Dengue pode chegar a Portugal
Os casos de dengue detectados na Madeira não constituem perigo, mas a doença pode chegar a Portugal através de um mosquito originário do sudoeste asiático, disse à Lusa um investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
"O facto de haver casos de dengue na Madeira e de pessoas que possam ter sido infectadas na Madeira não significa que isso se possa transmitir aos outros pontos da Europa", afirmou Paulo Gouveia de Almeida, coordenador do mestrado de parasitologia médica do IHMT.
Segundo o professor universitário, a doença só pode ser transmitida onde houver o mosquito vetor para a transmitir embora nas últimas décadas tenha havido a introdução de mosquitos originários do Oriente capazes de propagar doenças como o dengue.
"Neste momento temos bastantes países europeus onde existe este mosquito, que não é o mesmo mosquito da Madeira. Tem tido mais sucesso nos países do sul da Europa, nos países da bacia mediterrânica, nomeadamente a Itália, sul de França e também já na costa de Espanha, na zona de Barcelona e de Valência", assinalou Paulo Gouveia de Almeida.
O investigador indicou que um dos principais veículos de entrada do mosquito na Europa é o comércio de pneus usados, provenientes do oriente, em particular do sudoeste Asiático.
"Um pneu se chover acumula sempre água e estes mosquitos têm a particularidade de colocar os seus ovos em recipientes que estão de alguma forma húmidos. Eles sabem que aquele recipiente quando chover vai acumular água. Muito facilmente se adaptaram ao meio ambiente criado pelo ser humano, onde temos latas, bidons, vasos, jarras de cemitério", explicou.
O mosquito em causa, segundo Paulo Gouveia de Almeida, já existe em pelo menos 14 países europeus e é conhecido como mosquito tigre ou Aedes albopictus.
De acordo com o investigador, já houve dois casos de dengue em 2010 no sul de França e houve casos de uma outra doença semelhante em 2007 no norte de Itália.
Para Paulo Gouveia de Almeida vai ser extremamente difícil limitar o crescimento da população de mosquitos, principalmente numa altura em que os países do sul da Europa vivem com dificuldades financeiras.
"Os mosquitos estão no planeta há milhões de anos portanto a sua adaptabilidade é enorme. São necessários programas de vigilância entomológica, extremamente caros devido à capacidade de dispersão do mosquito. Itália, França, Espanha e Portugal têm esses serviços mas com as dificuldades financeiras prevêem-se problemas", assinalou.
Avisando que todos os recipientes que acumulem água, dentro ou fora das nossas habitações, são potenciais fontes de propagação para os mosquitos, o investigador considerou serem necessários serviços que façam um combate permanente à situação para além de muita educação para a saúde.
Na última actualização semanal da situação epidemiológica do surto de febre de dengue, feita na quarta-feira, a Direcção Geral de Saúde anunciou que subiram para 52 os casos de dengue na Madeira confirmados laboratorialmente pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Estavam também diagnosticados 404 casos prováveis, encontrando-se hospitalizados, cumulativamente, 40 doentes. Encontravam-se ainda internados cinco doentes, não se verificando óbitos até este momento.
lusa