao facto de o Irão vir a ser um mediador de poder sem restrições no Médio Oriente depois do seu acordo nuclear com as potências mundiais e do levantamento das sanções há uma semana, acontecimentos que o trazem para a mesa principal da política internacional.A rápida libertação na última semana de marinheiros da Marinha dos EUA depois de terem entrado em águas iranianas marcou a nova era nas relações que se seguem a décadas de hostilidade para com o Ocidente. Após a revolução de 1979 que levou os líderes muçulmanos xiitas ao poder, o normal seria o Irão usar reféns para obter concessões dos seus adversários ocidentais. Logo no início, mantiveram 52 reféns retirados da embaixada dos EUA em Teerão durante 444 dias. Esse incidente juntou-se a atentados suicidas apoiados pelo Irão contra embaixadas ocidentais e tropas no Líbano, ao sequestro de aviões e ao rapto de ocidentais no país.Tudo isso deixou cicatrizes profundas e alimentou a hostilidade em relação ao Irão como um Estado fora da lei, na região e no mundo. No entanto, o incidente naval da semana passada contrastou com o de 2007, quando o Irão capturou marinheiros britânicos em circunstâncias semelhantes, mas acusou-os de espionagem e deteve-os durante duas semanas.O episódio com os marinheiros americanos foi facilmente contido pela nova aproximação e "resume o surgimento de uma nova relação entre Washington e Teerão", disse Fawaz Gerges, especialista em Médio Oriente da London School of Economics.Fonte de problemas?Washington continua longe de estar encantado com os mullahs no poder em Teerão e está formalmente comprometido com o arquirrival do Irão, a Arábia Saudita. Mas as atrações do Irão são tanto políticas como económicas: um país que é "uma eventual superpotência regional e um mercado emergente com grande potencial em modos similares aos da Turquia", disse Gerges. "Há uma nova relação baseada numa nova compreensão do papel central do Irão na região - a de que o Irão está aqui para ficar", disse ele. Assim, para Washington, o Irão deixaria de ser uma fonte de problemas, mas passaria a desempenhar um papel positivo na estabilização da região e "ajudaria a apagar os fogos".A Arábia Saudita, no entanto, continua implacavelmente em conflito com o Irão. Os seus rígidos líderes religiosos muçulmanos sunitas Wahhabi tratam os xiitas como hereges, de forma não muito diferente daquela como os jihadistas do Estado Islâmico consideram os xiitas como idólatras a serem exterminados. Os sauditas sentem-se abalados com o sucesso do Irão na formação de um eixo xiita que se estende desde o Iraque através da Síria até ao Líbano, onde o Hezbollah, o aliado paramilitar de Teerão é também a força política mais forte.Acordo nuclear não é ameaça para nenhum país, diz presidente do Irão

O levantamento das sanções ao Irão atesta a sua nova relação com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, o país passa de um Estado pária a uma potência regional, um estatuto que poderá ser adquirido à custa da Arábia Saudita, o principal aliado árabe de Washington.Tanto os inimigos como os aliados têm de se adaptar ao facto de o Irão vir a ser um mediador de poder sem restrições no Médio Oriente depois do seu acordo nuclear com as potências mundiais e do levantamento das sanções há uma semana, acontecimentos que o trazem para a mesa principal da política internacional.A rápida libertação na última semana de marinheiros da Marinha dos EUA depois de terem entrado em águas iranianas marcou a nova era nas relações que se seguem a décadas de hostilidade para com o Ocidente. Após a revolução de 1979 que levou os líderes muçulmanos xiitas ao poder, o normal seria o Irão usar reféns para obter concessões dos seus adversários ocidentais. Logo no início, mantiveram 52 reféns retirados da embaixada dos EUA em Teerão durante 444 dias. Esse incidente juntou-se a atentados suicidas apoiados pelo Irão contra embaixadas ocidentais e tropas no Líbano, ao sequestro de aviões e ao rapto de ocidentais no país.Tudo isso deixou cicatrizes profundas e alimentou a hostilidade em relação ao Irão como um Estado fora da lei, na região e no mundo. No entanto, o incidente naval da semana passada contrastou com o de 2007, quando o Irão capturou marinheiros britânicos em circunstâncias semelhantes, mas acusou-os de espionagem e deteve-os durante duas semanas.O episódio com os marinheiros americanos foi facilmente contido pela nova aproximação e "resume o surgimento de uma nova relação entre Washington e Teerão", disse Fawaz Gerges, especialista em Médio Oriente da London School of Economics.Fonte de problemas?Washington continua longe de estar encantado com os mullahs no poder em Teerão e está formalmente comprometido com o arquirrival do Irão, a Arábia Saudita. Mas as atrações do Irão são tanto políticas como económicas: um país que é "uma eventual superpotência regional e um mercado emergente com grande potencial em modos similares aos da Turquia", disse Gerges. "Há uma nova relação baseada numa nova compreensão do papel central do Irão na região - a de que o Irão está aqui para ficar", disse ele. Assim, para Washington, o Irão deixaria de ser uma fonte de problemas, mas passaria a desempenhar um papel positivo na estabilização da região e "ajudaria a apagar os fogos".A Arábia Saudita, no entanto, continua implacavelmente em conflito com o Irão. Os seus rígidos líderes religiosos muçulmanos sunitas Wahhabi tratam os xiitas como hereges, de forma não muito diferente daquela como os jihadistas do Estado Islâmico consideram os xiitas como idólatras a serem exterminados. Os sauditas sentem-se abalados com o sucesso do Irão na formação de um eixo xiita que se estende desde o Iraque através da Síria até ao Líbano, onde o Hezbollah, o aliado paramilitar de Teerão é também a força política mais forte.Acordo nuclear não é ameaça para nenhum país, diz presidente do Irão

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Riade diz que o Irão também está por trás da agitação no vizinho Bahrein, de maioria xiita, assim como da insurgência dos houthis no Iémen, onde os sauditas lançaram uma guerra aérea em 2015. Eles acreditam também que Teerão está a agitar a província oriental da Arábia Saudita, que contém quase todo o petróleo do reino e a maior parte da sua marginalizada minoria xiita.A execução, este mês, do xeque Nimr al-Nimr, um dissidente saudita e líder religioso xiita, envenenou ainda mais as relações com o Irão.No entanto, para os EUA e seus aliados europeus, conseguir que o Irão fique do seu lado é provável que seja vital para os seus interesses. Em particular, Teerão poderá vir a ser crucial na luta contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.A mesma coisa é válida para os esforços de acabar com a guerra civil na Síria. Aí, o Irão manteve o presidente Bashar al-Assad no poder como seu único aliado estrangeiro, oferecendo ajuda no campo de batalha até a Rússia ter chegado com a sua força aérea no último outono.Na defensivaEnquanto a confiança iraniana aumenta, Riade parece defensiva - e imprevisível desde a sucessão do rei Salman no ano passado, que investiu o filho, o príncipe Mohammed bin Salman, com vastos poderes, segundo observadores sauditas. "Há uma perceção generalizada de que a Arábia Saudita está a levar a cabo políticas caóticas e contraproducentes", disse Gerges, e que o wahhabismo está por detrás da ascensão da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, com a liderança saudita em défice de experiência e sabedoria. "Os sauditas estão a ter um comportamento de quem se sente cercado, reagindo aos acontecimentos como se cada um fosse o fim do mundo", disse Gerges, "atacando com raiva e de forma imprudente, sem perspetiva de longo prazo".O Irão, por outro lado, "acredita que é uma potência em ascensão, que o mundo precisa dele". Teerão também parece ter compreendido que o enorme aumento da produção de óleo de xisto dos EUA libertou a América da sua dependência do petróleo saudita.Novas oportunidades no Irão? UE prepara terreno a empresas
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As autoridades sauditas dizem que a sua política regional é coerente, que não tem motivações ideológicas ou religiosas. "Não vamos permitir que o Irão desestabilize a nossa região. Não permitiremos que o Irão prejudique os nossos cidadãos ou os dos nossos aliados e por isso vamos reagir. Mas é uma reação em resposta à agressão iraniana", declarou à Reuters o ministro dos Negócios Estrangeiros Adel al- Jubeir.Farhang Jahanpour, da Universidade de Oxford, argumenta que os sauditas precisam de chegar a acordo com o Irão e todos os outros países do Golfo, bem como com os poderes sunitas do Egito e da Turquia, sobre uma estrutura de segurança regional. "Eles devem cooperar, porque se o atual estado de antagonismo continua, serão eles os perdedores, e vamos assistir a guerras durante décadas em toda a região e para além dela", disse Jahanpour.Novos dilemasA rivalidade entre islão sunita e xiita remonta a muitos séculos. Nos tempos modernos, tem-se traduzido muitas vezes por uma competição estratégica entre a versão wahhabi da Arábia Saudita da ortodoxia sunita e a teocracia xiita do Irão. A deposição do governo da minoria sunita no Iraque em 2003, consequência da invasão liderada pelos EUA, e sua substituição por um governo xiita sob a influência do Irão reacendeu a fúria sectária.Ali al-Amin, um analista e investigador libanês, diz que Riade parece acreditar que a ameaça real vem de rivais sunitas, como o Estado Islâmico e uma população saudita jovem e rebelde doutrinada pelos preconceitos wahhabi contra os xiitas. "A luta com o Irão fortalece-os internamente, ela reforça a sua coragem", diz Al-Amin. "A sua finalidade é proteger o regime e unir todos os sunitas no seu apoio.""A luta com o Irão fortalece-os internamente, ela reforça a sua coragem"
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Mas o Irão também tem as suas vulnerabilidades. Enfrenta o dilema de até que ponto deverá liberalizar a sua economia quando esta estiver novamente ligada aos mercados mundiais e o investimento criar novos grupos de poder.O sucesso do Irão em países como Líbano, Iraque e Síria chegou com a abertura desses Estados pela guerra ou pela invasão, levando à repartição real. Teerão tem avançado com os seus interesses, ignorando as instituições do Estado e substituindo-as por alternativas instáveis, como as milícias, a sua principal arma de influência.Acima de tudo, Teerão precisa de granjear aceitação no Médio Oriente como uma potência regional legítima e construtiva. "O papel do Irão foi sempre construído sobre as divisões e fraturas na sociedade e não por meio de instituições do governo", disse Al-Amin. "O projeto iraniano não pode sobreviver sem crises, não tem opções para a estabilidade através de laços com os Estados. Na Síria, toda a influência iraniana é fora do Estado e o mesmo se passa no Iraque e no Líbano."Se o Irão granjear o reconhecimento árabe como uma potência regional terá de aceitar compromissos e isso inclui aceitar um papel menos assertivo nos assuntos do Iraque, Líbano e Síria. "O Irão tornou-se uma potência regional, mas para ser uma potência regional reconhecida tem de definir o seu papel. Ele não pode preservar a sua presença na Síria e no Líbano," declarou à Reuters o veterano comentador libanês Sarkis.Faisal al-Yafai, comentador do The National, nos Emirados Árabes Unidos, disse que Teerão deve rever o seu apoio a vários grupos armados na região. Se o Irão "quer realmente fazer parte da comunidade internacional tem de obedecer às regras dessa mesma comunidade internacional", disse ele.No concurso para o Médio Oriente, é muito cedo para declarar o Irão como o vencedor, disse Gerges. No entanto, ele acrescentou: "Os iranianos têm realmente mostrado sofisticação, inteligência, capacidade de negociação e astúcia no jogo... O Irão estabeleceu-se como um jogador importante no seu próprio ambiente e tem a capacidade de ser um jogador importante na economia mundial."
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